quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Juche TV: como entender a crise coreana



Toda solidariedade ao povo e ao governo da Coreia Popular


                                                                         
                        
           Nota da Comissão Política Nacional do PCB

"Na última semana, duran---te a Assembleia da ONU, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, mais uma vez, ameaçou um conjunto de povos e governos que, minimamente, contrariam os interesses do imperialismo norte-americano no mundo. Venezuela, Cuba, Síria, Irã e Coréia do Norte foram os principais alvos no discurso do atual presidente estadunidense. Trump chegou ao cúmulo de ameaçar a destruição completa da Coréia do Norte, caso o país seguisse com o seu modelo sócio-político e o seu programa nuclear.

Os grandes monopólios de mídia no Brasil, em especial a Rede Globo, praticam um verdadeiro jornalismo de guerra. Estigmatizam, satanizam, banalizam e desrespeitam qualquer povo, governo ou líder político que desenvolvam atitudes divergentes ou apresentem opiniões geopolíticas distintas das impostas pelos EUA.

O governo Trump e  seu gabinete republicano, supremacista branco e dominado por capitalistas da indústria bélica e de energia, impõem uma agenda belicista e unilateral para o mundo. Pensando no retorno a ser obtido sob a forma de lucros bilionários, atuam em favor dos grandes interesses daqueles que estimulam o acirramento das disputas entre os monopólios transnacionais e os novos pólos capitalistas em crescimento na Euroásia, representados pela China e Rússia.

Nesta conjuntura de crise sistêmica do capitalismo, a saída para o pólo hegemônico imperialista, EUA e seus aliados, está sendo o incentivo à corrida armamentista, o clima de tensão permanente e investidas diretas e indiretas do imperialismo para que ocorram guerras entre os países ou civis. Por exemplo, o clima de tensão criado contra a Coréia Popular já gerou muitos milhões de dólares para o complexo industrial militar norte-americano, que vende armas para a Coréia do Sul e o Japão.

Em contradição com todo o discurso de Trump, os EUA  foram os únicos que utilizaram seu arsenal nuclear contra um povo. São os EUA que possuem uma política externa belicista, intervencionista e que lucram com os diversos conflitos bélicos existentes no mundo. A Coréia Popular é um país sitiado pelas ameaças imperialistas. Há mais de 50 anos seu povo resiste, primeiro contra a ocupação japonesa, depois contra os EUA e sua contínua política de bloqueio e ameaças.

Por essas razões, compreendemos o desenvolvimento da indústria militar autossuficiente na Coréia Popular. Ao contrário dos EUA e seus aliados, a Coréia Popular e seus dirigentes nunca colonizaram ou invadiram nenhum país. Sua política militar se baseia unicamente na estratégia de promover a autodefesa do seu país.

O PCB não defende a importação do modelo norte-coreano para o Brasil, nem de nenhum outro modelo. Sabemos que a construção do socialismo, embora tenha fundamentos econômicos e sociais gerais, deve estar enraizado nas lutas políticas, culturais e sociais de cada povo, de acordo com o processo histórico específico de cada país.

Na atual momento histórico, é dever dos comunistas e verdadeiros defensores da humanidade externar a mais firme solidariedade aos povos de todo o mundo. Não podemos titubear frente à crescente corrida armamentista e agressão aos povos provocadas pelas disputas interimperialistas. Defendemos a paz para os trabalhadores, a autodeterminação dos povos e o fortalecimento de um amplo movimento anti-imperialista independente que lute contra toda barbárie e destruição dos países patrocinadas pelas potências imperialistas. É neste sentido que nos solidarizamos com o povo norte-coreano e seu governo.

NÃO À AGRESSÃO IMPERIALISTA À REPÚBLICA POPULAR E A TODOS OS POVOS!
ABAIXO O IMPERIALISMO! PELO PODER POPULAR E PELO SOCIALISMO!

Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB)"

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A verdade sobre a crise coreana


Anita fala sobre a Revolução de Outubro: URSS e Brasil






Países ricos devem investir em projetos de desenvolvimento para países pobres. A fonte é insuspeita: o FMI

                                                                   
O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse nesta quarta-feira (27) que os países pobres serão incapazes de fazer frente sozinhos aos efeitos econômicos do aquecimento global sem um esforço global das economias desenvolvidas, e calcula uma perda estimada de 10% de seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita até 2100. A informação é da agência EFE.

"Se não houver esforços globais para frear as emissões de carbono, o previsto aumento na temperatura suprimirá cerca de uma décima parte do PIB per capita dos países de baixos investimentos para finais do século XXI", apontou o FMI em um dos capítulos analíticos de seu relatório Perspectivas Econômicas Globais.

Estas projeções se baseiam em cenários conservadores de aumento de 1 grau centígrado na temperatura destes países, o que se traduziria em menor produção agrícola, esfriamento dos investimentos e danos à saúde.

O documento enfatiza que "dado que as economias avançadas e emergentes são as que contribuíram em grande medida ao aquecimento global e devem continuar nesse caminho, ajudar os países de baixos investimentos a encarar suas consequências é um imperativo humanitário e uma sensata política econômica global".

Para o organismo dirigido por Christine Lagarde, um dos principais problemas é que "as políticas domésticas destes países não são suficientes" para protegê-los das mudanças climáticas, devido aos seus poucos recursos econômicos, ao citar exemplos de alguns dos países mais expostos, como o Haiti, o Gabão e Bangladesh.

"À medida que as altas temperaturas ultrapassam os limites biofísicos dos ecossistemas destes países, poderia haver epidemias mais frequentes, fome e outros desastres naturais, ao mesmo tempo que é alimentada a pressão migratória e o risco de conflitos", indicou.

Cerca de 60% da população mundial vive em países onde o aquecimento global provavelmente produzirá estes "efeitos perniciosos", atestou o Fundo Monetário Internacional.

O FMI apresentará o seu relatório completo, com as novas projeções de crescimento global, no marco de sua Assembleia Anual que será realizada em Washington, entre 10 e 15 de outubro, e à qual estão presentes os ministros de Economia de 189 países-membros.

(Com a ABr)

'Sim' vence referendo sobre independência do Curdistão iraquiano com quase 93% dos votos

                                                                                                                    Efe
A Comissão Eleitoral do Curdistão anunciou nesta quarta-feira (27/08) que 92,73% dos eleitores registrados votaram 'sim' no referendo que propunha a independência da região autônoma ao Iraque.

O não foi a opção de 7,27% dos eleitores, enquanto 1,21% dos votos foi anulado. Foram convocados para a escolha os habitantes da região autônoma, assim como moradores de territórios disputados entre os governos curdo e iraquiano, como a província de Kirkuk.

Ao todo, 4 milhões de pessoas compareceram às urnas para participar do referendo. A taxa de comparecimento foi de 72,16%.

Em entrevista coletiva concedida em Erbil, capital do Curdistão, o chefe a Comissão Eleitoral, Handarin Mohammad, destacou que o referendo "aconteceu de maneira bem-sucedida, sem problemas ou irregularidades". 

Os resultados, de acordo com ele, serão considerados definitivos quando forem confirmados pelo Tribunal de Apelações local, para o quê não há uma previsão de data.

Nos últimos dias, as autoridades curdas afirmaram que não haveria declaração de independência enquanto não houvesse a divulgação dos resultados. Há, de acordo com os curdos, "questões pendentes" a serem discutidas com Bagdá – entre eles, os territórios que administrativamente são ligados aos iraquianos, mas que estão sob controle de forças curdas.

O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, pediu  que as autoridades do Curdistão anulem o referendo e abram diálogo, pautado pela Constituição do país.

Em reação ao referendo, o parlamento do Iraque pediu nesta quarta ao governo do país que tome o controle das jazidas de petróleo de Kirkuk e de outras áreas disputadas com o Curdistão, em reação ao referendo.

