quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Calote do "Hoje em Dia" nos jornalistas completa dois anos sem solução

                                                                     

Nesta quinta-feira, 1º de março, faz dois anos que o jornal Hoje em Dia dispensou 38 jornalistas e não pagou as verbas rescisórias nem o salário do último mês trabalhado. O jornal inaugurava assim uma nova etapa de completo desrespeito aos seus empregados, demonstrando estar bem sintonizado com o golpe que derrubou a presidenta da República e vem atacando os direitos trabalhistas e democráticos dos brasileiros.

Mais do que qualquer outra empresa jornalística, o Hoje em Dia é um exemplo da relação íntima dos patrões da imprensa com o golpe. Pouco antes das demissões em massa, o jornal passou às mãos do empresário e político Ruy Muniz, então prefeito de Montes Claros, conhecido entre os professores por fraudar direitos trabalhistas dos empregados da sua rede de escolas Soebras.

O ex-prefeito, cotado como possível candidato ao Senado nas eleições deste ano, responde junto com o jornal a 367 ações trabalhistas envolvendo jornalistas, gráficos e trabalhadores da administração, cujos valores são estimados em cerca de R$ 25 milhões.

A mulher e sócia de Ruy Muniz, deputada Federal Raquel Muniz, citou o marido como exemplo de administrador público, na votação do impeachment da presidente Dilma. Na manhã seguinte, Ruy Muniz foi preso pela Polícia Federal, acusado de desviar recursos de hospitais públicos para favorecer o hospital da sua família.

Em maio do ano passado, a antiga sede do Hoje em Dia foi citada pelo empresário Joesley Batista, na delação da JBS. Ele contou à justiça que comprou o prédio por 17 milhões, a pedido do senador Aécio Neves (PSDB). Nessa época, o jornal pertencia ao Grupo Bel, que comanda a Rádio 98 FM, e também figura como réu na ação que cobra os direitos dos demitidos.

Apesar de todos os descalabros envolvendo antigos e novos donos do jornal, a impunidade permanece e os trabalhadores continuam sem receber seus direitos. Pior: o governo federal liberou R$ 10,9 milhões para o hospital de Ruy Muniz, em outubro de 2017, e continua repassando recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a Soebras.

A justiça do trabalho reconheceu os direitos dos jornalistas, determinou intervenção administrativa no Hoje em Dia, bloqueou os repasses do FNDE para a Soebras e ordenou que sejam depositados numa conta destinada a pagar a dívida trabalhista. Se for preciso, o oficial de Justiça, em Brasília, deverá solicitar o auxílio da Polícia Federal para que a ordem seja cumprida.

O Sindicato e os jornalistas não estão inertes. Em junho do ano passado, com o apoio de movimentos sociais, ocupamos a antiga sede do jornal e chamamos a atenção internacional para a situação dos demitidos. Só descansaremos quando os trabalhadores receberem seu dinheiro .

(Com o SJPMG)

Resistência, raízes e direitos

Swaha/Rebelión/Divulgação

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sindicato dos Jornalistas repudia demissões nos jornais "O Tempo" e "Super"

                                                                       
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais repudia a demissão de jornalistas e outros funcionários da Sempre Editora, proprietária dos jornais O Tempo, Super e Pampulha, portal O Tempo e Rádio Super Notícia. A demissão caracteriza uma perseguição a profissionais que se mobilizaram pelo pagamento de horas extras e ocorre às vésperas da votação, pelos trabalhadores, da proposta feita pela empresa para regularizar essa situação.

O Sindicato considera esse procedimento da empresa, que não é novo, lamentável, pois representa uma forma de coagir os jornalistas. Em todas as reuniões de negociação para pagamento das horas extras a empresa se comprometeu a ampliar o número de empregados e agora se contradiz, demitindo.

Apesar disso, em respeito aos trabalhadores, o Sindicato mantém a votação, marcada para a próxima segunda-feira, 26/2.

O Sindicato se solidariza a todos os demitidos. As demissões criaram um clima pesado na redação. Os sete jornalistas dispensados são profissionais queridos, respeitados, premiados.

Também foram dispensados trabalhadores da administração e motoristas. Para parte destes, a empresa teria feito propostas de recontratação com salários reduzidos.

A Sempre Editora alega que não tem dinheiro. O Sindicato gostaria de saber como a empresa que publica alguns dos principais jornais mineiros – entre eles o de maior vendagem no país, o Super Notícia – e que recebe as maiores verbas publicitárias do governo de Minas e de prefeituras, além do governo federal e dos editais pagos da Cemig, entre outros, pode alegar dificuldades financeiras.

