sábado, 31 de agosto de 2013

Simulação de prisões e torturas em frente ao antigo DOPS marcam 34º aniversário da Lei da Anistia

                                                                     



Na última sexta-feira, houve manifestação junto ao monumento às vítimas da ditadura em Minas Gerais (58 desaparecidos políticos), situado em frente ao ex-DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). 

O ato integrou a série de atos  realizados em Belo Horizonte a propósito do 34º aniversário da lei da anistia.

Na ocasião ocorreu simulação de prisão e tortura de "comunistas", inclusive com o uso de cassetetes, algemas e pau de arara. 

Ao final diversas pessoas ligadas à defesa dos direitos humanos falaram sobre a data e o jornalista José Carlos Alexandre defendeu seja cumprida a lei que cria o Memorial dos Direitos Humanos no prédio onde funcionava o antigo DOPS, hoje uma delegacia de repressão ao uso de drogas.

Estiveram presentes ao ato a presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, Cristina Rodrigues, o assessor da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Betinho Duarte, a presidente do Instituto Helena Grego, Heloisa Greco, familiares de desaparecidos mineiros durante a ditadura cívico-militar etc.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ESCULACHO À TORTURA



Manifesto em apoio ao Centro de Difusão do Comunismo da Universidade Federal de Ouro Preto

                                                      
Manifestamos nosso apoio e nossa irrestrita solidariedade ao Centro de Difusão do Comunismo da Universidade Federal de Ouro Preto - CDC-UFOP. E, repudiamos a decisão da Justiça Federal do Maranhão sobre a Ação Judicial contra o Programa de Extensão da UFOP: Centro de Difusão do Comunismo (CDC-UFOP), determinando a suspensão de todas as atividades. O CDC-UFOP é um programa vinculado à Pró-reitoria de Extensão da UFOP, com quatro ações de extensão articuladas para estudar, debater e realizar a crítica à ordem do capital. Tem como objetivo lutar por uma sociedade para além do capital.
O CDC-UFOP articula suas ações em dois projetos e dois cursos de extensão e conta com a participação de 20 bolsistas e vários estudantes. 1 – Liga dos Comunistas - Núcleo de Estudos Marxistas (CNPQ) (projeto). 2 – Mineração e exploração dos trabalhadores na região da UFOP. Em parceria com o Sindicato METABASE Inconfidentes (curso). 3 – Equipe Rosa Luxemburgo. Grupo de debate e militância anticapitalista. Responsável pela coordenação do CDC (projeto). 4 – Relações sociais na ordem do capital. As categorias centrais da teoria social de Marx (curso). As atividades são gratuitas, abertas à comunidade e realizadas duas vezes ao ano no ICSA (Mariana), com editais no início de cada período. o CDC-UFOP mantém uma grupo de estudantes ligados ao Diretório de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 2012 o centro recebeu o Prêmio de Melhor Programa de Extensão da UFOP.
No dia 13 de agosto, o Juiz José Carlos do Vale Madeira da Justiça Federal do Maranhão acatou o pedido de suspensão das atividades do CDC-UFOP, feito no dia 05 de julho de 2013, pelo advogado Pedro Leonel Pinto de Carvalho que também solicitou o pagamento de multas pela Universidade, que foi indeferido pelo juiz.
Esta ação é claramente uma manifestação política anti-comunista e fere os princípios da Autonomia Universitária. O Art. 207 da Constituição estabelece que: "As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".

Minas Gerais - Brasil, 27 de agosto de 2013.
Os signatários:

Partido Comunista Brasileiro – PCB.
Partido Socialismo e Liberdade - PSOL
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados - PSTU
Brigadas Populares
Coletivo de Mulheres Ana Montenegro.
Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia em BH
CSP-CONLUTAS
Fundação Dinarco Reis.
Instituto Caio Prado Junior.
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Liga Operária.
Movimento Marxista 05 de Maio – MM5.
Sindicato METABASE Inconfidentes.
SINDUTE-Subsede Sabará.
União da Juventude Comunista.
União da Juventude Socialista.
União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais.
Unidade Classista.
Aldrin Castellucci (UNEB)
Alexandre Arbia  (UFOP)
Alexandre Gustavo Melo Franco Bahia (UFOP)
Ana Maria Ferreira(UFOP)
Anderson Deo (UNESP)
Angélica Lovatto (UNESP)
Antonio Carlos Mazzeo (UNESP)
Antonio Julio de Menezes Neto (UFMG)
Antonio M Claret  ( UFMG)
Bruno Bechara (UFMG)
Camila Ramos da Cunha (UFOP)
Cristiano Costa de Carvalho (UNA)
Daniel do Val Cosentino (UFOP)
Dirlene Marques (UFMG)
Eduardo Eugênio Pessoa Ramos (UFOP)
Eduardo Serra (UFRJ)
Fábio Bezerra (IFSEMG)
Gustavo Giovanny dos Reis Apóstolos (UFOP)
Ivan Pinheiro (Advogado)
José Paulo Netto (UFRJ)
Luiz Bernardo Pericás (USP)
Luiz Eduardo Motta (UFRJ)
Marcelo Braz (UFRJ)
Marcos Del Roio (UNESP)
Marly Vianna (UFSCar)
Marta Maia (UFOP)
Mauro Iasi (UFRJ)
Milton Pinheiro (UNEB)
Muniz Ferreira (UFRRJ)
Pablo Lima (UFMG)
Paulo Barsotti (FGV/SP)
Paulo Ribeiro da Cunha (UNESP)
Ricardo Costa (FFSD)
Ricardo Silvestre da Silva (UFOP)
Rodrigo Castelo (UNIRIO)
Ronaldo Coutinho (UFF)
Rubesn Ragone (IF-MG)
Sofia Manzano (USJT)
Túlio Lopes (UEMG/FHA)
Vanderlei Martini  (MST/MG)
Viviane Souza Pereira (UFOP)

Deter a guerra imperialista! Toda solidariedade ao povo sírio!

                                                                      
                                                                                Lattuf

                                            (Nota Política do PCB)

A Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) vem a público manifestar sua solidariedade ao povo da Síria e denunciar os preparativos de uma invasão do País pelo imperialismo americano, num consórcio macabro com as potências da OTAN e outros países, em que se destacam Israel, Turquia e Arábia Saudita.

Mais uma vez ficam claras para a opinião pública mundial, as manipulações midiáticas que o imperialismo utiliza para justificar suas agressões contra os povos. Todos lembram que a invasão do Iraque teve como pretexto o fato de que Sadam Hussein teria armas de destruição em massa, o que posteriormente se comprovou como mentira. 

Agora, novamente o imperialismo usa o pretexto da utilização de armas químicas para justificar a agressão a um País soberano, quando se sabe que a utilização dessas armas foi obra dos próprios mercenários, orientados por Washington e seus sinistros aliados.

Também fica claro que o imperialismo busca sair da crise sistêmica global fomentando guerras e agressões militares contra os povos, numa tentativa desesperada de restabelecer a hegemonia que se esfumaça diante da crise. Além disso, um dos objetivos primordiais do sistema imperialista é derrubar os governos que não se rendem às suas ordens e se apropriar das riquezas desses países, como petróleo e outras riquezas naturais, como ficou comprovado no Iraque e na Líbia, onde as empresas norte-americanas e europeias agora controlam todo o petróleo.

Como os mercenários estavam sendo derrotados no campo de batalha, o imperialismo resolveu atuar diretamente para tentar derrubar o governo soberano da Síria. Para tanto, desenvolveu durante meses uma campanha mentirosa de desinformação contra o governo, acusando-o das mais diversas atrocidades, todas elas posteriormente desmascadas, tudo isso visando a preparar a opinião pública para uma escalada militar, uma vez que suas marionetes não atingiram os objetivos de derrubar o governo na guerra suja que vem travando contra Damasco.

Além de promover o terrorismo, ao financiar mercenários para invadir os países que não obedecem às suas ordens, o imperialismo foi recentemente desmascarado quando um de seus agentes denunciou ao mundo um sistema internacional de espionagem em todos os países, na América Latina, na União Europeia e até nas Nações Unidas. Para quem tinha ilusões com o fato de que a eleição de um presidente negro iria mudar a postura imperialista, as ações de Obama vêm provar que o imperialismo é um sistema completo, independentemente de quem esteja de plantão no governo. Quem determina a política externa estadunidense é o Pentágono e o Departamento de Estado.

Diante dessa conjuntura o PCB conclama todos os trabalhadores do mundo e todas as forças e personalidades anti-imperialistas a manifestarem não só seu repúdio a mais essa agressão imperialista, mas também a realizarem manifestações em frente aos consulados e embaixadas norte-americanas em todos os países de forma a demonstrar o repúdio da população mundial à escalada guerreira do imperialismo.

