segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Por dentro do governo invisível: Guerra, Propaganda, Clinton&Trump

                                                                             
John Pilger, Global Research, tradução do Coletivo Vila Vudu 

O jornalista norte-americano Edward Bernays é frequentemente apresentado como inventor da propaganda moderna.

Sobrinho de Sigmund Freud, foi Bernays quem cunhou a expressão "relações públicas", eufemismo para o jornalismo de boatos e mentiras, para burlar eleitores e consumidores.

Em 1929, Bernays persuadiu as feministas a promover o consumo de cigarros pelas mulheres, com um carro que desfilou no Desfile da Páscoa em NY, naquele ano – comportamento então considerado avançadíssimo e de igualdade entre homens e mulheres. 

Uma militante feminista, Ruth Booth, declarou "Mulheres! Acendam outra tocha da liberdade! Derrubem mais um tabu sexista!" A influência de Bernays foi muito além da publicidade. Seu mais retumbante sucesso de publicidade foi ter convencido os norte-americanos a mergulhar no massacre que foi a "1ª Guerra Mundial".

O segredo, disse ele, estava em fazer "a engenharia do consenso" [ing. "engineering the consent"], construir o consenso dentro da opinião pública, de modo a "controlar e dirigir [a opinião pública] como você deseje, sem que homens e mulheres saibam que estão sendo dirigidos".

Para Bernays, esse é "o verdadeiro poder governante em nossa sociedade"; deu-lhe o nome de "governo invisível".

Jamais o governo invisível teve mais poder do que hoje, e jamais foi menos estudado e mais mal compreendido. Em minha carreira de jornalista e cineasta, jamais vivi momento ou circunstância em que a propaganda estivesse tão intrometida na vida de homens, mulheres e crianças como está hoje; e jamais vivi momento em que menos se trabalhasse a favor da verdade e contra a propaganda.

Imagine duas cidades. Ambas sitiadas pelas forças do governo daquele país. Ambas ocupadas por fanáticos que cometem atrocidades terríveis, como degolar gente, por exemplo. Mas há uma diferença vital. Num dos sítios, os soldados do governo são descritos como libertadores pelos jornalistas ocidentais que viajam com a tropa e que narram batalhas e ataques aéreos sempre gloriosos, como cenas de um filme arrasa-quarteirões. E lá estão as primeiras páginas dos jornais, com aqueles heróis fazendo o "V" da Vitória. Praticamente é como se nem houvesse mortos.

Na outra cidade – em país próximo – está acontecendo precisamente a mesma coisa. Forças do governo estão sitiando uma cidade controlada pela mesma ninhada de fanáticos. Uma diferença é que esses fanáticos são apoiados, financiados, alimentados e armados por "nós" (por EUA e Grã-Bretanha). Os terroristas mantêm até um centro 'de mídia' equipado e sustentado por britânicos e norte-americanos. Outra diferença é que os soldados do governo que sitiam essa outra cidade são "os bandidos", condenados por atacar e bombardear a cidade – exatamente o que fazem os soldados "mocinhos", os soldados "do bem", na primeira cidade.

Confuso? Menos do que parece. Esse é o duplo-padrão básico, a própria essência da propaganda. Falo, claro, do sítio à cidade de Mosul, pelas forças do Iraque, apoiadas e financiadas por EUA e Grã-Bretanha; e do sítio à cidade de Aleppo ocupada por terroristas, que está sob ataque de forças do governo sírio apoiadas pela Rússia. O sítio de Mosul é "do bem". O sítio de Aleppo, de resistência contra terroristas invasores... é "do mal".

Muito menos noticiado é que nenhuma dessas duas cidades estaria hoje ocupada por fanáticos nem estaria sendo devastada pela guerra, se Grã-Bretanha e EUA não tivessem invadido o Iraque em 2003. Essa empreitada criminosa foi construída sobre mentiras em tudo semelhantes à propaganda, a mesma propaganda que agora distorce nossa capacidade para compreender a guerra na Síria.

Sem os ensurdecedores tambores batidos pela propaganda travestida como se fosse jornalismo, os monstros do ISIS e da Al-Qaeda e Frente al-Nusra e o resto da gangue jihadista talvez nem existisse; e talvez o povo sírio não estivesse obrigado hoje a lutar para salvar a própria vida.

Alguns talvez lembrem uma série de matérias da BBC em 2003, em que os jornalistas viravam-se para as câmeras de 'informavam' que Blair afinal estaria "vingado" pelo que, na verdade, foi o maior crime do século. As redes de TV nos EUA produziram o mesmo truque para validar o que George W. Bush fazia. Fox News mostrou Henry Kissinger para reforçar as tolices que Colin Powell inventava e repetia. No mesmo ano, logo depois da invasão, filmei uma entrevista em Washington com Charles Lewis, renomado jornalista norte-americano de investigação. Perguntei a ele: "O que teria acontecido se a 'imprensa mais livre do mundo' tivesse realmente denunciado como propaganda o que, todos sabiam, não passava de propaganda pró-guerra?"

Lewis respondeu que, se os jornalistas tivessem cumprido o dever deles, "pode-se dizer, com boa chance de acertar, que os EUA não teriam invadido o Iraque e não haveria guerra naquele país".

Foi declaração chocante, mas apoiada por outros jornalistas famosos aos quais fiz a mesma pergunta – Dan Rather da CBS, David Rose do Observer e jornalistas e produtores na BBC, que pediram para não ser identificados. Em outras palavras, se os jornalistas tivessem feito jornalismo, se tivessem investigado o que não passava de propaganda, em vez de repetir e amplificar a propaganda sem qualquer investigação, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças estariam vivos, e não haveria ISIS, nem Aleppo nem Mosul estariam sitiadas. Não teria havido o atentado no Metrô de Londres dia 7/7/2005. Não haveria tsunamis de refugiados; não haveria esses campos miseráveis, de concentração de refugiados.

Quando atrocidade terrorista aconteceu em Paris, novembro passado, o presidente François Hollande imediatamente mandou aviões para bombardearem a Síria! E daí brotou mais terrorismo, que gerou, como se previa que gerasse, efeito direito das bombas de Hollande, que a França também já estava "em guerra", "sem perdão". A violência de Estado e a violência jihadista alimentam uma a outra: eis a única verdade que nenhum líder nacional tem coragem de reconhecer.

"Quando a verdade é substituída pelo silêncio" – disse Yevtushenko, dissidente do governo soviético – "o silêncio é mentira."

O ataque contra o Iraque, o ataque contra a Líbia, o ataque contra a Síria aconteceram porque o governante, em cada um desses países, não era fantoche e vassalo do ocidente. A folha corrida de infrações aos direitos humanos, de um Saddam ou de um Gaddafi não teve importância alguma, para as potências atacantes. Grave, nos dois casos, foi que esses governantes resistiram contra obedecer ordens e entregar a empresas norte-americanas o controle dos destinos do país deles.

O mesmo destino teria Slobodan Milosevic, desde o momento em que se recusou a assinar um "acordo" pelo qual entregaria a Sérvia à ocupação, para ser convertida à economia de mercado. O povo da Sérvia foi bombardeado, Milosevic foi acusado e processado no Tribunal de Haia. Não se tolera independência nessa escala. Como WikiLeaks revelou, o presidente Bashar al-Assad da Síria só foi atacado depois que não aceitou, em 2009, que se construísse um oleoduto que atravessaria o país dele, do Qatar até a Europa.

A partir desse momento, a CIA planejou a destruição do governo da Síria, usando como arma seus fanáticos jihadistas – os mesmos que, hoje, estão cercando civis inocentes em Mosul e no leste de Aleppo. Por que nada disso jamais foi tema dos 'noticiários'? Um ex-funcionário do Ministério de Relações Exterior (Foreign Office) da Grã-Bretanha, Carne Ross, responsável por operar as sanções contra o Irã, respondeu-me: "Nós fornecíamos factoides inócuos aos jornalistas, depois de 'desinfetados' pela inteligência. Ou nada dizíamos. Funcionou assim."

O cliente medieval do ocidente, a Arábia Saudita – a quem EUA e Grã-Bretanha vendem bilhões de dólares em armas – está hoje destruindo o Iêmen, país tão pobre que, nos melhores tempos, 50% das crianças sofrem de subnutrição. Procurem no YouTube e verão o tipo de bombas gigantes – "nossas bombas" – que os sauditas lançam contra vilas miseráveis e contra casamentos e funerais. As explosões são equivalentes à de pequenas bombas atômicas. Os operadores de canhões e armas trabalham lado a lado com especialistas britânicos. Nada disso jamais foi 'notícia', nos 'noticiários' noturnos.
                                             
A propaganda é mais efetiva quando o consenso é construído por gente de fina educação – Oxford, Cambridge, Harvard, Columbia – com carreira no 'jornalismo' da BBC, do Guardian, do New York Times, do Washington Post. Essas organizações são conhecidas como "a imprensa liberal". Se autoapresentam como tribunas progressistas, cheias de luzes 'críticas', a serviço da mais recomendável visão de mundo dos mais progressistas: são contra o racismo, a favor do feminismo e dos grupos LGBT. E belicistas ferozes.