Prova dessa mentira é que recentemente a empresa comprou e colocou no ar a Rádio Super Notícia.

Problemas de pagamento de horas extras sempre existiram na empresa e se agravaram quando a rádio entrou no ar, com trabalhadores trabalhando mais de 10 horas por dia. Os jornalistas também passaram a trabalhar todos os finais de semana sem receber a mais por isso.

O Sindicato esteve na empresa na quarta 21/2 e denunciou publicamente os abusos e tentativas de intimidação da Sempre Editora.

Não é a primeira vez que a empresa adota o procedimento de demitir trabalhadores que defendem seus direitos. O mesmo aconteceu quando os jornalistas se rebelaram contra a infestação de piolhos na redação, em 2016, com a demissão dos que criticaram a falta de higiene e organização da empresa.

Este é o procedimento padrão da Sempre Editora: atacar o trabalhador, perseguir quem critica, quem é contra, quem exige o cumprimento de direitos e condições dignas de trabalho, salário justo, pagamento de horas extras. Não podemos aceitar isso.

(Com o SJPMG)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Bicentenário de Karl Marx

                                     

                Livro infantil sobre Karl Marx
          apresenta luta de classes para crianças


 Rodrigo Casarin, Blog Página Cinco


Frederico se espanta quando encontra no mercado um par de meias custando duas libras. Funcionário da fábrica que produz o produto, fica intrigado e quer saber o que leva aquela peça de roupa a custar tanto, já que ele ganha apenas 25 centavos para cada par que produz. Um amigo lhe explica que o valor final leva em conta, além do seu trabalho, o custo do carvão, da lã, das máquinas… No entanto, Frederico continua estranhando a discrepância entre o que recebe e o que é pedido pelas meias. Pede, então, para que Rosa, uma colega bem instruída, faça as contas e lhe explique o que se passa.

Rosa passa um domingo inteiro, seu único dia de folga, fazendo e refazendo cálculos. Ao cabo, descobre que, do preço final, 1,35 libra corresponde ao “mais-valor” (ou mais-valia), o lucro do patrão. “Bom… Sabe o que eu acho? Que esse tal de ‘mais-valor’ deveria se chamar ‘trabalho não pago ao trabalhador’. É muito injusto!”, retruca Frederico. A solução para mudar aquela realidade? Greve geral para que os empregados da fábrica negociem uma jornada de trabalho menor e salários mais altos.

É essa a história que vovô Carlos conta para seus netinhos em “O Capital Para Crianças”, livro dos catalães Joan Riera e Liliana Fortuny . Recém-lançado pela Boitatá, selo infantil da Boitempo, a obra integra a série de publicações que a editora vem fazendo para celebrar o ano de bicentenário de nascimento do filósofo alemão Karl Marx – sim, o Carlos da narrativa é uma representação do barbudo autor de “O Capital” e “Manifesto Comunista”, cujas ideias serviram de base para diversos movimentos de esquerda.
                                                                
Com uma linguagem bastante didática, a obra apresenta às crianças conceitos básicos sobre a luta de classes e, como mostrado acima, o debate sobre as jornadas de trabalho, as remunerações dos trabalhadores e os lucros dos empresários. “Antigamente, a pessoa que contratava chamava-se capataz, patrão ou amo. Hoje, costuma-se chamar empresário, chefe ou gerente. Já quem era contratado (isto é, o Frederico), antes era chamado de operário ou proletário. Hoje, costumamos chamar de trabalhador , funcionário ou empregado”, explica, por exemplo, o vovô narrador .

(Com Prestes a Ressurgir)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Para sempre, Marighela. Um filme de Isa Grinspum Ferraz, sobrinha do poeta, escritor e revolucionário brasileiro


Violência e conflito

                                                                

Mauro Luis Iasi  (*)  

O governo golpista de Temer colocou o Rio de Janeiro sob intervenção militar, a pretexto do combate ao tráfico de droga. Mas a operação não atinge um único dos elementos fulcrais da em que esse tráfico assenta: nem o financiamento e a dispendiosa e sofisticada estrutura; nem os cúmplices colocados em postos-chave dos governos, do sistema judicial, do exército, da polícia; nem os esquemas de branqueamento de capitais. Nenhuma operação no Rio de Janeiro que termine sem prender o Governador do Estado e o presidente da Assembleia Legislativa pode ser levada a sério.

“Temos de começar a pensar numa intervenção mais política no ambiente social, acabar com esse fetiche
militarizado de segurança pública para resolver problemas que têm que ser resolvidos na esfera política”
– ORLANDO ZACCONE, delegado de polícia e doutor em Ciência política pela UFF.