PCB – Partido Comunista Brasileiro

(Comissão Política Nacional)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Voltamos às ruas, pela construção do Poder Popular

                                         

Nos últimos meses, manifestações ganharam as ruas de todo o país. Questionavam não só a política econômica do governo federal como também as alianças políticas que sustentam governos (também os municipais e estaduais) e seus principais partidos: PMDB, PT, PCdoB, PSB, PTB, PDT e PP, entre outros.

Essas siglas hoje são porta-vozes de grandes grupos empresariais; algumas abandonaram um passado de lutas para, em nome do dito “pragmatismo”, fazer valer interesses pessoais e de grupos empresariais.

Tal prática aparenta quase um “empreendedorismo” político, no qual vale mais o político que, para garantir sua eleição, conseguir mais financiamento por parte do empresariado.

Esse modelo, que num primeiro momento atraiu os trabalhadores com a promessa de aumento do consumo através de facilidades no crédito, mostra agora - após uma década - sua perversa consequência de endividamento dos trabalhadores.

Para piorar, assim que a população iniciou os protestos os defensores da ilusão de que vivemos uma democracia (a base de sustentação do governo), seus chefes nos palácios colocaram todo o aparato de repressão em atividade. Desde então, o “castelo de cartas” que sustenta esse projeto político e econômico passou a ser posto em xeque.

...Outros, de forma oportunista, pretendiam pegar carona na insatisfação popular e se apresentarem como a solução dos problemas (PSDB e DEM), mas logo foram rechaçados nas ruas por seu posicionamento de classe e suas práticas corruptas. Mas continuam fazendo ouvido de mercador e buscam se articular com os “antigos novos” políticos, que se apresentam como “defensores da moralidade”, como é o caso do partido que se busca criar (REDE), mas escondem que seu principal financiador é o banco Itaú.

...Tudo isso demonstra a fragilidade do modelo político vigente, que possibilita as manobras de políticos oportunistas e carreiristas, e que agem à serviço da burguesia, dos patrões, do empresariado.

Um partido diferente, com uma política diferente

...Por isso o PCB defende a organização e a mobilização dos trabalhadores nas ruas, como a forma legítima e educativa de construção de um modelo político alternativo - que garanta o interesse dos que constroem a riqueza, os trabalhadores.

...A falência da “democracia representativa”, que tem no poder econômico sua condição e legitimação, transforma a maioria dos parlamentares e dirigentes em meros despachantes dos interesses de quem os financiou. Contra isso, propomos o Poder Popular. Defendemos:

- Livre direito de manifestação,

- Livre direito de organização por local de trabalho, estudo e moradia,

- Trabalhadores e classes populares decidam as políticas públicas,

- Política econômica voltada para os interesses dos trabalhadores,

- Educação voltada para a formação e emancipação intelectual,

- Saúde pública de interesse social,

- Congelamento da dívida interna, auditoria com controle popular;

- Recomposição das perdas salariais dos trabalhadores (da ativa e aposentados)

- Reestatização do patrimônio público entregue ao setor privado;

- Radical democratização dos meios de comunicação;

- Transporte público voltado ao interesse dos usuários,

- Desmilitarização da Polícia, com o fim da PM,

- Pelo Poder Popular!

Isso é a Democracia Direta. Isso é o Poder Popular! Essas são as propostas do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

www.pcb.org.br / pcb@pcb.org.br

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Proposta de MANIFESTO DE APOIO E SOLIDARIEDADE AO CDC-UFOP

                              
                                                  
Companheiros/as;

I - Segue proposta de MANIFESTO DE APOIO E SOLIDARIEDADE AO CDC-UFOP. Precisamos garantir apoio ao Programa que ousou defender uma Educação para além do capital.

II - Esperamos adesões até a próxima semana quando iremos divulgar este manifesto. 

III - Favor encaminhar o nome das entidades para o e-mail : OUSARVENCER@YAHOO.COM.BR

Abraço!
Túlio Lopes

MANIFESTO DE APOIO E SOLIDARIEDADE O CDC-UFOP

Manifestamos nosso apoio e nossa irrestrita solidariedade ao Centro de Difusão do Comunismo da Universidade Federal de Ouro Preto - CDC-UFOP. E, repudiamos a decisão da Justiça Federal do Maranhão sobre a Ação Judicial contra o Programa de Extensão da UFOP: Centro de Difusão do Comunismo (CDC-UFOP), determinando a suspensão de todas as atividades.
O CDC-UFOP é um programa vinculado à Pró-reitoria de Extensão da UFOP, com quatro ações de extensão articuladas para estudar, debater e realizar a crítica à ordem do capital. Tem como objetivo lutar por uma sociedade para além do capital.
O CDC-UFOP articula suas ações em dois projetos e dois cursos de extensão e conta com a participação de 20 bolsistas e vários estudantes. 1 – Liga dos Comunistas - Núcleo de Estudos Marxistas (CNPQ) (projeto). 2 – Mineração e exploração dos trabalhadores na região da UFOP. Em parceria com o Sindicato METABASE Inconfidentes (curso). 3 – Equipe Rosa Luxemburgo. Grupo de debate e militância anticapitalista. Responsável pela coordenação do CDC (projeto). 4 – Relações sociais na ordem do capital. As categorias centrais da teoria social de Marx (curso).  As atividades são gratuitas, abertas à comunidade e realizadas duas vezes ao ano no ICSA (Mariana), com editais no início de cada período.  o CDC-UFOP mantém uma grupo de estudantes ligados ao Diretório de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 2012 o centro recebeu o Prêmio de Melhor Programa de Extensão da UFOP.
No dia 13 de agosto, o Juiz José Carlos do Vale Madeira da Justiça Federal do Maranhão acatou o pedido de suspensão das atividades do CDC-UFOP, feito no dia 05 de julho de 2013, pelo advogado Pedro Leonel Pinto de Carvalho que também solicitou o pagamento de multas pela Universidade, que foi indeferido pelo juiz.
Esta ação é claramente uma manifestação política anti-comunista e fere os princípios da Autonomia Universitária. O Art. 207 da Constituição estabelece que: "As universidades gozarão de autonomia didático científico, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão."

Mariana, Minas Gerais - Brasil, 24 de agosto de 2012 

Os signatários:

Instituto Caio Prado Junior.
Fundação Dinarco Reis.
União da Juventude Comunista.
Unidade Classista.
Coletivo de Mulheres Ana Montenegro.
Partido Comunista Brasileiro – PCB.

Uma educação para além do capital

Base SEPE/ SINPRO do PCB-RJ (*)


No mês de junho, as manifestações populares ocuparam as ruas de 438 cidades do país. Por volta de 2 milhões de brasileiros protestaram contra as condições de vida insuportáveis. A questão que desencadeou todo o movimento, "a fagulha que incendiou toda a pradaria", foi o aumento das passagens dos transportes urbanos. 

Entretanto, um sem-número de outras pautas e reivindicações se incorporaram às passeatas. A revolta contra a precariedade da educação, da saúde e dos transportes públicos; a indignação contra o sistema político-eleitoral e a farra com o dinheiro nas mãos dos governantes; a brutalidade das polícias militares, em especial nas favelas; os gastos na ordem de bilhões de reais com construções e reformas de estádios de futebol "com padrão Fifa". 

Não restam dúvidas, eles assumiram os golpes desferidos pela população. A imprensa mudou a forma de noticiar as marchas– se antes criminalizavam, passaram a aplaudir; suspendeu-se o aumento das tarifas em várias cidades; os índices de popularidade de vários governantes das três esferas (federal, estaduais e municipais) despencaram; e o Poder Legislativo passou a atuar pressionado. Todos os políticos, a partir de agora, pensarão duas vezes antes de tomar qualquer medida antipopular. Foram muitas vitórias. E ainda há muitas a conquistar!

O QUE CABE AOS EDUCADORES

Neste momento, a nossa principal tarefa é trazer as pautas das manifestações que tocam a educação para o debate nas greves, nas comunidades escolares, conversar com os nossos colegas, estudantes e também os pais. Em todas as passeatas, havia muitos estudantes das escolas públicas e particulares. Assim, o momento não poderia ser mais apropriado para discutir todas as mazelas da educação e da sociedade com eles.

Devemos travar com a comunidade escolar um amplo diálogo e perguntar: o que poderia ser diferente? Que escolas e universidades queremos? As lutas populares são pedagógicas, elas também educam. O recuo dos governantes nas tarifas dos ônibus não poderia ser uma aula melhor sobre como somente os trabalhadores organizados são capazes de transformar profundamente uma sociedade, vide os exemplos históricos espalhados por todo o mundo.

A EDUCAÇÃO PÚBLICA

As políticas educacionais da rede estadual, da capital e em outros municípios do Estado são muito parecidas. Todas elas estão amparadas em princípios meritocráticos, privatistas e punitivos. São bem claras estas características no projeto de educação no Estado do RJ, representado por Risolia/ Cabral. O programa de bonificação dos professores por metas alcançadas trata-se de uma "aprovação automática" disfarçada, pois premia as escolas que apresentarem menores índices de reprovação. Assim, troca-se dinheiro por aprovações. 

