sábado, 30 de novembro de 2013

Encontro Nacional da Verdade: a história de uma militante da UJC

                                                            

Vou lhes contar a história de homens e mulheres que se fizeram heróis quando outros, seus semelhantes, se tornavam vilões, covardes, omissos.

E dentro das Igrejas.

Vou lhes falar também da judia, militante da União da Juventude Comunista, que um dia se casou com um comunista histórico e foi testemunha de dois fatos que revelam a saga de um bom militante: a história de amor entre Berta e Jaime. Jaime, o menino que, aos quatro anos tornou-se o preso mais jovem do Brasil.

E que, prestes a morrer, dava uma tarefa à mulher: "Avise ao partido da minha morte". 

Vou lhes falar um pouco de Berta Ludischevitch e de Jaime Goifman, dentre outras histórias, conforme relatos nas reuniões dos dias 29 e 30 das Comissões Nacional da Verdade e de Minas Gerais.

Hoje vou lhes falar um pouco sobre a influência do trabalho de Jaime Goifman no Partido. Começo dizendo que através dele comecei a militar numa célula do PCB, a dos comerciários.

Havia sido levado para o Partido por Dimas Perrin. Com Goifman fui atuar no comércio, tal qual José Costa, menino que veio de Niterói fundar o PCB em BH. Através também de Goifman passei a atuar também na União Israelita.

Com Dimas aprendi a atuar junto às canadas populares nos bairros e favelas. 

Jaime foi preso diversas vezes, sozinho e/ou junto com seus pais, como a primeira vez, em pleno florescer de sua rica existência: aos quatro anos de idade. Nas últimas prisões, época da ditadura cívico-militar de 1º de abril de 1964, foi sequestrado da loja de seu pai, na Rua Guarani, fazendo com que a família saísse de porta em porta das organizações de repressão à sua procura. Época de dificuldades...

Mas era um quadro imbatível como aos quatro anos gritando com seus algozes: "Sou comunista", "Sou comunista".

Já idoso, com um casal de filhos, sofrendo de câncer, pouquinho antes da morte chamou Berta e lhe deu uma incumbência: "Avise o Partido".

Afinal a vida dele sempre esteve ligada ao marxismo-leninismo, ao ao internacionalismo proletário e ao PCB.

Um exemplo para os novos quadros da União da Juventude Comunista, onde Berta Goifman militou.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Padres Franciscanos resistiram contra a ditadura mas setores reacionários da Igreja ficaram contra o povo


                                                
Anivaldo Padilha, da Comissão Nacional da Verdade, Antônio Romanelli, da Comissão Estadual e Márcio Santiago, da OAB

A Igreja teve altos e baixos no episódio da ditadura cívico-militar que se abateu sobre o Brasil dia 1º de abril de 1964.Teve os reacionários que traíram o povo ficando do lado dos golpistas. E teve heróis, muitos heróis que lutaram contra o regime autoritário e/ou apoiaram os que lutaram sem cessar contra os desmandos.Tudo isso foi dito na reunião aberta sexta-feira, dia 29, na sede regional da Ordem dos Advogados do Brasil, seção de Minas Gerais.Hoje, dia 30, os trabalhos prosseguem e com eles certamente novas denúncias de maus-tratos, tortura, perseguição sem fim.

Os trabalhos de abertura de ontem tiveram duas depoentes emocionadas e bastante firmes: Zélia Rogedo e Angelina Leite, militantes desde a primeira hora contra a ditadura e ambas ligadas à Igreja, tema central dessas reuniões conjuntas da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão Estadual da Verdade de Minas Gerais: "O papel da Igreja na Ditadura".

Muita denuncia foi feita, muitos fatos relembrados e muita coisa se junta às apurações da Comissão Nacional da Verdade que vai cruzar dados, somar às estatísticas, imprimir depois um relatório.

Foi lembrado, por exemplo, que o IBOPE escondeu da divulgação estatísticas que mostravam o apoio ao povo brasileiro às reformas de base pretendidas pelo governo do sr. João Goulart nos anos de 1963 e 1964.

Foram denunciadas as perseguições aos padres franciscanos que deram acolhida ao Congresso da UNE e às ações de militantes da AP e de outras organizações de esquerda contra a ditadura.E sofreram com bombas atiradas contra suas instalações e tiveram sermões gravados e passaram por torturas, como às infringidas ao padre Francisco Lage, depois alojado no convento dos franciscanos no bairro Carlos Prates, até sua saída do país.

E foram lembradas figuras sombrias da Igreja traidora assim como outras, como d Helder Câmara, postando-se ao lado dos que lutavam contra o poder instituído pela força.

Angelina Leite lembrou que viu o líder comunista Gregório Bezerra ser tratado pior do que animal quando de sua prisão. Ela própria relata ação da Operação Condor que por pouco não pega uma argentina grávida, felizmente socorrida a tempo pelo ação de militantes pelos direitos humanos em BH, dentre elas a própria Angelina Rogedo.

Na reunião deste sábado, dentre outros estarão depondo Emely Vieira Salazar e Betinho Duarte. A primeira, militante da Arquidiocese de Belo Horizonte e Alberto Duarte, o Betinho, ex-vereador de Belo Horizonte. Ambos compõem a Comissão da Verdade do Estado de Minas Gerais, uma das cerca de 120 existentes no Brasil.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

4º ENCONTRO DO GRUPO DE ESTUDOS DE ANARQUISMO - IHG

                                                          
                                     ( GEA-IHG / 2ª EDIÇÃO - 2013) 

- Sábado, dia 30/11/2013, de 14h às 16h.
Local: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania - IHG
RUA HERMILO ALVES, 290, SANTA TEREZA - BH/MG

*ÚLTIMO ENCONTRO DESTA EDIÇÃO, DEPOIS SÓ EM 2015( todo ano ímpar)!!!

- os direitos humanos, a cidadania e a luta contra a exploração e a opressão na perspectiva anarquista:

MONTEIRO, Fabrício Pinto. Construção de memórias e escrita da história como militância política: Edgar Rodrigues e o anarquismo durante a ditadura militar no Brasil. PERSEU Revista do Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo, n. 8, ano 6, junho 2012. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2012, p. 91-119.

http://www.mediafire.com/download/66944v1f6r9pc92/MONTEIRO%2C_Fabrício_Pinto._Construção_de_memórias_e_escrita_da_história_como_militância_política_Edgar_Rodrigues_e_o_anarquismo_durante_a_ditadura_militar_no_Brasil._Perseu._São_Paulo%2C_Editora_Fundação_Perseu_Abramo%2C_n._8%2C_ano_6%2C_junho_2012.pdf

Evento no Facebook:
https://www.facebook.com/events/1427516444130554/

Acessem a divugação no blog do GEA-IHG:
http://gea-ihg.blogspot.com.br/2013/10/ultimo-encontro-da-2-edicao-do-gea-ihg.html

Acessem a divulgação no blog do IHG:
http://institutohelenagreco.blogspot.com.br/2013/10/ultimo-encontro-da-2-edicao-do-gea-ihg.html

* Pedimos a todas e todos que venham com o texto impresso para facilitar nossa discussão 
no 4º ENCONTRO DO GRUPO DE ESTUDOS DE ANARQUISMO - IHG ( GEA-IHG / 2ª EDIÇÃO - 2013). 
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O GEA-IHG é uma das atividades de formação para membros do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania - IHG, para militantes e visitantes. Estudamos conceitos, correntes, tendências e a história do anarquismo.

Ocorre sempre nos anos ímpares, no segundo semestre, com quatro encontros: de agosto a novembro, no último sábado de cada mês.

O último encontro de cada edição aborda os direitos humanos, a cidadania e a luta contra a exploração e a opressão na perspectiva anarquista. A 1ª edição foi no ano de 2011.   

Não há necessidade de inscrição prévia. O GEA-IHG possibilita a entrada de novos interessados no decorrer do semestre - basta ler os textos e comparecer nos debates.
  
SAUDAÇÕES LIBERTÁRIAS !
   


                Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania / I.H.G. 
                     Rua Hermilo Alves, 290 - Santa Tereza - BH/MG
                 Onibus: 9103, 9210 e SC01 - Metrô: Estação Sta Efigênia
                       www.institutohelenagreco.blogspot.com
                  - Reuniões abertas aos sábados, às 16 horas -
               

O que é Partido? Muita gente pensa que sabe mas não sabe...

