sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A outra verdade

                                                                         
CARLOS A. LOZANO GUILLÉN (*)

Não gostou o senhor Botero que eu tivesse assegurado que a derrubada soviética foi uma derrota para o movimento comunista internacional e as organizações populares. Tampouco que utilizasse o conceito de pós-acordo em lugar de pós-conflito.

O senhor Jorge H. Botero, colunista on-line da revista Semana, resolveu arremeter contra mim porque me atrevi a escrever sobre a necessária unidade da esquerda, em função do pós-acordo depois de assinada a paz estável e duradoura entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e a guerrilha das FARC-EP.

Não gostou o senhor Botero que tivesse assegurado que a derrubada soviética foi uma derrota para o movimento comunista internacional e as organizações populares. Tampouco que utilizasse o conceito de pós-acordo em lugar de pós-conflito, que é a lhe agrada.

Jorge H. Botero é representante do capital financeiro na Colômbia, o mesmo que produz sangue, suor e lágrimas nos colombianos, porque milhares de compatriotas foram deixados sem casa e sem recursos, devido ao crédito caro e ao abuso desumano que os coloca na condição de consentidos prediletos da vergonhosa política neoliberal. 

Por esta razão, não me estranha sua reação ante meu artigo nem tampouco suas queixas insolentes. Trata-me ignorante. Para um escudeiro da oligarquia é inaceitável que existam pessoa que pensem com independência e diferente dele. Isso o tenho claro. É parte da intolerância neste país que, com o mesmo argumento pouco democrático, não tolera a oposição democrática e de esquerda ao status quo que considera imodificável.

Botero me lembra o que considera excessos soviéticos e do socialismo real, que, é claro, não foram alheios a graves erros. Porém, “esqueceu” os crimes de sua admirada democracia ocidental, em particular dos Estados Unidos, Hiroshima e Nagasaki, as guerras de rapina, a fabricação de golpes militares e a doutrina de segurança nacional que fomentou em seus países satélites. Na Colômbia tiveram expressão na guerra e o extermínio contra a esquerda, como ocorreu com a União Patriótica. Não é bom sofrer de amnésia histórica.

E sim, a derrubada soviética foi uma derrota pela esquerda. Se Botero reconhecesse a outra verdade, teria se dado conta da crise que sofreu e que levou os mais fracos no campo da ideologia a moverem-se sem nenhuma vergonha para as fileiras da direita. Menos mal, esse não foi meu caso. Sinto-me orgulhoso de ser de esquerda e militante comunista apesar do risco que isso implica em um país onde abunda a antidemocracia, a intolerância e o terrorismo de Estado.

Pós-acordo é o conceito mais conveniente porque o acordo de paz estável e duradoura coloca fim à confrontação armada, porém não ao conflito social. A distância entre ricos e pobres continuará sendo um ponto de contradição entre o capital e o trabalho. 

Nela se acomodam o capital com interesses mesquinhos de acumular riqueza, aproveitando a mais-valia dos trabalhadores e a exploração do capital, regulado por leis que beneficiam a minoria elitista e burguesa. Estas lutas sociais e populares, nas condições do pós-acordo, serão democráticas, não armadas e animadas na luta pelo poder para as mudanças democráticas e populares.

(*) Carlos A. Lozano Guillén é diretor do semanário Voz.

Fonte: http://www.semana.com/opinion/articulo/la-otra-verdad-respuesta-de-carlos-a-lozano-guillen-a-jorge-humberto-botero/459171

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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