Os deputados aprovaram uma decisão na qual pedem que Bagdá tome "todas as medidas constitucionais e legais para preservar a unidade do país". Entre elas, está o "envio das forças de segurança às regiões disputadas".

O Iraque e o Curdistão disputam as províncias de Ninawa, Diyala e Kirkuk, que são administradas por Bagdá, mas controladas de fato pelos "peshmegas", uma força de segurança curda.

Além disso, os parlamentares exigiram que o governo do Iraque convoque para consultas os diplomatas e representantes dos países que mantêm escritórios e consulados no Curdistão para solicitar seu fechamento ou transferência.

Na decisão, os deputados também afirmam que não querem que o governo aceite dialogar com os líderes curdos até que os resultados do referendo sejam anulados.

Iraque, Irã e Turquia, além de outros países da comunidade internacional, se opusream frontalmente ao referendo.

As companhias aéreas da Turquia vão suspender seus voos para o Curdistão iraquiano a partir desta sexta (29/09), seguindo a decisão do governo de Iraque de interromper a operação de todas as rotas internacionais na região autônoma, que realizou um referendo de independência na última segunda.

(Com Opera Mundi/Efe)

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Campanha internacional: solidariedade a Coreia do Norte, Cuba, Irã e Venezuela

                                                                        

Donald Trump ameaçou Cuba, Venezuela, Irã e República Popular da Coreia.

Em seu discurso na ONU, o presidente dos Estados Unidos, desconhecendo as origens e objetivos do Organismo Internacional, criado para promover a paz e a coexistência pacífica entre países de diferentes regimes políticos e ideológicos, expôs sua política belicista, ameaçando Estados soberanos com bloqueios econômicos, sanções, intervenção militar e inclusive a destruição total, como no caso
da República Popular da Coreia.

Estas expressões de Trump fazem retroceder as relações entre países independentes à época da Guerra Fria. Mais uma vez um presidente dos EUA pretende erigir-se como dono do mundo e colhe o repúdio universal de todos os povos amantes da paz e da vida. 

As condutas racistas e intimidantes para com as minorias nos Estados Unidos, junto à política exterior belicista e de agressão permanente a países com governos legítimos, democráticos e populares mostram o grau de decomposição que está alcançando o imperialismo norte-americano.

Repudiamos energicamente estas políticas de guerra que pretendem submeter, no medo e na pobreza, a humanidade, pondo em risco a própria existência da raça humana e do planeta. Solidarizamo-nos com Cuba, República Bolivariana da Venezuela, República Islâmica do Irã e República Popular da Coreia. 

Não à guerra. Sim à paz e à vida!

ENVIAR ADESÕES PARA: solidaridadpatriagrande@gmail.com Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/09/24/campana-internacional-de-adhesiones-con-corea-del-norte-cuba-iran-y-venezuela/ 

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)


sábado, 23 de setembro de 2017

O Capital - 150 anos de atualidade na luta de classes

                                                                                  

Pável Blanco (*)

Este texto comemora a data da 1ª edição de O Capital: 11 de setembro de 1867.

O autor, Pável Blanco Cabrera, mostra neste curto e brilhante texto, como «Marx vai desmontando o modo de produção capitalista e demonstra com clareza e evidências de sobra que a transformação de dinheiro em capital tem como base a exploração do trabalho».

Em 14 de setembro de 1867 foi publicada a primeira edição de O Capital, obra a que Karl Marx dedicou a maior parte do seu esforço de investigação e trabalho teórico, ao ter-se convencido da importância fundamental da economia, depois da leitura do artigo de Friederich Engels «Esboço da crítica da economia política», publicado nos Anais Franco-Alemães em 1844.

São conhecidos os esforços de Marx e da sua família, as condições difíceis da sua vida quotidiana para dedicar a maior parte das suas forças, durante um quarto de século, ao estudo da economia política, da sua crítica para explicar o capitalismo – o modo de produção predominante atualmente na sociedade –, as relações sociais, as contradições, os antagonismos irresolúveis e os limites históricos, demonstrando simultaneamente quem são os que podem pôr fim à exploração, o papel revolucionário do proletariado e antecipando a sociedade futura, a do socialismo-comunismo.

É admirável como a ciência revolucionária pode caminhar no meio da luta e da perseguição. Basta situarmo-nos na Europa de 1848, nas revoluções que rebentam e como o nascente partido comunista já vai ao combate, com Marx e Engels na primeira fila, na voragem dos acontecimentos que rodeiam a Nova Gazeta Renana, o seu exílio em Bruxelas, Paris, Londres, a contrarrevolução, os julgamentos, a intensa luta de classes, a construção da Associação Internacional de Trabalhadores, as polémicas, e o intenso trabalho teórico que entrega nesse período as principais obras do socialismo científico. 

E ao longo de tudo isto, as intensas horas de investigação, o estudo, a tradução, a sistematização, reflexão e trabalho em vários rascunhos trocados com Engels – que com justiça deve ser considerado coautor – e outros camaradas, até à obtenção do manuscrito final que veria a luz do dia numa editora de Hamburgo, a Otto Meiisnners Verlag, ainda existente. 

Esta obra científica veio ao mundo enfrentando uma conspiração de silêncio, como dizia Engels, e é hoje, reconhecidamente, já na segunda década do século XXI, uma obra de grande procura, sobretudo depois do rebentar da crise de sobreprodução e sobre acumulação do sistema capitalista em 2008. A análise de Marx, hoje, tem pleno cabimento.

É uma obra teórica para a luta, para ir diretamente à luta de classes, ao conflito capital-trabalho, uma arma para ser empunhada pela classe operária, por todos os trabalhadores, sendo conhecido o empenho de Marx, que trabalhou em várias redações até contar com uma dirigida ao proletariado. 

Para ele são absurdas algumas discussões sobre como enfrentar a sua leitura; por exemplo Althusser propunha se saltasse a Primeira Secção, argumentando a sua obscuridade filosófica, mas omitindo uma coisa essencial: Das Kapital compreende, além do que se refere à exposição da economia, da história e da política, o desenvolvimento do método dialético, a compreensão da realidade e dos seus fenómenos em todo o seu tecido, na sua interdependência de relações, uma revolução na filosofia como com justeza defendeu Zdhánov.

E assim, vai-se da mercadoria ao valor de uso e ao valor de troca, e da teoria do valor à circulação, à troca, ao equivalente, ao dinheiro, à fórmula do capital, ao trabalho, ao trabalho assalariado, ao mais valor, e à mais-valia, o «sórdido segredo da exploração capitalista; assim, passo a passo, Marx vai desmontando o modo de produção capitalista e demonstra com clareza e evidências de sobra que a transformação de dinheiro em capital tem como base a exploração do trabalho.

Em poucas palavras, é enorme a sua vigência apesar do imenso esforço para acantonar O Capital nas gavetas das faculdades de economia e de sisudos grupos de especialistas que, com exotéricos rituais disfarçados de douto estudo procuram afastar a obra marxista dos trabalhadores, e fazê-la circular apenas num grupo de intérpretes e exegetas que não deixam de espantar pelo absurdo das suas reflexões, alheias ao critério de classe mas seguramente bem pagas nos circuitos académicos, o que lhes permite estar permanentemente presença nas listas de bolseiros.

Não, O Capital não é para esses senhores, O Capital é juntamente com toda a obra marxista-leninista uma arma para o proletariado na luta pelo derrube do capitalismo. Marx não escreveu para integrar a lista dos best-sellers, nem para receber subsídios de um qualquer instituto, universidade ou ONG, escreveu para fortalecer a luta política da classe operária pelo socialismo. 

No espaço académico há nestes dias muitas comemorações, mas com propósitos claramente deformadores, destinados a construir uma muralha entre a obra de Marx e o proletariado, e inclusive, para além do estudo do Viejo Topo são vários os que fazem a reivindicação de Keynes, o que mostra o seu proselitismo e militância na social-democracia e pela gestão do capitalismo. Marx e os seus estudos, a sua obra, a sua política são para a classe operária e para a sua organização de luta, o partido comunista.
É muito importante o que se deduz da compreensão da questão do valor de uso e das relações mercantis, o que já foi debatido como uma questão prática no exercício do poder operário durante a construção socialista no século XX, e que teve dramáticas consequências na contrarrevolução que derrubou temporariamente a construção socialista na URSS.

