terça-feira, 31 de maio de 2016

A vigência da crítica leninista acerca da “via parlamentar” ao socialismo

                                                                           

Posições do KKE na 10ª Conferência Anual “V.I.Lenin e o mundo contemporâneo”, que ocorreu em 22 de abril de 2016, em Leningrado

A história inteira do movimento político operário, desde o século XIX até a nossa era, possui como campo fundamental de contradição a maneira segundo a qual se pode construir a sociedade sem classes.

Nesta trajetória, apareceram duas opiniões básicas: a opinião oportunista da possibilidade da reforma do estado, da “tomada” do estado burguês e de seu uso a favor do socialismo e a opinião revolucionária, que fala sobre a necessidade do “esmagamento” do estado burguês. 

Lenin, em sua época, colocou a linha de divisão entre as duas opiniões assim: “Marxista se chama aquele que estende o reconhecimento da luta de classes até o reconhecimento da ditadura do proletariado” [1].

O debate indicado acima é a reflexão da contraposição acerca do estado burguês e a democracia burguesa. Os oportunistas entendem o estado burguês – particularmente na forma da democracia burguesa parlamentar – como um estado que condensa a correlação entre as várias classes sociais, essencialmente como um estado “que supera as classes”, um estado que expressa a vontade dos membros da sociedade burguesa, de maneira democrática, independentemente das classes sociais a que pertencem. 

Partindo desta concepção, os oportunistas se aproximam da democracia burguesa – a forma democrática do estado burguês – como se fosse algo positivo que se poderia usar a favor do socialismo. 

Ao contrário, os marxistas se inteiram do caráter de classe do estado burguês independentemente da imensa variedade que possa ter em suas formas de aparência no transcurso do tempo histórico. 

Entendem a democracia burguesa como uma das várias formas da ditadura do capital e, para ser mais preciso, como a forma “mais segura” da defesa da “onipotência da riqueza”, como escrevia Lenin em Estado e Revolução.

A oposição para o denominador comum entre a democracia burguesa e o fascismo foi historicamente ratificada por meio da troca entre administrações fascistas e parlamentares a favor da estabilização do poder burguês sob as condições turbulentas nos campos econômicos e políticos da sociedade. 

Os exemplos mais típicos são o estado alemão durante o período entre as duas guerras mundiais e, em nosso próprio país, o caminho da democracia burguesa à ditadura de Metaxas, em 1936, implantada com o apoio quase unânime do parlamento burguês.

A experiência histórica demonstrou – sem lugar para dúvidas – que a entrega dos ministérios do estado burguês às mãos dos comunistas não ajuda para que sejam usados a favor do socialismo. Pelo contrário, funciona como um elemento de aceleração da assimilação dos Partidos Comunistas no sistema burguês. 

Exemplos históricos disso podem ser observados na participação ou na sustentação de PCs em governos burgueses na Espanha, França, Itália, Chile e também em nossos tempos em países da América Latina, no Chipre, em Portugal, etc.

Outro exemplo importante é a participação do KKE no governo de “unidade nacional”, em 1944, e o acordo dos ministros comunistas – ante o perigo da dissolução deste governo – com os cortes salariais e demissões. Em todos estes exemplos históricos, a participação dos comunistas ou seu apoio a governos burgueses nunca funcionou a favor do socialismo.

A defesa da “via parlamentar” pelo socialismo não se apresenta sempre de maneira explícita. Muitas vezes se esconde por trás da elaboração de vários Programas de Transição, os quais aceitam a possibilidade de participação em um governo no terreno da propriedade capitalista e do estado capitalista a favor de melhorias para a vida dos trabalhadores e do aprofundamento da vontade revolucionária das massas populares. 

Esta análise nega essencialmente as leis econômicas do capitalismo (opinando que o PC poderia administrar estas mesmas leis a favor do povo) e também o caráter de classe do estado burguês (porque apresenta a “tomada” do estado como meio para sua derrubada).

As opiniões que indicamos acima estão em plena contradição com a análise teórica de Marx, Engels, Lenin acerca do estado. A maneira segundo a qual Lenin explica a necessidade do “esmagamento” do estado burguês em Estado e Revolução se remete a um exemplo clássico.

Esta análise de Lenin é resultado proveniente da aprovação da estratégia da revolução socialista pelo Partido dos Bolcheviques com a ratificação das Teses de abril. Lenin aplicou as conclusões desta obra não só nas palavras, mas na prática, repudiando com tenacidade os chamados fortes – alguns de dentro do Partido dos Bolcheviques – acerca da participação no Governo Provisório (que naquela época foi considerado como o governo mais democrático de toda Europa) e fazendo uma preparação de todo o partido, orientando para a derrubada do próprio governo.


Com o transcurso dos anos, esta mesma análise estratégica – ratificada pela vitoriosa Revolução de Outubro – não se manteve ao passo do tempo. O Movimento Comunista Internacional (MCI) foi dominado por concepções estratégicas anteriores que portaram de maneira mecânica (em condições totalmente diferentes) a elaboração estratégica antiga da “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”. 

As opiniões acerca da possibilidade de uma transição parlamentar ao socialismo se consolidaram com o passar do tempo em uma corrente distinta nas fileiras do MCI, a corrente do Eurocomunismo, dominando os partidos de estados capitalistas grandes (França, Itália, Espanha) com consequências graves para o movimento operário. 

Posições essenciais da corrente do Eurocomunismo se manifestaram na análise do MCI inteiro. Hoje em dia se acumulou experiência histórica importante das tentativas de utilizar a participação em uma gestão no terreno da propriedade capitalista a favor do socialismo.

O ano de 2017 marca os 100 anos da escrita da obra Estado e Revolução de Lenin. Este aniversário deve ser utilizado para recordar – como disse ele em sua obra – as “palavras esquecidas do marxismo” (e do leninismo, complementamos nós) acerca do assunto do Estado.

Os PCs devem lutar pelo agrupamento de forças para a destruição do estado burguês e pela construção da economia socialista-comunista e das instituições estatais correspondentes, têm que repudiar a gestão da economia capitalista e do estado burguês. 

Dito em outras palavras, devemos transformar as conclusões do Estado e Revolução em uma guia para nossa atividade de dia a dia.

[1] V. I. Lenin, Estado y Revolución, ed. Sinchroni Epochi, pp.43

Fonte: http://pt.kke.gr/es/articles/La-vigencia-de-la-critica-leninista-acerca-de-la-via-parlamentaria-al-socialismo/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

domingo, 29 de maio de 2016

A natureza da crise sistêmica global: às vésperas do choque das placas tectônicas do capital

                                                                               
                    

Edmilson Costa [*]


Aviso: Depressão pela frente. A crise sistêmica global, [1] que vem castigando os países capitalistas há mais de nove anos, sem que haja perspectivas de retomada da economia no curto prazo, está se aproximando de seu desfecho, podendo abrir um cenário inteiramente novo na economia mundial e perspectivas do acirramento da luta de classes de caráter global. Essa conjuntura pode levar a quebras generalizadas entre os grandes monopólios, aprofundamento do processo recessivo, ampliação do desemprego, dificuldades de gestão política e social do sistema, além de extraordinários e velozes levantamentos sociais tanto nos países centrais quanto na periferia capitalista. 


As medidas tomadas pelos gestores do capital, tanto em termos de política monetária e econômica, além da forte ofensiva contra os direitos, garantias e salários dos trabalhadores e pensionistas, aliadas aos cortes nos gastos públicos, funcionaram apenas como paliativos para evitar o colapso do sistema, mas agora esse arsenal está se esgotando e a crise profunda volta a se impor novamente porque os problemas de fundo levantados pela crise não foram resolvidos. 
                                                                   
Vale lembrar que esta crise é muito diferente das crises cíclicas que atingem periodicamente o capitalismo desde os seus primórdios. As crises recorrentes, de tanta regularidade, já são administradas com êxito pelos gestores capitalistas desde a metade dos anos 40, mediante as políticas keynesianas. No entanto, as crises sistêmicas são de outra natureza: elas colocam em questionamento o conjunto do sistema e representam o esgotamento de um longo ciclo do capital. [2] Ou seja, a crise sistêmica global demonstra que as velhas relações de produção do mundo atual não comportam mais a estrutura material construída e desenvolvida ao longo do ciclo que está se esgotando e, por isso mesmo, a base material está se rebelando contra o conjunto do sistema e exigindo mudanças quantitativas e qualitativas, como ocorreu nas crises sistêmicas anteriores. 

Por isso, as fórmulas e receitas que foram bem sucedidas nas crises cíclicas, a partir da intervenção do Estado no sistema econômico, são inadequadas para esta crise. Prova disso é que os governos dos países centrais já injetaram cerca de U$18 milhões de milhões na economia, mas a estagnação econômica e o desemprego continuam sendo um dado da realidade nesses países. É bem verdade que o grande volume de recursos tem servido apenas para salvar os banqueiros e especuladores em geral, evitar o colapso do sistema financeiro, bem como para criar bolhas especulativas nas bolsas de valores e em outros setores da economia. Como esses recursos não têm base na economia real, em algum momento o dinheiro fictício, criado a partir de ordens burocráticas dos Bancos Centrais, poderá se transformar em combustível para crises ainda maiores ou gerar uma escalada inflacionária com efeitos profundamente desestabilizadores para as economias. 