Desta maneira, a Seeduc (Secretaria de Estado de Educação) consegue melhorar as frias estatísticas sem investir um centavo na educação. A "certificação" de professores também possui o mesmo perfil meritocrático, já que possibilita um aumento dos ganhos associado a aprovação numa prova e a frequência em cursos (para se tornarem repetidores de suas políticas) oferecidos pela Seeduc. Significa, na prática, enterrar o plano de carreira do magistério estadual. 

Além disso, esses programas não incorporam os aposentados como beneficiados. Por sua vez, o projeto 'Autonomia' (também presente no município do Rio) expõe as suas características privatistas. Toda a concepção pedagógica é transferida a uma entidade privada, a Fundação Roberto Marinho– da Rede Globo. Sabe-se muito bem, esta também possui um projeto político. A quem cabe o projeto pedagógico da educação pública? Aos empresários da grande mídia? A última do secretário Risolia soa ao extremo do ridículo! 

Ele quis reduzir em 20% a carga horária escolar. De acordo com a resolução, os discentes assistiriam às aulas da grade, de segunda a quinta, e na sexta-feira ficariam liberados para frequentar bibliotecas e realizar atividades extra-curriculares. Uma maneira bem "criativa" de esconder a carência de professores e afastar-se, de vez, das propostas de escolas de turno integral.

Também é importante ter clareza sobre o papel dos funcionários (administrativos, inspetores, merendeiras etc.) numa escola. Sem os mesmos, a escola não funcionaria. Todavia, os governantes preferem trilhar o caminho da precarização e da terceirização dos funcionários. A Rede Municipal do Rio não fica atrás. 

Muito orgulhosa de ser a maior da América Latina, possui 25% das escolas em condições precárias, segundo publicação do jornal "O Dia" em 16/ 07/ 13. Por esta e outras razões, os educadores da capital se encontram em processo de mobilização nesta rede. Em vários municípios, a categoria se mantém em constantes mobilizações, e muitas redes passaram por greves este ano: São Gonçalo, São João de Meriti, Belford Roxo, Macaé, Rio das Ostras, entre outras.

EDUCAÇÃO ESTADUAL E MUNICIPAL EM GREVE

Atualmente, as Redes Estadual e Municipal do Rio de Janeiro encontram-se em greve. Trata-se de uma luta na qual estamos inteiramente inseridos, construindo a mobilização junto às bases e ao Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação. 

Defendemos:
- eleições diretas para diretores com participação da comunidade escolar;
- fim das políticas meritocráticas (bonificações, avaliações externas, certificação, etc.);
- toda bonificação deve ser incorporada ao salário;
- combate ao assédio moral;
- contra o fechamento de escolas e turmas, denominado pelo governo como "otimização";
- uma escola por matrícula (derrubada do veto ao PL 2.220 para a rede estadual);
- cumprimento da lei de 1/3 da carga horária para planejamento;
- piso de 5 salários mínimos para professor e 3,5 para funcionários administrativos;

- FORA CABRAL, VÁ COM PAES!

(*) http://pcb-rj.blogspot.com.br/2013/08/uma-educacao-para-alem-do-cap...

Magela Medeiros, Túlio Lopes e José Francisco Neres no debate do lançamento do jornal "O Poder Popular"


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sindicato lança livro em homenagem a Celius Aulicus

                                                                  
                                                            
Em Belo Horizonte, os jornalistas mais experientes geralmente o conhecem. Já entre a  geração jovem o nome  Celius Aulicus Gomes Jardim praticamente não evoca lembranças. Nem mesmo quando é informada de que se trata de General, apelido com o qual ficou conhecido um dos mais versáteis e talentosos profissionais da imprensa brasileira, também escritor, poeta, humorista  e cozinheiro de mão cheia.  O apelido vem do pseudônimo General da Banda, com o qual assinava uma coluna de humor no extinto Binômio
Dono de um estilo elegante, por vezes crítico, irreverente e mesclado de humor, Celius Aulicus  foi um mestre em retratar o cotidiano de Belo Horizonte em suas crônicas, algumas das quais  reunidas no livro “Podem dizer que não falei de flores”, lançado em 1991.  Também se destacava pela ampla cultura geral.  Numa época em que não havia internet, era a ele que os colegas recorriam como fonte para esclarecimento de dúvidas sobre temas diversos para as quais havia sempre uma resposta correta.    
Com o propósito de resgatar sua obra e memória, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais vai lançar  dia 10 de setembro,  na abertura da  3ª Mostra de Arte dos Jornalistas Mineiros,  o  livro “Celius Aulicus, o muito amado General”.  O livro contém parte do vasto legado deixado por Celius Aulicus  e depoimentos de parentes e pessoas que com ele conviveram. Desta lista fazem parte  Cyro Siqueira, Dídimo Paiva, Mauro Werkema, José Maria Rabelo, Dinorah Carmo, Hélia Ventura, Hiram Firmino, Mirtes Helena, Bley Barbosa, Délio Rocha,  Arnaldo Viana, Clara Arreguy, Beatriz Lima, Juliana Gouthier,  Cássius Jardim  (Bareta) e Júlia Jardim. 

A capa do livro é ilustrada por uma charge de Ziraldo em homenagem a Celius Aulicus    pelos seus 50 anos de militância jornalística comemorados em 1984. Naquela data, foi realizada uma festa intitulada “ Noite do General I”,  no Cine Santa Teresa, situado no bairro de mesmo nome em Belo Horizonte.  Na reprodução podem ser conferidas  assinatura dos vários colegas e amigos que foram prestigiá-lo.

Celius Aulicus é o jornalista homenageado da edição deste ano da Mostra de Arte que  será  realizada em Belo Horizonte de 10 a 20 de setembro, na sede do sindicato  (Av. Álvares Cabral, 400). A Mostra é um espaço para os jornalistas exibirem suas criações fora das redações, como pinturas, esculturas, fotos, culinária, desenhos, artesanato, música, literatura, dentre outras manifestações.  A  exposição será encerrada com uma feira  de arte culinária pelos jornalistas que gostam de cozinhar. 

          O "GENERAL"

Celius Aulicus Gomes Jardim nasceu na terra de Juscelino, em 28 de outubro de 1918, sob o confuso signo de Escorpião, exatamente 15 dias antes do fim da Primeira Grande Guerra. Aliás, tem muita gente que afirma que ela acabou exatamente por causo disto: “Ficaram com medo que ele a avacalhasse”.

Estudou, ou melhor, matriculou-se em muitos grupos, ginásios, pré-médico (que era o único cursinho oficial daquele tempo) e em quase todas as faculdades de Niterói e em outras ainda piores.
Entrou para o jornal como repórter e logo passou a redator-secretário da “Revista da Semana”, no Rio, e secretário da oficina de diversos jornais.
Na “Última Hora” mineira chegou a escrever quatro colunas por dia, além de trabalhar na Rádio Inconfidência, “Jornal da Cidade”, de ser chefe de oficina do “Diário de Minas” e redator do “Binômio”, onde era o General da Banda.
Chegou a trabalhar, aos 14 anos, como tipógrafo. Aos 16, fez sua primeira reportagem no dia 17 de dezembro de 1934.
Contra a vontade, trabalha, ainda, até hoje. No “Estado de Minas”, assinava a coluna “O Homem Que Ri”. Continua na casa, como cronista e redator da 2ª Seção . É também o “Rossini”, dos ajantarados de domingo.
Começou em literatura infantil, escrevendo para a editora Comunicação e para a Universidade Popular da Manhã, da antiga TV Itacolomi. Também escreve contos e poesias secretas. “Aliás, ainda penso poesias até hoje, mas afasto logo os maus pensamentos”.
Este é Celius Aulicus, responsável por muitos jornalistas bons que ainda trabalham até hoje.

Autor: Délio Rocha (1982)

Vai começar o julgamento dos acusados pelo Massacre de Felisburgo


                                                      

Depois de nove anos, acontece nesta quarta-feira, em Belo Horizonte, o julgamento do fazendeiro Adiano Chfik, acusado de executar, junto com 15 pistoleiros, cinco trabalhadores rurais. No chamado "Massacre de Felisburgo", outros 12 se,-terra ficaram feridos.

A partir de amanhã, em solidariedade aos atingidos e em defesa da justiça, trabalhadores rurais,ligados ao Movimento dos Sem Terra, ficarão atentos em Belo Horizonte. Uma concentração está programada para o viaduto São Francisco, na Pampulha, de onde sairá uma passeata rumo ao centro da cidade onde se fará comunicado à populaçao e se exigirá que se faça justiça, com a condenaao dos culpados.

"Queremos expressar nossa indignação pelos sucessivos adiamentos, inicialmente de janeiro para maio e posteriormente para agora. Indignou-nos principalmente o último adiamento, pois demonstrou como a justiça é falha e tem suas brechas, permitindo ao advogado do assassino confesso alegar a “necessidade” de ouvir 60 testemunhas na véspera do júri, depois de quase nove anos de impunidade", diz  nota divulgada pelo MST.