O poder operário e a construção socialista são incompatíveis com as relações mercantis, e esta questão está colocada como um dilema em países que se reivindicam do socialismo, e também para o próprio movimento comunista, onde alguns colocam uma renovação programática em que seriam possíveis misturas de socialismo e capitalismo.

Podemos já avançar com o resultado: o prolongamento do capitalismo e do sofrimento da classe operária com a exploração, bem como a incessante barbárie que destrói a natureza do planeta e a humanidade.

Destaque-se também a pobreza ideológica da chamada esquerda mexicana, mesmo da que se reivindica do marxismo, visto que eludiu historicamente o estudo e a compreensão desta obra cimeira de Marx, salvo para abrilhantar as suas estantes. O Partido Comunista do México procura a sua recuperação com o estudo sistemático e permanente por parte dos seus militantes de toda a teoria marxista-leninista, incluindo os três livros de O Capital. Por isso, para comemorar o seu centésimo quinquagésimo aniversário o nosso Comité Central decidiu novamente propugnar o seu estudo.

Sublinhamos também que refutamos a ideia de reduzir o marxismo a uma só obra; há os que atribuem toda a riqueza do marxismo ao Manifesto do Partido Comunista, outros a O Capital; o que é correto é que toda a obra de Marx e Engels, bem como o enriquecedor desenvolvimento de Lenine, são uma fonte de lições para a ação revolucionária dos comunistas, pelo devemos esforçar-nos no seu estudo sistemático e contínuo, aspirando à sua qualificação no terreno da teoria e da prática.

Que grande herança nos deixou Karl Marx, professor do proletariado mundial, e O Capital é a sua demonstração monumental.

(*) Primeiro-Secretário do CC Partido Comunista do México, Pável Blanco é amigo de odiario.info.
Este texto foi publicado em:

http://www.comunistas-mexicanos.org/partido-comunista-de-mexico/2159-sesquicentenario-de-das-kapital

Tradução de José Paulo Gascão

(Com o Diário Liberdade)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

100 ANOS DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO

                                                                         
                                              MOSTRA DE CINEMA RUSSO

13 DE SETEMBRO A 08 DE OUTUBRO

LOCAL – MIS CINE SANTA TEREZA

ENTRADA FRANCA

Esta Mostra de Cinema Russo é uma parceria do CPC UMES Filmes, com a empresa TM Eventos, Prefeitura de Belo Horizonte, Fundação Municipal de Cultura, com o apoio da Associação Cultural Jose Marti, e é a primeira atuação do grupo CPC na capital mineira, fazendo chegar ao público, gratuitamente, importantes filmes russos, quando se comemora os 100 anos da Revolução Russa.
Serão exibidos no Cine Santa Tereza (praça Duque de Caxias) 23 filmes russos legendados em português, a maioria inéditos no Brasil.

Maiores informações:    98474.2050 (Tadeu Martins)
3277.4699 (MIS Cine Santa Tereza)

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA

• Dia 20 de setembro - 19h30
CHAPAYEV
Direção - - Georgi Vassiliev e Serguey Vassiliev (1934), 95 min.
com Boris Babochkin, Boris Blinov, Varvara Myasnikova, Leonid Kmit.


Sinopse

O que “Potemkin” foi para o cinema mudo, em 1925, “Chapayev” representou dez anos depois para o jovem cinema sonoro da URSS. Como “Potemkin”, “Chapayev” se baseia em fatos reais. Mas ao invés de se fixar na ação das massas, o filme a condensa na trajetória de um herói da guerra civil, Chapayev, que comandou a 25ª. Divisão do Exército Vermelho contra as tropas brancas de Kolchak, na Sibéria, durante os anos 1918-19, antes de cair em combate. 

Seu tema principal é o choque entre as personalidades e saberes do camponês Chapayev e do comissário político bolchevique, Furmanov, encaminhado para aconselhá-lo e ajudá-lo. “Chapayev” foi um dos primeiros filmes lançados após o 1º. Congresso de Escritores Soviéticos no verão de 1934, onde Gorky apresentou sua ideia de um “realismo socialista”, contrastando-o com o “realismo crítico” do Século 19 que “se limitava a expor as imperfeições da sociedade”. Para ele, o compromisso maior do novo realismo era com o “desenvolvimento do povo” e a luta pela superação de suas contradições internas.
O filme teve mais de 30 milhões de espectadores no primeiro ano de exibição.

• Dia 21 de setembro - 19h30

O CARTÃO DO PARTIDO

Direção - Ivan Pyryev (1936), 108 min.
com Andrei Abrikosov, Anatoli Goryunov, Igor Maleyev.

Sinopse

Em 1º. de dezembro de 1934, o assassinato de Serguey Kirov, líder do Partido Comunista em Leningrado, revelou a existência de uma rede contrarrevolucionária que se dedicava a promover atentados contra o poder soviético. Nesse contexto, Pavel Kuganov é um sedutor agente da quinta-coluna que se aproxima de Anna para forjar a fachada legal para suas atividades de sabotagem e espionagem. Inocentemente, ela se casa com ele e acaba envolvida numa trama que acarreta sua condenação, depois de seu cartão de identidade do partido roubado por Pavel ter sido usado numa operação. 

• Dia 22 de setembro
 
                                       

17 h - ALEKSANDR NEVSKY (Cavaleiros de Ferro)
Direção - Serguey Eisenstein (1938), 108 min.
com Nikolay Cherkassov, Nikolai Oklopkov, Andrei Abrikosov, Valentina Ivasjova

Sinopse

Na primeira metade do século 13, o príncipe Alexandr Nevsky evita o confronto com os tártaros que impunham pesados tributos às cidades russas e concentra os esforços na organização de um exército popular que derrota uma ameaça mais perigosa: os temíveis Cavaleiros Teutônicos, que pretendiam se apossar do território russo, submetê-lo ao Sacro Império Romano-Germânico e erradicar sua cultura.

Rodado por Eisenstein, em 1937-38, o paralelo que o filme estabelece entre aqueles invasores e as hordas hitleristas que se preparavam para devastar a URSS é cem por cento intencional, mas nem por isso menos rigoroso do ponto de vista histórico.

Com trilha musical de Serguey Prokofiev,  “Aleksandr Nevsky” foi cuidadosamente restaurado pelo Mosfilm em 2015.

19:30 - TRATORISTAS
                                             
Direção - Ivan Pyryev (1939), 88 min.
com Marina Ladynina, Nikolai Kriuchkov, Boris Andreev.

Sinopse

Klim Iarko, piloto de tanque que estivera servindo no Extremo Oriente, volta da guerra para retomar suas funções como mecânico de tratrores. Apaixonado pela lider de uma famosa equipe feminina de tratoristas, que possui inúmeros fãs e pretendentes, vai à sua procura. Mecânico experiente, Klim se desdobra para dar mais eficiência ao trabalho dos tratoristas e conquistar o coração de Mariana. A canção-tema que acompanha os créditos desta comédia musical se tornou um marcante sucesso popular.

• Dia 24 de setembro

17 h – O JURAMENTO

Direção – Makhail Chiaurelli (1946), 106 min.
com Sofiya Giatsintova, Mikhail Gelovani e Nikolai Bogolyubov.

Sinopse

Centrado na saga da família Petrov, o filme apresenta as diversas fases percorridas pelo desenvolvimento da URSS, e os agudos conflitos políticos originados por interesses de classe antagônicos, quanto aos caminhos a serem trilhados, desde a morte de Lenin até o final da 2ª. Guerra Mundial.

