quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O Relatório da Comissão da Verdade e a repressão aos trabalhadores

                                                                         
                 

José Carlos Alexandre (*)

Dia 13 de dezembro, um dia após BH completar 120 anos, ficará também n história. Neste dia, em atos previstos para a manhã e à tarde, o Brasil tomará conhecimento de fatos importantes de nossa história recente. 

É que será divulgado o Relatório da Comissão da Verdade em Minas Gerais. Ao todo os membros da 
Covemg ouviram 222 pessoas. O trabalho foi cuidadosamente acondicionado em 1600 páginas, além 

de filmes e vídeos.

São depoimentos que passaram a limpo ocorrências em todo o Estado, desde o período do ex-presidente e ex-ditador Getúlio Vargas, até o dia em que o último general da ditadura cívico-militar que começou dia 1º de abril de 1964, pediu o boné e saiu do Palácio presidencial para nunca mais voltar.

São 1600 páginas, com depoimentos de vítimas de perseguições, torturas, testemunhas de desaparecimentos, esposas e filhas de combatentes pela democracia, padres e outros religiosos que jamais aceitaram tomar parte em farsas, atos arbitrários, repudiando terroristas de Estado, informantes, e esbirros da repressão.

Alguns depoimentos cheguei a testemunhar em reuniões abertas realizadas pela Comissão, como a 

da sede local da OAB ou acompanhei-as com vívido interesse como as de testemunhas do Massacre 

de Ipatinga, ocorrido em 1963.

Este fato foi objeto de grandes reportagens à época do semanário do PCB, "Novos Rumos", através 

sua sucursal em BH.

A dura repressão a membros da direção do Partido Comunista Brasileiro na última ditadura também 

mereceu ampla abordagem, chegando-se a ouvir depoimentos, dentre outros, de José Francisco 

Neres, Alípio Gomes Filho, Paulo Eliziário. 

Ressalte-se  o caso do "desaparecimento"  de Nestor Vera (Netor Veras ou "Wilson"), sequestrado à

porta de uma drogaria na avenida Olegário Maciel, perto da rodoviária.

Era sindicalista de larga atuação, um dos pioneiros do sindicalismo rural no Brasil, diretor da 

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura e do jornal "Terra Livre", além de 

organizador do 1º Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, realizado nesta 

capital em 1961.

Nestor  Veras, membro do Comitê Central do PCB, foi criminosamente torturado, num cenário que 

talvez possa ser comprado ao  da "Paixão de Cristo", filme do diretor norte-americano Mel Gibson.

Sua morte é retratada num livro escrito por um delegado de polícia, Claudio Guerra, que teria lhe 

dado um "tiro de misericórdia", conforme relatou em alguns canais de TV.

A Comissão relata também os acontecimentos em Nova Lima, no final dos anos 40, quando foram 

executados combatentes dos mineiros, como o ex-vereador William Dias Gomes.

E demitidos, depois 51 trabalhadores, alguns já caminhando para se tornarem uma espécie de 

"mortos-vivos", abalados pela poeira da mina do Morro Velho. À luta deles por melhores condições 

de trabalho e melhores salários, seguiu-se a acusação de  terroristas, sabotadores, tendo sido 

mandados embora sem nenhum  direito.

Sobre estes, no dia de minha oitiva na Comissão da Verdade, logo após depoimentos de dois dos 

filhos de um desses sindicalistas, propus que se erguesse uma estátua em homenagem aos 51 heróis 

da classe operária.

Todos nós, velhos e novos combatentes pelos direitos sociais, estamos de olho neste relatório.

Mas não só. 

Esperamos que possa servir de alavanca para que seja concretamente estabelecido, na sede do antigo 

DOPS, o Memorial de Direitos Humanos, que o ex-governador  ex-presidente Itamar Franco  

previa ( ao assinar lei neste sentido) desde o ano 2000.

Quem sabe os novos ares que todos gostaríamos de respirar em 2018,  nos traga finalmente este 

Memorial, tendo à sua entrada, uma estátua retratando os bravos 51 trabalhadores de Nova Lima e 

Raposos.

(*) Ex-membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos.

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