Não é necessário muito esforço para verificar o que a atual intervenção do exército no Rio de Janeiro esconde. Como em outros campos, o segredo está à mostra de todos: o rei está nu… e ele não é o rei.

Existem duas chaves de compreensão importantes no raciocínio de meu amigo e colega Orlando Zaccone que nos serve de epígrafe. Primeiro, que o tema da segurança pública é um tema que só pode ser resolvido na “esfera da política”, e segundo que a forma militarizada de enfrentamento da questão assume a forma de um fetiche. Os dois aspectos estão associados em uma dimensão que, talvez não esteja tão visível e óbvia. Senão, vejamos.

Afirmar que o problema da segurança pública é um problema político é retomar a premissa de que as formas sociais se articulam com uma configuração social do crime e que há relações de determinação entre uma e outra. Não há nenhuma novidade nessa premissa. Ela está na base do pensamento funcionalista de Durkheim e de toda uma consolidada reflexão sociológica sobre o tema. 

No campo da criminologia crítica, principalmente de corte marxista, o que se agrega é que não se trata da relação entre formas sociais e criminalidade no abstrato, mas de uma determinada forma social fundada na propriedade privada, na extração de mais-valor e de acumulação privada de capitais, isto é, uma sociedade capitalista em seu ponto mais desenvolvido do monopólio e do imperialismo.

Ocorre que essa premissa, que ao que parece conta com a corroboração e a seriedade de estudos desenvolvidos ao longo de um grande período, foi primeiro desacreditada academicamente, depois ridicularizada como “reducionista” e desconsiderada pelo poder público. Dito isso, o que devemos perguntar é o seguinte: o que se colocou no lugar desta constatação.

A criminalidade e a questão da segurança que dela deriva parecem ter sido reduzidas a uma questão de anomia. Isolando o conceito durkheimiano de alguns de seus argumentos incômodos, purgando de qualquer resquício de análise científica, mesmo nos moldes positivistas, a anomia é vista como uma espécie de anacronia, um quisto em uma sociedade que se “moderniza” e se “democratiza”. 

Se a sociedade é compreendida como dotada de oportunidades, caminhos e condições para o pleno desenvolvimento dos indivíduos, aqueles que escolhem o caminho da criminalidade o fazem, segundo esta visão, por um desvio pessoal, uma deformidade moral ou um impulso instintivo. O controle de tal fenômeno só poderia ser, então, a repressão policial e o encarceramento.

Anos de aplicação de políticas de segurança fundadas nesta premissa mostram seu total fracasso em diminuir os índices de criminalidade, aqui ou em qualquer parte do mundo. Aqui começa a se apresentar o fetiche da militarização. Seria um problema de intensidade das medidas e não um equívoco em sua natureza. A resposta aparece portanto na forma de mais polícia, mais repressão, mais encarceramento… e tudo continua dando errado, até que se chama o exército.

Mas o fetiche não é só isso. A mercadoria precisa oferecer seu valor de uso somente por meio da realização de seu valor de troca. No auge do fetichismo o valor de troca pode ser realizado subsumindo o valor de uso. Você paga e toma a Coca-Cola, mas não mata sua sede, pelo contrário ela aumenta a sede o que te leva a pedir outra Coca-Cola. A política de segurança realiza seu valor de troca produzindo o que apresenta como seu valor de uso fetichizado. Vejamos.

Vamos colocar a questão por pontos:

1. Os especialistas sérios concordam que qualquer enfrentamento deveria começar pela legalização e controle da venda de drogas, descriminalizando o consumo e retirando do tráfico seu protagonismo.

2. O tráfico só é o operador de um negócio lucrativo. Em época de capital monopolista, nenhum mercado desse porte pode existir sem duas pré-condições: financiamento e estrutura. O volume de recursos necessários só pode ser encontrado fora da área que a política de segurança definiu como seu teatro de operações.

Está no volumoso caixa dois, seja da corrupção, seja da acumulação de capital. Está nas mãos de quem tem dinheiro e precisa fazer mais dinheiro e vê no tráfico taxas de lucro assombrosas. Pistas publicadas em nossos jornais diários indicam o caminho: o Congresso Nacional, os bancos, os fazendeiros e as máfias organizadas que controlam grandes somas de recursos que poderiam financiar o tráfico.