 A presença de Stalin, em diversos momentos da narrativa, provoca indisfarçável irritação nos críticos que gostariam de poder bani-lo da vida e da história da União Soviética, como se isso fosse possível. “O Juramento” ganhou Medalha de Ouro no Festival Internacional de Veneza (1946).

19 h - A PROFESSORA DA ALDEIA

Direção- Mark Donskoy (1947), 100 min.
com Vera Maretskaya, Pavel Olenev, Daniil Sagal, Vladimir Lepeshinsky.

Sinopse 

Por volta de 1910, em São Petesburgo, Bárbara Vasilyena encontra no baile de sua formatura como professora o militante bolchevique Serguei Martinov, por quem se apaixona. Ele é preso ao raiar do dia. Decidida a ensinar as crianças camponesas, ela segue para a remota aldeia de Shatry, no interior da Sibéria. 

Dai em diante, serão muitas as batalhas que a professora irá enfrentar, a começar pela sua aceitação por aquela comunidade. Trinta e cinco anos de sua vida serão contados, tendo como pano de fundo as transformações ocorridas ao longo da história da Rússia e em seguida da URSS, até o término da 2ª. Guerra Mundial.

sábado, 16 de setembro de 2017

                                                                               

Dos vikinks ao pós-socialismo

Fátima de Oliveira

Civilidade. Eis a palavra que resume o povo russo. Herança das lutas enfrentadas ao longo de sua existência, iniciada, segundo historiadores, entre  século VI a.C. até o século II d.C. A história russa inicia-se com os eslavos do leste, que surgiram como um grupo étnico reconhecido na Europa entre os séculos III e VIII. Fundada e dirigida por uma classe nobre de guerreiros vikings e por seus descendentes, o primeiro Estado eslavo, o Principado de Kiev, surgiu no século IX e adotou o cristianismo ortodoxo do Império Bizantino em 988. O nome "rus'", que deu origem a "Rússia" provavelmente vem da palavra finlandesa "Ruotsi" e da estoniana "Rootsi", que significa, remadores.


É dessa terra, encantadora, que falaremos nesta matéria. Da gentileza urbana deste povo que viveu o socialismo (a Rússia foi o primeiro país socialista do mundo), na então União Soviética, regime instalado com a Revolução Russa de 1917,   período de conflitos, que derrubou a autocracia russa e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin. Já industrializada, mas ainda sofrendo com as perdas da Primeira Guerra Mundial, a Rússia tinha uma grande massa de operários e camponeses trabalhando muito e com remuneração baixíssima. Além disso, o governo absolutista do czar Nicolau II, o último da história, desagradava o povo que queria uma liderança menos opressiva e  mais democrática.

A soma de todos esses fatores levou a manifestações populares que fizeram o monarca cair. À frente do movimento de libertação estava Vladimir  Lênin, ainda hoje um herói popular, tanto que seu corpo continua preservado no mausoléu, dentro do Kremlin, sede do governo russo, em Moscou. O regime durou até 1991, com a abertura conhecida como perestroika. Hoje o povo russo vive um regime democrático e, como todo cidadão por todo mundo, luta por dias melhores.

 Os russos viveram guerras, fome e toda sorte de dificuldades ao longo de sua história, muitas desconhecidas de nós,  livres e privilegiados no Brasil. Isso faz dele um povo consciente de seu papel social. Tanto que pelas ruas das principais cidades não se vê lixo jogado, não se vê descortesia e não raro encontra-se um patriota defensor daquele país distante, mas tão parecido com a gente que luta pela liberdade com determinação e responsabilidade.

 A Rússia hoje é uma economia consagrada e cerca de 143 milhões de pessoas falam nada mais nada menos que 31 línguas cooficiais. É o país com maior área do planeta, cobrindo mais de um nono da área terrestre. É também o nono país mais populoso.

 A Rússia faz fronteira com os seguintes países:   Noruega, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, Bielorrússia, Ucrânia, Geórgia, Azerbaijão, Cazaquistão, China, Mongólia e Coreia do Norte. Também tem fronteiras marítimas com o Japão, pelo Mar de Okhotsk, e com os Estados Unidos, pelo Estreito de Bering.


São Petersburgo
                                                                          

São Petersburgo é a segunda maior cidade da Rússia e a mais ocidentalizada do país e está localizada ao longo do rio Neva, na entrada do Golfo da Finlândia. Nasceu com o nome de  Petrogrado, em homenagem ao seu fundador, Pedro, o Grande (grande no ideal e fisicamente. Ele tinha dois metros e três centímetros). Em 1924 a cidade é rebatizada para Leningrado e em 1991, após o colapso da União Soviética, a cidade volta a ser São Petersburgo. É  chamada também apenas de Petersburgo e informalmente conhecida como Peter.

São Petersburgo foi fundada pelo czar Pedro, o Grande,  em 27 de maio de 1703. Entre 1713-1728 e 1732-1918,  foi a capital do Império Russo. O sonho de Pedro era ocidentalizar a Rússia, já que o ocidente o encantou após várias viagens à Europa. Em 1918, as instituições da administração central se mudaram de São Petersburgo para Moscou.. A cidade é um grande centro cultural europeu e também um importante porto russo no mar Báltico.

É frequentemente descrita como a metrópole mais ocidentalizada da Rússia, bem como a capital cultural do país. É a cidade mais setentrional do mundo com população acima de 1 milhão de habitantes. Seu centro histórico e monumentos são patrimônio mundial pela UNESCO.

Está em São Petersburgo o belo e imponente Hermitage, localizado às margens do rio Neva. É o maior museu de arte do mundo e sua vasta coleção possui itens de praticamente todas as épocas, estilos e culturas da história russa, européia, oriental e do norte da África. Uma inimaginável realização,distribuída em dez prédios, situados ao longo do rio, dos quais sete constituem por si mesmos monumentos artísticos e históricos de grande importância. Neste conjunto o papel principal cabe ao Palácio de Inverno, que foi a residência oficial dos czares desde sua construção até a queda da monarquia .

Organizado ao longo de dois séculos e meio, o Hermitage possui hoje um acervo de mais de três  milhões de peças, mantém  um teatro, uma academia musical e projetos subsidiários em outros países. O núcleo inicial da coleção foi formado com a aquisição, pela imperatriz Cataria II,  em 1764, de uma coleção de 225 pinturas flamencas e alemãs.

 Fiquei por mais de quatro horas pasmada com a beleza das peças de arte do lugar. Um acervo grandioso e de beleza estonteante refletem a riqueza da época dos czares. O Hermitage (prédio principal), que foi o palácio de inverno de Pedro, o Grande, é o  mais visitado pelos turistas. Tem 300 salas, em três níveis, todas, ricamente decoradas do chão ao teto.

A Catedral do Sangue Derramado ou Igreja da Ressurreição do Salvador é a obra de arte mais perfeita entre as maiores do mundo sacro. Não há como não ficar literalmente sem fôlego diante dela.  A igreja tem cinco cúpulas semicirculares,  um enorme pilar que forma a torre-campanário e uma pirâmide octogonal ao centro, parecidos com  igrejas do século XVI ao XVII. Só que essa é a mais bonita de todas.

A igreja é de tijolo vermelho e castanho, toda a superfície das suas paredes está coberta de adornos elaborados e detalhados. Bandas e cruzes de tijolo colorido, azulejos policromados aplicados nos vãos das paredes, azulejos nos telhados das torres e coberturas piramidais são de mármore branco. Li que a parte inferior da torre do campanário está decorada com 134 mosaicos de escudos de armas (coleção heráltica) doados pela comunidade local. Os mosaicos espalhados foram figuras  curiosas e bonitas. As portas são imensas.

As cinco cúpulas centrais da igreja são revestidas de cobre e esmalte de diferentes cores. As cúpulas menores em forma de cebola e a cúpula do campanário são douradas.


