quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A esquerda francesa e a guerra no Mali

ViCman/Rebelión/Divulgação

                                                                      
A esquerda francesa – ou, ao menos, suas organizações de maior peso político e eleitoral – estão tendo dificuldades em posicionar-se contra a intervenção militar de seu país naquela república da África Ocidental.Iniciada pelo governo social-liberal de François Hollande (que muitos no Brasil, erroneamente, chamam de “socialista”, já que o fato de um partido ter esse nome não significa que tenha objetivos anticapitalistas), a guerra pode transformar-se num caos semelhante ao que se viu (e ainda se vê) no Iraque pós-Saddam Hussein, ou no Afeganistão após a invasão liderada pelos EUA em 2001 – sem falar da Líbia após a intervenção militar que derrubou Gaddhafi e abriu as portas do país – e seus arsenais – aos grupos islamistas mais retrógrados.

Os principais integrantes da Frente de Esquerda francesa (Front de Gauche) – uma aliança eleitoral e parlamentária, cuja figura de proa é o deputado ao Parlamento europeu Jean-Luc Mélenchon – , o Partido Comunista Francês, e o Partido de Esquerda (Parti de Gauche) emitiram ambos comunicados de imprensa que, para @esquerdacritica e muitos outros progressistas, são, no mínimo ambivalentes e, no pior dos casos, pouco corajosos.  Os dois partidos partem do princípio de que as forças francesas foram enviadas ao Mali com o objetivo principal de impedir que outras regiões desse país fossem submetidas ao controle dos reacionários e obscurantistas religiosos que dominam a sua região norte.

O PCF, que já há vários anos mantem uma estratégia de alianças amplas, e cuja direção nacional parece ter como objetivo final a dissolução desse partido dentro da Frente de Esquerda e/ou dentro do Partido da Esquerda Europeia, em um comunicado datado de 12.01.2013 simplesmente manifesta sua “inquietude” face aos riscos de uma possível expansão da guerra, e “exige” do governo francês que se explique por que decidiu enviar tropas ao Mali sem um debate prévio na Assembleia Nacional francesa.

Alguns dias depois, em debate no Senado francês, os senadores do grupo parlamentar que congrega também os representantes comunistas aprovaram abertamente a intervenção militar, levantando questões (que não trazem alguma consequência) sobre as ambiguidades do governo francês para o “Islã radical” (alianças e parcerias, por exemplo, com a Arábia Saudita e com o Qatar).

Os grupos e tendências (minoritárias) de esquerda dentro do Partidão francês têm, esses, uma posição claramente antiimperialista e anti-neocolonialista. Assim, Emmanuel Dang Tran, membro do Conselho Nacional desse partido, e um dos animadores da rede “Viva o PCF” (Vive le PCF), considera que a única posição que o partido pode tomar é a de “denunciar a guerra imperialista, mobilizar-se para que a operação cesse, e para um acordo político entre os beligerantes”.

Essa mesma posição é partilhada pela rede “Solidariedade Internacional do PCF” (Solidarité internationale PCF), que faz sua a resolução do comitê Paris 15 do partido, intitulada “Não à aventura bélica do imperialismo francês no Mali”. Mesmo tenor tem a declaração da “Reunião de Círculos Comunistas” (Rassemblement des Cercles communistes), que exige a retirada das tropas francesas e diz não a uma guerra ditada pelos interesses de multinacionais francesas (por exemplo, a Total – petróleo – e a Areva – urânio). Já o site do Polo do Renascimento Comunista na França – PRCF (Pôle de la Renaissance communiste en France) não publica nenhum comunicado oficial, mas sim matérias que condenam claramente a intervenção.

O segundo partido mais importante da Frente de Esquerda francesa, oPartido de Esquerda, também tem uma posição vacilante e ambigua sobre a guerra. Em comunicado publicado no seu site em 15 de janeiro, esse partido (cuja direção tem sua origem política em diversas alas esquerdas do Partido Socialista, o mesmo acontecendo com boa parte de seus membros) “toma conhecimento da decisão do presidente da República de comprometer militarmente tropas francesas no Mali”, rendendo, imediatamente após essa frase, uma homenagem ao soldado francês morto já nas primeiras horas do conflito. Uma menção sobre as vítimas civis malineas do conflito procura-se em vão no comunicado.

Prosseguindo, o comunicado exige que as operações militares restrinjam-se a impedir uma hipotética chegada dos jihadistas a Bamako. Exige, igualmente, “um esclarecimento da parte do governo francês sobre os objetivos geoestratégicos pro detrás dessa intervenção,e o cesamento da intervenção militar francesa de reconquista do norte do Mali, uma vez que a linha verde [limite entre territórios dominados pelos islamistas e pelo governo malinês] for estabilizada.”

Em outras palavras: os dois maiores agrupamentos de esquerda na França – o PCF e o PdE – não condenam abertamente a guerra de François Hollande no Mali. Nos dois partidos, há discussões internas de grande porte, uma parte de seus militantes exigindo a condenação das ações bélicas, e outra, menor (mas melhor situada nos respectivos órgãos de direção), apoia-as, aceitando sem grande questionamento o pretexto de “combate ao islamismo” usado pela socialdemocracia.

O minúsculo Partido Comunista dos Operários da França (Parti communiste des ouvries de France), um outro integrante da Frente de Esquerda, diz “Não à intervenção militar francesa no Mali, não à “santa aliança” em apoio a esta guerra”.

Fora do espectro dos partidos que constituem a Frente de Esquerda, a oposição à aventura volta a ser clara. O Novo Partido Anticapitalista – NPA (Nouveau Parti Anti-capitaliste), de origem trotsquista (e que perdeu vários de seus integrantes, em diversas levas, ao Partido de Esquerda), denuncia “esta intervenção militar imperialista decidida por Hollande (…) Não será desta maneira que os malineses se libertarão de todos os fundamentalismos”.

O outro grande agrupamento de herdeiros de Leon Trotsky, a Luta Operária – União Comunista (Trotsquista) (Lutte Ouvrière), em comunicado assinado por sua secretária geral, Nathalie Arthaud,  denuncia a “intervenção militar, bem como toda a presença de tropas francesas em todas as partes na África: no Senegal, na Costa do Marfim, em Burkina Faso, no Tchade e em Djibuti”, ressalvando os interesses econômicos da classe dirigente francesa no subsolo malinês, e do vizinho Níger.

Fonte: http://esquerdacritica.wordpress.com/

http://esquerdacritica.wordpress.com/2013/01/26/a-esquerda-francesa-e-a-guerra-de-francois-hollande-no-mali/ (Com a Rede Democrática)

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