Em outros termos, a economia dos países centrais continua tão ou mais doente do que no período da explosão da crise em 2008 com a queda do Lehman Brothers, com o agravante de que até os chamados países emergentes, que não foram atingidos nas mesmas proporções que as economias centrais, agora também estão em crise. Apesar dos meios de comunicação diariamente procurarem encobrir a gravidade dos problemas, informando que determinados países estão se recuperando, que as Bolsas de Valores estão prósperas, que logo haverá perspectivas de retomada do crescimento econômico e do emprego, essas informações servem apenas para confundir e desorientar os trabalhadores, retardando assim sua compreensão da gravidade da crise e reduzindo a possibilidade de se colocarem em movimento em defesa dos seus direitos e, inclusive, contra o próprio sistema. 

Se analisarmos a conjuntura no coração do sistema – os países centrais em geral e os Estados Unidos e a União Europeia em particular – poderemos observar um panorama com enormes dificuldades para o capital. Se por um lado, os trilhões de dólares e euros colocados nas economias desenvolvidas conseguiram retardar o colapso do sistema, por outro, essa orgia monetária está criando economias autistas, nas quais os agentes econômicos se comportam como zumbis a caminho do precipício, muito embora nessa trajetória haja momentos de euforia, para logo depois se transformarem em perplexidade e pânico. A situação é pouco compreensível para as mentes acostumadas com a velha ordem construída após a Segunda Guerra Mundial, pois normalmente as pessoas têm dificuldades para se adaptar aos fenômenos novos, onde as mudanças são velozes e radicais. Geralmente continuam raciocinando como no passado e buscando resolver os problemas com as mesmas fórmulas de conjunturas anteriores. Qual é a situação real hoje do mundo capitalista, especialmente de sua parte mais desenvolvida? 

A economia europeia vive uma estagnação prolongada a caminho da depressão, apesar das políticas de flexibilização quantitativa efetuadas pelo Banco Central Europeu. Trata-se de um continente em queda livre, com recessão, aumento do desemprego e uma crise social de vastas proporções, cuja ponta do iceberg é a tragédia grega, onde o desemprego atinge mais de 25% da população economicamente ativa, percentual que ultrapassa 50% quando se trata dos jovens. A isso se junta a crise humanitária da imigração de centenas de milhares de refugiados de regiões desestabilizadas pelo imperialismo europeu e norte-americano. 

Nos Estados Unidos, a situação não é muito diferente, apesar do esforço diuturno da mídia para construir uma conjuntura favorável. A dívida externa norte-americana já ultrapassou os 100% do PIB e a cada período trava-se no Congresso uma dura batalha sobre o aumento do teto do débito, com repercussões desestabilizadoras em todo o mundo. A indústria de transformação e seu contraponto, o consumo das famílias, permanecem estagnados e o que o establishment denomina de crescimento é resultado das bolhas artificiais na órbita da circulação, especialmente na Bolsa de Valores e especulação financeira. Quando a crise se aprofundar e as bolhas especulativas murcharem aí então se poderá observar a gravidade dos problemas escondidos da população, com a desvantagem de que o governo já não terá condições para socorrer o sistema financeiro como aconteceu no início da crise sistêmica atual. 

A questão do aumento do emprego merece um comentário à parte. A redução do desemprego, nos níveis anunciados pelo governo, é apenas uma miragem, fruto da precarização do trabalho e da desistência de milhares de trabalhadores que deixaram de procurar emprego. O indicador que melhor pode aferir a situação real é a relação entre a população do País e o conjunto das pessoas empregadas. Por esses dados, pode-se verificar que a relação continua muito semelhante ao período da crise de 2008, o que significa que o aumento do emprego é muito mais um contorcionismo estatístico do que aquilo que ocorre efetivamente na realidade. Para completar o quadro, mais de 40 milhões de norte-americanos estão vivendo abaixo da linha de pobreza, sobrevivendo em função dos cartões de alimentação (food stamps) distribuídos pelo governo. Para a maior economia do mundo, esse é um quadro nada alvissareiro. 

Uma crise complexa, um sistema na encruzilhada 

A crise sistêmica global ocorre num momento em que o capitalismo já tinha se transformado num sistema mundial completo, com a internacionalização da produção e das finanças, profunda reconfiguração de seu sistema de produção, com a emergência das tecnologias da informação, internet, da microeletrônica, biotecnologia, automação industrial, nanotecnologia, entre outros, e uma superacumulação de capitais em escala global, o que levou o sistema a buscar saída na financeirização da riqueza e na especulação financeira global. [3] Esse conjunto de novos fenômenos que foram amadurecendo das últimas décadas, alterou de maneira profunda as bases materiais do sistema produtivo, financeiro e comercial do capitalismo, as relações econômicas entre o centro e a periferia, o processo tradicional de apropriação do valor, a reconfiguração do sistema financeiro internacional e gerou a possibilidade de valorização fictícia do capital na órbita financeira ao longo das 24 horas do dia, em função da interconexão das praças financeiras, viabilizada pela internet, satélites e fibras óticas. 

Para compreendermos essas mudanças, seu impacto no conjunto do sistema capitalista, além da relação com a crise sistêmica global, é fundamental avaliarmos separadamente cada um desses fenômenos, apenas para efeito analítico, uma vez que as esferas produtivas e financeiras e o conjunto de outras mudanças que ocorrem no sistema são partes constitutivas do capitalismo monopolista atual. Mas antes é necessário enfatizar que, ao contrário das duas grandes transformações produtivas anteriores (a primeira e a segunda revolução industrial), quando ocorreu um extraordinário desenvolvimento das forças produtivas, o sistema capitalista atual se encontra numa grave encruzilhada, pois está cada vez mais impossibilitado de desenvolver todo o potencial dessas novas forças produtivas em função de suas limitações estruturais, que podem ser expressas na insuficiência de demanda efetiva tanto de consumo produtivo quanto de consumo das famílias e na superacumulação de capitais, cuja expressão é a fuga para frente da financeirização da riqueza e do frenesi especulativo global, elementos que foram os principais detonadores da crise sistêmica global. Vejamos cada um desses fenômenos para compreendermos a dinâmica da crise. 

a) A internacionalização da produção 

O sistema capitalista, desde seus primórdios, sempre teve vocação internacional, pois a própria natureza da concorrência conduz à renovação constante das forças produtivas e à necessidade de ampliação da demanda e ocupação de novos espaços geográficos [4] . No entanto, a dimensão internacional do capitalismo só pode ser considerada plena após o processo de internacionalização da produção e das finanças. Se avaliarmos toda a história do desenvolvimento desse modo de produção, poderemos observar que esse sistema conquistou o mundo de uma maneira muito peculiar: primeiro, eliminou a ordem feudal e instituiu as relações capitalistas na produção; depois, a indústria hegemonizou as relações de produção na época concorrencial, levando à mecanização das fábricas e à primeira revolução industrial. Posteriormente, deu um salto de qualidade com a união dos capitais bancário e industrial, a reorganização do sistema produtivo e a constituição dos monopólios, período em que as grandes empresas passaram a dominar a vida econômica e ocupar as nações periféricas em busca de matérias-primas. Emergia desse processo a segunda revolução industrial. Mas a plenitude da internacionalização capitalista só pode ser considerada completa quando as grandes corporações transnacionais passaram a extrair o valor, de maneira generalizada, fora de suas fronteiras nacionais, [5] mediante a produção direta nos países periféricos, através de milhares de filiais instaladas em todos os continentes. 

Ao contrário do que muitos imaginam, o processo de globalização da produção é um fenômeno típico do capitalismo contemporâneo, fruto do próprio desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e da busca de novas oportunidades de valorização do capital, em função da mão-de-obra e matérias-primas baratas, além de vantagens creditícias e fiscais nos países hospedeiros. A partir de meados da década de 50 pode-se verificar um movimento contínuo das transnacionais no sentido de expandir sua produção para as nações da periferia. Esse movimento foi realizado levando em conta as regiões em que existia certa estabilidade política, uma mão-de-obra mais organizada e com certo grau de estudo, sem problemas tribais, guerras ou disputas territoriais, além de fontes de matérias primas abundantes. O movimento das transnacionais não ocorreu apenas no eixo centro periferia: entre os próprios países centrais verificou-se também uma grande interpenetração de capitais transnacionais, configurando-se um processo próximo a uma remonopolização global do capital e posterior consolidação de esferas de influência dos países centrais a partir dos grandes blocos econômicos e tratados comerciais. 

Pode-se dizer que duas décadas depois, o processo de internacionalização da produção já estava maduro, com as corporações transnacionais presentes em todo o planeta mediante a presença de suas filiais nos mais variados ramos de produção. Essa nova performance colocou o processo de industrialização mundial num novo patamar, de forma a que as empresas transnacionais passaram a ter a possibilidade de produzir de acordo com as melhores disponibilidades de matérias primas, mão de obra cada e produtividade de cada País, sempre objetivando alcançar as maiores taxas de lucro. Com a produção padronizada e flexibilizada, cada unidade empresarial passou a ter condições de produzir as peças de acordo com o planejamento da empresa matriz, racionalizando de maneira extraordinária o processo produtivo mundial. Estavam assim construídas as bases para as mudanças profundas que viriam a ocorrer no sistema produtivo com a introdução das tecnologias da informação, da internet, da microeletrônica, robótica e novos materiais, entre outros. 