O assessor da Comissão Pastoral da Terra, frei Gilvânder Luís Moreira, publicou artigo  no Brasil de Fato em que conta em detalhes o que foi o "Massacre de Felisburgo", que revoltou os trabalhadores do Vale do Jequitinhonha.

O artigo é o seguinte

"Massacre de Felisburgo: o que não pode ser esquecido


Frei Gilvander Luís Moreira (*)

Na madrugada do dia 1º de maio de 2002, dia das/os trabalhadoras/res, cerca de 230 famílias sem-terra, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Nova Alegria, de 1.700 hectares, em Felisburgo, Vale do Jequitinhonha, MG. Era a primeira ocupação do MST no município. 

Cerca de 1/3 da fazenda (515 hectares) é de terra devoluta, grilada pela família do fazendeiro e empresário Adriano Chafik. O coronelismo imperava incólume na região, mas a fome e necessidade impeliram os camponeses a se unir, se organizar e a partir para a luta. Com poucas reuniões promovidas pelo MST, o povo teve a coragem de quebrar a cerca desse latifúndio, onde, aliás, posseiros já tinham sido humilhados, inclusive, o Sr. Koné, ali por muito tempo e ter depois simplesmente desaparecido.

Mas a sanha egoísta dos latifundiários irrompeu-se. Era inadmissível o MST chegar, ocupar e quebrar um tabu que dizia “aqui quem manda é os fazendeiros.” Era inaceitável Sem Terra ter vez e voz. 

Assim, uma escalada de ameaças desencadeou-se durante dois anos e meio. Ameaças de todos os tipos. O povo do Acampamento Terra Prometida – pelo Deus da vida e pela luta organizada – teve de montar guarita e Comissão de Segurança para se defender. Inúmeras denúncias foram feitas pelo MST e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) alertando as polícias militar e civil, a Secretaria de Segurança de Minas, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o Governo Federal, enfim, todas as autoridades sobre os riscos a que estavam sujeitos os trabalhadores.

Estava já sendo criadas as condições para se fazer o que ficou conhecido como O Massacre de Felisburgo. Mas ... até os Boletins de Ocorrência eram “revisados” pelos Sem Terra, porque quase sempre maquiados por policiais que se negavam a escrever a versão dos Sem Terra. A

 CPT, em 24 de setembro de 2004, fez uma representação junto à Secretaria de Segurança Pública de Minas, alertando que oito jagunços estavam há dois dias dentro do acampamento, mas as autoridades não tomaram as medidas para evitar o massacre. O Estado, mais do que omisso, revelou-se cúmplice de violência.

Estes fatos ganharam repercussão nacional e internacional, mas não são isolados. Eles se inserem no bojo dos 112 conflitos agrários no estado de Minas Gerais, registrados pela CPT em 2004. Estes conflitos, além dos nove assassinatos acontecidos em Minas Gerais, foram responsáveis por 32 tentativas de assassinatos, 27 ameaças de morte, 24 torturados, 75 presos e 56 feridos.

Em 25 de novembro de 2004, a CPT de Minas entregou ao Governo do Estado e à Assembléia Legislativa de Minas Gerais um dossiê denunciando a existência de milícias armadas atormentando a vida dos sem-terra acampados no estado. A CPT/MG também registrou 26 ataques de jagunços a acampamentos em Minas nos anos de 2003 e 2004.

Após ter acontecido em Unaí, MG, dia 28 de janeiro de 2004, o Massacre dos quatro fiscais do Ministério do Trabalho, no mesmo ano, dia 20 de novembro de 2004, um sábado chuvoso, dia de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, por volta das 10:40h da manhã, Adriano Chafic, dono também de muitas outras fazendas na Bahia, chegou ao Acampamento Terra Prometida, com um bando de 17 jagunços. 

Renderam um Sem Terra que estava na guarita do acampamento e, com revólver encostado na sua orelha, o obrigaram a soltar um foguete, que era a senha para reunir todo o povo do acampamento em caso de ameaça ou de necessidade de se reunir com rapidez. 

O povo começou a se reunir. Adriano Chafic, visto por muitos no local, liderava a operação, perguntando “Cadê a Eni e o Jorge?” e ordenando “Podem atirar e matar...”. O bando de jagunços - uns encapuzados, outros não - iniciaram os disparos. 

Dentro de poucos minutos já tinham assassinado cinco Sem Terra - Francisco Nascimento Rocha (72 anos), Juvenal Jorge da Silva (65 anos) Miguel José dos Santos (56 anos), Joaquim José dos Santos (49 anos) e Iraguiar Ferreira da Silva (23 anos). 

Todos os tiros foram à queima roupa.  Feriram mais de 12 pessoas, incendiaram com gasolina dezenas de barracos de lona preta, inclusive a barraca da Escola, a barraca de alimentos, a barraca da biblioteca, barracos da Eni e do Jorge. 

Uma criança de doze anos levou um tiro próximo ao olho. Puseram gado nas lavouras dos Sem Terra. Muitos trabalhadores do acampamento ficaram, desde então, amedrontados e portadores de alguma doença, física ou mental, como conseqüência daquele crime.

Eni está viva, porque naquele momento estava na pequena Secretaria do MST na cidade de Jequitinhonha. O Jorge está vivo, porque companheiros o convenceram a sair rastejando pelos fundos do acampamento. Ele fugiu pelo mato por muitos quilômetros até poder telefonar e dizer a Eni: “Cinco companheiros tombaram no Acampamento Terra Prometida, mas nós seguiremos em frente!”

O pânico e traumas indeléveis estão ainda como fantasmas na mente, no subconsciente de dezenas de crianças, idosos, mães desesperadas procurando seus filhos. Leonice, mãe de onze filhos, com seis já tendo migrado para São Paulo, por falta de reforma agrária, em pranto gritava procurando seus filhos.

Avisada logo em seguida por Eni, a Polícia só apareceu no local do Massacre de Felisburgo seis horas após, dando prazo suficiente para os jagunços e Adriano Chafik fugirem, após esconder o arsenal de armas em um buraco no mato. Detalhe: cada jagunço empunhava dois revólveres. Além de encontrar as armas, a polícia encontrou as Notas Fiscais de compra das armas na Bahia e da compra de colchões para abrigar os jagunços durante a preparação do bárbaro massacre.

Houve feridos que morreram por falta de socorro. Um motorista de Kombi da prefeitura de Felisburgo foi demitido porque deu carona para um trabalhador Sem Terra que implorava na beira da estrada por socorro. Mortes a queima roupa e com requintes de crueldade. Assassinatos seletivos, pois os cinco mortos eram lideranças do acampamento e do MST do Vale do Jequitinhonha. O ódio também se voltava contra ex-trabalhadores da fazenda, pois, na mente doentia do assassino, significava afronta à submissão dos trabalhadores aos seus coronéis.

Adriano Chafik foi preso duas vezes e conquistou habeas corpus. Confessou a participação no massacre. Ele e os jagunços – um já morreu – já deveriam estar detrás das grades, condenados como perpetradores desse crime hediondo, mas há muitos outros culpados que não podem ser esquecidos.

O prefeito de Felisburgo na época e vários outros fazendeiros participavam agressivamente das ameaças e davam todo apoio à sanha criminosa do Adriano Chafik. Policiais, delegado e o governo de Minas que deixa as terras nas mãos de empresas, especialmente as eucaliptadoras. 

Some-se que agora o governador de Minas está tentando reabilitar uma Proposta de Emenda à Constituição de Minas e aprová-la na Assembleia Legislativa querendo passar de 250 para 2.500 hectares a área que o Estado de Minas Gerais pode titular as terras devolutas para as pessoas físicas ou jurídicas. 

Algo antidemocrático que significa entregar de vez a imensidão de terras devolutas de MG, contrariando a Constituição Federal que destina essas terras preferencialmente para a Política de Reforma Agrária. Logo, o Governo de MG também deveria estar no Banco dos réus ao lado do mandante Chafik.

O Presidente Lula assinou o Decreto de desapropriação da Fazenda Nova Alegria por crime ambiental, não porque lá ocorreu o massacre. Ou seja, matar uma árvore é mais grave do que matar cinco pessoas, disse implicitamente o decreto de desapropriação. 

Mas o poder Judiciário não se comoveu nem com as árvores matadas e nem com o sangue dos pobres vertendo na mãe terra, naquele dia chuvoso. E impugnou o decreto desapropriatório. Assim as 60 famílias que perseveram na luta estão ainda sem ser assentadas e terão que fazer a reforma agrária na marra, porque o Estado violentador dos direitos humanos não o faz.

No memorial construído no cemitério da cidade de Felisburgo, há uma grande inscrição que diz: "Aqui foram sepultados os Sem Terra Francisco, Iraguiar, Manoel, Joaquim e Miguel, covardemente assassinados a mando do fazendeiro Adriano Chafik, dia 20 de novembro de 2004.