Ao mesmo tempo em que falam na defesa de causas feministas, apoiam os grupos e guerras mais violentos, que negam todos os direitos a incontável número de mulheres, inclusive o direito à vida.

Em 2011, a Líbia, então um estado moderno, foi destruída até ser convertida num monte de ruínas, sob o pretexto de que Muammar Gaddafi estaria cometendo genocídio contra o próprio povo. A 'notícia' esteve em todos os 'noticiários' em todo o mundo, incansavelmente. Sempre sem prova alguma. Sempre foi mentira.

Na verdade, Grã-Bretanha, Europa e EUA queriam o que gostam de chamar de "mudança de regime" – codinome 'jornalístico' para "golpe para derrubar governo e estado não 'cordatos'" – na Líbia, o maior produtor de petróleo do continente africano. A influência de Gaddafi no continente e, sobretudo, a independência de um governo altamente popular no próprio país, eram forças que não podiam ser toleradas. Então Gaddafi foi assassinado por loucos fanáticos, apoiados e armados por EUA, Grã-Bretanha e França. Hillary Clinton festejou rindo, diante das câmeras a morte de Muamar Gaddafi, amado de seu povo: "Viemos, vimos, ele morreu!"

A destruição da Líbia foi um triunfo da 'mídia-empresa'. Com os tambores da guerra já soando no ar, Jonathan Freedland escreveu no Guardian: "Embora os riscos seja bem reais, há argumentos de muito peso a favor da intervenção". Intervenção é terminologia de salão de chá do Guardian, cujo significado real, para a Líbia, foi morte e destruição.

Segundo os próprios registros oficiais da organização, a OTAN disparou 9.700 "missões de ataque" contra a Líbia, das quais mais de 1/3 visaram alvos civis. Usaram mísseis com ogivas de urânio. Basta examinar as imagens das ruínas de Misurata e Sirte, e as covas coletivas encontradas pela Cruz Vermelha. O relatório da Unicef registra que "a maior parte das crianças mortas tinham idade inferior a 10 anos". Consequência direta dessa 'ação', Sirte tornou-se capital do ISIS.

A Ucrânia é outro triunfo da mídia-empresa. Jornais respeitáveis como liberais, como New York Times, Washington Post e o Guardian e emissoras líderes mundiais de TV e rádio, como BBC, NBC, CBS, CNN tiveram papel decisivo na operação de propaganda para condicionar o público telespectador e radioaudiente a aceitar uma nova e muito perigosa guerra fria. Todas essas empresas distorceram a verdade dos eventos na Ucrânia, apresentados como atos malignos cometidos pela Rússia. Só mentiras. O golpe na Ucrânia em 2014 foi trabalho dos EUA, auxiliados pela Alemanha e pela OTAN.

Essa inversão da realidade é tão pervasiva, que nada se vê-ouve-lê em veículos da mídia-empresa sobre as provocações militares dos EUA, contra a Rússia. Nada é notícia. Todos os fatos são suprimidos e ocultados por trás de uma campanha de implantar o medo como só vi no tempo de minha juventude, na primeira guerra fria. Mais uma vez, os 'vermelhos' estão chegando, os Ruskies vão pegar vocês, comandados por um neo-Stálin, que é como a revista The Economist mostra Putin, o monstro.

A ocultação da verdade sobre a Ucrânia é um dos mais impressionantes bloqueios de noticiário de que consigo lembrar. Os fascistas autores do golpe em Kiev são da mesma ninhada dos que apoiaram a invasão nazista contra a União Soviética em 1941. De todos os governantes que sabem do neocrescimento do neoantissemitismo neofascista na Europa, só o presidente Vladimir Putin tem dado repetidos sinais de alerta. Mas é Vladimir Putin, e Vladimir Putin não conta.

Muitos na mídia ocidental trabalharam muito para apresentar a população de russos étnicos falantes de russo da Ucrânia como se fossem 'estrangeiros' no próprio país, como agentes de Moscou, praticamente nunca como ucranianos desejando uma federação dentro da Ucrânia e como cidadãos ucranianos resistindo contra golpe orquestrado do exterior contra o governo que os próprios ucranianos elegeram.
                                                             
Pode-se dizer que há quase uma joie d’esprit de reunião de escola de belicistas. Os batedores de tambor do Washington Post incitando à guerra com a Rússia são os mesmos redatores de editoriais que publicaram a mentira de que Saddam Hussein teria (não tinha) armas de destruição em massa.

Para a maioria de nós, a campanha presidencial nos EUA é show midiático freak, no qual Donald Trump é o arquivilão. Mas Trump é amaldiçoado por todos os poderosos nos EUA por motivos que pouco têm a ver com o comportamento e as opiniões esdrúxulas do candidato. Para o governo invisível em Washington, o imprevisível Trump é um obstáculo ao projeto dos EUA para o século 21: manter a hegemonia e a dominação pelos EUA no mundo e subjugar a Rússia e, se possível, também a China.

Para os militaristas em Washington, o real problema com Trump é que, em seus momentos de lucidez, ele não dá sinais de desejar guerra contra a Rússia; diz que quer conversar com o presidente russo, não fazer guerra contra ele; diz que quer conversar com o presidente da China. No primeiro debate com Hillary Clinton, Trump prometeu que não será o primeiro a usar armas atômicas em seja qual for o conflito. Disse que "Com certeza não dispararei o primeiro ataque. Se a alternativa nuclear acontece, acabou-se." Como se fosse novidade.

Estaria falando a sério? Quem sabe? Trump muito frequentemente se contradiz ele mesmo. Mas o que está bem claro é que Trump é considerado grave ameaça ao status quo mantido pela vasta máquina da segurança nacional que governa os EUA, não importa quem esteja na Casa Branca. A CIA o quer derrotado. O Pentágono o quer derrotado. A mídia o quer derrotado. Até o próprio partido de Trump o quer derrotado. O homem é uma ameaça aos governantes do mundo – diferente de Clinton que não deixa dúvidas de que, sim, está pronta a declarar guerra a duas superpotências atômicas, Rússia e China.

Clinton conhece a receita, do que ela própria não se cansa de vangloriar-se. O currículo dela é assustadora prova do que ela é capaz. Como senadora, apoiou o banho de sangue no Iraque. Quando concorreu contra Obama em 2008, ela ameaçou "obliterar totalmente" o Irã. Como secretária de Estado, participou dos planos secretos e ilegais para destruir os governos da Líbia e de Honduras e pôs em andamento a possibilidade de confronto com a China. Agora, só fala de uma Zona Aérea de Exclusão que ela quer ver implantada sobre a Síria – provocação de guerra direta contra a Rússia. Clinton pode bem vir a ser a mais perigosa presidente dos EUA que vi chegar ao poder durante toda minha vida – título para o qual a competição é duríssima.

Sem um fiapo de prova, Clinton pôs-se a acusar a Rússia de apoiar Trump e de ter hackeado seus emails. Divulgados por WikiLeaks, esses emails revelam que tudo que Clinton diz no privado, em discursos e "palestras" compradas por ricos e poderosos é o exato oposto do que ela diz publicamente. Por isso é tão furiosamente importante silenciar e ameaçar Julian Assange. Como editor de WikiLeaks, Assange conhece a verdade. E deixem-me esclarecer desde já e tranquilizar os muitos que se preocupam: Assange está bem; e WikiLeaks está operando a pleno vapor.

Hoje, o maior corpo de guerra liderado pelos EUA desde a 2ª Guerra Mundial está em ação – no Cáucaso e no leste da Europa, na fronteira com a Rússia e na Ásia e no Pacífico, onde o alvo é a China. Tenham em mente essa informação, quando o circo eleitoral alcançar o clímax, dia 8 de novembro. Se Clinton vencer, um coro de comentaristas beócios celebrará a coroação dela como se fosse passo gigantesco na libertação das mulheres. Nenhum deles falará das vítimas de Hillary Clinton: mulheres sírias, mulheres iraquiana, mulheres líbias. Nenhum deles mencionará os exercícios de defesa civil em andamento na Rússia – para provocar a Rússia. Nenhum deles fará qualquer referência às "tochas da liberdade" de Edward Bernay.

O porta-voz de George Bush chamou as mídia-empresas, certa vez, de "possibilitadores cúmplices".

Vindo de alto funcionário de governo cujas mentiras, possibilitadas pelas mídia-empresas, causaram todo aquele sofrimento, essa designação é como um aviso da história.