O jornalista Antonio Gramsci

                                                    

Dênis de Moraes


Este texto é uma versão preliminar de parte da pesquisa “Gramsci e a imprensa: jornalismo, hegemonia e contra-hegemonia”, que coordeno com os apoios do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa Cientista do Nosso Estado da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Meu objetivo é contribuir para tornar mais conhecida entre nós a trajetória e os escritos jornalísticos do filósofo marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937), desde os anos de iniciação em Turim até a fundação do jornal L’Unità, órgão oficial do Partido Comunista da Itália (PCI), do qual foi redator-chefe. (1)

Suas atividades como jornalista vinculam-se, na maior parte do tempo, à militância como intelectual, ativista revolucionário e dirigente comunista. Só se interromperam em 8 de novembro de 1926, quando foi preso pela ditadura fascista com base em leis de exceção decretadas por Benito Mussolini, depois de terem sido revogadas suas imunidades como deputado eleito pelo PCI em 6 de abril de 1924. Mesmo nas condições barbáricas do cárcere, Gramsci encontrou ânimo para redigir apontamentos teóricos sobre a imprensa, o jornalismo e os jornalistas, objetos da investigação que realizo. Algumas dessas reflexões menciono em ensaios incluídos no meu livro Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação, em parceria com Ignacio Ramonet e Pascual Serrano, publicado pela Boitempo em 2013.

Antonio Gramsci esteve ligado ao jornalismo em etapas importantes de sua infelizmente curta mas intensa e fecunda jornada. De 1910, quando publicou o primeiro texto em L’Unione Sarda, até ser preso pelo fascismo em 1926, ele escreveu nada menos do que 1.700 artigos. Equivalem a mais do que o dobro das páginas reunidas nos Cadernos do cárcere, redigidos entre 1929 e 1935. “Em dez anos de jornalismo, escrevi linhas suficientes para encher quinze ou vinte volumes de quatrocentas páginas”, ressaltou numa carta à cunhada Tatiana Schucht, escrita na Penitenciária de Túri em 7 de setembro de 1931.[2]

Foi a partir de 1915, em Turim, que Gramsci se dedicou ao jornalismo, após desistir do curso de Letras (embora tenha mantido o fascínio pelos estudos linguísticos e literários). Já adepto do marxismo, colaborou nos jornais Il Grido del Popolo e Avanti!, ligados ao Partido Socialista Italiano. Em 1917, dirigiu o único número da revista La Cittá Futura, que visava estimular debates sobre a atualidade nacional e o socialismo, e no qual divulgou textos de Gaetano Salvemini e Benedetto Croce, intelectuais cujas ideias, a seu ver, deveriam ser mais conhecidas e discutidas. 

Em 1919, ao lado de Palmiro Togliatti, Umberto Terracini e Angelo Tasca, Gramsci fundou o semanário L’Ordine Nuovo, cujo subtítulo era “Resenha semanal de cultura socialista”. Tendo Gramsci como editor-chefe, L’Ordine Nuovo circulou de 1º de maio de 1919 a 24 de dezembro de 1920. Em 1º de janeiro de 1921, o jornal passou a ser diário, sob o lema “Dizer a verdade é revolucionário”. Vinte dias depois, passou a ser o órgão central do Partido Comunista Italiano (PCI), que acabara de ser fundado. Gramsci foi seu redator-chefe e articulista até 1924, quando L’Ordine Nuovo acabou substituído por L’Unità (“Diário dos operários e dos camponeses”).

Seus artigos, assinados ou com iniciais, ou com outras indicações de autoria, aparecem nestas publicações, cujo traço convergente era o compromisso com as lutas sociais e a renovação político-partidária e cultural. O espírito indômito que o impelia ao front jornalístico foi resumido numa carta à cunhada Tatiana Schucht, em 12 de outubro de 1931:
“Nunca fui jornalista de profissão, que vende sua pena a quem pagar melhor e deve continuamente mentir, porque a mentira faz parte de suas qualificações. Fui jornalista absolutamente livre, sempre de uma só opinião, e nunca tive de esconder minhas profundas convicções para agradar a patrões ou prepostos.”[2]

O jornalista Gramsci não fugiu de controvérsias partidárias e teóricas; defendeu pressupostos ético-políticos; e propôs estratégias, alianças e táticas de ação para a luta de classes. Não temeu a imersão no que antevia ser um difícil, acidentado, mas possível percurso de construção da sociedade socialista. E fez do jornalismo o principal veículo para o exercício da crítica, associada por ele, em artigo publicado no Il Grido del Popolo em 1916, aos espíritos insubmissos que rechaçam a alienação e o conformismo e se guiam pelo compromisso com a liberdade e a humanização da vida.

Grande parte da produção jornalística de Gramsci reflete a sua evolução intelectual e a atuação política em meio a “dramáticos acontecimentos históricos (o primeiro conflito mundial, a revolução e a eclosão da primeira etapa da guerra, fria e quente, contra a Rússia soviética, o processo de radicalização ideológica e política do movimento operário no Ocidente, o despertar dos povos coloniais e as persistentes ambições imperialistas das grandes potências liberais, o advento do fascismo), aprofunda e radicaliza a crítica ao liberalismo e amadurece, em todos os níveis, a passagem ao comunismo”.[3]

Gramsci trata de uma gama de questões políticas, assuntos culturais e problemas filosóficos, alguns dos quais abordaria, de maneira mais sistemática, nos Cadernos do cárcere, ainda que sem dispor de ambiente e meios adequados para estudar. A variedade temática extrapolou bastante os limites da política, incluindo acontecimentos do cotidiano, personalidades públicas, economia, religião, pedagogia, artes, literatura, estética, imprensa, moral, etc. 

O estilo combativo de traduzir, em colunas jornalísticas, o mundo em constante ebulição, a partir da janela de contemplação de Turim, iria transformar Gramsci, segundo seu melhor biógrafo, Giuseppe Fiori, “na revelação do novo jornalismo socialista e, nos anos de guerra, praticamente no seu protagonista exclusivo”:
“Era evidente em todos os escritos de Gramsci, de breves ensaios teóricos às crônicas teatrais, um estilo novo, a passagem da ênfase discursiva dos Rabezzana e dos Barberis ao gosto pela ação; a língua velada, às vezes de pureza clássica, tão distante daquela em mangas de camisa dos ‘velhos’; a coerência, o fio que unia todos os escritos, para os quais temas aparentemente distantes eram na realidade ocasiões sucessivas para o desenvolvimento de um discurso nunca interrompido, e a originalidade e o concreto das propostas políticas, iluminadas sempre pela convicção de que a teoria não traduzível em fatos é abstração inútil e as ações não sustentadas pela teoria são impulsos infrutíferos.”[4]

As ênfases de sua obra jornalística podem ser agrupadas em três etapas.[5] Na primeira fase (1916-1918), ele reprovou tendências reformistas e positivistas dentro do Partido Socialista Italiano, colocando em relevo a participação ativa dos trabalhadores nas lutas pelo socialismo, a partir de uma formação política que favoreça o engajamento consciente e ajude a classe operária a superar uma visão econômico-corporativista.

Na segunda etapa (1919-1920), Gramsci insistiu em que não se deve reduzir o processo revolucionário às dimensões econômicas e políticas, nem a tentações insurrecionais que não correspondiam, a seu ver, à análise da realidade objetiva. Ele salientou a necessidade de expandir a dimensão cultural da luta de classes, através de meios de difusão e de ações pedagógicas capazes de denunciar as estruturas excludentes da sociedade capitalista, aprofundar a consciência dos trabalhadores e exigir a transformação radical das relações sociais de produção. 

Na terceira etapa (1921-1926), como dirigente do PCI, Gramsci avaliou os obstáculos decorrentes da ascensão do fascismo. Convenceu-se de que as contradições do capitalismo não levariam inexoravelmente ao socialismo, o que obrigava as forças populares e socialistas a esboçar novas estratégias de luta considerando as complexidades dos países desenvolvidos. Ele destacou o enorme peso do fator cultural em uma sociedade civil mais densa, povoada de organizações complexas, na qual incidem múltiplas variantes intelectuais, sem contar a desmedida e altamente problemática interferência dos meios de comunicação na conformação da opinião pública.[6]

Nos textos pré-carcerários, Gramsci criticou o alinhamento ideológico de grandes jornais ao poder, bem como as fórmulas verticalizadas de controle do noticiário e da opinião. Em 26 de abril de 1922, foi contundente: “Os jornais do capitalismo teriam feito vibrar todas as cordas dos sentimentos pequeno-burgueses; e são estes jornais que asseguram à existência do capitalismo o consenso e a força física dos pequeno-burgueses e dos imbecis”.[7]

Para o filósofo italiano, os jornais burgueses “apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa com prejuízo da política e da classe operária”. Exemplificou com a cobertura tendenciosa das greves: “Para o jornal burguês os operários nunca têm razão. Há manifestação? Os manifestantes, apenas porque são operários, são sempre tumultuosos, facciosos, malfeitores”. Assim, o convencimento sobre os irremediáveis conflitos ideológicos entre a classe trabalhadora e a imprensa burguesa justifica a atitude política que Gramsci reputava como a mais consequente: boicotar os jornais vinculados às elites. E justificou:

“Tudo o que se publica [na imprensa burguesa] é constantemente influenciado por uma ideia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. (…) E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador”.[8]

L’Ordine Nuovo representou para Gramsci a experiência mais nítida de “união entre pensamento e ação”. Entre 1919 e 1920 – o chamado “biênio vermelho” na Itália, marcado por manifestações operárias –, o jornal assumiu decididamente a defesa das comissões ou conselhos de fábricas, as células de autogestão proletária concebidas como variantes dos sovietes criados pela Revolução Russa de 1917. 