Essa nova base industrial capitalismo, mais sofisticada e mais diversificada, consolidou-se nos anos 80 e 90, proporcionando um salto de qualidade ao sistema capitalista. A partir da introdução e amadurecimento desses novos ramos industriais, esse modo de produção passou novamente por uma grande transformação, uma vez que as novas tecnologias vieram revolucionar as forças produtivas e produzir um conjunto de fenômenos novos em todas as esferas da economia e da vida social. As tecnologias da informação, a generalização dos computadores, a internet, a engenharia genética e a biotecnologia, a nanotecnologia e os robôs inteligentes comandando as máquinas ferramentas alteraram de maneira radical o chão das fábricas e empresas em geral, além do perfil do proletariado – temas que iremos abordar em outra seção. 

b) A internacionalização das finanças 
                                                            
O processo de internacionalização das finanças ocorreu no mesmo período da internacionalização da produção, até mesmo porque os grandes bancos dos países centrais já estavam umbilicalmente ligados aos monopólios produtivos. A internacionalização financeira cresceu rapidamente porque absorveu um conjunto de novas tecnologias, como os satélites, a generalização dos computadores, as fibras óticas e, especialmente, a internet. Contou ainda com uma série de mudanças econômicas e políticas que ocorreram nos países centrais, como o enfraquecimento do Estado do Bem Estar Social, a emergência política de Ronald Reagan e Margareth Tatcher, respectivamente nos Estados Unidos e na Inglaterra, e a posterior desregulamentação da economia, cujo elemento mais fundamental para a órbita financeira foi a instituição do rentismo em praticamente quase todos os países e a livre mobilidade dos capitais. Esse conjunto de fenômenos possibilitou às finanças não só um extraordinário desenvolvimento, mas principalmente certa hegemonia nos negócios do grande capital e relativa autonomia em relação à órbita produtiva. 

Local da conferência de Bretton Woods. Vale destacar que a ordem financeira construída em Bretton Woods começou a desmoronar a partir dos crescentes déficits no balanço de pagamentos dos Estados Unidos, o que levou o governo do presidente Richard Nixon a decretar o fim da paridade entre o ouro e o dólar em 1971. Diante do fato consumado, o sistema financeiro internacional, após algum período de hesitação, passou a ser administrado pelo cambio flutuante, prática que foi legalizada a partir de 1976 pelo Fundo Monetário Internacional. Ainda na primeira metade da década de 70 o sistema financeiro internacional passou por um grande processo de mudanças, impulsionado pela privatização da liquidez internacional e pela consolidação do mercado de eurodólares, especialmente após a crise do petróleo do final de 1973. Este mercado foi o principal responsável pela reciclagem dos petrodólares e pela dinamização do crédito internacional privado, especialmente para os países da periferia, cujo principal resultado foi o extraordinário endividamento desses países e, posteriormente, a primeira grande crise financeira do pós-guerra. [6] 

Mas a mudança de qualidade de atuação do sistema financeiro internacional ocorreu a partir de 1979, com a administração de Paul Volcker no comando do Federal Reserve (FED) dos Estados Unidos. Diante de uma inflação crescente, Volcker implementou uma política de aumento das taxas de juros buscando atingir dois objetivos estratégicos: deter o processo inflacionário e a desvalorização do dólar. [7] Com a reorientação neoclássica da política monetária, o presidente do FED atingiu os objetivos a que se propôs, ou seja, reduziu a inflação e restaurau a hegemonia do dólar, uma vez que, em função das elevadas taxas de juros, os capitais voltaram a migrar para os Estados Unidos. O exemplo da política monetarista norte-americana foi posteriormente sendo assimilado pelas economias dos países centrais. Abandonaram as políticas keynesianas de estímulo ao crescimento econômico e do emprego para eleger o combate à inflação como estratégia geral da política econômica. [8] 

A nova estratégia se transformou em política geral do grande capital internacional com a eleição de Tatcher e Reagan. A eleição destes dois personagens representou uma mudança profunda na correlação de forças internacional e entre os vários segmentos do grande capital: a oligarquia parasitária, mais ligada ao capital especulativo, passou a hegemonizar o poder nos Estados Unidos e nos países centrais. Subordinou todos os outros setores à lógica das finanças, resultando numa hegemonia que durou cerca de três décadas. Nesse processo, o sistema capitalista em geral, desde os países centrais até os mais distantes rincões da periferia, passou por um intenso processo de desregulamentação da economia, com uma ofensiva geral contra salários, direitos e garantias dos trabalhadores, liberalização financeira, fim do controle dos preços e livre mobilidade dos capitais e privatização das empresas públicas. Essa política era combinada com a retirada do Estado da economia que, para os monetaristas, era a causa central de todos os problemas econômicos. 

A nova conjuntura proporcionou ao polo financeiro do grande capital um enorme poder sobre o conjunto da política econômica e os banqueiros em geral sentiram-se de mãos livres para criar novos "produtos financeiros" cada vez mais sofisticados, num frenesi especulativo que culminou num descolamento cada vez maior entre a órbita produtiva e a esfera das finanças. Especulação com moedas, taxas de juro, metais, produtos agrícolas e um conjunto infinito de novas variáveis, a partir da criação dos derivativos, e securitização de dívidas públicas e privadas tornaram-se as fontes privilegiadas dos negócios na órbita financeira. A criatividade da oligarquia financeira parecia não ter limites: para se ter uma ideia, antes da crise de 2008, o volume de recursos que circulava na esfera das finanças era cerca de 10 vezes maior que o PIB mundial, [9] fato que por si só já prenunciava um ambiente em que o resultado não poderia ser outro que uma grande crise global, uma vez que o processo especulativo contaminou praticamente todas as economias ligadas à economia líder. 

Novas tecnologias e impactos na base produtiva 

As mudanças tecnológicas profundas que ocorreram no interior do sistema capitalista, tais como as tecnologias da informação (telecomunicações, satélites, universalização dos computadores, internet e plataformas digitais, telefonia móvel), a microeletrônica, a robótica, a engenharia genética, a biotecnologia, nanotecnologia, além de elementos de inteligência artificial, alteraram radicalmente a estrutura produtiva do capitalismo. Relegaram a um segundo plano os ramos industriais típicos da segunda revolução industrial, como a metal-mecânica, a química fina e os plásticos. Da mesma forma que a energia elétrica, o telégrafo, o telefone e os motores a combustão revolucionaram o sistema capitalista e contribuíram decisivamente para a emergência do capitalismo monopolista e o domínio das grandes empresas em cada ramo de produção, esses novos ramos industriais, especialmente as tecnologias da informação, a engenharia genética e a biotecnologia, cumprem o mesmo papel nessa fase do capitalismo. [10] 

Se analisarmos o capitalismo hoje, do ponto de vista da inovação, poderemos observar que as tecnologias da informação fazem parte de todos os processos da atividade econômica, quer na área produtiva, comercial, financeira e de serviços em geral. O planejamento industrial, o desenho do produto, a produção, as relações com os fornecedores, a administração e as vendas são todos permeados pelas tecnologias da informação. Os robôs programáveis estão presentes no chão da fábrica e cumprem um papel cada vez mais determinante nos processos produtivos das grandes empresas. Nos circuitos comerciais, os estoques, a distribuição, a estrutura de vendas e a reposição cotidiana dos produtos são feitos a partir de softwares sofisticados que possibilitam à administração central controlar o fluxo de mercadorias, o volume de vendas e os lucros em tempo real. Além disso, o comércio eletrônico vem revolucionando o comércio mundial e ocupando cada vez mais os espaços do varejo tradicional. Muitos analistas acreditam que num espaço de tempo não muito distante o comércio eletrônico deverá superar o volume de vendas das lojas e supermercados. 

Na área financeira, o processo de automatização bancária, alavancado pelas tecnologias da informação, possibilitou a interconexão entre matrizes, agências bancárias e clientes, de forma que, de qualquer parte do mundo, se pode sacar dinheiro, pagar contas, fazer depósitos e realizar aplicações financeiras. As tecnologias da informação possibilitaram a interconexão entre as diversas praças financeiras mundiais, o que possibilitou a que os negócios nas bolsas de valores e nos diversos mercados se convertessem numa arena especulativa global, nos quais comprar ou vender ações de qualquer empresa, especular com moedas, câmbio, ouro, produtos agrícolas transformou de maneira radical a configuração dos mercados financeiros internacionais, especialmente com a emergência dos derivativos, cujos títulos ganharam uma dimensão tão extraordinária que passaram a hegemonizar os negócios na órbita das finanças. 

A revolução das tecnologias da informação não afetou apenas os setores produtivos, comerciais e financeiros, mas atingiu toda a vida social da humanidade. Os meios de comunicações e as transmissões por satélites, os computadores e a emergência da internet e da telefonia móvel transformaram efetivamente o mundo naquilo que Marshall McLuhan denominou nos anos 60 de aldeia global. A internet permitiu uma democratização do conhecimento tão elevada que só não alcança toda a humanidade em função das limitações de classe do sistema capitalista. Hoje, a maior parte do conhecimento produzido no planeta está disponível na internet. Com um computador, um tablet ou smart fone as pessoas podem acessar vários trilhões de informações em todos os ramos do conhecimento, desde as plataformas científicas das universidades até os principais museus do mundo, realizar compras e interagir com qualquer pessoa em qualquer parte do planeta em tempo real, mediante mensagem de texto ou de voz. As tecnologias da informação têm hoje um impacto muito maior do que a invenção da imprensa por Gutemberg no século XVI. 