Em 1946, o acusador no Tribunal de Nuremberg disse, falando da mídia-empresa alemã: "Antes de qualquer grande agressão, eles iniciavam uma campanha pela mídia, planejada para enfraquecer as vítimas e preparar psicologicamente o povo alemão para o ataque que viria. No sistema de propaganda, os veículos diários das mídia-empresas, jornais e rádios, sempre foram as armas mais decisivas e mais mortais."

(Com o Diário Liberdade)

domingo, 30 de outubro de 2016

Aluno de doutorado é impedido de dar aulas em universidade da Alemanha por ser comunista

                                                           

Decreto de 1972 determina que aspirantes a cargos públicos filiados a partidos devem pedir autorização para serviço secreto alemão para evitar 'extremismos'
      
Kerem Schamberger, de 30 anos, formado em comunicação e aluno de doutorado na Universidade Ludwig-Maximilian (LMU, sigla em alemão), em Munique (Alemanha), está sendo impedido de lecionar na mesma instituição por ser comunista.

De acordo com um decreto de 1972, todos os funcionários do serviço público do país devem passar por uma averiguação do Estado para evitar 'radicalismos', de modo que, para trabalhar no setor, membros de partidos precisam apresentar um pedido de aprovação para o serviço secreto alemão.

Shamberger, além de filiado, é o porta-voz em Munique do Partido Comunista Alemão, o DKP. Ele também já foi porta-voz da Juventude Trabalhadora Socialista Alemã, apoiou o grupo Juventude Vermelha e a Associação das Vítimas do Regime Nazista – Federação dos Antifascistas e das Antifascistas, todos vigiados pelo Departamento Federal de Proteção da Constituição, que os classifica como extremistas.

A LMU pediu em julho autorização para que Shamberger pudesse lecionar — exigência para todos os alunos de doutorado —, mas ainda não obteve resposta.

Para ele, ser impedido de lecionar é anticonstitucional, visto que a Carta Magna alemã garante a livre escolha de uma profissão. Ao jornal diário Süddeutsche Zeitung, Shamberger afirmou, no último dia 21, que a situação pela qual ele está passando contribui para “demonizar os comunistas” e que é uma forma de intimidação para aqueles que pensam em se filiar ao DKP.

“Conheço jovens que queriam entrar para o partido, mas que pensam duas, três vezes antes porque sabem as consequências que isso pode ter caso queiram fazer carreira no setor público”, disse.

À imprensa, as autoridades disseram que não podem dar detalhes do caso por questões de privacidade . A LMU e o orientador de Shamberger, Michael Meyen, já declararam apoio ao doutorando.

O chamado “Decreto dos Radicais” foi criado em 1972 durante o governo do chanceler Willy Brandt (1969 – 1974) e especifica que a fidelidade à ordem constitucional deve ser um requisito para trabalhar no setor público. A intenção, porém, quando o decreto foi criado, era principalmente acabar com a influência do comunismo na então Alemanha Ocidental.

Desde que a lei foi criada até 1991, cerca de 1,4 milhão de pessoas passaram pelo processo pelo qual Shamberger está passando agora. Só este ano, entre janeiro e agosto, 537 candidatos passaram pela checagem.

Atualmente, apesar de o decreto ainda vigorar, cada Estado do país o aplica de maneira diferente. Além disso, são cada vez mais raros os casos em que pessoas são impedidas de ocuparem cargos públicos por causa de suas filiações.

(Com Opera Mundi)

Anita Prestes lança livro sobre o pai, Luiz Carlos Prestes, na III Bienal do Livro de Brasília

                                                                    

                (Entrevista concedida ao Correio Braziliense)

A escritora nasceu em privilegiado ninho político, sendo filha de Luiz Carlos Prestes e de Olga Benario


Levando em conta que cada momento histórico tem características particulares, a escritora Anita Leocadia Prestes é precavida o suficiente para não tecer comparações quando o tema cerca a atual crise política nacional. Nascida em privilegiado ninho político — filha de Luiz Carlos Prestes e de Olga Benario –, Anita registra muitas certezas na obra Luiz Carlos Prestes – Um comunista brasileiro, com lançamento às 11h de hoje, no Auditório Manoel de Barros do Estádio Nacional Mané Garrincha, com sessão de autógrafos prevista para depois de um debate no local. O evento integra a III Bienal Brasil do Livro e da Leitura.

Pesquisas em atas de reuniões do Partido Comunista, manuscritos em correspondências pessoais, dados de autocrítica e os bastidores da relação do pai com o partidão, levaram a autora, presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes e professora do programa de pós-graduação em História Comparada da UFRJ, a certezas, numa conjuntura que a coloca em evidência ainda mais ressaltada, dada a indicação ao Prêmio Jabuti.

Assistente privilegiada do pai, com mais de 30 anos aplicados numa carreira e proximidade invejáveis, Anita Leocadia, aos 79 anos, refuta qualquer descrença paterna no Brasil, mesmo com legados duros para o revolucionário destratado tanto a ponto da abraçar a clandestinidade. “Prestes possuía o otimismo da vontade, considerando que nosso povo encontraria o seu caminho da emancipação social e nacional”, pontua a escritora, ao Correio.

Preservar a história dos pais, por meio do instituto mencionado, leva a doutora em história social ao reforço da militância de ex-exilada que se especializou em economia e filosofia na antiga União Soviética. “No site do instituto, abordamos temas atuais do ponto de vista das posições marxistas”, explica. 

Longe do esfacelamento do bem comum proposto na sociedade absorta em consumo e individualidade, Anita Leocadia não pestaneja, ao defender visões pessoais. “As ideias comunistas têm uma base científica revelada por Karl Marx em sua obra, principalmente em seu livro O capital. Portanto, continuam válidas e devem ser divulgadas e aplicadas de maneira criativa e não como dogmas”, observa.

Entrevista // Anita Leocadia Prestes

Luiz Carlos Prestes teve imperfeições? Qual foi o maior pecado estratégico, no campo político?

Quando convencido do fracasso de uma determinada posição política, Prestes jamais vacilou em rever os erros políticos cometidos por ele e pelo PCB, partido do qual foi secretário-geral durante quase 40 anos. A partir dos anos 1970, Prestes passou a considerar que os principais erros cometidos pela direção do PCB foram de caráter estratégico, ou seja, a orientação política, que se mostrou errônea, de postular que no Brasil seria necessária uma revolução nacional libertadora como primeira etapa para a realização da revolução socialista.

O audiovisual se enamorou das reproduções das figuras dos seus pais. Quando a senhora assiste às produções, o que percebe de mais fantasioso e em que qualidade as obras se aproximaram da realidade?

Penso que, entre os filmes existentes sobre meus pais, o melhor ainda é o filme Olga, pois manteve algum compromisso com a verdade. O que não se deu, por exemplo, com o filme O Velho, que não passa de uma falsificação da história ao denegrir a imagem dos meus pais e dos comunistas.

Getúlio Vargas, sob algum prisma na ação do governo, é digno de alguma ínfima admiração?

Não penso que Getúlio Vargas mereça admiração dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos. Creio que é necessário analisar sua atuação política dentro do contexto da época. Ele representou os interesses de determinados setores das classes dominantes do Brasil no período em que viveu.

Ao criar o livro, uma segura fonte de referência para qualquer brasileiro, qual o maior desafio?

Como digo na apresentação da obra, não tive a pretensão de produzir a biografia definitiva de Luiz Carlos Prestes, porque na história e na historiografia não existe nada definitivo. Novos documentos podem surgir e transformar a interpretação dos fatos. Também não há a pretensão de revelar a grande e única verdade sobre o célebre Cavaleiro da Esperança. Como toda biografia, é um recorte da vida do biografado.

FONTE: Correio Braziliense

(Com Prestes a Ressurgir)

Nota da Frente Nacional de Luta da Classe Trabalhadora (FNCLT)

                                                           
                     Em defesa da Revolução Bolivariana
A Frente Nacional de Luta da Classe Trabalhadora (FNLCT) repudia categoricamente o irresponsável chamado à “greve nacional” feito pela direita pró-imperialista e pela oligarquia apátrida, no marco do plano de guerra não convencional contra o povo venezuelano, dirigido pelo Comando Sul dos Estados Unidos com a finalidade de derrubar o Governo nacional e destituir o processo bolivariano de mudanças.

Ante o aumento do confronto político determinado pela pretensão recolonizadora do imperialismo norte-americano, faz-se necessário que a classe operária e o povo trabalhador da cidade e do campo lutem e trabalhem intensamente para defender a soberania nacional e as conquistas democráticas, aprofundando o processo revolucionário.

A agressão multifacetada contra nosso povo deve ser derrotada com mais e melhor revolução. Toda entidade de trabalho ou atividade laboral que pretenda ser paralisada ou sabotada pelo patronato e a extrema direita, deve ser tomada sob o controle das e dos trabalhadores. Porém, também é preciso exigir do Governo maior coerência entre o dizer e o fazer, maior compromisso com os interesses da classe operária e do povo trabalhador para derrotar os grupos monopólicos, os especuladores e a burocracia corrupta.

