domingo, 3 de fevereiro de 2013

Intervenção de Horácio Macedo no “X Congresso Extraordinário do PCB” em 25/01/1992


“Companheiros e não filiados ao Partido. Nós do Movimento Nacional em Defesa do PCB não viemos a esse congresso com a idéia de conciliar. Nós não viemos a esse congresso com a ideia de fazer acordo.

Nós viemos para esse congresso com a idéia clara, precisa e nítida de dizer que nós continuamos fieis aqueles mais nobres e mais altos ideais do PCB. De tal maneira que nós possamos continuar a sermos os legítimos herdeiros desse Partido que agora querem liquidar.

Quando se diz que se defende a radicalidade democrática, mas que se pretende expulsar do Partido aqueles companheiros que assinaram ao documento de formação do PC, não se esta fazendo a democracia, está exatamente utilizando os métodos mais autoritários, mas burocráticos, mas administrativos de impor os debates políticos, e isso foi feito pelo deputado Roberto Freire.

Não estamos aqui por divergência entre democracia e não democracia. Não estamos aqui por divergência se vai ter partido único, ou não vai ter partido único. Nós hoje aqui, estamos decidindo se nós vamos ter aqui nesse país, um partido que usa como único critério ético e moral aquilo que ele contribui para eliminar a exploração do homem pelo homem, como dizia Lênin.

É esta, é esta a contradição, companheiros, é este a contradição.

O Partido Comunista Brasileiro sempre se colocou incondicionalmente quaisquer que fossem os erros políticos táticos e até estratégicos que tenha cometido, mas incondicionalmente naquele caminho do ‘barbaça’, do Marx, naquele caminho que diz: nosso dever enquanto militantes comunistas é declarar abertamente a sociedade, ao povo trabalhador, que não tem empulhação, que não tem Partido reformista que liquide com o capitalismo. E isto é que nos temos de fazer.

Então companheiros, quando nós trazemos nossa proposta, e divergimos daqueles outros companheiros que acham que tenham um caminho mais fácil, um caminho que bota no centro de suas considerações a democracia, nós dizemos – ‘companheiros, vocês estão equivocados. Porque vocês não estão apanhando aquele ponto central do problema, e o ponto central do problema é liquidar o capitalismo’. Não tem outro, não tem outro, companheiros.

Esta liquidação é um problema da pratica política. Esta liquidação é um problema que exige a existência de um partido revolucionário, que exige a existência de um partido que não faça acordo e conchavos a não ser em torno de problemas essenciais e de um programa mínimo revolucionário. É um partido que sequer aberto, é um partido que chama para o seu seio todos os companheiros que querem fazer uma modificação radical dessa sociedade. Mas não é um partido que seja uma geléia geral, não é um partido que tenha em no seu seio tudo e todos, não, é um partido que diz com clareza – ‘ companheiros, nós temos uma ideologia, companheiros, nós temos uma teoria, companheiros, nós temos um compromisso. Essa ideologia, essa teoria e esse compromisso nos fazem ser um Partido revolucionário’.

Então, o que se esta debatendo aqui hoje é uma contradição muito maior, é uma contradição entre aqueles que fazem as propostas dos socialistas utópicos, e que falam de modernidade levando teses do século XVIII, e aqueles que fazem as propostas do futuro, que fazem a proposta da radicalidade do socialismo, não da radicalidade da democracia, e fazem esta proposta da radicalidade do socialismo nós estamos sendo fieis aquele principio que diz que nós só temos um padrão para julgar a atividade do homem, é o quanto nos vamos contribuir para eliminar desse nosso país, pelos mecanismos que a política nos permitir, a exploração do homem pelo homem.

Por isso companheiros o símbolo da foice e do martelo é mais que um símbolo. O símbolo da foice e do martelo junta aquelas classes produtoras da mais-valia, juntam os operários pelo martelo, os camponeses pela foice. E ele tem então, a força de dizer que nós estamos do lado dessas classes, que nós somos essas classes e que nós queremos um partido que seja dessas classes.

Por isso queremos um partido que envolva também os intelectuais progressistas, enquanto estes intelectuais progressistas queiram trabalhar com o seu saber, com sua cultura a favor dessas classes.

Nós queremos tomar o poder, queremos tomar o poder pela hegemonia política para essas classes.

Nós não queremos enganar nossa população, e nós não queremos dizer que a solução dessa complexa equação, que diz por ai, passa pela conciliação, pela reforma, pelo liquidacionismo, pela extinção de um operador político importante como o PCB. Por isso nós vamos criar o Partido Comunista, legitimo herdeiro do partido Comunista Brasileiro, e vamos oferecer a população esse novo operador político revolucionário.

Viva o Partido Comunista, companheiros!.”

(Publicado no site do PCB. Sobre a divisão no movimento comunista, lembro que, à época,  sendo delegado ao Congresso que resultou no surgimento do PPS, na véspera da viagem tive um problema cardíaco, tendo sido atendido em casa pelo cardiologista Edgardo,que me proibiu terminantemente de viajar, deixando-me de cama três dias e obrigando-me a uma dieta seguida por medicamentos fortíssimos. Se tivesse ido ao congresso estaria ao lado  de Horário Macedo, Iván Martins Pinheiro, Oscar Niemeyer, Zuleide Faria de Melo e outros comunistas autênticos. José Carlos Alexandre)


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