Eles tombaram, mas o sangue deles circula nas nossas artérias e nós seguiremos lutando por reforma agrária, por justiça social e dignidade. Essa era a luta deles e é nossa luta." A Família MST assumiu o compromisso, imortalizado na frase inscrita do lado esquerdo do memorial: "Nós caminharemos por vocês na busca dos seus sonhos que também são os nossos sonhos: a terra, a justiça e a dignidade". O memorial guarda a triste lembrança do dia em que o fazendeiro Adriano Chafik comandou o Massacre de Felisburgo.

Em 20 de novembro de 2005, na celebração de um ano do massacre de Felisburgo, uma série de testemunhos deixou todos os presentes com o coração na mão. O Sem Terra Jorge Rodrigues Pereira, um dos marcados para morrer naquele dia, deu o seu testemunho: "Iraguiar, antes de ser assassinado, me disse: 'Jorge, sai fora, porque vão matar você'. 

Quando vi o tanto de armas, tentei animar os companheiros a dialogar com os pistoleiros, mas tive que correr para não ser morto também. Fugi para procurar socorro. Andei uns oito quilômetros pelo mato até um vilarejo, onde pude telefonar para avisar aos companheiros da cidade de Jequitinhonha e de Belo Horizonte. Nós não queremos guerra. Queremos terra, pois sabemos plantar".

José Maria Martins, um sobrevivente que levou um tiro na perna, disse: "Enquanto a gente tentava levantar um companheiro que tombava, os pistoleiros matavam outros. Após fugir para não morrer, olhei para trás e vi uma nuvem de fumaça cobrindo o acampamento que ardia em chamas. Nunca vou esquecer isso. Doeu muito e continua doendo!".

A Sem Terra Maria Gomes enfatizou: "Antes da chegada do MST em Felisburgo, os pobres sempre se curvavam diante do poder dos fazendeiros. O massacre foi premeditado. As armas foram compradas antes e os coronéis diziam que o massacre não aconteceria antes da eleição para não atrapalhar a política e o candidato apoiado por eles, ou seja, um massacre não ficaria bem".

Dia 20 de novembro de 2009, no cemitério de Felisburgo, na celebração do 5º ano do Massacre de Felisburgo, a emoção foi grande. Muitos choraram. As viúvas e os sobreviventes do massacre de Felisburgo sentiram, mais uma vez, uma espada de dor atravessando o coração deles. Graziele, de onze anos, entre lágrimas desabafou: "Todos os dias sinto uma grande dor no coração, pois perdi meu pai Joaquim, perdi meu tio Miguel e perdi meu cunhado Iraguiar. Todos nesse covarde massacre. Eu só peço justiça!" Eis a dor que o latifúndio e o coronelismo causam.

A psicóloga doutoranda da PUC/SP Fabiana Andrade e professora da PUC/MG pesquisou em sua dissertação o trauma causado pelo Massacre de Felisburgo. Diz ela: “Diagnostiquei que as pessoas desenvolveram um trauma que afeta suas vidas diariamente. Elas têm medo, não dormem à noite, algumas pessoas desmaiam e têm pesadelos constantes.”

Três processos de indenização na esfera cível tramitam parados na comarca de Jequitinhonha. Indenização? Cadê?

Apesar de tanta dor, um sentimento pode ser cultivado: hoje, 8,5 anos após, o MST é respeitado em Felisburgo. Todo sábado a produção do Acampamento Terra Prometida é carinhosamente esperada na Feira de Felisburgo, pois os alimentos, verduras e legumes produzidos hoje pelas 60 famílias da Terra Prometida abastecem a Feira da Cidade. “70% do abastecimento de alimentos para a cidade vem do Terra Prometida”, diz o vice-prefeito de Felisburgo, Franklin Canguçu. 

Ou seja, o latifúndio e os latifundiários oferecem balas que matam os Sem Terra, mas os Sem Terra oferecem alimentação saudável, sem agrotóxicos, para o povo. No acampamento Terra Prometida, a luta segue com muita organização: grupos de jovens, rádio comunitária, escola municipal, além da organização em núcleos de base. Assim, o MST segue na luta produzindo acima de tudo pessoas cidadãs e revolucionárias. Tombaram cinco Sem Terra, mas os sobreviventes seguiram em frente!

O julgamento de Adriano Chafik e de Washington, esse gerente da fazenda, após quase nove anos, está marcado para dia 15 de maio de 2013 pelo Tribunal do Júri, em Belo Horizonte, MG. O Procurador de Justiça do Ministério Público de Minas, da área de conflitos agrários, Dr. Afonso Henrique de Miranda alerta: “Eu não estou trabalhando com a possibilidade de Chafik ser inocentado. Eu trabalho com provas, e temos provas suficientes para sua condenação.” Será feita justiça?

Belo Horizonte, MG, Brasil, 13 de maio de 2013.



(*) Frei e padre Carmelita, bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, doutorando em Educação pela FAE/UFMG, assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br – facebook: gilvander Moreira "


ANARQUISMO


Extractos do discurso do presidente boliviano na reunião de chefes de Estado da União Europeia

                                 
                                           
185.000 quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, primeiro empréstimo da América à Europa

O facto de Evo Morales ter sido impedido de sobrevoar países europeus lançou uma cortina de humo sobre o discurso que pronunciou na reunião de chefes de Estado, que foi o objecto da sua viagem. Para perplexidade dos seus anfitriões, a intervenção situa nos seus verdadeiros termos, com implacável e irónica argumentação, as relações entre a Europa e a Indoamérica.


Exposição do presidente boliviano na reunião de chefes de Estado da Comunidade Europeia (30-VI-13). Com linguagem simples, que era transmitida em tradução simultânea a mais de uma centena de chefes de Estado e outros dignatários, o presidente Evo Morales conseguiu inquietar a sua audiência quando disse:

“Aqui pois eu, Evo Morales, vim encontrar os que celebram o encontro.
“Aqui pois eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, vim encontrar os que a encontraram há apenas 500 anos.
“Aqui pois, nos encontramos todos. Sabemos o que somos, e é suficiente.
“Nunca teremos outra coisa.
“O irmão aduaneiro europeu pede-me papel escrito com visto para poder descobrir os que me descobriram. O irmão usurário europeu pede-me o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a vender-me.

“O irmão legiferador europeu explica-me que toda a dívida se paga com juros ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem lhes pedir consentimento.

“Eu vou-os descobrindo. Também eu posso reclamar pagamentos e também posso reclamar juros. Consta no Arquivo de Índias, papel sobre papel, recibo sobre recibo e assinatura sobre assinatura, que somente entre o ano 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes de América.

“¿Saque? ¡Não o poderia acreditar! Porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao seu sétimo mandamento. ¿Espoliação? ¡ Tanatzin me guarde de supor que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do seu irmão!

“¿Genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomé de las Casas, que qualificam o encontro como de destruição das Índias, ou a exagerados como Arturo Uslar Pietri, que afirma que o arranque do capitalismo e a actual civilização europeia se devem à inundação de metais preciosos.
“¡Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de muitos outros empréstimos amigáveis de América, destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito não apenas a exigir a devolução imediata, mas também a indemnização por perdas e danos.

“Eu, Evo Morales, prefiro pensar na menos ofensiva destas hipóteses.

“Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano Marshalltesuma, para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada pelas suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho quotidiano e de outros triunfos superiores da civilização.

“Por isso, ao celebrar o Quinto Centenário do Empréstimo, poderemos perguntar-nos: ¿Fizeram os irmãos europeus um uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional? Lamentamos dizer que não.

“No aspecto estratégico, dilapidaram-no nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino do que terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como em Panamá, mas sem canal.

“No aspecto financeiro, foram incapazes, após uma moratória de 500 anos, tanto de cancelar o capital e os seus juros, quanto de se tornar independentes das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e proporciona todo o terceiro mundo.

“Este deplorável quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman segundo a qual uma economia subsidiada jamais poderá funcionar e obriga-nos a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que tão generosamente temos demorado todos estes séculos a cobrar.
“Ao dizer esto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar aos nossos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas de 20 e até de 30 por cento de juro, que os irmãos europeus cobram aos povos do terceiro mundo. Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, mais o módico juro fixo de 10 por cento, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200 anos de perdão.

“Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juro composto, informamos os descobridores que nos devem, como primeiro pagamento da sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de prata, ambos os números elevados à potência de 300.

“Quer dizer, um número para cuja expressão total seriam necessários mais de 300 algarismos, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.
“Muito pesadas são essas moles de ouro e prata. ¿Quanto pesariam, calculadas em sangue?

“Aduzir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para cancelar esse módico juro, seria o mesmo que admitir o seu absoluto fracasso financeiro e/ou la demencial irracionalidade dos pressupostos do capitalismo.
“Tais questões metafísicas, desde logo, não nos inquietam a nós, indoamericanos.