A engenharia genética e a biotecnologia também causaram profundas alterações na base produtiva do capitalismo. Se observarmos todo o setor agrícola e de pecuária, poderemos constatar que esses ramos produtivos fundamentais para a sobrevivência da humanidade estão profundamente marcados pelas inovações tecnológicas oriundas dos desenvolvimentos genéticos e biotecnológicos. Quase toda a produção mundial de grãos, legumes e verduras é resultado de melhoramentos e ensaios realizados por pesquisadores das universidades, institutos de pesquisa e empresas públicas e privadas, fato que resultou no aumento extraordinário da produção e da produtividade agrícolas, muito embora os monopólios tenham se apropriado não só do saber milenar dos povos originários, mas do próprio processo de produção de sementes, adubos, defensivos agrícolas e do comércio em escala mundial. Além disso, a produção biotecnológica dos fármacos está bastante desenvolvida e tem produzido impactos fundamentais na indústria farmacêutica e pode, no médio prazo, hegemonizar a produção farmacêutica mundial. 

De forma semelhante, os melhoramentos genéticos alteraram profundamente a produção de proteína animal, tanto bovina, como de aves e peixes. Hoje se produz frangos de corte em menos de 40 dias, quando no passado se levava cerca de seis meses para que uma ave estivesse pronta para o abate. A carne bovina está hoje muito mais disponível em função da redução do tempo de abate do gado, que foi diminuído de quatro para cerca de dois anos. Há ainda uma crescente indústria de pescado com a produção realizada em tanques artificiais, que mais parecem uma linha de produção, e que já vem respondendo por parcela significativa do consumo de peixes e crustáceos. Em função dessas transformações ocorridas a partir dos melhoramentos genéticos, pode-se dizer que a produção de proteína animal mais que quintuplicou nas últimas cinco décadas. 
                                                      
A microeletrônica também teve um papel fundamental para alavancar o processo de mudanças que ocorreu no interior do sistema produtivo, mediante a redução do tamanho dos bens de consumo e miniaturização das peças, cujo exemplo mais significativa são os chips não só dos computadores, mas de uso generalizado em praticamente todos os bens de consumo duráveis. A robótica também está generalizadamente instituída tanto no chão das fábricas, quanto nos setores comerciais, financeiros e de serviços em geral, ressaltando-se o fato de que na área comercial a leitura ótica agilizou de maneira expressiva o fluxo de vendas no comércio. Outro dos elementos que ainda não está plenamente integrado, mas que já vem sendo utilizado em larga escala pelas indústrias e vários setores econômicos é a nanotecnologia. Quando sua utilização estiver plena na atividade econômica poderemos ter mudanças tão significativas na base produtiva quanto as resultantes das tecnologias da informação neste momento. 

O significado das transformações 

Esse conjunto de fenômenos novos produziu também uma plêiade de modificações tanto objetivas quanto subjetivas nas relações econômicas, sociais, políticas e culturais no sistema capitalista. As mudanças, comandadas pelas tecnologias da informação, biotecnologia e engenharia genética e a microeletrônica, alteraram de maneira radical a base produtiva do capitalismo, de forma semelhante às duas revoluções industriais anteriores. Vale ressaltar que a primeira revolução industrial fez emergir a mecanização das fábricas e a produção em massa, deslocando os homens práticos para simples apêndices do sistema produtivo. A segunda revolução industrial e a emergência do capitalismo monopolista, possibilitaram a formação das grandes empresas e a construção das linhas de produção. Esse processo consolidou novos ramos industriais como a metal-mecânica, a química e os plásticos, resultando na produção generalizada dos bens de consumo duráveis e num impulso gigantesco para o desenvolvimento das forças produtivas. [11] 

Mais especificamente, a internacionalização da produção teve impactos profundos na economia capitalista. Pela primeira vez na história, a burguesia dos países centrais passou a extrair, de maneira generalizada, o valor fora de suas fronteiras nacionais [12] , tornando assim uma classe exploradora direta tanto dos trabalhadores da periferia quanto dos próprios países industrializados. Anteriormente, o valor era capturado através do comércio internacional e da exportação de capitais. No primeiro caso, os países periféricos vendiam matérias-primas para os países centrais e compravam destes os produtos industrializados, gerando assim o que Samir Amin denominou de troca desigual, pois a produtividade dos produtos manufaturados é maior que a dos produtos de origem agropecuária ou mineral. No segundo caso, os países centrais se apropriavam dos juros e das remessas de lucro em função dos capitais investidos ou dos financiamentos realizados na periferia. Dessa forma, somente com a internacionalização da produção, o capitalismo se transformou efetivamente num sistema mundial completo. 

Essa nova configuração do capitalismo, com a interconexão orgânica de sua base produtiva, transformou o mundo numa imensa fonte de matérias-primas e mão de obra à sua disposição do capital, possibilitou a padronização das peças e a produção descentralizada dos bens e transformou os velhos monopólios em corporações transnacionais, que passaram a operar diretamente no interior de cada País. Na prática, tornaram-se destacamentos avançados do grande capital, com influência direta na formulação e operação de políticas econômicas das nações onde se instalaram, especialmente na periferia. A internacionalização da produção possibilitou também o surgimento de um fenômeno novo na dinâmica macroeconômica global: a emergência de um ciclo único do capitalismo, transformando as crises, que antes eram localizadas em países ou regiões, em crises mundiais e cortando assim as rotas de fuga do capital para áreas sem crises. 

Outro dado a se constatar é o fato de que as forças produtivas nas últimas sete décadas, especialmente no último meio século, criaram uma capacidade de produção tão extraordinária que deixaram o sistema com reduzidas possibilidades de desenvolver todo seu potencial, fato que o aproxima de seu limite de reprodução, dado à superacumulação de capitais e insuficiência de demanda por bens de produção e bens de consumo. Essa debilidade explica, em boa parte, o fenômeno da financeirização da riqueza ou a fuga para frente do capital buscando valorizar artificialmente esses recursos na órbita financeira através do frenesi especulativo. Sem condições de aterrisagem no chão das fábricas, uma vez que isso levaria a uma gigantesca crise de superprodução de mercadorias, o capital empreendeu essa aventura desesperada para a órbita da circulação imaginando escapar da lei do valor, mas isso apenas adiou a crise sistêmica global, que viria a se manifestar em 2007-2008. 

Em outras palavras, a fuga para a financeirização é uma espécie de contraponto funcional à incapacidade do sistema de desenvolver plenamente toda sua potencialidade de produção mediante o pleno funcionamento dos novos e sofisticados ramos produtivos. As modificações também obrigaram o grande capital a realizar uma espécie de remonopolização burguesa, cujos exemplos mais significativos são as fusões e aquisições que ocorreram em escala global e que modificaram completamente o perfil societário do grande capital. Se avaliarmos o capitalismo hoje, é fácil constatar que os velhos monopólios do final do século XIX, inicio do século XXI, já não compõem mais a parte hegemônica do sistema capitalista. Foram substituídos, na maioria dos setores produtivos, financeiros e comerciais, por novos monopólios, mais sofisticados e mais ávidos por lucros, em plena sintonia com os postulados neoliberais, cuja ofensiva vem buscando refundar todos os estatutos da dominação, numa espécie de vingança histórica de classe contra o mundo do trabalho. [13] 

As transformações também tiveram grande impacto no mundo do trabalho, com a mudança expressiva do perfil dos trabalhadores. Como os novos ramos industriais têm elevado grau de sofisticação tecnológica, necessitou também de uma mão-de-obra qualificada e especializada, o que deslocou para segundo plano o tradicional proletariado da segunda revolução industrial. Entrou em cena um novo proletariado, constituído pelos trabalhadores na indústria da informática, telecomunicações, telemática, plataformas digitais, desenvolvedores de softwares, engenheiros e desenvolvedores da indústria biotecnológica e da engenharia genética. Esse novo proletariado, mais jovem e mais instruído, pode ser considerado o contraponto do novo padrão tecnológico do capital. 

As transformações na base produtivas também foram acompanhadas de modificações profundas na área financeira. O processo de internacionalização das finanças seguiu passos semelhantes e marcou de maneira profunda o sistema capitalista, ressaltando- se que o polo financeiro do capital absorveu de maneira plena as novas tecnologias, especialmente a internet, e registrou um desenvolvimento sem precedente em toda a sua história. Pela primeira vez, o setor financeiro conseguiu superar a barreira do espaço e do tempo econômico e conseguiu autoacrescentar o capital fictício nas 24 horas do dia, bastando para tanto ajustar seus negócios aos fusos horários das diversas praças financeiras mundiais. Esse processo transformou o polo financeiro no centro hegemônico dos negócios internacionais, a partir do momento em que consolidou a privatização da liquidez internacional com o mercado de eurodólares, ampliando esse processo com a desregulamentação e a livre mobilidade dos capitais. Nessa conjuntura, não foi difícil para o setor financeiro exercer sua imensa criatividade especulativa para transformar o mundo num imenso cassino. 