A igreja está situada a  margem do canal Griboedov (assim designado em honra de Alexandre Griboedov) próximo ao parque do Museu Russo e da Nevsky Prospekt. A edificação foi construída no local onde o czar Alexandre II da Rússia foi assassinado, vítima de um atentado no dia 13 de março de 1881.


Durante a Segunda Guerra Mundial São Petersburgo foi cercada e  uma bomba atingiu a cúpula mais alta da igreja. O artefato  não explodiu e permaneceu encerrado na cúpula da igreja durante 19 anos. Somente quando os trabalhadores subiram para reparar as goteiras, a bomba foi encontrada e retirada. Foi nessa altura que se decidiu começar o restauro da igreja do sangue derramado. Após 27 anos,  a igreja foi inaugurada como museu estatal, onde os visitantes podem conhecer a história do assassinato de Alexandre II e se emocionarem diante de beleza sem par na história da arte sacra.


A catedral ortodoxa de Santo Isaac é outra beleza à parte. É  maior e mais suntuosa da cidade de São Petersburgo, embora não tão bonita quanto a do Sangue Derramado. Com capacidade para 14 mil pessoas em seu interior  é dedicada a Pedro , o Grande. Construída entre os anos de 1818 e 1858 a  catedral tem estilo neoclássico com a inserção de adornos bizantinos e foi construída pelo arquiteto francês Auguste de Montferrand, que venceu o concurso para a substituição da igreja de madeira. O domo principal mede 101,5 metros e impressiona pela beleza singular.

“Na decoração da Catedral de Santo Isaac empregaram-se 43 tipos de minerais. O zimbório  foi revestido de granito e o interior, paredes e chão de mármores russos, italianos e franceses. As colunas e o retábulo foram  revestidos de malaquita  e lápiz-azuli. Foram gastos 100 quilos de ouro para dourar a cúpula  de 21,8 metros de diâmetro. Adornam a catedral quase 400 obras entre esculturas, pinturas e mosaicos”.(Fonte: Wikipedia).  Desde 1931 que a catedral é um museu aberto à visitação e com possibilidade de ser fotografado. E merece,  pois é de uma beleza extraordinária, impressionante.

A igreja Nossa Senhora de Kazan, a fortaleza de Pedro e Paulo, o busto do cavalo de Pedro o Grande, teatros, praças, ruas e avenidas e uma arquitetura única  fazem da linda São Petersburgo a cidade mais bonita da Rússia.

Mas nada, absolutamente nada, pode ser comparada à igreja do Sangue Derramado, hoje museu, recebendo milhares de turistas de todo mundo.

Fora da cidade de São Petersburgo está o palácio de verão de Pedro o Grande, fundador da cidade e considerado um benfeitor para o povo russo. Era ainda pessoa viajada, de gosto refinado  e isso pode ser constatado nos jardins que rodeiam seu antigo palácio. Posteriormente o local foi ocupado por outros czares e descaracterizado. Mas os jardins intocados estão à disposição para a visitação do público e é de uma beleza impressionante. O palácio hoje tem decoração totalmente feminina e reflete o gosto de czarinas como Elizabeth e Catarina I e II. Para se entrar no local é preciso sapatos especiais e não se pode fotografar nada. Uma pena, pois o mundo todo merece conhecer essa raridade em decoração.

Moscou
                                                                      
Karl Marx  (estátua ao fundo)

Ao contrário de São Petersburgo, Moscou é uma cidade cosmopolita, agitada, com tráfego intenso e um dos metrôs mais eficientes do mundo. Mas tudo isso perde a importância diante da suntuosidade e da beleza de sua arquitetura. Não há como não parar, estático, diante de tanta beleza.

“4 de abril de 1147 é o primeiro registro de atividade onde hoje está Moscou, quando Jorge I convidou o príncipe de Novgorod para uma grande festa na cidade. Nove anos depois Jorge I manda construir uma muralha de madeira, que é reconstruída com frequência para garantir a proteção da cidade que crescia em meio aos conflitos entre Jorge I e o príncipe de Chernigov. Nos séculos XII e XIII a cidade cresce sensivelmente com metalúrgicos e artesãos.No inverno de 1278, os mongóis capturaram a cidade fazem milhares de vitimas e obriga os sobreviventes moscovitas  a se dirigirem mais ao norte de Moscou.

Moscou volta a se recuperar e, em 1327, a cidade torna-se a capital do principado de Vladimir-Suzdal. A localização privilegiada em relação ao rio Volga permitiu grande desenvolvimento, atraindo milhares de refugiados provenientes de todo o território russo devido às grandes invasões dos tártaros, estabelecendo o poderoso Estado da Moscóvia.

 Em 1380, Demétrio, príncipe de Moscou, ganhou a  batalha de Kulikovo que permitiu acabar com o poder dos tártaros. Com isso, a Rússia, através de Moscou, torna-se livre de todo o domínio estrangeiro e vira um grande centro de poder e a capital de um grande império.Em 1571, tártaros da Crimeia atacaram e saquearam Moscou, poupando apenas o Kremlin.

Ocorrem as revoluções, como a do fim da invasão da Polônia e Lituânia em 1612 e a revolta de Moscou em 1682.  Em 1812 ocorre na invasão das tropas de Napoleão Bonaparte. Este acontecimento é dramatizado na obra Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, e na Abertura 1812 de Tchaikovsky.

Em 1918, durante a Guerra Civil, Moscou serviu de quartel-general do Exército Vermelho, com um número aproximado de 178.500 soldados. Com a  Revolução de Outubro, a cidade torna-se capital da União Soviética, em 12 de março. Em novembro de 1941, a cidade volta a ser atacada, desta vez pela Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.

Moscou está situada às margens do rio Moscova, que corre pouco mais de 500 km através da planície do leste da Europa, na Rússia central.Enfeitando-o vemos 49 pontes que atravessam o rio e seus canais dentro dos limites da cidade. A largura da cidade ,  de oeste para leste, é de 39,7 km, sendo o comprimento de norte a sul de 51,7 km”.(Fonte: Wikipedia).

Trata-se de uma das capitais mais frias do mundo. No inverno as temperaturas podem chegar 42 graus negativos, como ocorreu em 1940. A neve está presente na cidade  de três a cinco meses por ano, normalmente inicia-se no final de novembro, derretendo em meados de março. Mas o tempo é flexível em Moscou. No verão as temperaturas variam muito. Este ano pude ver, na mesma estação, ou seja, no verão, temperaturas que variaram de 12 a 30 graus em um mesmo dia. Basta chover que a temperatura despenca. Mesmo no verão as pessoas não saem de casa sem agasalho.

O cristianismo é a religião predominante na cidade, com a igreja ortodoxa russa, considerada uma parte do patrimônio histórico da Rússia, em lei aprovada em 1997. Isso é tão importante para a cidade que quando se vê um turista religioso, as pessoas que trabalham em museus e igrejas, lhe dão preferência, facilitando a entrada e maior proximidade com as peças sacras, como os túmulos de padres, por exemplo. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, muitas das igrejas destruídas durante o regime foram restauradas e as religiões tradicionais vêm ganhando força novamente.

A primeira parte da viagem à Rússia dediquei a São Petersburgo e ainda agora me arrependo de ter ficado menos tempo lá que em Moscou. Saint Peter é completamente linda e merece uma visita de ,no mínimo ,10 dias. Moscou, embora muito maior, não tem como ser vista em menos tempo também.

Cheguei em Moscou no trem bala (partindo de São Petersburgo). Três horas e pouco de viagem, em 713 quilômetros. No trecho coberto pelo trem passamos pela área rural da Rússia com poucas paisagens e muito poucas casas. Mas o que dá para ver da janela do trem é bonito e bucólico.

Já em Moscou dei de cara com um trânsito infernal, ás seis horas da tarde. Está ai a maior diferença entre São Peter e Moscou.

