quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Goleada de Correa nas eleições no Equador

                                                       
                                                                  
Eduardo Tamayo G.

Os resultados das eleições presidenciais e legislativas no Equador traduziram-se em amplas vitórias do presidente Rafael Correa, reeleito à primeira volta, e do Movimento Alianza País. Têm o significado do esmagador apoio popular a um dos processos progressistas mais consequentes na América Latina. As tarefas e as dificuldades a enfrentar são agora acrescidas. Bastará enunciar três questões: o latifúndio, o controle monopolista da economia, a corrupção. A vitória de Correa e do movimento progressista de que é o principal rosto constituem um importante sinal positivo para toda a América Latina.

O presidente Rafael Correa foi reeleito à primeira volta com uma votação superior a 60%, segundo sondagens à boca das urnas realizadas pelas empresas CEDATOS e Opinión Pública Ecuador.

Segundo estes dados preliminares não oficiais, Correa ganhou em todas as províncias de
Equador, seguido pelo banqueiro Guillermo Lasso, que obteve 21% dos votos.

À excepção da denúncia de tentativas de piratagem à página web do Conselho Nacional Eleitoral, a jornada eleitoral decorreu de forma tranquila e normal tanto em nos locais eleitorais do Equador como nos do exterior.

O triunfo de Correa significa um triunfo da estabilidade num país que atravessou profundas crises políticas no decurso das quais vários governos corruptos e entreguistas foram derrubados pela mobilização social. É a primeira vez, em mais de três décadas, que um presidente mantém altos niveis de popularidade no final do seu mandato e é reeleito por ampla margem.

Neste sentido, a votação em Correa exprime um largo apoio à continuidade das suas políticas e uma oportunidade para que conclua as obras que vem empreendendo no que diz respeito a estradas, hospitais, instalações escolares, centrais hidroeléctricas, etc.

Alguns elementos podem explicar o contundente triunfo de Correa: crescimento económico,
baixas taxas de inflação e de desemprego e políticas de redistribuição do rendimento que se
traduziram num massivo investimento social em educação, saúde, habitação, atenção aos
deficientes e melhoria da qualidade dos serviços públicos (correios, segurança social, registo civil, função judicial).

Ao imprimir altos níveis de qualidade aos serviços públicos e ao colocá-los à disposição dos
sectores mais pobres da população, estes últimos não apenas passaram e ter-lhes acesso como também se sentem valorizados na sua dignidade, e isso explicaria o elevado apoio a Correa. Estes sectores foram, igualmente, beneficiados pelo abono de desenvolvimento que no mês de Janeiro subiu de 35 para 50 dólares mensais.

Um candidato à assembleia pelo Movimento Alianza País, cujo nome omitimos, considera que o voto em Correa é “trans-classista”, querendo dizer que seria composto por todos os sectores sociais. A gestão do governo, de acordo com esta versão, favoreceu certamente sectores empresariais aos quais a vida não tem corrido nada mal e que constituiriam o voto escondido a favor de Correa. O melhoramento das estradas, por exemplo, permite-lhes poupar tempo e dispor de maior facilidade para movimentar os seus produtos. Da mesma forma, as políticas económicas que limitam as importações de têxteis ou de calçado favoreceram o crescimento dos sectores económicos dedicados a esses ramos. Estes sectores empresariais já se teriam “acostumado” a pagar impostos e a cumprir as leis laborais porque isto permite-lhes manter melhores relações com os seus trabalhadores, o que se repercute em maior produtividade.

Do ponto de vista internacional, o triunfo de Correa representa a confirmação da tendência de governos progressistas conseguirem ser reeleitos como sucedeu no Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela e Nicarágua, e uma aposta no fortalecimento dos espaços de integração como a ALBA, a UNASUR e a CELAC. O governo de Correa irá enfrentar situações difíceis como o caso de Julian Assange, que se encontra asilado na embaixada de Equador em Londres, a lei dos Estados Unidos que sanciona os países que mantêm relações com o Irão, os processos instaurados pelas transnacionais contra o Estado equatoriano, entre outros.

Para a vitória de Correa contribuiu de maneira decisiva a fragmentação e a pobreza do discurso das oposições (de direita, esquerda e populistas) que apresentaram sete candidaturas presidenciais, sem que tenham podido unificar-se em três ou quatro tendências. Centradas todas no ataque ao que denominaram o autoritarismo, a intolerância e a concentração de poderes nas mãos de Correa, foram incapazes, especialmente do lado da direita representada pelo banqueiro Guillermo Lasso, pelo homem mais rico do Equador Álvaro Noboa e pelo ex presidente Lucio Gutiérrez, de propor alternativas credíveis e medianamente estruturadas e coerentes.

Guillermo Lasso, que se colocou em el segundo lugar, concentrou o voto anti-correista dos sectores da direita tradicional que compartilham de algumas das suas teses esgrimidas na campanha, como a de revogar os impostos sobre os mais ricos, assinar tratados de comercio livre e abrir el país ao investimento privado estrangeiro. Lasso é membro numerário do Opus Dei e mantém relações com José María Aznar do Partido Popular de Espanha, que actua na América Latina representando a direita internacional e o capital transnacional.

A campanha

Outra coisa que influiu nos resultados eleitorais foi a concepção da campanha de Correa. Mesmo tendo em conta a grande popularidade do Presidente, o movimento Alianza País partiu do critério de actuar como se não tivesse assegurado um só voto e privilegiou a campanha de rua, a proximidade com as pessoas, as concentrações em povoações e cidades, complementando-a com a utilização de meios e redes sociais. Este movimento já acumulou a experiencia de oito vitórias eleitorais consecutivas.

Embora fosse previsível o triunfo de Correa, não estava assegurada a maioria na Assembleia
Nacional composta por 137 membros, pelo que a estratégia do presidente se focou na
Assembleia. “Não me deixem só”, dizia Correa aos seus seguidores nas concentrações enquanto fazia apelo ao voto em bloco na sua lista de candidatos à Assembleia. Embora alguns candidatos à Assembleia tenham sido contestados, como inclusivamente o foi também o candidato à Vice-presidência, isto não parece ter tido repercussão nos resultados finais que dariam uma folgada maioria a Alianza País na legislatura. A influência do carisma de Correa sobrepôs-se a essas reservas.

Ampliação da democracia

O direito de voto das mulheres foi reconhecido em princípios do século XX. Em 1979, quando o Equador regressou ao regime democrático, foi reconhecido este direito aos analfabetos. Em 2013, e graças à nova Constituição, avançou-se muito mais na inclusão política. Agora puderam votar os jovens de 16 a 18 anos, os militares e polícias, os emigrantes, os presos sem sentença transitada em julgado, os estrangeiros residentes. De acordo com esta política, foram tomadas medidas para que os polícias e os trabalhadores dos transportes ajudassem as pessoas com deficiência e pessoas de terceira idade a deslocar-se aos locais eleitorais.

Este novo triunfo de Correa coloca grandes desafios no que diz respeito ao cumprimento das propostas contidas no programa de Alianza País de governo 2013-2017, e responder às expectativas de uma cidadania que assume cada vez mais o seu próprio poder. No horizonte das contas pendentes está o ataque à escandalosa concentração da terra, a redistribuição da água, a lei de comunicação, o travão aos grupos monopolistas que concentram a economia, a abertura do diálogo político com os povos indígenas, o combate a fundo à corrupção, entre outros.

Fonte original: http://www.alainet.org/active/61662

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