Os bancos tradicionais foram cedendo espaço para novas organizações financeiras, mais ousadas e mais agressivas, cujas operações apresentavam a vantagem de não estar amarrada às regulações como as instituições bancárias. [14] Dessa forma, as aplicações especulativas se transformaram na dinâmica principal da economia capitalista. Na sua saga para se apropriar de alguma forma de valor, o capital fictício aprisionou em suas malhas tanto as empresas produtivas quanto o orçamento do Estado.

a) No primeiro caso, os fundos financeiros ampliaram sua participação na gestão das empresas produtivas e transformaram a lógica do planejamento de longo prazo em estratégia de curto prazo, própria das finanças, de forma a fazer com as empresas se reorganizassem para apresentar resultados cada vez mais robustos para os acionistas. Esse processo explica a reestruturação produtiva, a reengenharia e os círculos de controles da produção e da qualidade, as demissões em massa de trabalhadores e a gestão das empresas por critérios das finanças, onde os departamentos financeiros dessas corporações passaram a ter um papel decisivo na performance das empresas, uma vez que grande parte dos resultados são obtidos na especulação financeira. [15] 

b) O Estado também caiu nas malhas do capital fictício, mediante o aumento da dívida pública e das elevadas taxas de juros cobradas pelo setor financeiro. Como os novos agentes financeiros ofereciam financiamento em abundância com maiores facilidades burocráticas e menores custos de transação, o Estado foi-se endividando continuamente a partir de uma política orientada pelos novos gestores políticos ligados ao neoliberalismo. Assim, uma parcela cada vez maior do orçamento foi sendo desviada para pagar os juros e amortizações da dívida pública até o ponto em que os próprios financiadores passaram a ditar o destino das políticas econômicas dos Estados.

A hegemonia das finanças teve como consequência macroeconômica um descolamento cada vez maior entre a órbita produtiva e a esfera financeira. Todos pareciam embriagados com o milagre da multiplicação dos lucros nas bolsas de valores e nos mercados de moedas, câmbio, metais, produtos agrícolas e, especialmente, nos chamados mercado de títulos derivativos, este último o suprassumo da especulação. Como se sabe, uma conjuntura dessa ordem, especialmente num ambiente de integração eletrônica dos mercados, os riscos sistêmicos e as rupturas de liquidez podem se propagar na velocidade da luz, podendo levar o sistema ao colapso, até mesmo porque a produção do valor é pouco expressiva diante das necessidades de valorização desses capitais fictícios. Sem bases reais de valorização, qualquer crise gera pânico e se propaga também com uma velocidade extraordinária , como aconteceu em 2008. 

Esquecendo as lições do passado 

A dimensão das mudanças na dinâmica do sistema capitalista e os riscos inerentes a uma grande crise não passaram despercebidos pelas mentes mais ilustradas dos gestores do capital. Eles tentaram reorganizar o capitalismo, mediante a radicalização dos mecanismos de mercado, a reestruturação produtiva, a desregulamentação e a livre mobilidade dos capitais, mas essas medidas contribuíram muito mais para acirrar as contradições do que para resolver os problemas colocados pela nova conjuntura. É um dado da realidade o fato de que as reformas realizadas no bojo da construção do pacto social-democrata do Estado do Bem Estar Social após a Segunda Guerra contribuíram para a instituição do mais longo período de crescimento e estabilidade do capitalismo, os chamados 30 anos gloriosos. A partir da segunda metade da década de 70, com a crise econômica de 1974-1975, a estagflação e o desemprego crônico, essa construção começou a ser questionada. A eleição de Tatcher e Reagan foi decisiva para a derrota do pacto social-democrata. Em seu lugar, instituiu-se uma nova política econômica inteiramente contrária aos postulados keynesianos, a partir dos países centrais, e que se tornaria hegemônica até os dias atuais. 

Como na fábula do escorpião e do sapo, [16] o capitalismo não pode negar o seu DNA. O intervalo das três décadas de concessões aos trabalhadores foi apenas uma tática em função da fragilidade com que o sistema saiu da segunda guerra. Tão logo reuniu condições para retomar seu curso natural, buscou desmantelar todo o arcabouço construído quando estava frágil, investiu contra os gastos públicos, os salários dos trabalhadores e os proventos dos pensionistas. Sem condições para atuar na economia real, buscou uma fuga desesperada para a órbita das finanças, além de tentar construir uma economia de serviços, centrada na especulação financeira. Durante algum tempo essa política conseguiu levar ao delírio os setores hegemônicos do capital, mas a crise sistêmica global veio demonstrar que essa a aventura era apenas uma miragem. 

Realmente, parece que os capitalistas têm memória muito curta: esqueceram-se rapidamente da Grande Depressão, da divisão do mundo em dois sistemas e das próprias concessões que foram obrigados a fazer no pós-guerra para poder sobreviver. Olvidaram-se também de que o sistema foi salvo por Keynes e sua política de intervenção do Estado na economia e gastos sociais. Como o escorpião da fábula, seguiram caminho inverso na crise sistêmica atual, mesmo sabendo que a crise já dura mais de nove anos e que até agora não se encontrou uma saída para os problemas colocados. Nessa perspectiva, os capitalistas ampliaram as medidas de expropriação dos trabalhadores, o corte nos gastos públicos e nas aposentadorias e levaram o mundo à recessão, e à queda na renda [NR] dos trabalhadores, tudo isso para continuar privilegiando uma minoria parasitária, enquanto a maioria da população está mergulhada no desemprego e na piora das condições de vida. 

Mas a estratégia capitalista, apesar de prejudicar a qualidade de vida dos trabalhadores e da população em geral, tornou mais clara e aberta a luta de classes em todo o mundo. No período dos chamados 30 anos gloriosos, a luta de classes ficara ofuscada pelo ambiente social e político do pacto social. Os trabalhadores conquistaram um conjunto de direitos e garantias que aumentaram os salários e melhoraram suas condições de vida e do trabalho, especialmente nos países centrais. Entretanto, nas três décadas depois da implantação do neoliberalismo, o capitalismo voltou e demonstrar sua verdadeira face, com aumento da exploração e concentração de renda. Para se ter uma ideia, o contingente representado pelo 1% mais rico da sociedade hoje tem renda [NR] superior aos 99% da população e apenas 62 multibilionários possuem mais renda [NR] que a metade população mais pobre do mundo, segundo relatório da Oxfan. [17] Mesmo nessas condições, a minoria parasitária continua radicalizando o processo de exploração, o saque ao fundo público, as políticas predatórias contra trabalhadores e pensionistas e avançando sobre direitos e garantias conquistados com sangue no passado. Toda essa conjuntura torna mais acirrada a luta de classes e mais didática as luta contra o capital, o que prenuncia um quadro de duras lutas sociais em todo o mundo. 

O choque das placas tectônicas 

As transformações profundas que ocorreram na base produtiva, financeira, comercial e de serviços em geral estão exigindo novas relações de produção no conjunto do sistema capitalista como ocorreu nas duas grandes crises sistêmicas anteriores. [18] Estamos em meio ao esgotamento de um longo ciclo do capital iniciado após a Segunda Guerra Mundial e a uma rebelião generalizada da base material do capitalismo contra a velha ordem construída no pós-guerra, cujos fundamentos são inadequados para esse novo patamar de acumulação do sistema. Isso explica em grande parte o fracasso das políticas implementadas pelos gestores do capital para sair da crise, uma vez que as velhas fórmulas aplicadas no passado não resolvem os problemas do presente. Como afirmávamos em trabalhos anteriores, esta crise é profunda, devastadora e de longa duração e somente será superada quando os problemas levantados pela própria crise foram solucionados. [19] Em outros termos, a crise só será revertida com mudanças também profundas na ordem econômica, social e política capitalista ou com a emergência de uma nova ordem fundada na propriedade social dos meios de produção. 

Até agora, os governos dos países centrais conseguiram reduzir os impactos mais devastadores da crise, mediante um conjunto de medidas que, apesar de negarem toda a ideologia e a trajetória neoliberal do período anterior, foram fundamentais para evitar o colapso da economia. Entre essas medidas podem se destacar: a injeção de cerca de 13 trilhões de dólares para salvar os bancos no período imediatamente posterior à crise, [20] a implantação das taxas de juros negativas e uma forte intervenção do Estado na economia, induzindo fusões e aquisições, encampando corporações quebradas e comprando títulos podres do sistema financeiro. Posteriormente, tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu, realizaram novas injeções de moeda na economia, através das chamadas flexibilidades quantitativas (quantitative easing), mas nada disso foi suficiente para reverter a crise. Essas medidas foram objeto de intensa manipulação por parte de uma vasta rede mundial de comunicações, com o objetivo de distorcer informações e criar um clima de otimismo artificial, de forma a evitar que os trabalhadores e a população em geral tomassem conhecimento da gravidade da crise e passassem a questionar as autoridades políticas. 