O dia seguinte sigo a tradição de pegar o ônibus de turismo e circular pela cidade para situar-me no lugar. Não tinha reparado que, para se chegar ao ônibus andei pela linda e famosa Rua Tverskaya e atravessei parte da Praça Vermelha, nesta época do ano ocupada com palanques para festas e shows. Também não tinha reparado que estava ao lado do belo e imponente prédio do mercado Gum. Na Rússia as coisas vão aparecendo na frente da gente assim, do nada. Por isso andar por este país requer muita atenção, tempo e paciência.

Curiosa, circulo Moscou por cerca de duas horas. É impressionante a beleza das ruas, alguns  prédios são em estilo neoclássico, mas ricamente adornados.E de muito longe ou de muito perto vejo as cúpulas douradas avisando que essa sim é Moscou, uma cidade completamente diferente de todas as outras da Europa.
                                                                            
O Bolshoi, visita imperdível
Antes da primeira curva encontro o primeiro teatro, ao lado do Bolshoi,  que é de frente à praça do Trabalhador, com a imensa estátua do escritor, filósofo e revolucionário Karl Marx. Mal tenho tempo de erguer os olhos e dou de cara com o prédio da assustadora KGB. Até o vermelho do prédio é diferente do todos os outros da cidade. Avisto o primeiro arranha-céu de Stalin (são sete prédios na cidade,  chamados de as sete torres irmãs). São bonitos e se destacam no cenário. E sigo viagem prometendo que o descer do ônibus de turismo vou a cada lugarzinho deste para conhecer tudo em detalhes.
                                                             
E o faço a partir do segundo dia, com a primeira parada na praça Vermelha, no Mercado Gum (hoje mais com ares de um imenso shopping center)  e ao Kremlin. Passo o dia em um raio de no máximo três quilômetros, mas ando no sofisticado e caro mercado, na praça e dentro do Kremlin, em cada espaço aberto ao público, como as igrejas.

A mais impressionante e bela de todas as de dentro do Kremlin esta á a igreja de São Basílio, construída sob as ordens de Ivan IV, o terrível.  E ainda a Catedral da Anunciação, do Arcanjo e o Palácio do Patriarca. Muitos monumentos estão fechados ao público, como o prédio central do kremlin. Sem contar outras partes  em reforma, pois se “Moscou nunca dorme’, também não pára de receber reformas.
                                                                   
O Kremlin é destaque na Praça Vermelha
A catedral do Cristo Salvador é de uma beleza rara e é a maior igreja ortodoxa da Rússia. Idealizada por Alexandre I em homenagem aos soldados mortos na batalha contra Napoleão. Demolida durante o período socialista foi reerguida e reinaugurada em 2.000. O convento Novodevichy é o mais famoso mosteiro de Moscou e tão bonito quanto a catedral de Nossa Senhora de Smolensk com afrescos maravilhosos.

A catedral da Imaculada Conceição da Virgem Maria é a única representante da igreja católica aposólica na cidade. Com arquitetura neogótica é considerada um dos monumentos sacros mais bonitos da cidade. O cruzeiro fluvial deu-me oportunidade de conhecer melhor a cidade em torno do rio Moscou e encontrar-me com a imensa estátua de Pedro, o Grande nas águas.

De frente, atrás, dos lados e acima do kremlin, no entorno do rio Moscou, próximas ou distantes da área central,  há pequenas igreja, algumas fechadas ao público, menos suntuosas e nem por isso menos bonitas. Todas ortodoxas, têm cúpulas, em sua maioria douradas,  que lembram turbantes. Andei o muro do Kremlin de cabo a rabo para entender a neura deste povo, á época, por segurança. Mas considerando a história do país justifica-se tanto esmero com a segurança do povo russo. A preservação e a beleéza do lugar hoje são o resultado deste investimento. E nós, viajantes, agradecemos.

O vermelho encontrado nos prédios de Moscou é único. Nunca via nada igual. É grandioso, destaque-se no cenário da cidade. Por isso não é difícil circular o muro, observar as grande colunas, com listras verdes e uma estrela na ponta,  pois ele é todo de cerâmica vermelho escuro.

Dentro do Kremlin, além  das igrejas, tem a história completa da Rússia, especialmente das lutas travadas por este povo. Um exemplo de beleza e grandiosidade do acervo são dezenas de canhões espalhados pelo parque e calçadas e o maior canhão do mundo, confeccionado na época da invasão de Napoleão ao país.É verdade que não chegou a ser usado para intimidar as tropas inimigas, muito menos o imenso sino, também o maior do mundo que se quebrou antes da instalação.

O pedaço quebrado está ao lado e pesa simplesmente 202 toneladas. Imagine o peso do sino todo? Do lado de fora dos portões do Kremlin está o monumento ao soldado desconhecido, velado 24 horas por dia, por dois soldados armados que se revezam a cada hora. A pira fica acessa em tempo integral. Os turistas ficam próximos ao monumento tentando fazer os guardas rirem. Quem consegue, fotografa e comemora. Eu consegui o feito. Uma bobagem, mas coisa de turista!
                                                                                               
A catedral de São de São Basílio é uma obra de arte sacra  de beleza rara. Absolutamente linda, por dentro e por fora. Ela é a principal edificação dentro do Kremlin. Não sei se é mais bonita por dentro ou por fora. Idealizada por Ivan, o terrível, a catedral não é grande por dentro, mas é suntuosa.  E pode ser fotografada. La dentro afrescos em tons fortes, imagens de santos da época revelam o bom gosto e a riqueza dos czares. Encantadora!

Circulei-a em todos os sentidos. Queria ter ideia de como foi construída e o porque de tantos detalhes em sua cúpula, que, por incrível que pareça, não tem nenhum detalhe dourado, ao contrário de dezenas de outras em estilo e épocas parecidas. De frente a parte principal dela, já do lado de fora dos portões do Kremlin está a catedral de Kazan, linda também. Em sua lateral está  uma micro igrejinha de onde se pode ouvir cânticos e orações em tempo integral. Neste local pode-se entrar, desde que seja para rezar, mas não se pode forogrfar. O mesmo acontece com a pequena capelinha ligada aos muros do Kremlin.

Os jardins do Kremlin formam um espetáculo a parte. Bonito, bem cuidado (em geral por senhoras idosas) tem as muitas árvores e flores típicas da Rússia. Muito bonitos.

A capital da Rússia tem 49 pontes cortando o rio Moscou. E cada uma delas tem uma história diferente e as razões pelas quais foi construída. A mais bonita delas é a hoje chamada ponte dos beijos.

Ganhou este nome por ser, inicialmente a mais bonita deles e onde os casais iam se encontrar. Agora o local tem árvores construídas com cadeados, pois lá acontecem cerimônias de casamento, encontros de amor e é onde os casais fazem suas juras  “trancando” seus compromissos de afeto.

De frente a Ponte dos Beijos  e  do lado contrário do Kremlin, está a Galeria Tretyakov, o segundo mais belo museu da cidade de Moscou, dedicado à preservação e divulgação da arte nacional do país.O  acervo é voltado exclusivamente para a arte russa e para quem tenha tido contato com ela. E  é um dos mais importantes do mundo em seu gênero. Atualmente a Galeria Tretyakov possui mais de 130 mil itens que vão desde o século XI até a contemporaneidade.

A Galeria foi fundada em 1856 com as primeiras aquisições de obras pelo colecionador  Pavel Mikhaylovich Tretyakov, entre artistas contemporâneos seus, com o objetivo  de criar um acervo de arte nacional acessível para todas as pessoas. Em 1892 a galeria  foi aberta ao público com 1276  pinturas,  471 obras em papel e 10 esculturas de artistas russos e 84 pinturas de mestres estrangeiros. Muitas destas obras seguiam linhas arrojadas para a época, consideradas mesmo ofensivas, e o colecionador sofreu por diversas vezes pressões e críticas de figuras da religião e da política russa.

 Fica próximo à Galeria Tretyakov, o monumento a  Pedro, o Grande.  A estátua tem 98 metros  e foi esculpida pelo artista georgiano Zurab Tsereteli. Nela vemos um vigoroso Pedro na proa de um grande navio, ostentando um pergaminho de ouro, além de outras figuras que compõem a peça de grande beleza.