Pela derrota do plano desestabilizador!
Pelo aprofundamento da Revolução!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

sábado, 29 de outubro de 2016

Como funciona a máquina de propaganda do Ocidente

                                                                     

Nikolai Starikov

1. O seu princípio fundamental é a fragmentação. Isto pode parecer estranho, mas a fragmentação é o fundamento supremo da lavagem ao cérebro ocidental. 

Não é segredo que o sistema de ensino nas "democracias avançadas" está concebido de forma a criar artificialmente uma visão muito estreita do mundo. Em contrapartida, o sistema escolar soviético tenta criar uma visão abrangente do mundo, mesmo entre os alunos mais preguiçosos, enchendo-lhes a cabeça com alta matemática, física, química e astronomia, por mais improvável que seja eles virem a usar todos esses conhecimentos. A compreensão da forma como o mundo está interligado, a causa e o efeito, e a capacidade de juntar tudo e analisar diversos factos, chama-se "pensamento analítico". É o primeiro passo para a criatividade. 

Todas estas coisas desapareceram do sistema de ensino ocidental. O nosso país tentou adotar este sistema, numa "reforma do ensino", que tem um objetivo claro: a fragmentação da sociedade, não apenas em classes, mas em castas. A casta dirigente recebe um ensino clássico em escolas privilegiadas, as Cambridges e Eatons, em que se ensina uma visão abrangente do mundo e em que são forjados os futuros líderes e as elites do mundo ocidental. 

Todos os restantes recebem um "sistema de ensino avançado" que, na prática, aboliu os trabalhos de casa, e os estudantes acabam por quase nem saber ler. Quem quer que tenha frequentado a escola na URSS e conheça as escolas ocidentais poderá dizer como o programa na União Soviética era muito mais sólido. Os nossos estudantes do liceu resolviam problemas que os ocidentais estudavam na faculdade. 

A ênfase neste sistema de ensino no Ocidente não acontece por acaso. 

A fragmentação da consciência e a falta de uma visão abrangente do mundo são características da percepção da realidade de uma criança. Afinal, as crianças vivem no seu mundo, um mundo de jogos, de contos de fadas e de sonhos. Acabam por desenvolver uma visão adulta do mundo, com base na experiência, observando o que os rodeia segundo o que é a realidade. 

2. O objetivo do sistema de ensino ocidental é criar crianças. Crianças crescidas. Os únicos adultos no sistema são os formados nas universidades de elite que recebem um ensino a sério. Daí, a ingenuidade espantosa dos ocidentais que caem facilmente em todo o tipo de absurdos, se lhos repetirem na TV. Por exemplo, a ideia de que os EUA são um farol de liberdade e democracia para todo o mundo, que, em vez de defenderem os seus interesses, apenas procuram disseminar uma "liberdade" bastante nebulosa. 

Uma criança é fácil de convencer – o segredo é repetir-lhe uma história com convicção e energia. A máquina da informação ocidental é convincente porque regurgita o mesmo ponto de vista por toda a parte: não se apresenta outro ponto de vista. Ocorre o mesmo efeito, quando uma criança faz a mesma pergunta, primeiro à mãe, depois ao pai e, finalmente à avó. Perante a mesma resposta, convence-se que assim deve ser. 

3. As crianças adoram brincar e divertir-se e a civilização ocidental moderna amplia a brincadeira e o divertimento eternamente. Há milhares de jogos e centenas de aplicações para jogos. Há filmes, livros, redes e locais especiais para jogar. Faz-se tudo para garantir que os adultos brinquem tanto quanto queiram. Será importante para a sociedade e para a humanidade, no seu todo, que as pessoas brinquem assim tanto? 

Qual é o objetivo da brincadeira para a espécie humana? Não se prevê qualquer benefício. Mas é conveniente poder governar indivíduos que só querem divertir-se, como crianças. Esta tendência leva à imaturidade. As pessoas não querem ter filhos – não admira, já que as crianças não constituem família nem procriam. É-lhes desnecessário. Ter uma família e criar filhos nossos geralmente deixa pouco tempo livre para os jogos e para o "divertimento". 

Estas três características da civilização ocidental estão por trás da estratégia usada para manipular o Zé Povinho. 

Colocam-se com êxito, na cabeça dele, pensamentos coloridos e fragmentados. Este Zé Povinho, homem-criança, o ocidental médio, não tem uma compreensão real do que acontece e está plenamente disposto a acreditar numa história, se ela for bastante colorida e repetida bastantes vezes. 

Então, como distinguir uma manipulação de uma apresentação honesta dos factos? 

    1. Os manipuladores vão apelar às nossas emoções, usando os sentimentos – e uma quantidade mínima de factos – para criar uma impressão falsa. 
     2. Os manipuladores vão apresentar os factos na sequência errada, violando a lógica, invertendo a causa e efeito. Vão mostrar, invariavelmente, um fragmento do que está a acontecer, mas nunca o quadro completo. 

Reparem como as campanhas dos meios de comunicação ocidentais, assim como as dos nossos liberais pró-ocidentais, que estão ligados ao Ocidente por um cordão umbilical invisível, são sempre fragmentadas e emotivas. 

Em agosto de 2008, "eram todos georgianos". Noutra altura, estavam a lutar contra a "tirania de Saddam Hussein". Uns anos depois, "reinava grande liberdade na Ucrânia", quando queimaram e apedrejaram a força policial desarmada "Berkut". Depois, de repente, estão cheios de preocupações quanto ao destino de Alepo, embora ainda ontem, não se preocupassem minimamente com o destino de Donetsk ou de Damasco e de Homs. A seguir, metem os pés pelas mãos quanto a "Putin a envenenar Litvinenko com polónio", e ninguém se preocupa em saber se isto foi verdade – um método assim certamente já teria envenenado mais de uma pessoa, possivelmente toda a cidade de Londres. 

Colocam um pequeno fragmento de informações na boca do Zé Povinho ocidental, um homem-criança, e embrulham-no numa bela imagem televisiva. A imagem mostra camiões queimados, mas uma total ausência de crateras de bombas. Todos os que veem acreditam que a imagem mostra o resultado de um ataque da força aérea russa a uma coluna humanitária. Ninguém denuncia o facto de que, se a coluna tivesse sido realmente atingida por bombas aéreas, os camiões não se tinham incendiado, teriam sido pulverizados. Mas a imagem é a cores vivas e tão convincente! 

Quem é o culpado pelo dilúvio de refugiados na Europa? Obviamente, os dirigentes europeus que abriram as comportas do continente a milhões de refugiados, principalmente do Afeganistão e de outros países do Médio Oriente. Mas o que é que diz a máquina de propaganda ocidental? A inundação de refugiados é culpa da Rússia, porque esta dificulta o derrube de Assad. Se a Rússia não tivesse interferido, a guerra já estaria acabada e ninguém teria que fugir para a Europa. 

A mentira não é apenas uma mentira óbvia, é uma dupla mentira: Se anseiam pela paz na Síria, não apoiem quem a violou – ou seja, a "oposição". Há seis anos, não havia refugiados sírios rumo à Europa, embora Bashar al-Assad estivesse vivo e saudável como seu dirigente. As ações da Rússia destinam-se a repor esse status quo anterior à guerra. Mas a Rússia está a ser acusada pelo derramamento de sangue e pela destruição da Síria e também pelo facto de uns 100 mil refugiados terem ido parar à Alemanha. 

Quando o Pentágono ou o Departamento de Estado, muito a sério, referenciam "provas do Facebook", não estão a gozar nem a ser desonestos. Também eles foram educados PARA ISSO. É por isso que alguns deles acreditam genuinamente que essas informações são verdadeiras. Evidentemente, os adultos, a mamã e o papá nunca mentiriam ao seu filhinho, não é? Portanto, a criança acredita genuinamente que, se se recusar a comer a sopa, aparecerá um papão assustador, zangado com a sua falta de apetite – com todas as consequências. 

A criança nem sequer concebe a ideia de que não existe nenhum papão e que a mãe o inventou, para atingir o seu objetivo prático (alimentar a criança relutante). Um ocidental não pode acreditar que o filme sobre "ataques russos a uma coluna humanitária" possa ter sido fabricado, ou que o MI-6 possa ter envenenado Litvinenko com sais de tálio, ou que os meios de comunicação ocidentais desçam tão baixo como a mostrar "motins em Moscovo" com palmeiras ao fundo (porque, na realidade, a cena passa-se com motins em Atenas). Têm a certeza que um "país civilizado" nunca entraria numa falsificação destas? 

Assim, agora o Ocidente e a Quinta Coluna na Rússia "são residentes de Alepo" ("Je suis Aleppo!"), apesar de nenhum deles se importar com a Síria em geral e com Alepo em particular. Só que, agora, os projetores do circo de informações ocidentais estão virados para aquele lado. Portanto, toda a gente olha obedientemente naquela direção, observando apenas o que lhe mostram. 