As páginas de L’Ordine Nuovo alinharam-se à mobilização em torno das comissões de fábrica, que se constituíam em núcleos de organização da luta operária, dentro de uma estratégia compatível com as circunstâncias da sociedade italiana. O ponto de partida foi o artigo de Gramsci “Democracia operária”, publicado em junho de 1919, no qual sustentava:

“A fábrica, com suas comissões internas, os círculos socialistas, as comunidades camponeses são os centros de vida proletária nos quais é preciso trabalhar diretamente. As comissões internas (de fábrica) são os órgãos da democracia operária que é necessário libertar das limitações impostas pelos empresários e nos quais é preciso infundir vida e energia novas. Hoje, as comissões internas limitam o poder do capitalista na fábrica e desempenham funções de arbitragem e disciplina. Desenvolvidas e enriquecidas, deverão ser amanhã os órgãos do poder proletário que substituirá o capitalista em todas as suas funções úteis de direção e de administração.”

A tentativa de L’Ordine Nuovo era chegar, sobretudo, a estudantes, intelectuais e operários, nas fábricas, nos atos públicos e nas organizações sindicais, com a finalidade de difundir as reivindicações, fortalecer a organização dos trabalhadores e aumentar a sua consciência sobre a própria condição social e as funções por eles desempenhadas no processo produtivo e no conjunto da sociedade.

“A partir desse momento, a ideia de uma nova estruturação de poder que partisse da célula da comissão interna da própria fábrica e que fosse ampliada pelas massas de operários cada vez mais conscientes do próprio papel, passou a ser a mola propulsora de L’Ordine Nuovo. (…) A revista passou a atuar, portanto, em um campo bem diferente daquele que era comum às outras revistas que já tivemos ocasião de mencionar. Atuou bem próxima dos operários, bem mais que a Critica sociale, até então a revista do partido socialista. E os operários italianos, pela primeira vez na história, encontraram nos socialistas deL’Ordine Nuovo a determinação de concretizar, de colocar em ato, o que se vinha há tempos afirmando teoricamente.”[9]

Convencidos de que uma revolução socialista era uma possibilidade concreta, tendo em vista as ondas de contestação e rebeldia vivenciadas na Rússia, na Alemanha, na Hungria e na própria Itália, Gramsci e os articulistas de L’Ordine Nuovo travaram embates não apenas com a direita a caminho do fascismo (que acusava as comissões de fábrica de optarem por “um sindicalismo revolucionário, subversivo e fora da lei”), como também com correntes de esquerda que divergiam de suas concepções estratégicas e/ou de seus métodos de ação.

Da batalha das ideias na trincheira jornalística, Gramsci recolheu a certeza de que a publicação, dali em diante, seria indispensável à luta revolucionária. Inclusive após o refluxo dos conselhos de fábrica ainda em 1920, quando acolheu autocríticas sobre erros e ilusões em torno do movimento, como, por exemplo, a crença de que poderia se irradiar, com o ímpeto inicial de Turim e Piemonte, por todo o país, o que afinal não se verificou. No balanço da experiência, Gramsci ressaltou a sintonia moral, espiritual e política de L’Ordine Nuovo com causas e anseios do proletariado:

“Os artigos de L’Ordine Nuovo não eram frias arquiteturas intelectuais, mas brotavam de nossa discussão com os melhores operários, elaboravam sentimentos, vontades e paixões reais da classe operária de Turim, que tinham sido experimentados e provocados por nós. E porque os artigos de L’Ordine Nuovoeram quase como ‘uma tomada de consciência’ de eventos reais, vistos como momentos de um processo de íntima libertação e auto-expressão da classe operária.[10]

Quanto ao L’Unità, qualificou-o como “um jornal de esquerda, da esquerda operária, que permaneceu fiel ao programa e à tática da luta de classe, um jornal que publicará as atas e as discussões do partido, mas também, na medida do possível aquelas dos anarquistas, dos republicanos, dos sindicalistas”. E acrescentou: “Importa assegurar a nosso partido (…) uma tribuna legal que lhe permita atingir, de modo contínuo e sistemático, as amplas massas.” 

No mesmo ano em que surgiu L’Unità, Gramsci concebeu uma revista trimestral de estudos marxistas e de cultura política, intitulada Crítica Proletária, e lançou uma revista teórica quinzenal, reeditando o título L’Ordine Nuovo

A proposta era difundir o ideário do PCI e “educar e esclarecer a vanguarda operária” – uma vanguarda que precisaria se mostrar capaz de construir, na longa e árdua luta anticapitalista, o Estado dos conselhos operários e camponeses, estabelecendo as bases para a emergência e a consolidação da sociedade socialista.

Inspirando-se nas teses de Karl Marx e Vladimir I. Lenin sobre a imprensa comunista como instrumento de agitação, propaganda, esclarecimento, educação e formação da consciência revolucionária, Gramsci analisou o vínculo orgânico entre imprensa e ativismo político. Em primeiro lugar, o jornal deveria realçar em seus noticiários questões que diziam respeito à classe operária italiana e mundial, o papel histórico do Partido Comunista na condução revolucionária e as relações do partido com os sindicatos. 

Em segundo lugar, o diário só cumpriria seus propósitos se conseguisse “infundir nas massas operárias que um jornal comunista é carne e sangue da classe operária, e não pode viver, lutar e se desenvolver sem o apoio da vanguarda revolucionária, ou seja, daquela parte da população operária que não se desencoraja diante de nenhum insucesso, que não se desmoraliza em face de nenhuma traição, que não perde a confiança em si e nos destinos de sua classe, ainda que tudo pareça submergir no caos mais negro e cruel”.[11]

Assim sendo, Gramsci classificava o jornal partidário como intérprete e elemento propulsor das reivindicações populares, com a tarefa de conscientizar as massas sobre a exigência insuperável de se derrogar o capitalismo, que arrasta consigo a exploração do homem pelo homem.

Nos Cadernos do cárcere, Gramsci retoma as análises sobre a imprensa, acentuando que a função dos jornais transcende a esfera político-ideológica e embute as determinações econômico-financeiras das empresas jornalísticas, que as impelem a atrair o maior número possível de leitores, em busca de rentabilidade e influência. 

Ele enfatiza que a imprensa burguesa se move em direção ao que possa agradar o gosto popular (e não ao gosto culto ou refinado), com o propósito de atrair “uma clientela continuada e permanente”.[12] E acrescenta que, por mais que as diretrizes editoriais tenham sua própria lógica de definição e aplicação, o fator ideológico constitui fator de estímulo ao ato econômico de aquisição e divulgação dos jornais, na medida em que suscita nos leitores identificações e empatias. 

Os componentes socioeconômicos e ideológicos estão na base do que o filósofo italiano denomina de “jornalismo integral”, isto é, “o jornalismo que não somente visa satisfazer todas as necessidades (de uma certa categoria) de seu público, mas pretende também criar e desenvolver estas necessidades e, consequentemente, em certo sentido, gerar seu público e ampliar progressivamente sua área [de influência]”.[13]

Ao focalizar a imprensa italiana das primeiras décadas do século XX, Gramsci a enquadra como “a parte mais dinâmica” da superestrutura ideológica, caracterizando-a como “a organização material voltada para manter, defender e desenvolver a ‘frente’ teórica ou ideológica”[14], ou seja, um suporte ideológico do bloco hegemônico. 

Na visão gramsciana, enquanto aparelhos privados de hegemonia (organismos relativamente autônomos em face do Estado em sentido estrito), a imprensa elabora, divulga e unifica concepções de mundo. Ou seja, cumpre a função de difundir conteúdos que ofereçam orientações gerais para a compreensão dos fatos sociais, a partir de óticas sintonizadas com determinado agrupamento social mais ou menos homogêneo e preponderante.