Mas Moscou não é feita apenas de prédios, monumentos ou edificações históricas. A pós modernidade chegou também para esse povo livre, trabalhador e civilizado. Há dezenas de prédios totalmente incomuns.O primeiro exemplar da arquitetura russa pós modernidade vem com as sete torres irmãs de Stalin, neoclássicas e bonitas. A seguir vemos edificações como toda feita em vidro, com formatos circulares, retorcidos ou em formato de livro.

Mas é o metrô de Moscou, com o velho e o novo conceitos de decoração que enchem os olhos do visitantes. O palácio do Povo, como definiu Lennin, tem exemplares de todas as épocas. Inaugurado em maio de 1935, com  apenas uma linha de 11 km e 13 estações, o metrôs tem hoje um dos mais extensos, eficientes e movimentados sistemas metroviários do planeta. As 196 estações têm 12 linhas e mais de 325 km (com previsão de expansão) e  transporta cerca de 7 milhões de viajantes por dia,sendo o maior número de passageiros da Europa.
                                                                                 
A média de espera pelo metrô é de apenas 90 segundos (na hora do rush, esse tempo cai para menos de 60 segundos). Vi isso de perto, pois fui a 19 estações, sendo que fiz a linha vermelha completa. A opulência das estações encanta o visitante. As mais simples são toda coberta de mármore. As mais modernas têm acrílico ou árvore inoxidável, mas nem por isso deixam de ser muito belas. E viajar neste metrô é entrar em cotato direto com a gentileza urbana. As pessoas são gentis e bem informadas e não se importam de dar informações precisas a respeito do caminho.

As mais bonitas estações são as feitas no período de Lennin, já que ele queria que o povo tivesse, á caminho do trabalho, um pouco da opulência e beleza dos palácios dos czares. A mais bonita delas é a KneBckAR (o N e o R são escritos ao contrário, pois estão no alfabeto cirílico).  A seguir vem a bela komcomoabcKAR. O alfabeto cirílico mistura letras maiúsculas e minúsculas numa mesma palavra.Essa estação tem um dos prédios externo mais bonitos da cidade.

A Rússia é apaixonada por cavalos, animal que contribuiu, em muito, para as vitórias em dezenas de lutas enfrentadas por aquele povo. Tanto em São Petersburgo como em Moscou pode-se ver grandes bustos de cavalos. Famosos ou não, eles estão la, em bronze puro, contando a história das cidades.

Além da refinada arquitetura, das belas cúpulas douradas, das igrejas de beleza sem igual, do metrô eficiente e bonito a cidade de Moscou tem características incomuns à maioria das cidades de grande porte em todo mundo. O índice de violência é zero assim como o de acidentes de trânsito. Isso porque não se atravessa rua ou avenida  movimentada. O pedestre é obrigado a se utilizar de passagens subterrâneas para passar ao outro lado da vida.

Impressionou-me a imensa quantidade de galerias existentes na cidade. Nelas estão os melhores shoppings, lojas de departamentos, bares e restaurantes à disposição do cliente. Isso porque a Rússia é um país muito frio e por mais de quatro meses do ano está coberto de neve. As galerias são, além de local de compras, um abrigo natural para a população. A Rússia é mesmo uma maravilha de país.




quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A Unidade Sindical divulgou em seu site nota sobre "Centrais Sindicais Pelegas"...

                                                                     

                                         "Fazendo o jogo dos patrões"


"Após construir uma plataforma política unitária com uma das principais responsáveis pela crise econômica e pelos ataques aos direitos sociais e trabalhistas no Brasil – a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) – algumas Centrais Sindicais que dizem representar trabalhadores e trabalhadoras, mas que fazem o jogo dos patrões e dos governos, reuniram-se com Michel Temer para apresentar propostas de “saída da crise”.

No dia 12 de setembro em Brasília-DF, em uma cerimônia oficial do governo, a CTB, Força Sindical, UGT, CSB e Nova Central, juntas com a sua aliada patronal FIESP, reuniram-se com o alto escalão do Palácio do Planalto. Lá estavam Temer e seus ministros corruptos e representantes da burguesia (Henrique Meirelles, Eliseu Padilha, Moreira Franco) e parlamentares representantes do empresariado, do agronegócio e de banqueiros.

A proposta apresentada por este setor sindical e pelos empresários é aprofundar o mesmo modelo econômico que gerou a crise social que vivemos no país: facilitação de crédito para pessoas e empresas, aumentando o endividamento da população e a dívida pública brasileira; investimento em obras de infraestrutura para empresas privadas explorarem; mais benefícios fiscais à empresas privadas para produzir mercadorias e explorar trabalhadores. 

E, ainda, fez parte do encontro a negociação de emendas à Reforma Trabalhista para garantir os interesses das burocracias sindicais que se cristalizam à frente de sindicatos, federações e centrais, virando as costas para os trabalhadores e trabalhadoras e cumprindo a tarefa dos patrões.
Esse encontro é expressão do papel que estas centrais tiveram na Greve Geral de 30 de junho, na qual retiraram-se da convocação e boicotaram todas as ações desenvolvidas pela classe trabalhadora."

Vá ver "o Velho e o Novo" no Cine Santa Tereza, dentro das comemorações do 100º da Revolução de Outubro. Hoje às 19h30


terça-feira, 12 de setembro de 2017

O ano que abalou o mundo


Um outro 11 de setembro

                                                                               

Exatamente 150 anos atrás, no dia 11 de setembro de 1867, era posto à venda o Livro I de "O capital", de Marx.

José Paulo Netto

O dia 11 de setembro, depois de 2001, tem sido marcado pela evocação do ataque terrorista que atingiu as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. O atentado, assumido pelos fundamentalistas da al-Qaeda (organização dirigida por Osama Bin Laden, ao que se sabe um antigo colaborador da CIA), custou a vida de mais de três mil pessoas, mas não feriu quaisquer interesses do capitalismo contemporâneo.


Pode-se, porém e felizmente, evocar um outro dia 11 de setembro, em que ocorreu evento verdadeiramente memorável – que, este sim, contribuiu e continua a contribuir, decisiva e concretamente, um século e meio depois, com as lutas sociais contra a ordem do capital e com os embates ideológicos dos que enfrentam a apologia dominante que a mistifica.

A referência é ao 11 de setembro de 1867 (portanto, há exatos cento e cinquenta anos), quando os intelectuais dedicados à causa dos trabalhadores tiveram ao seu alcance a principal arma teórica para o combate a conduzir contra a sociedade burguesa: nesse dia, foi posto à venda o livro I d’O capital: crítica da economia política, de Karl Marx.

Em tiragem de mil exemplares (só esgotados quatro anos depois), o livro I, único publicado em vida de Marx – os livros II e III, sob os cuidados de Engels, saíram em 1885 e 18941 –, foi editado em Hamburgo por Otto Meissner. 

A segunda edição, na folha de rosto datada de 1872, foi revisada pelo próprio Marx e a terceira, de 1883, já não contou com a sua supervisão (recorde-se que ele falecera no primeiro semestre de 1883, a 14 de maio, pouco antes de completar 65 anos), mas com a de Engels. 

Todavia, a maioria dos analistas considera que o texto “canônico” do livro I fixou-se mesmo a partir da quarta edição, de 1890, esta igualmente sob a responsabilidade de Engels – para indicações sobre as condições que levaram a tal fixação, pode-se recorrer à informada “advertência” de Pedro Scaron à sua excelente tradução da obra ao castelhano (El Capital. Buenos Aires: Siglo XXI, 1975, t. I, vol. 1: VII-XLI) e a uma breve e informada síntese de Sérgio Lessa (Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo. S. Paulo: Cortez, 2007: 21-30).
                                                                            
Folha de rosto da primeira edição do Livro I de O capital, publicada por Otto Meissner em datada de 1867; à esquerda, a folha de rosto da quarta edição, datada de 1890, também publicada por Otto Meissner, em Hamburgo, mas arrematada sob os auspícios de Friedrich Engels.