Mas não se preocupem, daqui a nada vão esquecer tudo sobre Alepo. Vão mostrar-lhes e contar-lhes um conto assustador, novinho em folha, e o infantil Zé Povinho vai acreditar nisso. Vão começar a preocupar-se com alguém ou com qualquer coisa… até que a máquina de propaganda ponha em destaque outros factos, noutro país, deixando de noticiar a tragédia de Donbas ou das diversas cidades da Síria, ou do Iémen, ou de centenas de outros locais do planeta, cujas tragédias diárias recebem dos meios de comunicação ocidentais apenas um frio encolher de ombros. 

15/outubro/2016
O original encontra-se no blogue de Nikolai Starikov e a versão em inglês em 
russia-insider.com/en/politics/how-western-propaganda-machine-works/ri17016 
Tradução de Margarida Ferreira. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Manifestações em toda a Venezuela defendem Maduro e a Revolução Bolivariana

                                                                 
Milhares de pessoas se reuniram nesta quinta-feira (27) nas imediações do Palacio de Miraflores, sede do governo em Caracas, pelo segundo dia consecutivo, para defender o presidente Nicolás Maduro e a Revolução Bolivariana contra as mais recentes tentativas da oposição de promover um golpe de Estado.

Também em outras regiões do país houve mobilizações, como no estado de Mérida (foto). No estado de Carabobo, 14 municípios viram manifestantes chavistas irem às ruas. Uma multidão compareceu a um comício com o primeiro vice-presidente do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), Diosdado Cabello.

O dirigente afirmou que a oposição, que é maioria na Assembleia Nacional, deixou aquele local no domingo (23) às pressas quando o povo ocupou a Assembleia em protesto contra suas conspirações “porque sabe que o povo não permitirá um golpe de Estado”.

Além disso, anunciou que no próximo dia 3 de novembro “quem vai a Miraflores é o povo”, em resposta ao anúncio feito pela oposição de realizar uma marcha no mesmo dia ao mesmo local. “Miraflores é do povo, Miraflores é da pátria, não da burguesia”, declarou Cabello.

Na quarta-feira (26), a ala radical da oposição, liderada por Enrique Capriles, fez uma manifestação em todo o país. Os protestos foram violentos, inclusive com alguns dos simpatizantes da oposição utilizando armas de fogo. Um policial morreu no estado de Miranda e no estado de Cojedes três dirigentes chavistas foram agredidos. No estado de Amazonas, uma funcionária pública foi violentamente agredida por membros do partido Vontad Popular, quando estes atacaram um grupo de manifestantes chavistas que estavam reunidos na cidade de Puerto Ayacucho.

No mesmo dia, multidões foram às ruas de toda a Venezuela defender a legalidade democrática e o governo de Nicolás Maduro, manifestações que se repetem por toda a semana. Para esta sexta-feira (28), também estão programados protestos em defesa do governo. Durante a semana que vem também serão organizadas diversas mobilizações por todo o país.

A nova onda de protestos opositores foi convocada por Capriles em resposta à suspensão temporária da coleta de assinaturas para um referendo revogatório decretada pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral). O órgão apura fraudes na coleta, pois muitas denúncias indicam que milhares de assinaturas são falsas – incluindo de pessoas falecidas e menores de idade.

A oposição também aprovou na última terça-feira (25) o início de um julgamento político contra Maduro por supostos descumprimentos de seus deveres em meio à crise econômica e política que foi implantada na Venezuela. Essa ação dos opositores foi considerada inconstitucional, porque na Constituição Venezuela um “julgamento político” não é previsto contra o presidente da República.

Ainda nesta quinta-feira, Nicolás Maduro anunciou um aumento de 40% no salário mínimo dos trabalhadores e trabalhadoras venezuelanas. Esse é o quarto aumento salarial do ano. O acumulado de 2016 é de 454% no aumento salarial.

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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A mitificação e a mistificação do capitalismo


                                                                                      
Daniel Vaz de Carvalho

 
"A luta para que o céu se tornasse mensurável foi ganha através da dúvida.   Mas a luta da dona de casa pelo leite é todos os dias perdida pela credulidade" 
Bertholt Brecht, "Galileu Galilei" 

"Quando os pobres sabem que é preciso trabalhar ou morrer de fome, trabalham.   Se os jovens sabem que não terão socorro na velhice, eles economizam" 
William Nassau, economista e político inglês, 1790-1864.

1 – "Os anos de ouro" 

A mitificação do capitalismo começa por uma visão idílica, mitificada, dos "anos de ouro do capitalismo" apregoando o seu "extraordinário sucesso" e a estagnação e fracasso do socialismo. Por um lado, fecham os olhos às devastações e todas as espécies de horrores cometidos pelo imperialismo, pelo neocolonialismo e pelas ditaduras, para impor o capitalismo. 

Por outro, a realidade socialista é totalmente deturpada, num acervo de mentiras e omissões. Apenas como exemplo, entre 1950 e 1972 a produção industrial dos países socialistas cresceu 8,4 vezes a dos países capitalistas desenvolvidos, 3,1. Em 1940 era na URSS 5,8 vezes a de 1928. [1] 

O sistema capitalista é apresentado como tendo permitido a ascensão de classes sociais, produzido mais riqueza, melhoria do nível de vida e direitos. O que esquecem é que tudo isto foi obtido – onde foi – não pelo capitalismo, mas contra o capitalismo, pelo proletariado organizado sindical e politicamente. Porém, o que de positivo e progressista se obteve está, em termos capitalistas, sempre a ser posto em causa, como evidenciam a austeridade, o neoliberalismo, o imperialismo, já não falando dos diversos modelos de fascismo: a ditadura terrorista do grande capital, com ou sem braços esticados. 

Mas onde ficaram então os tais "anos de ouro", aliás para muito poucos. Na realidade, "nos países do Sul o capitalismo são "massas de seres humanos sem voz, sem nada, o povo das favelas a perder de vista, campesinato miserável sofrendo para se alimentar, a brutalidade das condições de trabalho, a humilhação, a desumanidade. No Norte, tão rico, são espectros errantes que olhamos, mas não vemos, sem teto, sem direitos, são os "novos pobres", desapossados, ofendidos, desumanizados." [2] 

Os "anos de ouro", deveram-se às cedências da oligarquia em consequência das lutas dos trabalhadores e da admiração dos povos pela URSS e demais países socialistas face aos seus êxitos e à aquisição de amplos direitos económicos e sociais. 

Não são pois de admirar as objurgatórias dos escribas afetos ao capital sobre o que inventam ter sido o "jugo soviético". Contudo nada os sensibiliza o jugo (este sim bem real) da UE, da NATO, do FMI, não esquecendo a CIA e colaterais sobre os povos [3] 

Há contudo que reconhecer que o capitalismo soube incutir no comum das pessoas a sedução pelo consumismo. Os EUA tornaram-se assim, para muitos, objeto de admiração acrítica, não entendendo que o que os atrai nos EUA é também um dos maiores defeitos do seu sistema: com 5% da população mundial consome 25% dos recursos mundiais… 

O mito do consumismo tornou-se fonte de realização individualista, uma das bases do carácter alienatório do capitalismo, que Marx descreveu e Eric Fromm desenvolveu neste aspeto em "Ser e Ter". 

A propaganda e o enaltecimento da riqueza e do modo de vida dos ricos, determina modos de pensar acríticos, deixando na sombra mediática as causas da corrupção, do luxo escandaloso, das desigualdades obscenas. Simultaneamente, o sindicalismo de classe é caluniado como reduto de privilegiados e elemento obsoleto e egoísta à custa dos outros trabalhadores – que o sistema deixa sem direitos ou no desemprego. 

2 – Mitos e realidades 

Um dos mitos é o do êxito hedonista e individualista. O capitalismo diz: o êxito, é uma conquista individual, estás num mundo competitivo, mas tu vais conseguir… se seguires as regras. Ora as "regras" são as da semiescravatura da "flexibilidade laboral" – precariedade – da austeridade, da globalização capitalista, que coloca o proletariado dividido e isolado, competindo entre si, e em que o seu projeto de vida se limita à sobrevivência a curto prazo, porque doutra forma ou noutro país se obtêm lucros mais elevados. 

Ao mesmo tempo que sem corar afirmam que "não é possível conservar o emprego a todo o custo", apoiam políticas para defender os interesses da finança "custe o que custar". Mas isto é apenas um dos resultados das "reformas estruturais", de facto impossíveis de impor antes do fim da URSS. 

A lógica já enunciada pelos seus defensores com o argumento da competitividade e da "justiça social" (!) é de que não se justifica que trabalhadores europeus tão qualificados como trabalhadores das Filipinas, Bangladesh ou Índia ganhem mais que estes. Claro que nem lhes passa pelo crânio que devam ser estes a ganhar mais. 