Nessa perspectiva, Gramsci situou os jornais como verdadeiros partidos políticos, na medida em que interferem, com ênfases específicas, nos modos de seleção e interpretação dos acontecimentos:
“Jornais italianos são muito mais bem-feitos do que os franceses: eles cumprem duas funções – a de informação e de direção política geral, e a função de cultura política, literária, artística, científica, que não tem seu órgão próprio difundido (a pequena revista para a média cultura). Na França, aliás, mesmo a função distinguiu-se em duas séries de cotidianos: os de informação e os de opinião, os quais, por sua vez, ou dependem diretamente de partidos, ou têm uma aparência de imparcialidade (Action Française – Temps – Débats). Na Itália, pela falta de partidos organizados e centralizados, não se pode prescindir dos jornais: são os jornais, agrupados em série, que constituem os verdadeiros partidos”.[15]

Antes e durante os injustos, sombrios e extremamente penosos anos do cárcere, Antonio Gramsci demonstrou ter exata noção do papel-chave da imprensa como aparelho privado de hegemonia sob influência de classes, instituições e elites dominantes. Os meios de comunicação procuram intervir nos planos ideológico-cultural e político com o intuito de disseminar informações e ideias que concorrem para a formação e a sedimentação do consenso em torno de determinadas concepções de mundo. A maioria deles funciona como alicerces para a conservação da hegemonia do que José Paulo Netto bem definiu como “a ordem social comandada pelo capital”. [16]

Notas

[1] Consultar a introdução de Carlos Nelson Coutinho no volume 1 (1910-1920) dos Escritos políticos, de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
[2] Antonio Gramsci. Cartas do cárcere (vol. 2: 1931-1937). Org. de Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 103.
[3] Domenico Losurdo, “Os primórdios de Gramsci: entre o Risorgimento e a I Guerra Mundial”, Cadernos Cedes, Campinas, vol. 26, nº 70, setembro-dezembro de 2006, p. 17.
[4] Giuseppe Fiori. A vida de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p 128-129.
[5] Thiago Chagas Oliveira e Sandra Cordeiro Felismino. “Formação política e consciência de classe no jovem Gramsci (1916-1920)”. Anais do VI Seminário do Trabalho: Trabalho, Economia e Educação no Século XXI, Unesp, Marília, 2008, p. 1-5.
[6] Daniel Campione. Para ler a Gramsci. Buenos Aires: Ediciones del Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorini, 2007, p. 20.
[7] Antonio Gramsci. Escritos políticos (vol. 2: 1921-1926). Org. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004, p. 116-117.
[8] Antonio Gramsci,. “Os jornais e os operários”. Marxists Internet Archive, 2005c.
[9] Maria Teresa Arrigoni, “Gramsci: universidade, jornalismo e política”, Perspectiva, Florianópolis, vol. 5, nº 10, janeiro-junho de 1988, p. 74-75.
[10] Antonio Gramsci. Escritos políticos (vol. 1: 1910-1920). Org. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004, p. 404.
[11] Antonio Gramsci. Escritos políticos, ob. cit., vol. 1, p. 431-432.
[12] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, (volume 2: Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo). Org. de Carlos Nelson Coutinho, Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, vol. 2, p. 218.
[13] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, ob. cit., vol. 2, p. 197.
[14] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, ob. cit., vol 2, p. 78.
[15] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, ob. cit., vol. 2, p. 218.
[16] José Paulo Netto. O leitor de Marx. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p. 7.
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Dênis de Moraes é doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO, Argentina). Atualmente, é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do CNPq e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Autor, organizador e co-autor de mais de 25 livros publicados no Brasil, na Espanha, na Argentina e em Cuba.

FONTE: Blog da Boitempo (Com Prestes a Ressurgir)

Um dirigente comunista de projeção internacional que ultrapassa as fronteiras do século XX

                                                                    
                                                         


Severino Menéndez (*)


Para os comunistas de todo o mundo este centenário é um momento de homenagem necessária, mas também uma nova oportunidade de compartilhar e entender o exemplo e a obra de um homem que, perante os avanços e retrocessos dos processos revolucionários, soube manter a perspectiva no objectivo do socialismo e do comunismo e a confiança na classe operária e na capacidade desta em realizar a sua missão histórica.

A 10 de Novembro do presente ano cumpre-se o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, militante do Partido Comunista Português de que chegou a ser Secretário-geral, dirigente destacado do Movimento Comunista Internacional.

Para os comunistas de todo o mundo este centenário é um momento de homenagem necessária, mas também uma nova oportunidade de compartilhar e entender o exemplo e a obra de um homem que, perante os avanços e retrocessos dos processos revolucionários, soube manter a perspectiva no objectivo do socialismo e do comunismo e a confiança na classe operária e na capacidade desta em realizar a sua missão histórica.

Homem de criação e compromisso inquebrantáveis, protagonizou uma das mais importantes contribuições, sempre imerso no trabalho partidário, na derrota do fascismo em Portugal, sendo, indubitavelmente, o grande teórico da Revolução de Abril.

Obras como Rumo à Vitória (1964), Relatório da Actividade do CC ao VI Congresso do PCP (1965) e Contribuição para o Estudo da Questão Agrária (1966), escritas uma década antes da Revolução de Abril, são textos fundamentais para a compreensão do processo revolucionário que acabaria com a ditadura fascista em Portugal. Vivendo o próprio processo revolucionário a confirmar a validade estrutural das suas análises, previsões e alertas, assim como a validade dos objectivos aí propostos a serem alcançados com a revolução.

Homem de coragem e fortes convicções, soube não sucumbir às duras circunstâncias da luta sob o fascismo que o obrigou a passar por torturas e prisões várias vezes, uma delas 11 anos seguidos dos quais 8 foram de isolamento, até à sua fuga com outros camaradas da prisão-fortaleza de Peniche.

Mesmo assim manteve a alegria de viver e de lutar que lhe vinha de uma profunda convicção na justiça da causa entusiasmante e invencível da libertação dos trabalhadores e dos povos de toda a espécie de exploração e opressão.

Só assim se pode entender como ele e tantos outros ao longo da história, afirmando considerar a actividade partidária como aspecto central das suas vidas consagraram e consagram tempo, energias, faculdades e atenção à actividade do Partido. Enfrentando com as nossas ideias e a nossa luta toda a espécie de dificuldades, perigos e perseguições, até torturas e condenações se as condições assim o impuserem, e perder mesmo a vida tal seja necessário.

Um homem de partido que viu com clareza que a união com a classe operária e as massas populares é a essência e a substância da acção do Partido e a origem básica da sua força e da sua capacidade de sobrevivência e resistência nas mais variadas provas. Natureza de classe que é determinante nos hábitos de organização e de disciplina, de clareza de objectivos, de coesão, de espírito colectivo, de capacidade de organização, de combatividade e de solidariedade.

Natureza de classe que se afirma e se revela em primeiro lugar na ideologia, já que o marxismo-leninismo é a ideologia da classe operária na época de transição do capitalismo para o socialismo. Mas também nos seus objectivos, já que a libertação da exploração capitalista e a construção do socialismo e do comunismo significam a subida da classe operária a classe dirigente e governante da sociedade, a liquidação da exploração capitalista da qual a classe operária é o principal objectivo, a criação de uma nova sociedade que se corresponde com os interesses, as necessidades e as aspirações da classe operária.

Natureza de classe que também se afirma e se revela na composição social maioritariamente operária. Na sua estrutura orgânica, já que as organizações no lugar de trabalho, em especial as células de empresas constituem a forma fundamental e prioritária da organização de base do Partido. No trabalho de massas e em geral em todos os aspectos da sua actividade.

Um homem de teoria e prática que em cada situação concreta soube desenvolver uma análise correcta baseado no estudo das condições em que a luta devia desenvolver-se, fugindo dos caminhos fáceis que oferecem todo o tipo de oportunidades encontrou caminho correctos e os percorreu sempre numa das aplicações práticas mais lúcidas do marxismo-leninismo que se puderam observar ao longo do século XX.

Marxismo-leninismo entendido como doutrina que explica o mundo e indica como transformá-lo e cujos princípios constituem um instrumento indispensável para a análise científica da realidade, dos novos fenómenos e da evolução social e para a definição de soluções correctas para os problemas concretos que a situação objectiva e a luta apresentam às forças revolucionárias. 

Uma doutrina em movimento e constantemente enriquecida pelo avanço da ciência pelos novos conhecimentos, pelos resultados da análise dos novos fenómenos e pela riquíssima e variada experiência do processo revolucionário. E de que a separam tantos dogmatismos como oportunismos.

Um camarada que, no debate sobre o eurocomunismo, soube ver nele um termo inexacto, que não tinha qualquer rigor nem geográfico nem político. De resto, um termo estranho que não surgiu dos comunistas, mas sim de fora do movimento comunista. E soube diferençar acertadamente os aspectos em volta do debate central.

Um, centrado na esquerda justa e necessária de cada partido comunista de um caminho, de acordo com as condições específicas económicas, políticas e tradicionais de cada país. E outro aspecto, e esse muito diferente, o de toda uma tentativa do exterior do mundo operário de empurrar os partidos operários, com base numa errónea procura da independência, a opor soluções nacionais e soluções que outros povos encontraram para construir o socialismo, a opor em definitivo o projecto político dos países da Europa capitalista ao socialismo. E por isso, enquanto reivindicava o caminho próprio da luta pelo Socialismo em Portugal, assentava-o numa posição firme em defesa da unidade das forças revolucionárias do mundo contemporâneo.