Os leitores de língua portuguesa só tiveram acesso ao texto integral do livro I apenas cento e um anos depois – Ênio Silveira, um dos maiores editores brasileiros do século XX com a sua Civilização Brasileira, planejara lançar a obra completa publicando-a a partir de 1967, na passagem do seu primeiro centenário; entretanto, só lhe foi possível começar o empreendimento no ano seguinte, concluindo-o inteiramente em 1974.2 

A muito tardia tradução do livro I d’O capital no Brasil não significa que esta obra marxiana permaneceu ignorada entre nós (lembremos que ainda no século XIX brasileiros fizeram referência a ela: Tobias Barreto, em 1887, e Silvério Fontes, em 1895). Contudo, aqui, a maioria dos seus estudiosos socorreu-se amplamente, até meados dos anos 1960, sobretudo de edições castelhanas e francesas; quanto ao público não-especialista, mas interessado, este pôde se valer de conhecidos “resumos” do texto daquele livro I, além de umas poucas traduções de fragmentos seus.3

Não há dúvidas sobre a incidência do pensamento de Marx na cultura brasileira desde os anos 1930 – pense-se, por exemplo, em Caio Prado Jr. e Nelson Werneck Sodré. Mas é fato que essa incidência tornou-se mais ponderável a partir dos anos 1950 e, uma vez publicado em português O capital, ela ganhou um suporte que lhe propiciou um desenvolvimento mais denso e qualificado. 

Ainda sob o tacão da ditadura instaurada no 1º de abril de 1964, registra-se já na década de 1970 (inclusive no interior da universidade) um debate intelectual qualificado sobre o qual as ideias político-econômicas de Marx visivelmente rebatem – e um tal rebatimento só se fez acentuar nos anos seguintes.

É desnecessário recordar que a crise do “socialismo real” e a emergência dos “tempos conservadores” de que falava o saudoso Agustín Cueva, num primeiro momento, afetaram (não só entre nós, mas em escala mundial) a influência de Marx e a difusão de suas análises. Mas não há mistificações ideológicas, como as promovidas pelos arautos do neoliberalismo e do “fim da história”, que resistam à força da realidade: quando a crise estrutural e sistêmica do capital mostrou-se em toda a sua violência, o espectro de Marx ocupou o proscênio – não foi casual que, no final dos anos 1990, a imprensa capitalista menos cretina viu-se obrigada a reconhecer que “o patrimônio de Marx ressurge depois de 150 anos” (New York Times, 27/06/1998) e a anunciar, na década seguinte, que “Marx voltou!” (Times, 20/10/2008). 

Sobre O capital, tolices monumentais de autoria de respeitáveis acadêmicos (exemplo: Paul Samuelson, Prêmio Nobel de Economia/1970) e incessantemente reproduzidas por jornalistas a soldo da burguesia em suas “análises econômicas” colidem abertamente com a experiência objetiva do capitalismo contemporâneo.

Esta é uma das razões pela qual se verifica hoje, em todo o mundo culto (inclusive em segmentos universitários brasileiros), um renascimento da crítica da economia política sob a inspiração d’O capital. Tomada em seu conjunto, a arquitetura teórica que avançou a partir do livro I demonstrou (e a demonstração resistiu à prova da história) que:

o modo de produção capitalista dispõe de extraordinário dinamismo para a produção de riquezas materiais e exerceu, historicamente, um papel civilizador;

na medida em que se desenvolve, o modo de produção capitalista revela contradições inextirpáveis, que se manifestam nas suas crises periódicas (componente ineliminável da sua dinâmica, elas não o suprimem, mas criam condições para que a intervenção consciente dos trabalhadores possa fazê-lo);
nessa mesma medida, o papel civilizador do modo de produção capitalista se atrofia e se converte no seu antípoda, a barbarização da vida social, consequência da lei geral da acumulação;

o modo de produção capitalista, a partir da sua plena maturação, engendra fortes tendências ao bloqueio da sua própria dinâmica;

o modo de produção capitalista não é a expressão de uma pretensa ordem natural nem, menos ainda, o fim da história: é uma modalidade temporária, transitória e substituível de organização da produção e distribuição das riquezas sociais.

É evidente que O capital não dá conta da complexidade do capitalismo contemporâneo – cento e cinquenta anos depois da publicação do seu livro I, profundas transformações modificaram a ordem do capital. Mas a obra é condição necessária para a sua compreensão e crítica radicais: sem ela, torna-se impensável um conhecimento teórico sistemático e comprovável do mundo em que vivemos. Por isto mesmo, em todos os centros cultos, o sesquicentenário do livro I d’O capital – coincidente com o primeiro centenário da Revolução de Outubro – é alvo, agora, de reverência científica.

Neste 11 de setembro, a sua evocação, à diferença do que se passou em Nova York, em 2001, é um preito a uma obra que honra a humanidade na escala mesma em que, oferecendo a base necessária para a crítica do capitalismo, abre a via para a emancipação universal de todos os homens e todas as mulheres.


Notas

1 Um livro IV, que Kautsky deu a público em precária formatação entre 1905 e 1910, só teve tratamento editorial mais cuidadoso nos anos 1950/1960 e dispõe de versão em português, em três volumes, desde a década de 1980 – K. Marx, Teorias da mais-valia. Livro 4 de “O Capital”. História crítica do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, I; S. Paulo: DIFEL, 1983-1985, II-III. Boitempo, no prelo.

2 Entre 1968 e 1974, Ênio – sobre cujo protagonismo na vida brasileira, que a maioria dos jovens universitários parece desconhecer, pode-se consultar Moacyr Félix, Ênio Silveira, arquiteto de liberdades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998 – editou os três livros em seis volumes, na tradução pioneira de Reginaldo Sant’Anna. Contamos atualmente em português com três outras edições integrais da obra: a da Abril Cultural, de S. Paulo, na coleção “Os economistas”, em tradução de Régis Barbosa e Flávio R. Kothe (1983-1985); a da Avante!, de Lisboa, em tradução de José Barata-Moura (1990-2017) e a da Boitempo (em tradução de Rubens Enderle, 2013-2017).

3 “Resumos” do livro I saem nos anos 1930: o de C. Cafiero, de 1879 (O capital. S. Paulo: Unitas, 1932) e, em seguida, o de G. Deville, de 1883 (O capital. S. Paulo: Moderna Paulistânia,1934) – ambos seguidamente reeditados; muito posteriormente, tem-se o “resumo” dos três livros de J. Borchardt, de 1919 (Karl Marx. O capital. Rio de Janeiro: Zahar, 1967); cf., ainda, Alfredo Lisbôa Browne, Leitura básica de O capital. Resumo e crítica da obra de Marx. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 e Luiz de Carvalho Bicalho, Resumo literal de O capital. Condensação dos livros 1, 2 e 3. S. Paulo: Novos Rumos, 1990. Excertos do livro I vieram à luz também desde os anos 1930; o último que registro aparece nos anos 1960: cf. K. Marx, A origem do capital (A acumulação primitiva). S. Paulo: Fulgor, 1964.


José Paulo Netto nasceu em 1947, em Minas Gerais. Professor Emérito da UFRJ e comunista. Amplamente considerado uma figura central na recepção de György Lukács no Brasil, é coordenador da “Biblioteca Lukács“, da Boitempo. Recentemente, organizou o guia de introdução ao marxismo Curso Livre Marx-Engels: a criação destruidora (Boitempo, Carta Maior, 2015). No Blog da Boitempo escreve mensalmente, às segundas, a coluna “Biblioteca do Zé Paulo: achados do pensamento crítico“, dedicada a garimpar preciosidades esquecidas da literatura anticapitalista.

(Com a Bomtempo)

Publicado em 11/09/2017