O "comércio livre" e seus tratados são propagandeados como permitindo aos países pobres sair da pobreza e proporcionar aos consumidores acesso a bens mais baratos. A defesa dos interesses nacionais e populares é então caluniada como "protecionismo". Com objetivos sedutores no papel, seja com argumentos tecnológicos, seja pela "competitividade", as transnacionais (TN) obtêm o poder de destruir a vida das pessoas, mas são intocáveis e faz-se apelo à vinda do seu capital como um indiscutível bem, ignorando as consequências económicas e sociais e as exigências impostas. 

Ora as TN sempre foram um perigo para os povos. Em seu benefício foram e são desencadeadas guerras, povos são atirados para o caos social e tragédias humanas. Não deixa de ser curioso que os estrénuos adeptos do "comércio livre", ignorem o efetivo jugo das TN sobre os povos, ao abrigo de uma mítica "economia de mercado". 

Como habitualmente a defesa dos interesses dos mais ricos vem sempre mascarada com bons sentimentos para com os mais pobres. Na Inglaterra do século XIX os defensores do comércio livre diziam que a pobreza era causada pelo protecionismo e direitos aduaneiros – nunca pelo sistema de exploração capitalista! Note-se que quando a França e a Alemanha, desenvolveram as suas indústrias passaram a defender o protecionismo! A exploração desenfreada, essa manteve-se… 

O mito da eficiência capitalista, oposto ao desempenho económico e social do Estado, conduziu a massivas privatizações, fonte de corrupção e tráfico de influências em que o interesse público não foi defendido, como o Tribunal de Contas relatou. 

As privatizações são uma tentativa de salvar o grande capital da crise e da baixa da taxa de lucro pela monopolização da economia e da precariedade social. Um estudo do Transnacional Institute [4] concluiu sobre as privatizações que não há qualquer prova que demonstre que as empresas privadas fornecem serviços de forma mais eficaz que as públicas; em contrapartida fizeram cair salários, degradar condições de trabalho, aumentar desigualdades. Na realidade, ao fomentar a criação de monopólios estão a subverter o próprio conceito de eficácia capitalista… 

Registe-se que nos primeiros seis meses de 2016, em Portugal, um conjunto de oito empresas privatizadas teve 1,33 mil milhões de euros em lucros, quase metade do défice público no mesmo período (2,8 mil milhões de euros). [5] 

3 – A mistificação 

O totalitarismo neoliberal, o "pensamento único", não permite que Ideias, textos, autores, por exemplo apresentados neste site ou nos sites aí citados, sejam discutidos, analisados, sequer mencionados, na comunicação social controlada. No passado, a Igreja justificou a ordem monárquica como imutável e de natureza divina. Agora, papel equivalente está atribuído aos media para que a população não conceba outro sistema, outra economia política. 

Os media não se limitam a ser agentes de desinformação, tornaram-se agentes da conspiração imperialista contra a soberania, o progresso e a paz dos povos. A propaganda procura de todas as formas que a lógica dos oprimidos seja um mero reflexo da dos opressores. Gente arregimentada anda há anos a perorar contra o "despesismo" do Estado em funções sociais, sem as quais quase 50% dos portugueses estaria na pobreza, porém recusam na prática a fiscalidade progressiva e ignoram o que seja a soberania do Estado sobre a riqueza criada no país. 

A intoxicação das consciências sobre os direitos sociais e o papel do Estado na economia prossegue. A direita e a propaganda ao seu serviço apresentam as ditas "reformas estruturais" como fatores de "crescimento económico e emprego". Mas essas "reformas" não são mais que as condições para a oligarquia, assumindo uma arrogância sem limites, ficar livre do controlo democrático e prosseguir atos de vigarice e mesmo criminosos, 

Os oligarcas são apresentados como beneméritos da sociedade, agentes do crescimento, único recurso contra a pobreza, quando os factos provam justamente o contrário: absorvem pelas estratégias monopolistas e domínio sobre o poder político o resultado do trabalho alheio, seja do proletariado seja das MPME, e a riqueza do Estado, em nome da confiança dos mercados - eufemismo atrás do qual se esconde a oligarquia. 

Os 30 mais ricos detêm de património líquido, segundo a Forbes, cerca de 950 mil milhões de euros; o 1% mais rico dispõe de 50% da riqueza mundial. Como relata a OXFAM: "Têm tudo e querem mais". 

O resultado são sociedades disfuncionais onde os psicotrópicos se tornam escape. O sistema produz seres humanos na insegurança quanto ao futuro, na apatia ou no desespero, na ansiedade que leva à depressão e à insanidade. Seres abatidos em nome da competição a favor de uma minoria de ultra-ricos. Seres amputados da tal "liberdade de escolha", que serve à propaganda para dominar vontades. 

4 – A transformação necessária 

Uma época de proezas tecnológicas coexiste com uma economia baseada num irracional facciosismo, com a barbárie de criminosas guerras de agressão, duras políticas anti-sociais de austeridade, tudo e todos subordinados a bandos de gananciosos e vigaristas financeiros. 

As políticas vigentes opõem-se a qualquer ideia de progresso e desenvolvimento social, a finalidade é tornar os ultra-ricos mais ricos e os povos dominados pela hipocrisia. A concepção que vigora é que ao povo basta-lhe ter um trabalho, quaisquer que sejam as condições, e consumir aquilo a que a publicidade incita. Contudo, nem isto o capitalismo se mostra capaz de satisfazer. 

Engels em 1844 denunciava as horrorosas condições de trabalho vigentes, incluindo de mulheres e crianças. Houve de facto leis para limitar estas situações, mas com o movimento operário e socialista incipiente era como se não existissem. Compreende-se que para a direita o ideal seja o fim da contratação coletiva e dos sindicatos de classe de que são naturais inimigos. 

O neoliberalismo, colocou o Estado ao serviço do grande capital, estabeleceu a infame "concorrência fiscal" e livre circulação de capitais para o ónus dos défices recair sobre as massas populares. Transformar a sociedade tem que ver como o papel do Estado se altera. É em volta do poder e do papel do Estado que se desenrola o mais intenso da luta de classes: o confronto entre a oligarquia e a democracia. 

O papel do Estado democrático na defesa dos interesses do país e do seu povo foi usurpado pela ficção da "soberania partilhada" e da "governação à distância" que exprimem o domínio das potências hegemónicas na UE e na NATO. Que soberania partilha a Alemanha com Portugal, com a Grécia, com a Espanha, até com a França? Que solidariedade europeia existe quando os países periféricos são tratados como os PIGS? Que entidades "independentes" – da vontade dos cidadãos – têm o direito de determinar, como no fascismo "o que é melhor para os portugueses"? 

O mito das "ajudas" capitalistas, como os fundos estruturais da UE, já foi comparado ao "queijo na ratoeira". Na ratoeira da ingerência, das privatizações e das sanções. Nesta ratoeira a política de direita tem sido promovida, defendida e branqueada, traduzindo-se em pobreza, desindustrialização, desmantelamento da agricultura e pescas, desigualdades crescentes e estagnação 

Instaurou-se um sistema que tenta resolver o acréscimo de contradições e demolidoras crises a que deu origem, aprofundando os erros e se mantém pela propaganda, pela chantagem e ameaças. 

Um sistema incapaz de corrigir os erros e resolver os problemas que cria tem de ser substituído. As necessidades dos povos devem sobrepor-se aos tratados, sem o que estes se tornam "pactos de agressão". 

Neste sentido, o princípio básico de uma política democrática deveria ser: transformar o necessário para a maioria, no possível. Mas este possível, tem como condição necessária a maioria assumir a sua consciência de classe, uma consciência política e social capaz de fazer frente tanto à ideologia reacionária da propaganda oligárquica como às mistificações da social-democracia.

[1] Acerca do planeamento democrático do desenvolvimento, Lenine, Keynes e Hayek 
[2] La maladie dégénérative de l'économie, le "néoclassicisme , Remy Herrera, p.9, Ed. Delga 
[3] National Endowment for Democracy, a janela legal da CIA 
[4] Making Public in a Privatized World: The Struggle for Essential Services 
[5] Lucros de empresas privatizadas pagavam metade do défice público 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Argentina: após quebra e fuga de patrões, jornalistas ocupam meios de comunicação

                                                                     
Raphael Sanz (*) 
  
Há na Argentina um conglomerado midiático que deve anos de encargos sociais, impostos e dívidas trabalhistas, além de dever a bancos e investidores. Tal grupo, prevendo corte de verbas de publicidade oficial com a mudança de governo, literalmente abandonou as atividades desde janeiro. Logo, os trabalhadores tomaram a empresa e empreendem por si próprios a gestão, com direito a amplo destaque à sua luta particular e às lutas sociais em geral. É sobre esse contexto que entrevistamos o jornalista argentino Lucas Laviana, da Rádio América, veículo protagonista da história.