3. Para tudo isso funcionar, como comprova a história de todas as máfias, é necessária uma certa estrutura e um conjunto de garantias – daí a compra de pessoas em postos chaves nos governos, no judiciário e no aparato policial capazes de acobertar e dar garantias ao enorme esforço logístico que envolve portos, estradas fronteiras, transporte, esquemas de lavagem de dinheiro, juízes dispostos a dar habeas corpus, relações internacionais etc. Nada disso está na área em que a política de segurança concentra seu foco.

4. Chegamos à distribuição. Para isso é necessário controlar territórios, rotas, pontos, bocas. Para isso é preciso armamento pesado. A estrutura corporativa e monopolista do tráfico dá conta dos recursos humanos necessários, mas o armamento, munições e outros recursos não são fabricados e comercializados no território. Duas outras instituições entram em simbiose: as polícias e o exército.

5. Uma vez que a máquina estiver em funcionamento, o lucro deve ser repartido entre seus sócios e deve-se garantir que os custos sejam cobertos. O volume de dinheiro que, sabemos, não é pequeno, volta a alimentar o enorme caixa dois do capital e os honrados e legais dividendos de gente da nossa “melhor sociedade”. Tudo isso não pode ser feito somente às sombras, na ilegalidade: ele se mostra despudoradamente à luz do dia e a vista de todos.

Pergunto: o trabalho de investigação percorre qual destes pontos descritos? Helicópteros repletos de cocaína e pistas de pouso em fazendas são ignorados, contas volumosas e malas de dinheiro não são suficientes como prova, enriquecimento sem nenhuma relação com receitas declaradas não são investigados, a contabilidade do grande capital não é checada por ninguém. No entanto, as favelas são atacadas todos os dias, jovens pobres e pretos serão mortos, lógico, sem que atrapalhe os negócios que continuarão.

É ridículo. Nenhuma operação no Rio de Janeiro que termine sem prender o Governador do Estado e o presidente da Assembleia Legislativa pode ser levada a sério. Muito menos uma intervenção decretada pelo vampiro chefe da maior quadrilha deste país, o PMDB, que governa o Rio há cinco mandatos e que é responsável (junto com seus aliados e cúmplices) por roubar e falir o Estado e a cidade do Rio, com operações criminosas nas quais se destacam a Copa e as Olimpíadas.

Não estamos falando de décadas de um problema que não encontra solução, estamos falando de décadas de imposição de soluções como UPPs, Pronasci, ocupações da força nacional e outras pirotecnias que acabam como sempre com os pobres mortos e os ladrões mais ricos que antes.

As políticas de segurança não enfrentam o problema, elas são um outro meio de ganhar dinheiro com o problema. Vistas pelo lado da violência urbana, elas são um fracasso. No entanto, empreiteiras ganharam dinheiro, fábricas de armas ganharam dinheiro, o Viva Rio e outros piratas sociais ganharam dinheiro, monopólios midiáticos ganharam dinheiro, deputados, senadores, secretários, juízes, policiais e militares corruptos ganharam dinheiro… Policiais com salários baixos morrem, pobres pretos defendem com a vida a quebrada que garante as fortunas de playboys e banqueiros com narizes dilatados de tanto cheirar pó e tomar uísque importado e envelhecido doze anos, mais que alguns meninos mortos por balas perdidas ou direcionadas.

Tudo isso gera insegurança… que precisa de mais “segurança”. Estamos prontos para mais um ciclo da vida do valor de troca de um valor de uso fetichizado. Não será mais chamada de UPP, ou tolerância zero, ou Operações de garantia da Lei e da Ordem, mas terá um nome chamativo, um especialista que a justifique, um especial na Globo News sobre a solução encontrada, um político que a represente e empresários dispostos a vender o que for preciso para “salvar o Rio” e governantes dispostos a sangrar os recursos públicos mediante uma módica contribuição para seu caixa dois.

Uma relação social entre seres humanos assume a fantasmagórica forma de uma relação entre coisas. Drogas, armas, políticas sociais, políticas de segurança, corrupção, lucro… coisas por trás das quais há pessoas. De um lado as que ganham muito dinheiro, de outro as que fazem isso tudo funcionar e morrem. No meio, uma porção de gente coisificada capturada pela TV e torcendo contra eles mesmos.

Ao longe ecoa um samba na avenida embalando nossa alma enquanto nossos corpos padecem. Um rio de sangue e lágrimas corre para o mar levando o lixo de séculos. O Rio não precisa de intervenção. O Rio precisa de uma Revolução.

https://blogdaboitempo.com.br/2018/02/20/rio-violencia-e-fetiche/

(*) Mauro Luis Iasi é membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

170 anos do Manifesto Comunista

                                                  
                
            O espectro da Revolução ainda assombra o Capital!