Entendo assim que um partido revolucionário da classe operária se afirma na altura da sua soberania quando sabe manter integralmente a sua independência de classe que se afirma e confirma na sua orientação marxista-leninista e na segurança das suas posições na base do internacionalismo proletário.

A sua obra e a sua prática tornaram-se para milhares de comunistas em todo o mundo uma ferramenta de combate de valor máximo, até nos momentos em que o sonho de liberdade e emancipação parecia ter caído perante o avanço da contra-revolução nos países que ena Europa construíram o Socialismo e a humanidade parecia condenada a um capitalismo eterno que alguns teóricos do mesmo qualificaram como o fim da história, soube a partir da teoria e da prática manter-se firme, sem dogmatismos, mas sem renunciar nunca ao marxismo-leninismo como ideologia da classe operária na época histórica de transição do capitalismo para o socialismo e o comunismo.

Quando outros dobravam as velas ao ver o triunfo momentâneo da contra-revolução, ele manteve a confiança na classe operária e na sua ideologia, assim como nos princípios que definem e dão carta de natureza a um Partido Comunista. Contribuindo, como sempre o fez, para a construção do grande colectivo partidário que é o PCP mas também ajudando, a partir do plano teórico, a toda aquela militância comunista que no mundo se negou a dar-se por derrotada, a manter a luta. Ainda ressoa na nossa cabeça «O comunismo não morreu neste século, nasceu neste século», que ele gostava de afirmar em intervenções públicas e artigos que nos finais do século XX alimentavam o combate contra o derrotismo.

Recordemos também por fim, uma frase popular que dizia que passados os tempos difíceis sempre nos recordaríamos de duas coisas, de quem esteve connosco e de quem esteve contra nós. Declaram os últimos que já não estás vivo mas desconhecem que sentimos a tua força em cada trincheira. Por isso, camarada Álvaro Cunhal, nunca abandonarás como um dos nossos o lugar destacado que ocupas na memória colectiva da classe operária e dos povos do mundo que lutam pela sua emancipação na perspectiva do Socialismo e do Comunismo.

 (*)  Severino Menéndez é membro do CC do Partido Comunista dos Povos de Espanha (Com odiario.info)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Audiência da CNV colhe depoimentos, em BH, sobre papel das igrejas durante a ditadura

                                                   
Emely Vieira Salazar será uma das depoentes
A Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covemg) em parceria com a Comissão Nacional da Verdade (CNV) realizam, nos dias 29 e 30 de novembro, audiência pública sobre o papel das igrejas durante a ditadura. A atividade acontece no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Belo Horizonte, a partir das 19h. 

A audiência que terá a presença dos assessores da CNV Anivaldo Padilha e Luci Buff tem como objetivo ouvir 12 pessoas que sofreram ou presenciaram graves violações de direitos humanos no regime militar.

Após a abertura no dia 29, às 19h30, serão colhidos os depoimentos da fundadora e secretária do Movimento Feminino pela Anistia e membra da Ordem Franciscana Secular, Maria Zélia Castilho e da militante dos movimentos da Juventude Estudantil Católica e da Juventude Operária Católica, Angelina Leite.

No sábado, 30, será feita uma homenagem a Renato Godinho Navarro e a esposa Maria Helena de Coutinho,pelo testemunho de superação. Godinho foi militante da Ação Popular (AP), organização que o levou a trabalhar como operário em Contagem, Minas Gerais. Ele também foi preso no segundo semestre de 1968 quando a polícia invadiu a igreja onde se realizava uma assembleia de metalúrgicos.

Outro destaque na colhida de depoimentos é o dominicano que participou e apoiou à luta contra a ditadura, Frei Oswaldo Augusto Rezende. Ele sofreu várias ameaças e inquéritos militares e era um dos principais responsáveis pela relação entre os dominicanos e a Aliança Libertadora Nacional.

Durante a audiência, também serão ouvidos Maria Helena Magalhães, Pedro Miguel Rojo, Berta Goifman, Michel Le Ven, Apolo Lisboa, Emely Vieira, Márcio Alves e Alberto Duarte.

Grupo de trabalho: Papel das igrejas durante a ditadura - O grupo examina a postura política de instituições religiosas e seus integrantes em relação ao regime ditatorial. Busca esclarecer a participação de instituições religiosas cristãs e/ou de suas lideranças clérigas ou leigas, tanto no apoio a movimentos de resistência à ditadura, quanto na contribuição à repressão, analisando os fatos e as circunstâncias de graves violações de direitos humanos correlatos ao seu tema.

SERVIÇO:

Audiência Pública o papel das igrejas durante a ditadura
Quando: 29 e 30 de novembro
Horário: dia 29, às 19h e dia 30, das 9h às 19h
Onde: Auditório da OAB
Endereço: Rua Albita, 260, Bairro Cruzeiro – Belo Horizonte.

Transmissão ao vivo: http://www.twitcasting.tv/CNV_Brasil

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Outros Outubros Virão!

                                                          

(Declaração Política do XIV Congresso Nacional)

Partido Comunista Brasileiro 

Outubro de 2009 


Rio de Janeiro, outubro de 2009 

Nascemos em 1922 e trazemos marcadas as cicatrizes da experiência histórica de nossa classe, com seus erros e acertos, vitórias e derrotas, tragédias e alegrias. É com esta legitimidade e com a responsabilidade daqueles que lutam pelo futuro que apresentamos nossas opiniões e propostas aos trabalhadores brasileiros. 

Os comunistas brasileiros, reunidos no Rio de Janeiro, nos dias 9 a 12 de outubro, no XIV Congresso Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB), avaliamos que o sistema capitalista é o principal inimigo da humanidade e que sua continuidade representa uma ameaça para a espécie humana. Por isso, resta-nos apenas uma saída: superar revolucionariamente o capitalismo e construir a sociedade socialista, como processo transitório para emancipação dos trabalhadores, na sociedade comunista. 

Uma das principais manifestações dos limites históricos do capitalismo é a atual crise econômica mundial, que revelou de maneira profunda e didática todos os problemas estruturais desse sistema de exploração de um ser humano por outro: suas contradições, debilidades, capacidade destruidora de riqueza material e social  e seu caráter de classe. Enquanto os governos capitalistas injetam trilhões de dólares para salvar os banqueiros e especuladores, os trabalhadores pagam a conta da crise com desemprego, retirada de direitos conquistados e aprofundamento da pobreza. 

Mesmo feridos pela crise, os países imperialistas realizam uma grande ofensiva para tentar recuperar as taxas de lucro e conter o avanço dos processos de luta popular que vêm se realizando em várias partes do mundo. Promovem guerras contra os povos, como no Iraque e no Afeganistão, armam Israel para ameaçar a população da região e expulsar os palestinos de suas terras. Na América Latina, desenvolvem uma política de isolamento e sabotagem dos governos progressistas da região, com a reativação da IV Frota e a transformação da Colômbia numa grande base militar dos Estados Unidos. Toda essa estratégia visa a ameaçar Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e até mesmo países cujos governos não se dispõem a promover profundas mudanças sociais, como é o caso do Brasil, tudo para garantir o controle das extraordinárias riquezas do continente, entre elas o Pré-Sal, a Amazônia, a imensa biodiversidade e o Aquífero Guarani. 

A escalada de violência do imperialismo contra os povos, agravada pela crise do capitalismo e por sua necessidade de saquear as riquezas naturais dos países periféricos e emergentes acentua a necessidade de os comunistas colocarmos na ordem do dia o exercício do internacionalismo proletário. Episódios recentes, como a tentativa de separatismo na Bolívia, os covardes crimes contra a humanidade na Faixa de Gaza, o golpe em Honduras, as ameaças ao Irã e à Coreia do Norte somam-se ao permanente bloqueio desumano a Cuba Socialista, a uma década de manobras com vistas à derrubada do governo antiimperialista na Venezuela e à ocupação do Iraque e do Afeganistão.  

O PCB continuará no Brasil com sua consequente solidariedade aos povos em suas lutas contra o capital e o imperialismo, independentemente das formas que as circunstâncias determinem. O papel ímpar do PCB na solidariedade aos povos em luta se radica na sua independência política com relação ao governo brasileiro e na sua visão de mundo internacionalista proletária. 

A crise demonstra de maneira cristalina a necessidade de os povos se contraporem à barbárie capitalista  e buscarem alternativas para a construção de uma nova sociabilidade humana. Em todo o mundo, com destaque para a América Latina, os povos vêm resistindo e buscando construir projetos alternativos baseados na mobilização popular, procurando seguir o exemplo de luta da heróica Cuba, que ficará na história como um marco da resistência de um povo contra o imperialismo. 