São mais de 14 veículos de comunicação abandonados pelos outrora donos e geridos por trabalhadores sem salários, à espera do bater do martelo do empresariado para seguir as atividades. Enquanto isso, os trabalhadores não têm suas aposentadorias pagas, entre outras dívidas trabalhistas que serviram de pretexto para o abandono patronal. Na última terça-feira, 13 de setembro, o governo argentino declarou a rescisão da concessão de radiofusão da Rádio América AM 1190 e abriu novo processo de licitação para que a rádio volte a funcionar. Mas lá estão os trabalhadores... a trabalhar.

“Nosso conflito é muito complexo porque inclui responsabilidades do governo anterior e do atual. O anterior por não controlar o Grupo23, deixando-o tornar-se uma lavanderia de dinheiro, na qual nunca foram pagos os encargos sociais para aposentadoria, apesar dos milhões que entravam por publicidade oficial. E ainda, um dos donos da empresa, Sérgio Szpolski, foi candidato a prefeito da localidade bonaerense de Tigre nas últimas eleições pela Frente para a Vitória (coalizão liderada por Cristina Kirchner). Por outro lado, tem a irresponsabilidade do governo atual, que nada faz para resguardar e proteger os trabalhadores e ainda por cima nos faz ouvir do presidente Macri que somos “usurpadores”, por recuperar à força um edifício tomado e violentado por capangas armados liderados pelo pseudo-empresário Martinez Rojas”, declarou Lucas Laviana.

O jornalista explica que o movimento de autogerir a Rádio América começou em fevereiro deste ano e que nela foi criada uma dinâmica de trabalho, a fim de viabilizar diversas lutas sociais ao longo da Argentina, inclusive a deles próprios. Deu detalhes das disputas com os empresários que reivindicam os meios de comunicação e em como essa disputa chegou ao nível de conflitos físicos, tomadas e retomadas de edifícios e torres de transmissão; informação e contrainformação.

“No início do ano, falamos com os funcionários públicos despedidos do Estado quando começou o ajuste de Macri. Foi de alguma maneira um cheque em branco para os grupos privados: se o Estado despede, por que não vão fazer o mesmo? Em tal sentido, cobrimos também os conflitos de trabalhadores de outros meios de comunicação, médios, grandes e também pequenos, que se encontravam com dificuldades”.

Leia a entrevista completa a seguir:

Correio da Cidadania: Como houve a quebra da Rádio América do jornal El Tiempo Argentino?

Lucas Laviana: Todos os meios eram financiados principalmente com a pauta publicitária do governo nacional, além de gestões provinciais e municipais. No caso de Nación, o Grupo23 foi o maior beneficiário, com mais de 800 milhões de pesos argentinos entre 2009 e 2015. Quando veio a mudança presidencial de 22 de novembro e Maurício Macri ganhou as eleições, cortaram as verbas publicitárias de todos os meios de comunicação. Aqui, não apenas não pagaram mais os salários dos trabalhadores, salvas exceções pontuais, como não foram pagos os alugueis e serviços dos imóveis. Abandonaram tudo.

Na sequência fecharam vários meios de comunicação e outros foram vendidos a diversas empresas. No caso da Rádio América e do Tiempo Argentino, no final de janeiro. Sérgio Szpolski – a cara visível do Grupo23, composto por vários acionistas – nos comunicou que a companhia M Deluxe, propriedade de um desconhecido empresário chamado Juan Mariano Martinez Rojas, havia comprado ambos veículos.

O novo dono chegou com promessas de fazer importantes investimentos com sócios norte-americanos, mas nunca colocou um tostão. E mais, deu continuidade ao esvaziamento iniciado pela gestão anterior. De fato, a venda dos dois veículos nunca foi creditada com totalidade, sendo que nós trabalhadores denunciamos como uma falsa venda ou pelo menos uma venda fraudulenta.

Há um dado chamativo: nunca ninguém pediu a falência da Rádio América ou do Tiempo Argentino, apesar de haver dívidas milionárias previstas e compromissos não cumpridos com numerosos credores, não apenas com os trabalhadores. Nesse contexto, o El Tiempo se transformou em uma cooperativa e na Rádio América nos encarregamos de levar ao ar as inúmeras violações patronais.

Em maio, Martinez Rojas tomou pela força a antena da rádio, situada em Villa Soldati, e em julho ingressou com um bando de capangas no edifício onde funciona a redação no bairro de Palermo, na capital federal. Junto aos companheiros do Tiempo nós recuperamos Palermo e hoje nos colocamos no ar a partir desse prédio.

Correio da Cidadania: De que forma a mudança do governo nacional e a situação dos trabalhadores Grupo23 dialogam?

Lucas Laviana: Reitero para deixar ainda mais preciso: não houve falência ou quebra dos veículos. O que ocorreu foi que ante a mudança de governo, prevendo que não iriam cobrar a mesma quantidade de dinheiro por publicidade, os empresários decidiram esvaziar os veículos e escapar. Hoje há um processo na Justiça que envolve Szpolski, entre outros, por não pagarem encargos sociais e impostos correspondentes à autoridade fiscal, que na Argentina se chama AFIP (Administración Federal de Ingresos Públicos).

Agora, o atual governo Macri tem responsabilidade porque a licença da Rádio América é propriedade do Estado (como todas as licenças AM), que dá a concessão a determinados grupos privados. Hoje o grupo privado não paga os salários, entra com capangas para destruir tudo e ameaça os trabalhadores, ou seja, o Estado deveria interferir a nosso favor.

O conflito iniciou há mais de oito meses e o governo não só não ajudou economicamente os trabalhadores com as ferramentas que tem no Ministério do Trabalho e no ENACOM (autoridade de aplicação de licença de rádio e TV), mas ainda dilata o conflito, à espera de os trabalhadores se desgastarem e abandonarem o protesto. Nesse marco, produzem ainda mais demissões e apequenamentos de estrutura, em quase todos os meios de comunicação do país, como nunca se viu antes na Argentina.

Na última terça-feira, 13 de setembro, o governo publicou no Boletim Oficial da Nação Argentina a caducidade da concessão da Rádio América AM 1190 e a abertura de licitação de frequência. Até o próximo dia 13 de outubro, podem apresentar ofertas de empresários pela concessão da rádio; quem fizer a oferta que inclua o maior número de trabalhadores, leva. Infelizmente, não temos muitas esperanças que nas ofertas mantenham todos os trabalhadores dentro da empresa.

Correio da Cidadania: E como era o cotidiano na Rádio América e nos outros meios antes do esvaziamento?

Lucas Laviana: Antes do esvaziamento, na Rádio América e na maioria dos meios do Grupo23 os salários eram pagos em dia e quantia, ainda que nunca tenham pago os encargos sociais como a porcentagem para aposentadoria. Isto foi denunciado durante anos e intimamos a empresa para que regularizasse a situação. A resposta do dono foi de que estava inscrito em uma moratória que lhe permitia pagar a prazo. Ou seja, o governo anterior permitia a ele demorar o pagamento desses encargos.

Após o esvaziamento, na Rádio América fizemos autogestão sem nos transformarmos em cooperativa, como houve no El Tiempo, Infonews e El Argentino Zona Norte. Agora temos uma relação muito fluída e de ajuda mútua entre os meios que formavam o Grupo23. O portal Infonews publica nossas novidades e nós difundimos também a luta deles, e o mesmo acontece com El Argentino Zona Norte e com El Tiempo.

Correio da Cidadania: E como organizaram a autogestão e ocupação do ambiente de trabalho?

Lucas Laviana: Quando ocupamos a Rádio América no final de fevereiro, dividimos o ar em três espaços de programas: manhã, tarde e noite, cada um com duas horas, que ainda hoje se mantém. Esses espaços são de luta, ou seja, fala do conflito e fazemos notas jornalísticas sobre o tema, como também cobrimos lutas além da nossa, inclusive pautas que estão na agenda midiática hegemônica. Por exemplo, no início do ano, falamos com os funcionários públicos despedidos do Estado quando começou o ajuste de Macri.

Foi de alguma maneira um cheque em branco para os grupos privados: se o Estado despede, por que não vão fazer o mesmo? Em tal sentido, cobrimos também os conflitos de trabalhadores de outros meios de comunicação médios e grandes, também pequenos, que se encontravam com dificuldade. As TVs cooperativas Antena Negra ou Barricada TV, mas também as demoras no pagamento dos salários na Rádio Del Plata. Coberturas feitas tanto nas ondas do rádio quanto “viralizando” notícias na internet pelas redes sociais, sobretudo no Twitter.