É bem verdade que a crise fez grandes estragos no sistema financeiro, muitas instituições desapareceram, mas o grosso desse oligopólio sobreviveu, se fortaleceu e, por incrível que pareça, continuou a política especulativa global, criando bolhas nas bolsas de valores e nos mercados em geral, inclusive nos países da periferia, e obtendo elevados lucros com o dinheiro praticamente doado pelas autoridades monetárias. A crise também provocou forte recessão nos Estados Unidos, na Europa e Japão e em muitos países da periferia, mas esse processo não se tornou mais grave porque o elevado crescimento da China (em torno de 10% do PIB ao ano) serviu para suavizar a recessão nos países centrais e, especialmente nos países emergentes, em função das importações do mercado chinês e da forte demanda de matérias-primas por parte da sua indústria. Ressalte-se que a China é responsável por cerca de 30% do crescimento mundial e por 16% da produção global, o que explica o papel da economia chinesa na redução da crise naquele período. [21] 

Mas a conjuntura mudou bruscamente desde o ano passado porque todos os mecanismos institucionais e financeiros utilizados para reduzir a crise começaram a se esgotar. Parece consensual o fato de que a impressão pura e simples de dinheiro pelos bancos centrais, solução mágica sugerida por Friedman (jogar dinheiro de helicóptero), não surtirá mais efeito algum, pois a quantidade de moeda lançada na economia não só não reverteu a crise como está se constituindo numa bomba de efeito retardado. Inundar a economia com dinheiro a partir do nada, com os mercados já saturados pelo processo de emissão anterior, só aprofundaria a crise, com a emergência de novas bolhas especulativas, inflação e desvalorizações monetárias. Se a impressão de dinheiro sem lastro resolvesse as crises, o capitalismo seria um regime eterno. Portanto, esta rota de fuga está fechada. 

O segundo movimento que ajudou a reduzir os efeitos da crise, o crescimento acelerado da China, também mudou bruscamente. Agora a economia chinesa está se desacelerando e o Produto Interno Bruto chinês deverá cair para algo próximo da metade do que vinha apresentando até 2014, ou seja, em torno de 5 ou 6%. A redução do ritmo de crescimento chinês levou a uma queda brusca nos preços das commodities, com impactos bastante negativos entre as economias emergentes, principais exportadoras de matérias-primas, além de reduzir as vendas para o mercado chinês. Comparado com a performance de outros países, os 6% do PIB seria um crescimento vigoroso, mas nas circunstâncias da conjuntura mundial atual, esse é um golpe muito forte para a economia do planeta, dado os impactos macroeconômicos de uma redução desse nível na cambaleante economia global. Nessas circunstâncias, a rota de fuga do crescimento chinês também está cortada. 

Se as duas grandes variáveis que evitaram o colapso do sistema capitalista estão esgotadas, não deveria ser surpresa para ninguém que estejamos nos aproximando de um momento definitivo da crise, quando os efeitos do choque das placas tectônicas do capital, ou seja, as contradições mais profundas do sistema chegarão à superfície e levarão a outro momento da crise geral do sistema capitalista, muito maior do que a sua explosão em 2008. 

Recessão, crise bancárias e lutas sociais 

Os fortes indícios desse novo quadro internacional já estão bem visíveis, apesar do imenso poder manipulatório dos meios de comunicação. Não se trata aqui de prever o momento exato em que esse processo será detonado, mas elencar elementos objetivos da conjuntura, alguns bastante divulgados pela mídia, outros observados apenas nas entrelinhas e outros tantos baseados na experiência histórica dos antecedentes das crises.

a) A crise do sistema bancário é muito grande, a começar pelo Deutsche Bank, J. P. Morgan, Societé Generale, BNP Paribás, UniCredit e Credit Suisse, HSBC, os bancos italianos, entre outros menores. Todas essas instituições possuem grandes exposições no mercado de títulos derivativos, bem como junto às empresas da área de commodities e de energia que estão em dificuldades econômicas. Como o mercado costuma precificar o desempenho das instituições financeiras pelas expectativas em relação ao futuro, nada mais natural que o preço das ações dos bancos venha despencando em todo o mundo, movimento que continuará à medida que a crise se agravar. Como o sistema financeiro está praticamente todo interligado por dezenas de canais especulativos e de crédito, uma quebra em um dos grandes bancos ou grande empresa ligada a esses bancos pode acionar uma quebradeira geral, como ocorreu com o Lehmann Bhothers em 2008; 

b) A recente queda nas bolsas de valores em todo o mundo é um sintoma de que a bolha especulativa, construída com dinheiro quase de graça do FED e do BCE, está se desinflando. As bolsas são instituições basicamente especulativas, mas não flutuam no vácuo: elas têm ligação com a economia real e as oscilações bruscas geralmente antecedem momentos difíceis para a economia. Portanto, as oscilações bruscas no preço das ações são também resultado das expectativas pessimistas dos agentes econômicos diante da recessão mundial que se avizinha nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e nos países periféricos, além da redução do comércio mundial, retração do crescimento da China e da possibilidade de descumprimento do pagamento das dívidas públicas em função da conjuntura adversa. 

c) Os reflexos dessa conjuntura nos Estados Unidos podem ser observados na crise do setor energético, em consequência da queda no preço do petróleo; na crise do comércio varejista e ainda na crise da infraestrutura do País, fato pouco comentado pela mídia corporativa. O preço do petróleo, com uma queda de mais de 75% de seu valor em relação a 2014, está não só inviabilizando economicamente a indústria de energia a partir do xisto, como tem levado à falência dezenas de empresas nessa área. Vale ressaltar que o setor de energia teve um papel anticíclico importante nos últimos anos nos Estados Unidos. Diante da queda no ritmo da atividade econômica e a redução dos salários, a crise também vem atingindo as cadeias varejistas, todas elas muito sensíveis à questão da renda [NR] da população. O Wal-Mart, McDonald, Gap, Macy, Sears já anunciaram o fechamento de centenas de lojas no País devido queda acentuada no consumo da população. 

d) Empresas ligadas ao comércio de commodities, como a Glencore, a maior do mundo no ramo, Trafigura e Grupo Noble estão com grandes dificuldades não só em consequência da queda nos preços das commodities, mas especialmente porque todas elas estão expostas de maneira muito acentuada no mercado de derivativos. Ressalte-se que os bancos têm U$500 mil milhões em exposição com as empresas de commodities. Nessa conjuntura, a teia de relações entre os agentes econômicos dos mais variados setores da economia fornece mais combustível para o agravamento da crise. Basta um elemento detonador para que a crise se espalhe pelos circuitos do sistema, com as consequências que todos podem imaginar.

Mas é necessário ressaltar que esses elementos da crise representam apenas a ponta do iceberg de um processo muito mais profundo e desestabilizador que é a crise do próprio sistema capitalista. O sistema está doente e permanecerá enfermo enquanto todos os problemas colocados pela crise não forem resolvidos. Estamos nos aproximando daqueles momentos históricos em que a conjuntura pode mudar com uma velocidade extraordinária e acontecimentos antes impensáveis podem se transformar em fatos corriqueiros. Mesmo com toda a ofensiva do capital, o quadro de aparente calmaria pode mudar bruscamente se as massas se colocarem em movimento. Todas as revoltas sociais foram precedidas de uma conjuntura de aparente calmaria, mas muita tensão social. 

Vale lembrar que há um descontentamento generalizado da população contra a ordem econômica, social e política do capitalismo, sistema que funciona na prática apenas para 1% dos mais ricos, enquanto os 99% são os perdedores na corrida pela apropriação da renda. Há um descontentamento ainda maior com a velha política, os políticos e partidos tradicionais burgueses e o sistema representativo e institucional apartado do povo. É um sentimento ainda difuso, mas pode se transformar em mobilizações generalizadas com o agravamento da crise. As condições em que essa minoria parasitária está levando o mundo, em função da desigualdade e do aumento da pobreza, inclusive nos países centrais, especialmente nos Estados Unidos, se assemelha muito ao período anterior à revolução francesa ou ao início do século XX, quando a luta de classe se acirrou na Europa, resultando na revolução bolchevique. 