Nós, comunistas brasileiros, temos plena consciência das nossas imensas responsabilidades no processo de transformação que está se desenvolvendo na América Latina, não só pelo peso econômico que o Brasil representa para a região, mas também levando em conta que vivemos num país de dimensões continentais, onde reside o maior contingente da classe trabalhadora latino-americana. Consideramo-nos parte ativa desse processo de transformação e integrantes destemidos da luta pelo socialismo na América Latina e em todo o mundo. 

Nesse cenário, o Estado brasileiro tem jogado papel decisivo no equilíbrio de forças continentais, mas na perspectiva da manutenção da ordem capitalista e não das mudanças no caminho do socialismo. Tendo como objetivo central a inserção do Brasil entre as potências capitalistas mundiais, o atual governo, em alguns episódios, contraria certos interesses do imperialismo estadunidense. No entanto, estas posturas pontualmente progressistas buscam criar um terceiro pólo de integração latino-americana, de natureza capitalista. Ou seja, nem ALCA, nem ALBA, mas sim a liderança de um bloco social-liberal, em aliança com países do Cone Sul, dirigidos por forças que se comportam também como uma “esquerda responsável”, confiável aos olhos do imperialismo e das classes dominantes locais, contribuindo, na prática, para aprofundar o isolamento daqueles países que escolheram o caminho da mobilização popular e do enfrentamento. 

O respaldo institucional a alguns governos mais à esquerda na América Latina tem sido funcional à expansão do capitalismo brasileiro, que se espalha por todo o continente, onde empresas com origem brasileira se comportam como qualquer multinacional. Como o objetivo central é a inserção do Brasil como potência capitalista, o governo Lula não hesita em adotar atitudes imperialistas, como comandar a ocupação do Haiti para garantir um golpe de direita, retaliar diplomaticamente o Equador para defender uma empreiteira brasileira ou promover exercícios militares com tiro real na fronteira com o Paraguai, para defender os latifundiários brasileiros da soja diante do movimento camponês do país vizinho e manter condições leoninas no Tratado de Itaipu. 

O capitalismo brasileiro é parte do processo de acumulação mundial e integrante do sistema de poder imperialista no mundo, ressaltando-se que as classes dominantes brasileiras estão umbilicalmente ligadas ao capital internacional. A burguesia brasileira não disputa sua hegemonia com nenhum setor pré-capitalista. Pelo contrário: sua luta se volta fundamentalmente na disputa de espaços dentro da ordem do capital imperialista, ainda que se mantenha subordinada a esta, inclusive no sentido de evitar a possibilidade de um processo revolucionário, no qual o proletariado desponte como protagonista. 

Apesar de ainda faltarem condições subjetivas – sobretudo no que se refere à organização popular e à contra-hegemonia ao capitalismo – entendemos que a sociedade brasileira está objetivamente madura para a construção de um projeto socialista: trata-se de um país em que o capitalismo se tornou um sistema completo, monopolista, capaz de produzir todos os bens e serviços para a população. Uma sociedade em que a estrutura de classes está bem definida: a burguesia detém a hegemonia econômica e política, o controle dos meios de comunicação e o aparato estatal, enquanto as relações assalariadas já são majoritárias e determinantes no sistema econômico. Formou-se, assim, um proletariado que se constitui na principal força para as transformações sociais no País.

Do ponto de vista político e institucional, o Brasil possui superestruturas tipicamente burguesas, em pleno funcionamento: existe um ordenamento jurídico estabelecido, reconhecido e legitimado, com instituições igualmente consolidadas nos diferentes campos do Estado, ou seja, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Formou-se também uma sociedade civil burguesa, enraizada e legitimada, que consolidou a hegemonia liberal burguesa, mediante um processo que se completa com poderosa hegemonia na informação, na organização do ensino, da cultura, elementos que aprimoram e fortalecem a dominação ideológica do capital no país. 

Portanto, sob todos os aspectos, o ciclo burguês já está consolidado no Brasil. Estamos diante de uma formação social capitalista desenvolvida, terreno propício para a luta de classes aberta entre a burguesia e o proletariado. De um lado, está o bloco conservador burguês, formado pela aliança entre a burguesia monopolista associada ao capital estrangeiro e aliada ao imperialismo, a burguesia agrária com o monopólio  da terra, a oligarquia financeira, com o monopólio das finanças,  além de outras frações burguesas que permeiam o universo da dominação do capital. 

Esta hegemonia do bloco conservador adquiriu maior legitimidade para implantar as políticas de governabilidade e governança necessárias à consolidação dos interesses do grande capital monopolista, com a captura de um setor político, representante da pequena burguesia e com ascendência sobre importante parte dos trabalhadores, uma vez que se tornava essencial neutralizar a resistência destes e das camadas populares, através da cooptação de parte de suas instituições e organizações. 

Do outro lado, está o bloco proletário, hoje submetido à hegemonia passiva conservadora. Ainda que resistindo, encontra-se roubado de sua autonomia e independência política, acabando por servir de base de massa que sustenta e legitima uma política que não corresponde a seus reais interesses históricos. Constituído especialmente pela classe operária, principal instrumento da luta pelas transformações no país, pelo conjunto do proletariado da cidade e do campo, pelos movimentos populares e culturais anticapitalistas e antiimperialistas, por setores da pequena burguesia, da juventude, da intelectualidade e todos que queiram formar nas fileiras do bloco revolucionário do proletariado, em busca da construção de um processo para derrotar a burguesia e seus aliados e construir a sociedade socialista. 

O cenário da luta de classes no âmbito mundial e suas manifestações em nosso continente latino-americano, o caráter do capitalismo monopolista brasileiro e sua profunda articulação com o sistema imperialista mundial, as características de nossa formação social como capitalista e monopolista, a hegemonia conservadora e sua legitimação pela aliança de classes de centro-direita, os resultados deste domínio sobre os trabalhadores e as massas populares no sentido da precarização da qualidade de vida, desemprego, crescente concentração da riqueza e flexibilização de direitos nos levam a afirmar que o caráter da luta de classes no Brasil inscreve a necessidade de uma ESTRATÉGIA SOCIALISTA.

São essas condições objetivas que nos permitem definir o caráter da revolução brasileira como socialista.Afirmar o caráter socialistada revolução significa dizer que as tarefas colocadas para o conjunto dos trabalhadores não podem ser realizadas pela burguesia brasileira, nem em aliança com ela. Estas tarefas só poderão ser cumpridas por um governo do Poder Popular, na direção do socialismo. O desenvolvimento das forças materiais do capitalismo no Brasil e no mundo permite já a satisfação das necessidades da população mundial, mas está em plena contradição com a forma das relações sociais burguesas que acumulam privadamente a riqueza socialmente produzida, cujo prosseguimento ameaça a produção social da vida, a natureza e a própria espécie humana. 

A forma capitalista se tornou antagônica à vida humana. Para sobreviver, o capital ameaça a vida; portanto, para manter a humanidade devemos superar o capital.É chegada a hora, portanto, de criar as condições para a revolução socialista. 

Nas condições de acirramento da luta de classes em nosso país, as lutas específicas se chocam com a lógica do capital. A luta pela terra não encontra mais como adversário o latifúndio tradicional, mas o monopólio capitalista da terra, expresso no agronegócio. A luta dos trabalhadores assalariados se choca com os interesses da burguesia, acostumada às taxas de lucros exorbitantes e à ditadura no interior das fábricas. A luta ecológica se choca com a depredação do meio ambiente, promovida pelo capital. As lutas dos jovens, das mulheres, dos negros, das comunidades quilombolas, índios, imigrantes e migrantes se chocam com a violência do mercado, seja na desigualdade de rendimentos, no acesso a serviços elementares, à cultura e ao ensino, porque o capital precisa transformar todas as necessidades materiais e simbólicas em mercadoria para manter a acumulação, ameaçando a vida e destruindo o meio ambiente. 

A definição da estratégia da revolução como socialista não significa ausência de mediações políticas na luta concreta, nem é incompatível com as demandas imediatas dos trabalhadores. No entanto, a estratégia socialista determina o caráter da luta imediata e subordina a tática à estratégia e não o inverso, como formulam equivocadamente algumas organizações políticas e sociais. Pelo contrário, os problemas que afligem a população, como baixos salários, moradia precária, pobreza, miséria e fome, mercantilização do ensino e do atendimento à saúde, a violência urbana, a discriminação de gênero e etnia, são manifestações funcionais à ordem capitalista e à sociedade baseada na exploração. A lógica da inclusão subalterna e da cidadania rebaixada acaba por contribuir para a sobrevida do capital e a continuidade da opressão. 

O que hoje impede a satisfação das necessidades mais elementares da vida em nosso país não é a falta de desenvolvimento do capitalismo. Pelo contrário, nossas carências são produto direto da lógica de desenvolvimento capitalista adotado há décadas sob o mesmo pretexto, de que nossos problemas seriam resolvidos pelo desenvolvimento da economia capitalista. Hoje, a perpetuação e o agravamento dos problemas que nos afligem, depois de gerações de desenvolvimento capitalista, são a prova de que este argumento é falso. 