Fábio Bezerra (*)

Há 170 anos, no dia 21 de fevereiro de 1848, vinha a público a primeira edição do Manifesto Comunista, obra encomendada a Karl Marx e Friederich Engels pela Liga dos Comunistas (1836) e que se tornou um dos textos mais lidos da História da humanidade.

Escrito em meio às revoltas europeias do final de 1847 e início de 1848, conhecidas como a “Primavera dos Povos”, o Manifesto, em linguagem popular, procurou transcrever sob uma análise materialista, o desenvolvimento social da humanidade ao longo da história, trazendo à tona pela primeira vez – ou ressaltando análises já evidenciadas em outros escritos -, categorias importantes à abordagem crítica do modo de produção capitalista, tais como: a inter-relação dialética entre a produção econômica e a estrutura social, política e ideológica constantes em cada época, como totalidade orgânica do modo de existência social; a teoria da luta de classes como efeito das contradições entre as forças produtivas e os meios de produção e propulsora das transformações históricas; o papel do Estado enquanto comitê político e operacional do poder da classe dominante; a mutabilidade das relações sociais e todo o conjunto de representações filosóficas, religiosas e políticas e a formulação, pela primeira vez na história do movimento socialista, de um programa para a revolução vindoura.

Programa este que, se pode ser questionado por se debruçar sobre a realidade de nações europeias onde já haviam amadurecido as contradições capitalistas pós revolução industrial, não perde a sua importância e atualidade enquanto método, ao prescrever ao proletariado a necessidade de buscar entender, no processo histórico e em cada formação social concreta em determinado momento e lugar, as contradições de classe e o conjunto de situações decorrentes delas para se esboçar a melhor tática possível a ser adotada pelos revolucionários com vistas à conquista do poder. Eis a questão do método!

Passados 170 anos, alguns podem questionar o porquê da celebração de um texto sobre o qual os próprios autores, anos mais tarde, em um prefácio comemorativo à nova edição, atestavam que nele já havia pontos superados ou em desacordo com os fatos presentes. Mas há muito, sim, a se celebrar, pois o Manifesto Comunista, durante décadas, foi o principal panfleto propagandístico do Socialismo Científico em todo o mundo, influenciando jovens, intelectuais, operários e auxiliando na organização de diversos partidos operários e comunistas.

Esteve presente na leitura dos communards franceses em 1871, dos revolucionários russos em 1917 e nas fileiras dos revolucionários na Guerra Civil espanhola. No Brasil, foi um dos textos sugeridos na formação do recém-criado Partido Socialista (1902), de curta duração, e fez parte do processo de fundação do PCB em 1922. No ano seguinte, Octávio Brandão realizou a primeira tradução brasileira do Manifesto, a partir da edição francesa de Laura Lafargue, que foi publicada no jornal sindical Voz Cosmopolita.

Mais do que um manifesto político resultante das discussões travadas no Congresso da Liga dos Comunistas, o texto guardava em si um sopro de agitação propagandística com um estilo próprio, com teses e análises mais objetivas e bem estruturadas sobre as condições vigentes na segunda metade do século XIX e que apontavam, para além dos limites das propostas socialistas anteriores e ainda muito influentes à época, uma clara tática de ação do proletariado, visando à organização e consolidação de um partido político a ser estruturado junto às massas e voltado à disputa pelo poder.

Anos mais tarde, quando do manifesto de fundação da Associação Internacional do Trabalhadores (AIT), em 1867, percebemos o mesmo pano de fundo contido no Manifesto Comunista, ou seja, a necessidade de se analisar e compreender a real dinâmica do Capital, a importância da organização política da classe e a inevitável luta pelo poder político.

A relevância de um documento que fundamenta ou pavimenta uma tradição política e filosófica não está em transformá-lo em um guia sacralizado acriticamente ou em um receituário para todos os males e infortúnios de modo atemporal, como muitos dogmas foram consolidados ao longo do tempo, em nome da revolução ou mesmo em nome do Marxismo.

Mas está, exatamente, na possibilidade de rever, à luz das contradições históricas, a consonância ou não de determinadas teses e, a partir da reflexão crítica, fazer avançar os estudos e desenvolver novos padrões que possam dar conta da realidade presente, sem romper ou tergiversar com os fundamentos estratégicos presentes no Manifesto. Como diria o camarada Lênin: “(…) sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária”!