“Mas exigimos, isso sim, a assinatura de uma Carta de Intenções que discipline os povos devedores do Velho Continente, e que os obrigue a cumprir o seu compromisso mediante uma pronta privatização ou reconversão da Europa que lhes permita entregar-no-la inteira, como primeiro pagamento da dívida histórica”.

Com (odiario.info)

Luta ou fuga?

Mauro Iasi                                                                              
                                                                                   
Aos companheiros das jornadas de junho

O cérebro humano primitivo

espreita, escuta, pressente:

o ruído, o silêncio, o perigo.

Tensão, pupilas, pulmão.

Atenção…

Adrenalina, músculos, ação… ou não:

mordida, ferida, contusão.

Lutar ou fugir?

Eis a questão!

Hamlet com uma caveira na mão

sobre a cova de um causídico

indaga ser justa ou delírio,

a raiva que move sua mão.

Fugir ou lutar?

Ousar ou fingir.

Outra face… perdoar?

Sonhar, voltar a dormir?

Viver, acordar!

Para a rua… protestar!

Fogueiras, vinagre, bandeiras,

negras ou vermelhas,

Nenhum passo atrás!

Lutar!

sábado, 17 de agosto de 2013

A CIA e a guerra fria cultural (Pela primeira vez leitores ocidentais tomam conhecimento das ações da Inteligência norte-americana junto a intelectuais, fundações e instituições culturais em campanhas para desmoralizar a antiga URSS e "o comunismo")

                                                           

Miguel Urbano Rodrigues

Capa da edição de 2013. Esta semana chegou-me às mãos um livro muito importante: A CIA e a guerra fria cultural. [1] 

Desconhecido em Portugal, gostaria que fosse editado no nosso país para ser lido por milhares de pessoas desinformadas por um sistema mediático perverso que apresenta uma imagem deformada do sistema de poder dos Estados Unidos. 

O título é enganador. Ao iniciar a leitura estava persuadido de que se tratava de mais uma obra de divulgação de ações criminosas da CIA. Daí a surpresa. 

O livro de Frances Stonor Saunders é muito mais ambicioso. A autora, jornalista e historiadora britânica, dedicou cinco anos à investigação de um tema muito mal conhecido: as atividades encobertas desenvolvidas pela CIA no mundo da cultura para promover o descrédito do comunismo e mobilizar contra a União Soviética grande parte da intelligentsia progressista ocidental. 

Em 1945, o prestígio da URSS nos EUA era enorme. A maioria do seu povo sentia uma grande simpatia, sobretudo apos a batalha de Stalinegrado, pelo país que desempenhara um papel decisivo na derrota do Reich nazi. 

Essa realidade era muito incómoda para a elite do poder estado-unidense. A Doutrina Truman e o Plano Marshall demonstraram ser manifestamente insuficientes para alterar a atitude da classe média estadunidense perante a União Soviética. 

Os cérebros ligados ao poder em Washington concluíram pela necessidade urgente de convencer o homem comum norte-americano de que o aliado na guerra durante quatro anos, de 1941 a 1945, era, afinal, um perigoso inimigo. 

A elite que se propunha a reorganizar o mundo sob a égide dos EUA em torno dos seus "valores" estava consciente de que esse objetivo somente poderia ser atingido se o Ocidente capitalista fosse empurrado para a conclusão de que o comunismo, "obscurantista, desumano, agressivo", era a grande ameaça para a humanidade, pelo que se tornava imprescindível combatê-lo. 

A Oficina de Serviços Estratégicos-OSS, que funcionou durante a guerra como uma Gestapo americana, foi de certa maneira uma predecessora da CIA. O seu chefe, o general William Donovan, reuniu à sua volta destacadas figuras da aristocracia do capital como os filhos do banqueiro JP Morgan, os Vanderbilt, os Dupont, e intelectuais como George Kenan e Charles Bohlen. 

Uma das primeiras iniciativas da OSS foi o recrutamento de militares e civis nazis. Dezenas de altas personalidades alemãs passaram de criminosos de guerra a aliados de confiança. Um caso expressivo:o general das SS Reinhardt Behlen, chefe dos serviços secretos nazis que, em vez de ser preso e julgado, recebeu o tratamento de colaborador privilegiado da OSS. 

No seu livro, Frances Saunders dedica os primeiros capítulos às campanhas desenvolvidas por Donovan, com o apoio de Truman, para demonstrar aos europeus que os EUA eram uma sociedade onde a cultura ocidental lançara raízes profundas, contrapondo essa imagem à "barbárie soviética". O Bem contra o Mal. 

A literatura, a música, a pintura, a arquitectura, o ballet dos EUA foram amplamente divulgados na Alemanha, na França, na Itália e noutros países. Simultaneamente, antecipando-se a eventuais acusações de patrioteirismo, obras de Aristófanes, Goethe, Schiller, Thomas Mann, Ibsen, Strindberg, Shaw, Gorki, Gogol eram difundidas numa prova inequívoca do amor dos EUA pela cultura universal. 

Essa ofensiva cultural não produziu, porem, os resultados previstos. 

Coube à CIA a tarefa de levar adiante no contexto da Guerra Fria um projeto muito mais complexo e ambicioso, também na frente da cultura. 

Criada em 1947 pela Lei de Segurança Nacional, a Agencia Central de Inteligência-CIA assumiu as proporções de um polvo gigantesco. Inicialmente não estava autorizada a intervir em assuntos de outros países. Truman e os seus sucessores permitiram que ela desenvolvesse atividades de espionagem, e promovesse operações militares. Hoje possui linhas aéreas, emissoras de TV e rádio, jornais, companhias de seguros, imobiliárias, bancos. 

Em l948 foi criado na Agencia um Escritório de Coordenação de Politicas – OPC com a missão específica de realizar "operações secretas" em múltiplas áreas. 

Esse estranho departamento especial cresceu vertiginosamente. Em três anos o seu pessoal passou de 302 pessoas a 2812,além de 3142 assalariados no estrangeiro. O orçamento elevou-se de 4,7 milhões de dólares para 82 milhões. 

O ideólogo do sistema era então George Kennan, o ex-embaixador em Moscovo, fanático anticomunista, arquitecto do Plano Marshall que desempenhou um grande papel na concepção e funcionamento da Guerra-Fria. 

Foi um dos pais da CIA e consultor da OPC. Coube-lhe formular o conceito da "mentira necessária" como componente fundamental da diplomacia estado-unidense. 

Uma das operações secretas mais difíceis foi a concebida para utilizar a esquerda não comunista em campanhas anticomunistas. Secreta porque os intelectuais envolvidos em campanhas contra a União Soviética deveriam ser manipulados habilidosamente. A OPC atuava nos bastidores, invisível. O governo americano, as embaixadas dos EUA, os grandes media norte- americanos abstinham-se inclusive de comentar elogiosamente as tomadas de posição antissoviéticas de escritores e artistas europeus, muitos dos quais eram ex-comunistas. Tudo se passava como se as conferencias, seminários, festivais manifestações e outros eventos em que participavam esses intelectuais fossem espontâneos, nascidos de iniciativas suas. 

Mas a realidade era muito diferente. Oculta, era a CIA quem planeava a orquestração anticomunista, quem financiava generosamente (com o Departamento de Estado) essas campanhas. 

Frances Saunders desce a minúcias ao descrever o esforço desenvolvido pela OPC através de intermediários respeitáveis para conseguir que grandes nomes da esquerda aderissem a iniciativas de cariz anti-soviético. 

Nos EUA prestaram-se a esse papel escritores prestigiados como John Steinbeck, John dos Passos, Gertrude Stein, Schlesinger, W.H.Auden, Arthur Miller, e orquestras sinfónicas, museus, etc. Os intelectuais trotsquistas aderiram massivamente. Na Europa, foram envolvidos na teia anti-soviética: André Gide, Albert Camus, Elsa Triolet, Andre Malraux, Simone de Beauvoir, Raymond Aron, Georges Orwell, Aldous Huxley, Laurence Olivier, Jean Cocteau, Salvador de Madariaga, Claude Debussy, Denis de Rougemont, Milan Kundera, e muitos outros. E – chocante, mas real - Aragon, Sartre, Bertrand Russell. 

A intervenção na Hungria das tropas do Tratado de Varsóvia, em 1956 criou na Europa uma atmosfera favorável à intensificação da Guerra Fria. 

Entre os muitos livros cuja publicação foi promovida pela CIA, um deles, The God That Failed (O Deus Que Falhou) foi best-seller mundial. Traduzido em dezenas de línguas vendeu milhões de exemplares. Partiu da CIA a ideia de reunir seis ensaios (a maioria já publicados na revista alemã Der Monat controlada pela Agencia) de Arthur Koestler, Ignazio Silone, Andre Gide, Richard Wright, Stephen Spender, todos eles escritores famosos que haviam sido militantes ou simpatizantes comunistas. 