Portanto, nossa estratégia socialista ilumina a nossa tática, torna mais claro quem são nossos inimigos e os nossos aliados, permite identificar a cada momento os interesses dos trabalhadores e os da burguesia e entender como as diferentes forças políticas concretas agem no cenário imediato das lutas políticas e sociais. Esse posicionamento também busca sepultar as ilusões reformistas, que normalmente levam desorientação ao proletariado, e educá-lo no sentido de que só as transformações socialistas serão capazes de resolver os seus problemas. 

No Brasil, nosso partido trabalha na perspectiva de constituir o Bloco Revolucionário do Proletariado, como instrumento de aglutinação de forças políticas e sociais antiimperialistas e anticapitalistas para realizar as transformações necessárias à emancipação dos trabalhadores. Nosso objetivo é derrotar o bloco de classe burguês e seus aliados que, mesmo com disputas e diferenciações internas, impõem a hegemonia conservadora e buscam a todo custo desenvolver a economia de mercado, mantida a subordinação ao capital internacional, ao mesmo tempo em que afastam os trabalhadores da disputa política, impondo um modelo econômico concentrador de renda e ampliador da miséria, procurando permanentemente criminalizar os movimentos populares, a pobreza e todos aqueles que ousam se levantar contra a hegemonia do capital. Para consolidar o poder burguês e legitimá-lo, colocam toda a máquina do Estado a serviço do capital. 

Por isso mesmo, não há nenhuma possibilidade de a burguesia monopolista, em todos seus setores e frações, participar de uma aliança que vá além do horizonte burguês e capitalista. Isso significa que a nossa política de aliança deve se materializar no campo proletário e popular. A aliança de classes capaz de constituir o Bloco Revolucionário do Proletariadodeve fundamentalmente estar estruturada entre os trabalhadores urbanos e rurais, os setores médios proletarizados, setores da pequena burguesia, as massas trabalhadoras precarizadas em suas condições de vida e trabalho que compõem a superpopulação relativa. Isso significa que a nossa tática deve ser firme e ampla. Ao mesmo tempo em que não há alianças estratégicas com a burguesia, todo aquele que se colocar na luta concreta contra a ordem do capital será um aliado em nossa luta, da mesma forma que aqueles setores que se prestarem ao papel de serviçais subalternos da ordem, se colocarão no campo adversário e serão tratados como tal. 

A principal mediação tática de nossa estratégia socialista é, portanto, a criação das condições que coloquem os trabalhadores em luta, a partir de suas demandas imediatas, na direção do confronto com as raízes que determinam as diferentes manifestações da exploração, da opressão e da injustiça, ou seja, a ordem capitalista.  

Assim, estamos propondo e militando no sentido da formação de uma frente de caráter antiimperialista e anticapitalista, que não se confunda com mera coligação eleitoral. Uma frente que tenha como perspectiva a constituição do Bloco Revolucionário do Proletariado como um movimento rumo ao socialismo. 

A constituição do proletariado como classe que almeja o poder político e procura ser dirigente de toda a sociedade é um projeto em construção e não existem fórmulas prontas para torná-lo efetivo politicamente. Como tudo em processo de formação, a constituição desse bloco exige que o PCBe seus aliados realizem um intenso processo de unidade de ação na luta social e política, de forma que cada organização estabeleça laços de confiança no projeto político e entre as próprias organizações. 

Reafirmamos a necessidade da conformação da classe trabalhadora como classe e, portanto, enquanto partido político, não pela afirmação dogmática, arrogante e pretensiosa de conformação de vanguardas autoproclamadas, mas pela inadiável necessidade de contrapor à ordem do capital — unitária e organizada por seu Estado e cimentada na sociedade por sua hegemonia — uma alternativa de poder que seja capaz de emancipar toda a sociedade sob a direção dos trabalhadores. 

Sabemos que este é um momento marcado por enorme fragmentação e dispersão das forças revolucionárias, que corresponde objetivamente ao momento de defensiva que se abateu sobre os trabalhadores, mas também acreditamos que, tão logo o proletariado se coloque em movimento, rompa com a passividade própria dos tempos de refluxo e inicie uma ação independente enquanto classe portadora de um projeto histórico, que é o socialismo, as condições para a unidade dos revolucionários serão novamente possíveis. 

Desde o XIII Congresso, o PCB vem se mantendo na oposição independente ao governo Lula, por entender que este governo trabalha essencialmente para manter e fortalecer o capital, restando à população apenas algumas migalhas como compensação social, por meio de programas que canalizam votos institucionalizando a pobreza e subordinando a satisfação das necessidades sociais ao crescimento da economia capitalista, verdadeira prioridade do governo. 

O governo atual se tem pautado pela cooptação de partidos políticos e movimento sociais, buscando amortecer e institucionalizar a luta de classes, desmobilizando e enfraquecendo os trabalhadores em sua luta contra o capital. As antigas organizações políticas e sociais, que nasceram no bojo das lutas do final dos anos 70, se transformaram em partidos e organizações da ordem, ainda que guardem referência sobre a classe e abriguem militantes que equivocadamente, alguns de maneira sincera, ainda procuram manter ou resgatar o que resta de postura de esquerda. Desta forma, estas organizações acabaram por perder a possibilidade histórica de realizar o processo de mudanças sociais no país. Transformaram-se em organizações chapa-branca, base de sustentação de um governo que, vindo do campo de esquerda, disputou as eleições com uma proposta de centro esquerda, construiu uma governabilidade de centro direita e acabou por implementar um projeto que corresponde, na essência, aos interesses do grande capital monopolista, aproximando-se muito mais de um social liberalismo do que de uma social democracia. 

É necessária, por isso, uma reorganização dos movimentos populares, especialmente do movimento sindical. O PCB trabalhará pela reorganização do sindicalismo classista e pela unidade dos trabalhadores, através do fortalecimento de sua corrente Unidade Classistae da Intersindical(Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora), atuando nesta para recompor o campo político que a originou e ampliá-lo com outras forças classistas. A função principal da Intersindical é a de ser, a partir da organização e das lutas nos locais de trabalho, um espaço de articulação e unidade de ação do sindicalismo que se contrapõe ao capital, visando à construção, sem açodamento nem acordos de cúpula, de uma ampla e poderosa organização intersindical unitária, que esteja à altura das necessidades da luta de classes. Nesse sentido, o PCB reitera a proposta de convocação, no momento oportuno, do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), como consolidação deste processo de reorganização do movimento sindical classista. 

Também iremos trabalhar com afinco para a reorganização do movimento juvenil, especialmente pelo resgate da União Nacional dos Estudantescomo instrumento de luta e de ação política da juventude, como foi ao longo de sua história. Mas a reconstrução do movimento estudantil brasileiro não se dará através da mera disputa pelos aparelhos e cargos nas organizações estudantis, tais como a UNE, a UBES e demais. Será necessária a incisiva atuação dos comunistas nas entidades de base, nas escolas e universidades, para que o movimento estudantil retome sua ação protagonista nas lutas pela educação pública emancipadora e pela formação de uma universidade popular, capaz de produzir conhecimento a serviço da classe trabalhadora e contribuir para a consolidação da contra-hegemonia proletária. Ou seja, o movimento estudantil brasileiro precisa ser resgatado da sua letargia para assumir o papel de organizador da juventude que quer lutar e construir o socialismo no Brasil. 

Procuraremos desenvolver também laços com todos os movimentos populares, na resistência cotidiana dos trabalhadores em seus bairros e locais de trabalho, de forma a estabelecermos uma relação mais estreita com a população pobre e os trabalhadores em geral, ajudando-os a se organizarem para a luta. 

A luta pela terra no Brasil se choca diretamente com a ordem capitalista que deve ser enfrentada, não apenas para se garantir o acesso à terra mas para a mudança profunda do modelo de desenvolvimento agrícola contra a lógica mercantil, monopolista e imperialista do agronegócio. A aliança de classes necessária à construção de uma estratégia socialista para o Brasil passa pela união entre os trabalhadores do campo e da cidade, dos pequenos agricultores e assentados na luta por um Poder Popular comprometido com a desmercantilização da vida e o fim da propriedade, empenhados na construção de uma sociedade socialista. O Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST)conta com nossa irrestrita solidariedade e nossa parceria, em sua necessária articulação com o movimento sindical, juvenil e popular. 

O PCB se empenhará também pela criação de um amplo e vigoroso movimento que venha às ruas exigir, através de um plebiscito e outras formas de luta, uma nova Lei do Petróleo, que contemple a extinção da ANP, o fim dos leilões das bacias petrolíferas, a retomada do monopólio estatal do petróleo e a REESTATIZAÇÃO DA PETROBRÁS(como empresa pública e sob controle dos trabalhadores), de forma a preservar a soberania nacional e assegurar que os extraordinários recursos financeiros gerados pelas nossas imensas reservas de recursos minerais sejam usados para a solução dos graves problemas sociais brasileiros e não para fortalecer o imperialismo e dar mais lucros ao grande capital. 