Isso nos possibilita, por exemplo, compreender que, mesmo a revolução proletária, ressaltada de maneira tão otimista e inevitável no Manifesto Comunista, tenha no próprio conjunto de análises do texto elementos que apontam as razões para a reação contrarrevolucionária que assistimos nos séculos XX e XXI, como por exemplo a inevitabilidade da degeneração das relações humanas chegando à barbárie crescente provocadas, em especial, pela mercantilização da vida social em todos os sentidos, em antagonismo, justamente, com o desenvolvimento das próprias forças produtivas.

Ali no Manifesto ainda ecoam análises muito concretas e perceptíveis do modo de produção capitalista, que décadas e décadas após a publicação do texto, se materializaram com o processo de expansão capitalista transformando-se em uma nova fase: o imperialismo; ou com a autofagia predatória de todos os elementos vitais conceituados como “coesão social”, demolindo um a um pela expansão das relações monetárias e posteriormente financeiras, alterando relações familiares, nacionalidades, culturas, costumes até se chegar ao esgarçamento do sistema através das crises econômicas cíclicas, alimentando um status quo de barbárie constante, cada vez mais desumana e ameaçadora.

Cento e setenta anos após a sua publicação, no ano do bicentenário do nascimento de Marx, o Manifesto é um texto que merece ser lido, debatido e contextualizado dialeticamente.

Por tudo isso, devemos celebrar o Manifesto, um documento vivo em sua originalidade histórica, instigante em suas percepções conceituais, ainda atuais e que nos inspira a extrair da análise crítica a nossa compreensão da realidade para agir sobre ela. Desta forma será possível manter o legado de toda uma geração de revolucionários que, frente à horda de horrores e bizarrices frutos da selvageria do sistema capitalista, não exitou em conclamar a classe trabalhadora e suas organizações políticas a unir forças para mudar o mundo!

Ilustração: Comissão de Agit&Prop do PCB.

(*) Membro do Comitê Central do PCB

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Memorial de Direitos Humanos


                                                                       
          
José Carlos Alexandre

Estou apreensivo. O governo do Estado anunciou que, no dia 31 de março, inauguraria na sede do

ex-DOPS, o Memorial de Direitos Humanos.

No entanto, o secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, que havia confirmado a esta 

coluna  a notícia, afastou-se do governo para candidatar-se nas próximas eleições.

Quem acessa o site do governo de Minas vê que Nilmário ainda consta como secretário. 

Mas ninguém mais fala na instalação do Memorial nem dia 31 de março, nem em nenhuma outra

data.

Ao contrário do governo federal que anunciou a demissão da ministra dos Direitos Humanos, 

Luislinda Valois, que ficou desgastada por conta de defender salário acima de 60 mil reais.

Em seu lugar  assumiu, interinamente, o atual subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo 

do Vale Rocha, acumulará as duas funções, segundo a Globo News.

Isto é, saída e logo logo com outro nome no Ministério.

O que se espera é que o governador Fernando Pimentel (cujas palmas recebidas na cerimônia de 

entrega oficial  do relatório  da  Comissão da Verdade em Minas) se resumiram ao anúncio em que 

secundou a notícia dada no discurso do Nilmário Miranda sobre a instalação do Memorial, cumpra as

suas promessas.

A criação do Memorial de Direitos Humanos data do ano 2000, através da lei 13448, do ex-

governador Itamar Franco.


O artigo 1º diz: "Fica criado o Memorial de Direitos Humanos de Minas Gerais, que se destina à guarda e exposição de material  que se refira ao esforço de defesa e preservação dos direitos da pessoa humana.'

Desde 2010 venho cobrando dos governantes do Estado a concretização do Memorial.

Cheguei a fazê-lo até em ato público que o Betinho Duarte promoveu em  frente ao prédio do  DOPS,

ao lado de um mosaico de vítimas da ditadura cívico-militar de 1964.

Betinho e Heloísa Greco, a Bizoca, também são históricos defensores do Memorial.

Havia uma esperança de que instituição do Memorial acontecesse no governo do atual senador

Antônio Anastasia, que ter sido cobrado ao tempo em que era vice-governador, por um militante dos

direitos humanos, durante homenagem que lhe prestou na ocasião a Associação dos Professores

Públicos de Minas Gerais.

Nada aconteceu até hoje e, pelo visto, também não ocorrerá na nova data prevista.

Lamentável. Profundamente lamentável.

Principalmente porque o Memorial Nacional, fruto de trabalho do Ministério da Justiça com a 

UFMG, na rua Carangola, está enroladíssimo, com suspeita de grossa corrupção...