"Além de ser uma espécie de confissão coletiva – escreve Frances Saunders – o livro era um ato de recusa, uma rejeição do estalinismo no momento em que para muitos essa atitude era ainda uma heresia. Foi um livro de importância transcendental no pós-guerra e aparecer nele foi um passaporte válido para o mundo oficial da cultura nos vinte anos seguintes". 

Koestler, que adquirira enorme notoriedade com o seu romance O Zero e o Infinito, Milovan Djilas e George Orwell, autor do 1984, destacaram-se nessas iniciativas pela sua febre anticomunista. 

O primeiro, que havia sido nos anos 30 um dedicado militante do Partido Comunista Alemão-DKP, colaborou intimamente com a CIA e foi conselheiro do Foreign Office em campanhas anti-soviéticas. 

Comités e Associações constituídos para defender a Cultura, a Liberdade e a Democracia, mas cujo objetivo era a promoção de iniciativas anticomunistas, permitiram então à CIA (sempre atuando nos bastidores) exercer uma grande influência sobre uma parcela importante da "esquerda não comunista". 

Para isso contou com a colaboração e a ajuda financeira de organizações como a Fundação Ford. 

Das muitas revistas criadas para "promover a cultura", uma delas, a britânica Encounter, alcançou prestígio mundial. Dirigida por Stephen Spender, um poeta inglês, foi concebida para funcionar como um instrumento político anticomunista no mundo da cultura. E atingiu o objectivo. Durante anos colaboram nela eminentes figuras da intelligentsia mundial. 

Nem o diretor, Spender, conhecia a origem do financiamento. Quando uma inconfidência revelou, nas vésperas da Assembleia do Congresso pela Liberdade da Cultura, a ponte entre Encounter a CIA e as elites financeiras dos EUA, o escândalo foi maiúsculo. 

Em reuniões desse Congresso fantasmático, ideado pela CIA, participaram, aliás, durante anos grandes nomes da esquerda não comunista. Na prática foi uma tribuna anticomunista. 

No seu belo livro, Frances Saunders dedica alguns capítulos a ações encobertas da CIA não comentadas neste artigo. Cita nomeadamente várias Fundações, Universidades, congressistas e governantes que apoiaram iniciativas criminosas da famosa Agencia. Um mar de lama tóxica. 

E dedica especial atenção aos quadros – ideólogos e executantes – que idearam as campanhas anti-soviéticas, fazendo delas uma poderosa arma da Guerra Fria. 

Cito alguns nomes dessa máfia política praticamente desconhecida em Portugal: Lasky, Josselson, Nabokov, Kristol, Hook, Wisner. Termino transcrevendo o último parágrafo do livro de Frances: 

"Sob a (ainda não) estudada nostalgia dos "Dias dourados" da inteligência americana havia uma verdade muito mais demolidora:   as mesmas pessoas que liam Dante, estudaram em Yale e se educaram na virtude cívica, recrutaram nazis, manipularam o resultado de eleições democráticas, proporcionaram LSD a pessoas inocentes, abriram o correio de milhares de cidadãos americanos, derrubaram governos, apoiaram ditaduras, conceberam assassínios e organizaram o desastre da Baia dos Porcos. 

Em nome de quê? perguntava um crítico: "Não da virtude cívica, mas do império". 

Vila Nova de Gaia, 9/Agosto/2013

[1] Frances Stonor Saunders, Who Paid the Piper? The CIA and the Cultural Cold War , Granta Books, United Kingdom, 1999. Em 2013, a Random House Mondadori lançou em Bogotá a edição colombiana, com 597 páginas: www.megustaleer.com/ficha/C922362/la-cia-y-la-guerra-fria-cultural 

O original encontra-se em www.odiario.info/?p=2980 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, de 25 a 31 em São Paulo


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Reforma Política: tática oportunista para as eleições de 2014 e diversionista para as lutas de massa

                                                            
                                               
Ivan Pinheiro (*)

Em 2002, quando surgiu a possibilidade de vitória eleitoral do que ainda parecia ser uma frente de esquerda e, portanto, de iniciarmos um processo de mudanças progressivas no Brasil, às vésperas do primeiro turno Lula assinou a “Carta aos Brasileiros”, em verdade dirigida aos banqueiros, comprometendo-se a manter intacta a política econômica neoliberal dos tempos de FHC, incluindo a “autonomia” do Banco Central e o superávit primário, desvio de recursos públicos para pagamento dos rentistas. Nesse caso, não se pode acusar Lula de não cumprir promessas.

Com a vitória dele no segundo turno, a então coordenação da frente que o apoiava criou uma comissão dos cinco partidos (PCB, PT, PDT, PSB e PcdoB) para elaborar um PROGRAMA DOS 100 DIAS, de forma que, logo no início do mandato, o novo Presidente mostrasse que veio para cumprir as promessas de mudanças feitas na campanha e que encheram de esperança a grande maioria do povo brasileiro e a esquerda mundial.

A principal proposta da comissão, apresentada pelo PCB, era a convocação, logo após a posse, de um plebiscito para consultar o povo sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte soberana, que não se confundisse com a composição do Congresso Nacional e que revisasse toda a Constituição Brasileira, que já sofrera forte retrocesso político em função de emendas aprovadas no famigerado governo FHC.

Partia-se do pressuposto de que, para mudar o Brasil, era indispensável primeiro mudar leis que perpetuam a hegemonia burguesa. Exatamente como fizeram Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, antes de deflagrarem os processos de mudanças em seus países.

Mas no Brasil, o medo venceu a esperança!

Antes mesmo da posse, já eleito no segundo turno, a primeira viagem internacional de Lula, de surpresa (pelo menos para o PCB), foi aos Estados Unidos para encontrar-se com Bush na Casa Branca, ao lado de Henrique Meireles, então presidente do Banco de Boston, para apresentá-lo como o novo presidente do Banco Central do Brasil, assegurando-lhe autonomia para gerir a política monetária. Nesse momento, começou a se dissolver a coordenação política da campanha, que deveria se transformar, após a posse, numa coordenação política do governo.

Ao tomar posse, Lula jogou no lixo, ao mesmo tempo, o programa da campanha, a coordenação política e o Programa dos 100 Dias, fazendo a opção pela governabilidade institucional da ordem, ao invés da governabilidade popular pelas mudanças. 

Formou uma base de apoio parlamentar com o centro e a centro-direita, com mais de 300 dos que chamara de picaretas, transformando-se em refém e cúmplice dos caciques da política burguesa, sob o comando do PMDB e do companheiro Sarney, rendendo-se ao grande capital.

O Vice-Presidente, José de Alencar, havia sido criteriosamente escolhido para sinalizar uma aliança com setores da burguesia, com vistas a um projeto neo-desenvolvimentista, que Lula anunciava, já na posse, como o “espetáculo do crescimento”, que iria “destravar” o capitalismo no Brasil. Essa promessa Lula também cumpriu à risca.

Constatando a traição ao programa que elegeu Lula, o PCB, em março de 2005 (antes, portanto do episódio conhecido como “mensalão”), rompe com o governo, por absoluta incompatibilidade política com o transformismo do novo presidente e dos demais partidos que haviam composto a frente, que continuaram se degenerando e se fartando de cargos e verbas, sem qualquer crítica ao abandono do programa eleitoral e entregando as organizações sociais sob sua influência na bandeja da cooptação, transformando uma legião de ex-militantes de esquerda em burocratas de carreira, cabos eleitorais de “mandatos” de seus partidos.

A CUT e a UNE, que já vinham também num acelerado processo de degeneração, logo se transformaram em correia de transmissão do governo e nos principais instrumentos de apassivamento dos trabalhadores e da juventude.

Depois de dez anos alavancando o capitalismo, “como nunca antes na história desse país” - iludindo os trabalhadores com o discurso da inclusão, da nova classe média, de um desenvolvimento capitalista em que ganhariam igualmente todas as classes e que garantiria a paz social -, bastou o estopim do aumento das tarifas dos ônibus urbanos para que se desmontassem as ilusões, os 10 anos de conciliação de classe, de manipulações, de amaciamento da classe trabalhadora e da juventude.

Tudo isso aliado aos ventos da crise do capitalismo, que tem levado o governo Dilma a mitigá-la com mais capitalismo: desoneração do capital, Código Florestal, privatizações de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, estádios de futebol, a vergonhosa continuidade dos leilões de petróleo, inclusive do pré-sal, além de projetos para reduzir direitos trabalhistas e previdenciários.

A explosão das insatisfações reprimidas tem suas razões principais na privatização e no sucateamento dos serviços públicos, sobretudo na saúde e educação, na desmoralização e falta de representatividade das instituições da ordem (e das entidades de massas cooptadas), em função de alianças e práticas oportunistas e da cumplicidade com a corrupção.