Da mesma forma, daremos importância especial à frente cultural, estreitando os laços com artistas e intelectuais. Desde sempre a arte que se identifica com o ser humano é também a que denuncia a desumanidade do capital e da ordem burguesa. Desenvolvendo um trabalho contra a mercantilização da arte e do conhecimento, na resistência ao massacre imposto pela indústria cultural capitalista, o PCB apoiará a luta em defesa da plena liberdade de produção artística, intelectual e cultural e pela criação de amplos espaços para as manifestações artísticas e culturais populares, como parte inseparável de nossa luta pela emancipação humana. 

Devido ao caráter fundamental da participação de intelectuais comprometidos com a luta pela emancipação do proletariado e pela hegemonia ideológica, política e cultural, o PCB jogará grande peso na tarefa permanente de formação, aperfeiçoamento e atualização teórica e política de seus militantes e na relação com intelectuais que detêm a mesma perspectiva revolucionária. 

 Nosso Partido vem realizando um intenso esforço no sentido de se transformar numa organização leninista, capaz de estar à altura das tarefas da Revolução Brasileira. Realizamos, no ano passado, a Conferência Nacional de Organização, na qual reformulamos o estatuto, trocamos o conceito de filiado pelo de militante, reforçamos a direção coletiva e o centralismo democrático. Estamos desenvolvendo um trabalho de construção partidária a partir das células, nos locais de trabalho, moradia, ensino, cultura e lazer, com o critério fundamental do espaço comum de atuação e luta, preferencialmente nos locais onde a população já desenvolve sua atuação cotidiana. O XIV Congresso Nacional coloca num patamar superior a reconstrução revolucionária do PCB. 

O PCB, como um dos instrumentos revolucionários do proletariado, quer estar à altura dos desafios para participar da história de nossa classe na construção dos meios de sua emancipação revolucionária. Mais do que desejar ser uma alternativa de organização para os comunistas revolucionários, para os quais as portas do PCB estão abertas, queremos ser merecedores desta possibilidade, por buscarmos traçar estratégias e caminhos que tornem possível a revolução brasileira.  

O PCB trabalhará de todas as formas e empregará todos os meios possíveis para contribuir com a derrota da hegemonia burguesa no Brasil, visando socializar os meios de produção capitalistas e transferi-los para o Poder Popular, assim como construir uma nova hegemonia política, social, econômica, cultural e moral da sociedade, de forma a que a população brasileira possa usufruir plenamente de uma nova sociabilidade, baseada na solidariedade, na cooperação entre os trabalhadores livres e emancipados do jugo do capital. Por criarem toda a riqueza os trabalhadores têm o direito de geri-la de acordo com suas necessidades, única forma de construir um novo ser humano e chegar a uma sociedade sem classes e sem Estado: uma sociedade comunista. 

Viva o Internacionalismo Proletário!

Viva a Revolução Socialista!

Viva o Partido Comunista Brasileiro!

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres

PORTUGAL


domingo, 24 de novembro de 2013

Projeto Cine Bijou mostra “O Dia que Durou 21 Anos”

                                                                           
  
Ciclo de ditaduras na América Latina nos anos 1960 e 1970 foi o tema este ano e se encerra com o filme de Camilo Tavares sobre a participação dos Estados Unidos na promoção dos golpes que levaram ao terrorismo de Estado na região. Sessão gratuita: sábado, 30/11, às 15h. Debate com o diretor após a exibição. Inscrições: contato@nucleomemoria.org.br

O Projeto Cine Bijou mostra, no encerramento da terceira edição do ciclo, o documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares. Nele, o diretor aborda a participação dos Estados Unidos no planejamento e na execução do golpe de Estado civil-militar de 1964. 

Camilo é filho do jornalista Flávio Tavares – militante político detido pela ditadura que deixou a prisão com o grupo de 15 ex-presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado no Rio de Janeiro pela ALN e MR-8, em 1969 – e nasceu no exílio (na Cidade do México). Seu nome é uma homenagem do pai ao padre e guerrilheiro colombiano Camilo Torres, morto em 1966.

O documentário utilizou documentos oficiais liberados pelo governo americano e pela Biblioteca Presidencial Lyndon Baines Johnson, e também áudios divulgados pela ONG The National Security Archive. Esse conjunto de informações, somado aos depoimentos obtidos por Camilo Tavares, desnudam a estratégia de desestabilização do governo democrático de João Goulart pelos EUA e a posterior implantação de regimes de terrorismo de Estado em toda a América Latina.

O diretor Camilo Tavares debaterá com o público após a sessão.

Sessão gratuita.

Inscrições exclusivamente pelo e-mail contato@nucleomemoria.org.br.

O dia que durou 21 anos - 30/11
Direção: Camilo Tavares
Produção: Brasil, 2012
Depoimentos: James Green, Peter Kornbluh, Flávio Tavares, Plínio de Arruda Sampaio, Hernani Fittipaldi, Robert Bentley, Carlos Fico, Ivan Cavalcanti Proença, Gal. Newton Cruz, Jarbas Passarinho, Denise Assis, Almirante Júlio de Sá Bierrembach

30 de novembro, sábado, 14h
Teatro Studio Heleny Guariba
Praça Roosevelt, 184
São Paulo / SP
Lotação: 80 lugares

Em apoio aos cinco heróis cubanos!


No Caminho de Palmares Construindo o Poder Popular

                                                                        

Pelo Coletivo Minervino de Oliveira novembro de 2013

Não é novidade que o fim oficial da escravidão no Brasil não significou o fim da exploração do trabalho, pelo contrário a tornou mais ampla na sociedade em benefício daqueles que detêm indústrias, bancos, e as empresas de produção agrícola e em prejuízo dos que vendem por salários sua capacidade de trabalho para sobreviver. A abolição no Brasil, além de atrasada em relação a outros países, aconteceu na medida dos interesses da classe que exerce o poder político e econômico no país e colocou negros e negras fora dos principais setores da produção econômica, nas condições mais precárias de trabalho e de vida.

Não é por acaso que de tempos em tempos pesquisas se repetem, apenas confirmando que para a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras afrodescendentes são reservadas as atividades de menores salários e que mesmo entre trabalhadores de mesmo nível de escolaridade a diferença na remuneração não reduz, e por vezes até aumenta.

São piores para a população negra as condições de acesso a saúde, educação, habitação e demais direitos sociais que são negados para o conjunto dos trabalhadores.

Persiste de forma cinicamente mal disfarçada na sociedade, como herança do escravismo e com apoio de parte do meio científico no século XIX, a mentalidade racista que visa justificar as ações discriminatórias, associando a população negra à imagem de inferioridade e periculosidade. Mesmo negado oficialmente e nos costumes diários ao racismo rasga a fantasia da falsa democracia racial através da violência do Estado praticada no dia a dia nas comunidades onde predominam os trabalhadores negros criminalizados em ato pela brutalidade policial.

A política de segurança de militarização das favelas pelo Governo Sérgio Cabral e a remoção de várias comunidades em favor dos lucros astronômicos dos grandes grupos econômicos envolvidos com a Copa do Mundo e as Olimpíadas mais uma vez demonstram que os interesses dos empresários que ditam os rumos de qualquer sociedade capitalista se chocam com os interesses e necessidades da maioria da população negra.



Combatendo o racismo como fator que favorece a exploração capitalista, nós comunistas do Coletivo Minervino de Oliveira e do Partido Comunista Brasileiro, não lutamos por uma igualdade em que os trabalhadores negros sejam explorados e oprimidos nas mesmas condições dos trabalhadores brancos, lutamos pelo fim do capitalismo.

Ao comemorarmos o Dia da Consciência Negra destacamos no exemplo dos que viveram e construíram o Quilombo dos Palmares a decisão coletiva de garantir a liberdade e direitos, rompendo como sistema opressor, organizando uma sociedade em que a propriedades e a produção dos bens necessários à vida fossem de todos e o poder político seja de fato exercido pela população onde foram valorizadas as diferentes etnias e suas contribuições culturais.

O Partido Comunista Brasileiro e o Coletivo Minervino de Oliveira assumem a tarefa de junto ao Movimento Negro e demais movimentos populares de:

Seguir a trilha do Quilombo de Palmares construindo o Poder Popular na direção do socialismo!

Militantes do PCB marcaram a presença do Coletivo Minervino de Oliveira em sua primeira ação nas ruas do Rio de Janeiro na Marcha da Periferia, no dia 21/ 11, promovido pelo campo da oposição de esquerda do Movimento Negro do Rio de Janeiro, com movimentos e coletivos que atuam nas favelas.  Além da denúncia da violência policial nas favelas, a mobilização denunciou a relação do racismo com a exploração capitalista.