Numa conjuntura dessa ordem, o arcabouço institucional construído nas últimas décadas poderá se desarticular, porque está podre diante das necessidades de acumulação e de novas relações de produção do sistema. Esse é um processo que poderá abalar não somente os alicerces da velha economia, mas também as instituições políticas econômicas e sociais, além do poder das frações do capital que hoje dirigem o sistema capitalista. A crise poderá fazer emergir fenômenos nunca antes observados, em função dos impactos da uma desarticulação global da velha ordem, aliada a uma crise social e política de grandes proporções. Nessa conjuntura não será surpresa a emergência de manifestações das massas indignadas nas ruas de Nova York, Los Angeles, Paris, Londres, Roma, Madri, Atenas, entre outras principais cidades do mundo. Não está descartada a emergência de uma situação revolucionária de caráter global, cujo desfecho é muito difícil de prever, dada a imponderabilidade da conjuntura. [22] Mas o mundo será bastante diferente quando esta crise terminar. 
27/Maio/2016
[1] Apesar de muita polêmica sobre quem previu a crise econômica mundial do capitalismo, vale registrar que foi o GEAB (Global Europe Antecipation Bulletin) quem primeiro anunciou publicamente a possibilidade de uma crise sistêmica global em seu boletim de fevereiro de 2006. 
[2] Uma explicação mais completa sobre a diferença entre crises cíclicas e crise sistêmica pode ser encontra em: Costa, Edmilson. A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil. São Paulo: Edições ICP, 2013. 
[3] Para melhor compreensão destes fenômenos, consultar: Moffitt, Michael. O Dinheiro do mundo. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Michalet, C. A. Capitalismo mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Chesnais, François. A mundialização do Capital. São Paulo: Xamã, 1996. Chesnais, François et alli. A mundialização Financeira. São Paulo: 1999. Chesnais, François (org.) A finança mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005. Aglietta, Michel. Macroeconomia financeira. São Paulo: Loyola, 2004. Costa, Edmilson. A globalização e o capitalismo contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular. 2009. 
[4] No Manifesto Comunista Marx já identificava essa tendência:   "A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre ... A burguesia, por sua exploração do mercado mundial, deu uma forma cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países. Para grande pesar dos reacionários, roubou da indústria a base nacional em que se assentava. As primitivas indústrias nacionais foram aniquiladas ... São ultrapassadas por novas indústrias ... Essas indústrias já não trabalham matérias-primas nacionais, mas matérias-primas oriundas das zonas mais afastadas e cujos produtos são consumidos no próprio País, mas em todos os continentes ao mesmo tempo" 
[5] Um dos estudos pioneiros do processo de internacionalização da produção pode ser encontrado em: Michalet, Charles-Albert. Capitalismo mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1984. 
[6] Moffitt, Michael. O dinheiro do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984 
[7] Moffit, op. cit. 
[8] Phihon, Dominique. Desequilíbrios mundiais e instabilidade financeira. A responsabilidade das políticas neoliberais. Um ponto de vista keynesiano. In Mundialização Financeira (coordenado por François Chesnais). São Paulo: Xamã, 1999. 
[9] BIS (Banco de Compensações Internacionais). OTC derivatives Market. Activity in the half of 2009.   Disponível em; www.bis.org .   Acesso em 20 de novembro de 2009. 
[10] Para compreender melhor as mudanças profundas provocadas pelas tecnologias da informação e, especialmente, pela internet, consultar: Castells, Manual. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. 
[11] Esta seção está baseada fundamentalmente em: Costa, Edmilson. A globalização e o capitalismo contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular, 2009. 
[12] O primeiro autor a se referir à produção do valor fora das fronteiras nacionais foi Michalet: Charles-Albert. Capitalismo mundial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, muito embora esse autor não estivesse se referindo ao processo de globalização. 
[13] Costa, Edmilson. Para onde vai o capitalismo. Notas sobre a globalização neoliberal e a nova fase do capitalismo. In São Paulo: Aduaneiras, 2004. 
[14] Guttmann, Robert. As mutações do capital financeiro. In A mundialização financeira: gênero, custos e riscos. São Paulo: Xamã, 1998. 
[15] Serfati, Claude. O papel ativo dos grupos predominantemente industriais na financeirização da economia. In A mundialização financeira (coordenação de François Chesnais). São Paulo: Xamã, 1998. 
[16] Conta a fábula que o escorpião estava à beira de um rio e queria atravessá-lo, mas como não sabia nadar, se entrasse na água morreria. Foi então que chegou um sapo ao rio e o escorpião pediu-lhe uma carona. Hesitante, o sapo perguntou se ele não o mataria durante a travessia. Prontamente o escorpião respondeu: não poderei matá-lo porque também morreria afogado. O sapo se dispôs a levá-lo ao outro lado do rio, mas quando chegou na metade do caminho o escorpião picou fortemente o sapo. Perplexo com aquela atitude suicida o sapo perguntou: por que você me picou, não sabe que iremos morrer juntos? O escorpião respondeu: desculpa, senhor sapo, é a minha natureza. 
[17] www.oxfam.org . A economia para o 1%. Documento informativo 210 (Resumo em português). Acesso em 25 de fevereiro de 2016. A Oxfam é uma ONG que estuda as questões de distribuição de renda no mundo. 
[18] As duas grandes crises sistêmicas anteriores ocorreram em 1873-1896 e em 1929-1945. Todas essas crises provocaram mudanças de qualidade no sistema capitalista e em sua gestão. Na primeira, a consequência mais geral foi a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista e, no segundo, ocorreu a segunda guerra mundial e a divisão do mundo em dois sistemas, o socialista e o capitalista, e no interior dos países do capitalismo central os trabalhadores conquistaram um conjunto de direitos e garantias que ficaram conhecidos como Estado do Bem Estar Social. 
[19] Para uma compreensão mais profunda dos trabalhos anteriores, consultar: Costa, Edmilson. A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil. São Paulo: Edições ICP, 2013. 
[20] Whitney, Mike. 2010, o ano da contração econômica severa . Disponível em resistir.info. Acesso em 20/01/2010. 
[21] Sewel, Rob. Peligro: Se aproxima una depresión mundial. Disponível em www.marxism.com . Acesso em 15 de dezembro de 2015. 
[22] Há uma confusão generalizada sobre o conceito marxista de situação revolucionária. Geralmente, as pessoas imaginam que a situação revolucionária levará inevitavelmente à revolução, o que é um erro. A situação revolucionária é um período da luta de classes em que a crise do capital e as condições de vida das massas chegam a um ponto tal em que os de baixo já não aceitam viver como antes e os de cima já não conseguem dominar como sempre dominaram. Abre-se um período de luta entre os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores. O desfecho desse processo é imponderável: tanto pode haver uma vitória dos trabalhadores, quando também pode ocorrer um retrocesso muito grande, como foi o período do nazismo e do fascismo. 

[NR] Os trabalhadores não são rentistas mas no Brasil chamam o rendimento de renda. 

[*] Doutorado em economia pelo Instituto de Economia da Unicamp, com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição. É autor, entre outros, de A globalização e o capitalismo contemporâneo (Expressão Popular, 2009) e A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil (Edições ICP, 2013), além de vários ensaios publicados em revistas e sites do Brasil e do exterior. É membro do Comitê Central do PCB, diretor do Instituto Caio Prado Junior e um dos editores da revista Novos Temas. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

NOTA DE REPUDIO AO ESTUPRO SOFRIDO POR JOVEM NO RIO DE JANEIRO E À TODA FORMA DE VIOLÊNCIA À MULHER

                                                                          
Dia 25 de maio uma adolescente de 16 anos foi estuprada por mais de 30 homens e meninos, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Não bastasse ter seu corpo violentado sem consentimento, alguns dos estupradores publicaram vídeos e fotos do crime na internet. Todos os dias, em todos lugares do mundo e em vários períodos históricos da humanidade, mulheres foram estupradas e violentadas sistematicamente.

O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro vem a público por meio dessa nota repudiar esse ato, assim todos os golpes que cotidianamente são desferidos contra nós, mulheres trabalhadoras. O sistema capitalista, ao longo de seu processo de acirramento das relações sociais de classe, desenvolveu e aperfeiçoou técnicas de controle do corpo da classe trabalhadora. 

Sendo a mulher o sujeito mais oprimido e explorado dessa relação, coube ao corpo dela a total submissão no regime do capital. Ainda em acordo com essa perspectiva dada pelo capital com relação ao corpo feminino, é possível destacar também a ideia de sexualização que se imprimiu sobre ele. 

A exposição feminina como objeto de fetiche e sexualidade criou um culto à pornografia. Essa cultura, portanto, sexualizada e violenta, que vende mais à anunciantes de televisão e rende muito lucro aos detentores dos meios de produção, tem por principal caraterística sofisticar o processo pelo qual tudo que nos cerca se torna mercadoria, incluindo aí a capacidade humana de trabalhar e produzir, retirando dos corpos, em especial das mulheres, sua autonomia. 

Segundo estatísticas veiculadas na imprensa essa semana, ocorre um estupro no Brasil a cada 11 minutos. Outro dado importante é que, de acordo com a última pesquisa feita pelo IPEA, datada de 2014 mas tão atual, mais da metade da população acredita que a culpa do estupro é das próprias vítimas que ao usarem roupas curtas estão chamando a atenção e dando aval aos agressores.

A história de luta das mulheres trabalhadoras é extensa, e sem precisar citar nossas percursoras sabemos que todos os dias Marias, Anas, Joanas, Brunas, Alexandras constroem com seus corpos a resistência que precisamos para que a luta nos leve ao fim, à emancipação da humanidade, e principalmente, a emancipação sobre nossos corpos. 

Sabemos que, principalmente nesse momento histórico que atravessamos no Brasil, cada vez mais esses mecanismos de controle buscarão nos colocar em casa, no espaço privado, como belas, recatadas e do lar. É perigoso para o Capital mulheres que se rebelam, e nossa beleza está em dizer que não, não vamos nos calar. Devemos ocupar cada espaço público, cada lugar de luta, devemos nos indignar e levantar. Por todas nós, pela classe trabalhadora e por um mundo enfim, livre.

Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro

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sábado, 28 de maio de 2016

Impeachment, crise e golpe: o Brasil no palco da tormenta mundial

                                           

Osvaldo Coggiola (*)

Em reunião plenária do Senado, a 11 de maio de 2016, foi aprovado, por 55 votos favoráveis e 22 votos contra, a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff, afastada do cargo por um período de até 180 dias, para que o processo seja concluído com sua previsível destituição (para a qual bastam 54 votos do Senado).

Um mês antes disso, um conceituado jurista, vinculado às Forças Armadas e conspícuo defensor do impeachment, afirmou o que segue num dos jornais mais lidos do país, no exato dia da votação da matéria na Câmara de Deputados: “A presidente Dilma tornou o país ingovernável, sem condições de reverter a recessão, o desemprego, o crescimento da inflação para dois dígitos, os juros altos e a pestilência da corrupção que inundou sua administração. 

O impeachment será, pois, julgado politicamente à luz do imperativo da governabilidade do país e dos elementos jurídicos que o embasam”. Em bom português: os “elementos jurídicos” do impeachment são apenas funcionais à questão central da capacidade ou da incapacidade do governo para enfrentar a crise econômica e política, ou seja, possuem uma função ornamental.