Com a quebra do salto alto petista, foram-se a arrogância e a certeza de mais alguns confortáveis anos de mais do mesmo. Atônitos, os reformistas começam a bater cabeça e a chamar por Lula, alguns abandonando Dilma na estrada, por conta de sua queda de popularidade. Ao mesmo tempo, acharam no lixo da sua própria história o Programa dos 100 Dias, abandonado quando a correlação de forças era altamente favorável. Com seus quase 60 milhões de votos e a inaudita esperança popular, Lula tinha todo o respaldo para mudar o Brasil, mobilizando as massas, mesmo que com medidas apenas progressistas.

A cerca de um ano do fim do mandato de Dilma, cada vez mais reféns do centro e da centro-direita, até para se manter no governo, petistas e outros reformistas, alguns insistindo em se dizer comunistas (o que, por praticarem a conciliação de classe, é funcional para sua aceitação pelo sistema) levantam a bandeira da reforma política, esbravejando contra o parlamento, a justiça, a mídia, instituições que não só deixaram intactas, mas fortalecidas.

Fingindo desconhecer que este governo não sobrevive sem o PMDB, que tem a chave da agenda legislativa brasileira - com a inédita acumulação da presidência da Câmara e do Senado e a Vice-Presidência, ocupadas pelas mais experimentadas raposas políticas - os reformistas levantam agora, como a salvação da pátria, a bandeira da convocação de um plebiscito para uma constituinte, que abandonaram no momento propício, há dez anos!

Clamar por constituinte nessa correlação de forças desfavorável – e no momento em que “caem as fichas” dos trabalhadores e da juventude, a ponto de esses partidos não poderem levar para as ruas as suas bandeiras - é um gesto de desespero. Ou se trata de uma inocente ilusão de classe ou de uma esperta cortina de fumaça para passar ao povo a impressão de que querem mudar, mas que a oposição não deixa. Como não há inocência em políticos profissionais, a segunda hipótese é mais provável. Tanto não querem mudar que, em recente nota oficial, a direção nacional do PT assegurou que sua aliança preferencial para 2014 é com o PMDB, garantindo ao indefectível Michel Temer a candidatura a vice-presidente.

A correlação de forças não é desfavorável apenas no parlamento, mas sobretudo em relação à evidente hegemonia burguesa na sociedade brasileira, moldada pelo fundamentalismo religioso e pela mídia hegemônica, que cultua a aversão aos partidos e reduz a política aos momentos eleitorais.

Vão buscar no lixo a constituinte de 2003, que seria ampla e irrestrita, mas agora a limitam a uma específica sobre reforma política que nem merece esse nome, pois é fundamentalmente eleitoral. Mostram assim que só acreditam na chamada democracia burguesa, uma ditadura de classe disfarçada.

No esperto (e ao mesmo tempo desesperado) discurso da reforma política, fazem críticas a deformações do parlamento, para as quais contribuíram tanto quanto os demais partidos da ordem. O PT e seus aliados fiéis e acríticos se fartaram de financiamento privado, a ponto de seus candidatos, em alguns casos, terem recebido mais doações “generosas” de empresas - em geral empreiteiras, concessionárias de serviços públicos e bancos - que seus adversários conservadores, até porque os setores mais lúcidos das classes dominantes preferem terceirizar o governo a um partido com o nome de trabalhadores, para fazer com eficiência a política do capital e com a vantagem de iludir aqueles que emprestam o nome ao partido.

Defendem agora o voto em lista fechada, ou seja, em partidos e programas e não em pessoas, quando o PT foi o partido que mais contribuiu para o voto personalizado, usando o prestígio de Lula e a marquetização das eleições. Propõem agora o fim das coligações nas eleições proporcionais, quando o PT e seus aliados fiéis têm feito coligações as mais espúrias e inimagináveis.

Uma evidência de que a proposta de reforma política não passa de um expediente tático é que o PT sabe do risco real de perder em plebiscito as propostas que hoje defende, como o financiamento público exclusivo e o voto em lista, numa conjuntura em que o povo repudia os partidos políticos, aliás por responsabilidade do próprio PT e de seus cúmplices de fisiologismo. Essa derrota seria também da esquerda socialista, pois são propostas positivas, que em dez anos os reformistas não levaram à frente, mesmo exercendo a presidência da república.

Essa manobra irresponsável e eleitoreira pode ter consequências nefastas, na medida em que abre espaço para o Congresso Nacional promover, sem qualquer consulta popular, uma minirreforma regressiva, para parecer mudança. Com medo de que as urnas revoguem seus mandatos, numa renovação que se anuncia sem precedentes, parlamentares já falam em diminuir a duração da campanha eleitoral a pretexto de reduzir os custos financeiros, mas na verdade para favorecer os que já têm mandato.

Talvez por falta de tempo, ainda não consigam o fim das coligações proporcionais e a criação de alguma forma de cláusula de barreira, com o objetivo de diminuir o número de partidos e prejudicar apenas aqueles ideológicos, da oposição de esquerda. As pequenas e médias legendas de aluguel se adaptarão às restrições, fundindo-se aos chamados grandes partidos, em tenebrosas transações.

Com ou sem consulta popular, qualquer iniciativa de reforma eleitoral nesta conjuntura pode resultar numa contrarreforma, antipolítica e antipartidária.

E não adianta setores petistas reclamarem da minirreforma eleitoral, porque o presidente da comissão responsável por ela é o deputado petista Cândido Vacarezza, historicamente ligado a Lula e nomeado para o cargo pelo presidente da Câmara, contra a opinião da maioria da direção nacional do PT, fato que ficou por isso mesmo!

Apesar de sermos a favor do financiamento público, não temos ilusão de que seu advento acabaria com a corrupção e tornaria democrática a disputa, num país capitalista em que a corrupção é sistêmica e a mídia hegemônica manipula, influi e por vezes decide as eleições. Essa medida pode até dificultar, mas não erradicar a corrupção.

Tampouco somos contra a luta - numa correlação de forças favorável e desvinculada de cálculos eleitorais - por uma reforma política progressiva, em que o fortalecimento do protagonismo popular possa contribuir para a auto-organização dos trabalhadores. Mas sem ilusões com a possibilidade de superar o capitalismo através de eleições e de reformas.

O mais grave, entretanto, é que a prioridade na bandeira da reforma política sequestra a pauta unitária levantada nas manifestações de 11 de julho. Trata-se de um diversionismo e uma esperteza de não expor a presidente Dilma e o possível candidato Lula ao desgaste de terem que negar cada uma daquelas bandeiras, exatamente por serem reféns e parceiros do capital.

Devemos continuar levantando as bandeiras da redução da jornada sem redução salarial, da reforma agrária, do fim do fator previdenciário e da terceirização, do fim do superávit primário e dos leilões do petróleo para gerar investimentos públicos em saúde e educação, da desmilitarização da polícia, entre outras. Por isso, não podemos cair na balela da reforma política, que os reformistas querem colocar agora em primeiro plano, em detrimento das bandeiras citadas.

É preciso desmascarar a atual campanha de coleta de um milhão e meio de assinaturas digitais pelo plebiscito da constituinte específica. Não por incentivar a iniciativa popular, mas pelos objetivos da campanha e pela forma de coletar as assinaturas, apenas através da internet, estimulando assim a asséptica militância eletrônica, sem sair de casa ou do gabinete, fria e sem interação com as massas, talvez por receio desse contato.

Ao invés disso, devemos e podemos organizar uma oportuna e necessária coleta de assinaturas para uma iniciativa legislativa por um plebiscito, mas para que o povo responda se quer uma Petrobrás 100% estatal, sob controle popular, o fim dos leilões e que os lucros da exploração do petróleo sejam investidos na saúde e na educação, públicas e de qualidade. Essa pode ser uma importante campanha de massa, servindo também para mobilizar o povo às vésperas de mais um ultrajante leilão do nosso petróleo. Uma campanha nas praças, nas portas de fábricas e de escolas, em contato direto com os trabalhadores e os jovens.

Por tudo isso, as forças políticas e sociais do campo anticapitalista, de oposição aos governos social-liberais e neoliberais, precisam reunir-se urgentemente numa Plenária Nacional, para debater a forma e o conteúdo de nossa participação no dia 30 de agosto, anunciado pelas centrais pelegas sem qualquer representatividade como um “dia nacional de paralisações”. Mesmo que elas recuem, como já aconteceu outras vezes.

As forças anticapitalistas não podem mais participar de manifestações sem unidade e identidade própria, sob pena de se confundirem com os reformistas e não criarem as condições para a necessária formação de uma frente de caráter anticapitalista e anti-imperialista, voltada para a unidade de ação na luta e para além das eleições e dos partidos registrados oficialmente.

Por fim, no lugar da reforma eleitoral, nossa bandeira política central deve ser PELO PODER POPULAR, que expressa a recusa às instituições burguesas e “a tudo que está aí”,sinalizando uma organização popular com vocação de poder.

(*)Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB

(texto revisado e aprovado pelo Comitê Central do PCB)

(Os grifos são meus, José Carlos Alexandre)