E como o atual governo federal é conservador ao extremo, está condenado a não sair dos projetos.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Anita Prestes foi convidada a inaugurar em Berlim a "Pedra do Tropeço", onde morou sua mãe

                                                                              
Nascida em Munique, em 12 de fevereiro de 1908, Olga Benario foi deportada do Brasil pela ditadura Vargas, após a fracassada Intentona Comunista de 1935. De origem judaica, ela foi vítima do Holocausto em 1942.

Olga Benario nasceu em Munique, em 12 de fevereiro de 1908. No início dos anos de 1920, os arquivos policiais da República de Weimar já a classificavam como "agitadora comunista". Juntamente com seu parceiro, o comunista Otto Braun, ela se mudou aos 17 anos para Berlim-Neukölln, onde se tornou membro ativo da Juventude Comunista.

Olga Benario e Otto Braun ocuparam um apartamento na Innstrasse 24 em Neukölln, tradicional bairro proletário berlinense. Foi nesse endereço que foram presos. Logo libertada, Olga organizou a ação espetacular que resgatou seu companheiro Otto Braun da prisão de Moabit.

Em abril de 1928, Olga e camaradas de Otto Braun disfarçados de estudantes de Direito invadiram a sala de audiências para onde Braun era levado. Subjugaram os policiais e libertaram o preso. Após a operação, Olga e Braun fugiram para Moscou, onde Olga trabalhava para o movimento trabalhista internacional.

Intentona Comunista

Com Luiz Carlos Prestes, Olga Benario partiu de Moscou para o Rio de Janeiro, em 1935. Durante a viagem, os dois se apaixonaram e tornaram-se um casal, vindo a organizar a Intentona Comunista de 1935.

Após a fracassada tentativa, Olga e Prestes foram presos e, apesar de protestos internacionais, ela foi entregue, em 1936, grávida de sua filha, à Gestapo pela ditadura varguista.

Em setembro do mesmo ano, Olga foi enviada à Alemanha. Em 27 de novembro de 1936, nascia Anita Prestes na maternidade da prisão feminina berlinense da Barnimstrasse. No começo de 1938, Olga foi separada de sua filha e enviada para o campo de concentração feminino de Lichtenburg.

OIga Benario Prestes teve ainda que passar três anos no campo de concentração de Ravensbrück, antes de ser enviada para a câmara de gás em Bernburg, em 1942. O endereço da Innstrasse 24, em Neukölln, foi sua última morada como cidadã livre na Alemanha.

Em comemoração aos 100 anos da revolucionária e aos seus 24 anos de existência, a Galeria Olga Benario, em Berlim-Neukölln, convidou Anita Prestes, filha de Olga Benario e Luiz Carlos Prestes, para inaugurar a "pedra de tropeço" na calçada do último endereço berlinense de sua mãe, Olga Benario Prestes.

(Com a Deutsche Welle)

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Comuna que Pariu: revolução e carnaval


                                         
Comuna que Pariu: revolução e carnaval

Supremo é ter o povo no poder!

Dá cá o nosso, se não der a gente toma!

Em 2018 o Comuna que Pariu canta a classe trabalhadora em seu cotidiano de lutas, dramas, amores e sonhos. Afinal, “além da dor também nos une o amor… Chegou Comuna, bando de trabalhador”!

Comuna que Pariu: revolução e carnavalFevereiro. A classe trabalhadora toma as ruas e tira a fantasia que veste o ano inteiro, pra brincar o carnaval. Estão todos lá, seja na rabeira dos blocos e escolas de samba, vestidos de garis, varrendo a moral deixada no asfalto pelos foliões; ou no meio da avenida e da multidão, vivendo um momento de ilusão, quando os paletós, gravatas, macacões, uniformes, calças e sapatos apertados dão lugar a plumas, paetês e ao que mais a criatividade permitir. É com os trabalhadores e trabalhadoras – é com os nossos – que o Bloco Comuna que Pariu mostrará a sua cara em 2018.

Contaremos e cantaremos a história e o cotidiano de quem agora sofre com a intensificação da precarização da vida. Precarização que ganha contornos dramáticos com a retirada de conquistas históricas de nossa classe, que teve rasgadas sua dignidade e a carteira de trabalho, que tende a morrer na labuta sem ter tempo pra curtir seus cabelos brancos, que tende a trabalhar mais ganhando menos, que está, enfim, entrando no século XXI, marcado pela retirada dos direitos conquistados a ferro e fogo no século passado.