O impeachment de Dilma Rousseff, só por causa disso, pode ser qualificado politicamente como um golpe de Estado. Quem limita o uso desse conceito aos golpes militares, ou às mudanças de regime político obtidas mediante o uso explícito da força, possui um conceito estreito e formal, não só do conceito de golpe, mas também do próprio Estado e de seus regimes políticos.

A ascensão de Hitler e a concentração em suas mãos de todas as alavancas de poder, que concluiu rapidamente na criação do Estado nazista, foram realizadas mediante o uso dos mecanismos constitucionais existentes na República de Weimar.

Foi uma maioria parlamentar do Reichstag (com o Partido Comunista da Alemanha já posto na ilegalidade) que concedeu os plenos poderes ao ditador, que os usou depois para dissolver o parlamento e criar um regime declaradamente antidemocrático, racista, corporativo e genocida (e também, claro, para suprimir a Constituição precedente). Contrariamente às esperanças do reformismo de todas as cores, pela porta da democracia burguesa não passou o socialismo, mas o regime político mais reacionário da história.

O golpe-impeachment brasileiro pôs na berlinda um prato que vinha sendo cozinhado como possível alternativa política havia mais de um ano (ou seja, apenas três meses depois da posse do governo Dilma II) em reuniões mensais de parlamentares opositores e situacionistas (da “base aliada”), além de juristas e economistas de todas as cores políticas e ideológicas, reuniões organizadas por um deputado federal piauiense do PSB em Brasília. Tudo concluiu na apresentação da moção de destituição da presidente por juristas de origens políticas diversas, como Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr, além de uma professora de Direito da Universidade de São Paulo (USP) até então desconhecida do grande público.

Que o impeachment estivesse sendo preparado quase desde o início da quarta administração petista tem um significado político que transcende sua circunstância imediata. Dilma Rousseff foi, no momento de suas duas vitórias eleitorais, qualificada (ou melhor, desprezada) como um “poste” de Lula não só pela oposição, mas também pelos aliados parlamentares do PT, partido responsável pela vitória eleitoral da coalizão que a tinha como candidata presidencial.

Sua substituição por um vice-presidente peemedebista que ninguém ousaria qualificar de “poste” significa que foi usada como “escada” para a chegada ao poder do partido mais fisiológico e coberto de denúncias de corrupção do país, que não teria podido conseguir esse feito por si só, posto que amargou resultados eleitorais lamentáveis em todas as eleições posteriores à “redemocratização” brasileira em que apresentou candidatos presidenciais próprios.

A votação do impeachment na Câmara de Deputados, como se sabe, apresentou um espetáculo digno de um circo, capaz de desmitificar historicamente o parlamento brasileiro e, com ele, todo o regime político vigente no país. Dos 513 deputados presentes somente cem, menos de 20%, poderiam mostrar um curriculum vitae não manchado pela corrupção. Para dez deles só caberia, como notou um correspondente estrangeiro, o qualificativo de assassinos.

Isso explica que o julgamento político da presidenta se baseasse em denúncias sobre as pedaladas fiscais, ou seja, sobre a maquiagem das contas públicas para esconder o déficit público, prática muito comum, que já fora usada no passado pelo governo federal de Fernando Henrique Cardoso, e continua sendo usada por governos estaduais encabeçados por partidos favoráveis ao impeachment. O relator do impeachment no Senado, o ex-governador mineiro Antônio Anastasia, também praticou no seu estado as “pedaladas” pelas quais se busca destituir a titular do Poder Executivo federal.

Não entraram no rol das acusações contra Dilma as denúncias de corrupção na Petrobras e sua rede de empreiteiras. A omissão se deve ao fato de que os deputados que propuseram e votaram o impeachment carregam nas costas também denúncias de corrupção nesse assunto. A lista é encabeçada pelo agora ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, possuidor de contas no exterior não declaradas, negadas em depoimento juramentado (embora comprovadas pela Justiça), que não se apresentou à citação da Justiça amparando-se nos foros parlamentares.

Até um afilhado político de Cunha (Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal) denunciou seu padrinho como beneficiário de uma propina de R$ 52 milhões em apenas um de seus “negócios” escusos. Denúncias desse tipo também atingem o vice-presidente, “presidente em exercício”, Michel Temer.

A pressa em votar o impeachment respondeu ao interesse de garantir a impunidade dos próprios acusadores de Dilma. Por isso, o presidente da comissão de impeachment no Senado, Raimundo Lira (PMDB), decidiu não incluir as denúncias da “Lava Jato” no processo de julgamento da presidente.

(*) Osvaldo Coggiola é historiador.

(Com o Correio da Cidadania)

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A lição dos trabalhadores franceses: voltemos às barricadas!

                                                           
                                              Foto: Force Ouvrière (CC BY-NC 2.0)

Milton Pinheiro (*)

A luta dos trabalhadores franceses contra o ataque daquele Estado burguês está se consolidando como uma lição para os trabalhadores do mundo.

Trata-se de uma quadra de profundos ataques ao fundo público, aos direitos sociais e trabalhistas, e de políticas neoliberais radicais que, mesmo do ponto de vista capitalista, aprofunda a crise do sistema. É uma tentativa desesperada, e vulgar, da ordem do capital, de tentar revalorizar a sua lógica a qualquer custo.

Após intenso processo de mobilização e enfrentamento com a repressão do governo da social-democracia francesa, aquela que tragicamente em qualquer cenário de crise econômica procura sempre os ombros da classe trabalhadora para colocar o ônus das contradições da crise sistêmica do capital, teve nesta quinta-feira (26/5) uma resposta digna da cultura política revolucionária que advém dos jacobinos da revolução francesa, dos trabalhadores da primavera dos povos de 1848, dos lutadores da Comuna de Paris e tantos outros movimentos de luta da classe trabalhadora em defesa dos seus direitos. A França não teve, nesse dia, a circulação de jornais que não publicaram o comunicado público da CGT (Confederação Geral do Trabalho) e apenas o histórico jornal L’Humanité circulou pelas bancas do país. 

A ação dos trabalhadores franceses e suas organizações de classe impediram que os grandes panfletos da burguesia francesa, que não respeitam o direito à informação pública, fossem impressos e chegassem às bancas.

Nestes últimos dias os trabalhadores radicalizaram suas ações contra o pacote de medidas do governo da ortodoxia neoliberal de François Hollande, que ataca os direitos trabalhistas e previdenciários dos franceses que estão no mercado de trabalho, bem como da juventude que irá adentrar esse espaço da vida social. Como reação, avança uma intensa jornada de lutas da classe trabalhadora com grandes manifestações políticas e culturais para impedir a catástrofe social que o capital mundial e seu consórcio francês querem impor.

O bloco de lutas dos trabalhadores tem organizado, e avançado, na mobilização social. Dezenas de milhares de trabalhadores ocuparam as ruas de Paris, cercaram com atividades culturais o monumento da República, protestaram por toda a França e tem enfrentado com determinação a repressão policial.  A CGT também conseguiu o apoio dos trabalhadores do controle ferroviário e aéreo que já paralisaram suas atividades.

A intensa jornada de lutas se afirmou de forma vitoriosa sobre algumas das mais importantes atividades industriais do país, com a paralisação de 16 das 19 usinas nucleares e o fechamento da grande maioria das refinarias e depósitos de combustível. A escassez de combustível já atinge várias localidades da França.

O bloco de lutas promete novas ações para impedir o êxito da reforma trabalhista anunciada, que mais uma vez atinge a jornada de trabalho com a possibilidade de aumento de 48 até 60 horas de trabalho semanal, de acordo os interesses do patrão. O governo Hollande, através dessa contrarreforma proposta, permite total liberdade ao patronato para flexibilizar e precarizar as relações de trabalho.

Esse projeto propõe o fim do adicional de horas extras para aqueles que trabalham além das 35 horas semanais, quebra a negociação por ramo de atividade e categoria para possibilitar acordos por empresas. Fato que pode quebrar a unidade da classe e a sua capacidade de articulação e organização. No entanto, como a história das lutas sociais já comprovou, os trabalhadores franceses reagiram com grande mobilização e intensidade a este ataque da ordem do capital que veio, mais uma vez, pelas mãos da social-democracia européia.

Lutas com ações de grande impacto têm sido feitas, a exemplo do bloqueio e fechamento do porto de Le Havre na Normandia, que atingiu fortemente o deslocamento pela ponte que conecta esse importante porto às cidades e outras localidades do país, inclusive não deixando que as forças da repressão pudessem se locomover para agir nessa região. Informações também apontam que piquetes de trabalhadores atingem a Bretanha, paralisando a produção industrial na área portuária de Brest.

Com essa jornada de lutas os trabalhadores franceses nos lembram uma lição: é preciso lutar e que é possível vencer. O avanço desse bloco de lutas deverá tender à derrota do governo.

A França das lutas operárias e libertárias nos avisa que as barricadas estão à vista, cabe agora aos trabalhadores do mundo levantá-las por sua emancipação.

[1]* Milton Pinheiro é cientista político e pesquisador da área de história política. Professor do Programa de Pós-graduação em História, cultura e práticas sociais da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Tem vários livros publicados, entre eles, Ditadura: o que resta da transição (Boitempo, São Paulo, 2014).

(Com o Diário Liberdade)