Com os direitos, vão junto as nossas noites de sono. E dá-lhe trem lotado, banho de água gelada, gasolina cara, aluguel atrasado, susto com o preço na gôndola do supermercado. Na informalidade do trabalho, está a nova realidade, que é também a daqueles que não vão se aposentar. E sobra criatividade pra se virar em tempos difíceis. Do camelô vendendo bugigangas no meio da rua, driblando a indiferença e correndo do rapa, aos volantes de um Uber, vamos dando um jeitinho pra botar o feijão com arroz no prato.

A culpa disso tudo? Não só Lula, nem Dilma, nem Temer. Indivíduos são fantoches a serviço das mãos nada invisíveis, localizadas nos arranha-céus da Avenida Paulista. Entram em crise, brigam entre si, jogam uns aos outros às jaulas. Perdem os anéis, mas mantêm os dedos. É no nosso sufoco que está o lucro do patrão. E sobra chicote nas costas dos trabalhadores, intensificando a exploração. Querem nos fazer pagar a conta da crise, mas se a crise é deles, vamos pendurar essa conta e sair de fininho.

Não vão roubar nossa esperança. Em cada rosto sorrindo nas ruas e avenidas, salpicados por confetes e purpurinas, está a nossa possibilidade de transformação. Se, de um lado, nossa classe é atacada, por outro, só ela pode mudar os rumos dessa história. Vamos fazer deste carnaval um fevereiro vermelho, porque, se depender de nós, nossos sonhos não vão morrer na quarta-feira de cinzas.

Samba do Comuna que Pariu 2018

Cadê o futuro que tava aqui? O patrão comeu
Ou a classe vem pra rua ou então … fudeu!
Eu vim daqui, eu vim dali, eu vim de lá
“Fora Temer” e Crivella, tô na rua pra lutar
Além da dor, também nos une o amor
Chegou Comuna, bando de trabalhador
Lá vai em cada isopor
O sonho, o suor, feijão e arroz do camelô
Que tá cansado de vender
Pra quem não cansa de comprar
E camelô representa todo mundo que não vai se aposentar
A gente é o rato que roeu a roupa do rei de Roma
Supremo é ter o povo no poder
Dá cá o nosso, se não der a gente toma
A Maluca me embalou (Me embalou)
A Comuna que pariu (Que Pariu!)
Revolução e carnaval
É coisa nossa, nossa classe construiu
E agora, Maria? E agora, José?
Roubaram teu sono, venderam tua fé
Futuro, promessa, passaram a mão
Na bunda da população
Vambora Maria, vambora José
Viver pra mudar nossa história
Vermelha vitória, desbanca burguês
Ó nós aqui outra vez

Compositor@s: Alisson Martins, Belle Lopes, Bil-Rait “Buchecha”, Guilherme Sá, Letícia, LG, Nina Rosa, Tiago Sales e Thiago Kobe.

O Comuna desfila às 15h de 12 de fevereiro, segunda-feira de carnaval, na Rua Alcindo Guanabara, Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Morre o camarada Frank Svensson

                                                                  

Fábio Martins Bezerra (*)

É com muita tristeza que comunico aos amigos(as) e companheiros(as) a perda de um grande camarada, dirigente do PCB e figura humana de uma grandeza rara. Falo do camarada e amigo Frank Svensson, filho de imigrantes suecos, belo-horizontino de berço, comunista por convicção.

Conheci o Frannk em 1994, durante a camapanha de filiação e logo nutri por ele um grande carinho, respeito e admiração. Começou a sua militância ainda na adolescência, quando conheceu em Belo Horizonte  militantes como Orlando Bonfim Jr. 

Após concluir o curso de arquitetura, foi para o Nordeste e trabalhou na SUDENE com a equipe de Celson Furtado, antes de se tornar professor na UnB. Sempre que nos encontrávamos se dirigia a mim como conterrâneo e perguntava pelo refrigerante Mate Couro, que adorava e eu de vez em quando levava para ele.

Frank foi dirigente destacado em Brasília e na Direção Nacional, sempre questionador tinha o hábito de fazer apontamentos instigantes, que nos fazia sair do lugar comum das meras evidências e da obviedade. 

Tranquilo, irônico,perspicaz, Frank conseguia ,charmosamente, cativar nossa atenção ao mesmo tempo que ridicularizava com seu sarcasmo sutil a ordem do Capital.

Foi professor, pai, companheiro, militante dedicado, candidato a senador, editor e dirigente nacional do PCB; mas acima de tudo foi um ser humano rebelde e inquietante contra a ordem do Capital, foi amigo e conselheiro e para muitos, assim como eu, um mestre em que deposito grande parte de minha formação política. 

Camarada Frank Svensson Presente ! 

Agora e Sermpre!

(*) Fábio Martins Bezerra é professor e membro do Comitê Central do PCB