Nossas reivindicações foram em dois sentidos: contra a patronal e contra o Estado. No primeiro caso, para pagarem os salários atrasados e encargos sociais e para que assumissem sua responsabilidade com a emissora. Não pode ser que nós trabalhadores tenhamos garantido o funcionamento, inclusive pagando conta de luz, água, internet etc.. E justamente por todos esses não cumprimentos, está também o reclame ao Estado, que deveria proteger as fontes laborais.

Correio da Cidadania: Como se deu processo de perseguição a vocês? As invasões de capangas que você citou acima e outros casos podem ser contados com mais detalhes ou caracterizadas como perseguições políticas?

Lucas Laviana: Creio que não se caracteriza como uma perseguição política pontualmente dirigida a nós. Nosso conflito é muito complexo porque inclui responsabilidades do governo anterior e do atual.

O anterior por não controlar o Grupo23, deixando-o tornar-se uma lavanderia de dinheiro, na qual nunca foram pagos os encargos sociais para aposentadoria, apesar dos milhões que entravam por publicidade oficial. Ainda por cima, um dos donos da empresa, Sérgio Szpolski, foi candidato a prefeito da localidade bonaerense de Tigre nas últimas eleições pela Frente para a Vitória. Ou seja, enquanto se consumava o esvaziamento em finais de 2015, o Governo financiava a campanha de Szpolski.

Por outro lado, temos a irresponsabilidade do governo atual, que nada faz para resguardar e proteger os trabalhadores e ainda por cima nos faz ouvir do presidente Macri que somos “usurpadores” – por recuperar à força um edifício tomado e violentado por capangas armados liderados pelo pseudo-empresário Martinez Rojas.

Em relação à invasão, as pessoas que se meteram naquela madrugada de 4 de julho no prédio da Rádio América, entre 20 e 30 pessoas, eram um bando liderado por Martinez Rojas, que entrou com a conivência da Polícia Federal, que lhes abriu a porta. Enganaram o porteiro, dizendo que acompanhavam o dono. Nesse momento, abrem a porta e arrancam na porrada o nosso companheiro do El Tiempo Argentino que estava cuidando do edifício. Havia três pessoas próximas da escada que também foram agredidas pelos capangas, mesmo com a presença da polícia ali.

Fomos chamando todos os companheiros, nos juntando e agindo de forma que a noite terminou com a recuperação do edifício, após enfrentamento com esses capangas. No final, os capangas correram. Saíram correndo pelas ruas e Martinez Rojas foi embora escoltado pela polícia e depois imputado e investigado pela usurpação dele e por seus capangas de terem ingressado na Rádio América e no jornal e destruído objetos elementares para o trabalho jornalístico.

Por isso teve de se apresentar diante da Justiça Contravencional da Cidade de Buenos Aires. Nossos advogados pediram que este caso passasse a Justiça Federal, porque não se tratava de uma simples contravenção, mas envolvia direitos mais importantes, entre outros a liberdade de expressão e a difusão de um meio de comunicação, entre outras questões.

Isso pudemos demonstrar, pois fizemos uma demonstração acompanhada por uma manifestação política na porta, uma “Rádio Aberta”, como chamamos, no meio de julho. Fizemos esta Rádio Aberta em frente à Justiça Contravencional, que pôde passar o caso à Justiça Federal. Hoje a causa está nas mãos do juiz Martinez di Giorgi e esperamos que as causas se unifiquem, tanto da tomada da torre transmissora quanto na tentativa de tomar o prédio em Palermo. Em ambas aparece o mesmo protagonista, Martinez Rojas, que diz ser o dono da rádio. Esses dois casos têm juízes federais distintos e é importante ver se ao final conseguiremos unificar esses casos na justiça.

Um detalhe interessante sobre o bando de capangas é que lá está um sujeito que se chama Juan Carlos Blander, conhecido no ambiente do rock por aparecer em shows nos últimos 20 anos. Faz poucos dias o vimos fazendo a segurança do show da banda Megadeath, o que prova que o tipo goza de total impunidade. Apenas três dias depois do ataque em Palermo o governo da cidade renovou a habilitação de sua empresa de segurança particular para shows e espetáculos. Empresa do mesmo sujeito contratado por Rojas que entrou na Rádio e destruiu tudo.

Correio da Cidadania: O que comenta da postura dos outros meios de comunicação em relação à situação que vocês vivem?

Lucas Laviana: Isso depende do meio de comunicação e do jornalista em si. Recebemos alguns editorais de Jorge Lanata do Clarín, onde nos estigmatiza totalmente e fala de jornalistas que eram “funcionários do governo anterior”, quase como se merecêssemos isto. E ainda desconhecendo que uma coisa é a linha editorial e outra coisa são os trabalhadores.

Fizemos o enfrentamento e o resultado ficou refletido no último 7 de julho, na marcha unitária e histórica pelo dia do jornalista, de que não há brigas entre os trabalhadores e estamos todos juntos. E com trabalhadores do Diário La Nación, do Clarín, deixando claro que somos todos trabalhadores de distintas empresas e que a briga não está aí, mas, sim, entre trabalhadores e empresários.

Obviamente, os meios de comunicação cuidam dos seus interesses e cuidam dos interesses dos seus pares. Nesse sentido, Sérgio Szpolski está blindado pela maioria dos meios. Claro que há notas tanto no La Nación, como no Clarín, dois meios importantes, de maiores tiragens. Há notas críticas sobre Szpolski, mas que não têm posições de destaque. Outros foram muito solidárias conosco, sobretudo nos meios cooperativos e os outros meios que fizeram parte do Grupo23 e todos os que nos retroalimentamos na cobertura e na tarefa de manter o assunto em pauta.

Correio da Cidadania: Para terminar, o que podemos esperar deste quadro para o futuro próximo?

Lucas Laviana: Realmente, é muito difícil esperar que haja uma resolução aceitável. O Estado interveio através da ENACOM. E a verdade é que começou o período que eles chamam de “normalização” (em 14 de julho), que deveria durar um mês, até 14 de agosto. Deveriam aplicar subsídios e ajuda econômica aos trabalhadores através do Ministério do Trabalho, o que não acontece. O que vemos são situações completamente disformes neste conflito, como, por exemplo, termos feito um pedido à prefeitura, por segurança, para que Martinez Rojas não se aproxime do lugar. A prefeitura está aí e nós estamos cuidando do edifício e de nós mesmos.

A deformidade é própria de um conflito que se agrava porque o Estado não interfere como deveria intervir. Esperamos que façam as licitações necessárias, que paguem os trabalhadores e garantam as fontes de trabalho. Até agora, o Estado não nos deu um tostão para essas garantias e estamos fazendo um esforço enorme para, por exemplo, economizar luz, já que a conta sai do bolso dos trabalhadores.

Esperamos também que deem a licença da rádio com os trabalhadores dentro da empresa, e não que o façam sem ninguém dentro. Existe esse perigo, de simplesmente todos estarem fora quando finalmente o poder público afastar Martinez Rojas e sua sociedade anônima, de modo que nós trabalhadores ficaríamos sem nada. Portanto, essa é outra reivindicação: quando novamente licenciarem a rádio, que se faça garantindo os atuais trabalhadores dentro dela. Isso não é nem mais e nem menos do que corresponde ao trabalho do poder público, sobretudo do Ministério do Trabalho.

Enquanto isso, seguimos no ar com o espírito de luta intacto, mas com dificuldades concretas para poder realmente seguir tendo a rádio no ar e garantir esse ar para todos os ouvintes.


Raphael Sanz é jornalista do Correio da Cidadania

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Qual o futuro da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica?

                                                                    
Gabriel Magalhães Beltrão 
e Fabiano Duarte Machado

A Rede Federal, na atual configuração, completará em dezembro próximo oito anos de existência legal (Lei n° 11.892/2008), o que evidencia a sua juventude enquanto política pública, o que é agravado pelo fato de que entre a instituição legal e a efetivação da política existe um lapso temporal significativo. A despeito desta sua mocidade, a Rede Federal encontra-se seriamente ameaçada quanto a sua existência, seja por mecanismo de desidratação financeira (morte paulatina por inanição) ou mesmo por extinção legal. 

Esses dois mecanismos podem e devem ser usados simultaneamente para se atingir o objetivo final. O presente texto tem o objetivo de contribuir com a elucidação das razões econômicas e políticas que embasaram o surgimento da Rede Federal, expondo a função social que orientou a sua origem e seu curto desenvolvimento, função esta que tem se tornada obsoleta no ciclo econômico e político atual, cujo escopo reside na extinção esta política pública em benefício do setor privado da educação.

PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS E ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA REDE FEDERAL

Correndo o risco de aligeirar as mediações, e cair nas tentações de uma armadilha de um esquema simplista de causa e efeito, tentaremos expressar os nexos e as conexões existentes entre os momentos decisivos do desenvolvimento econômico e do movimento da luta das classes trabalhadoras no Brasil e as mudanças nas políticas de educação técnica profissional.

Ressaltando que como se trata da entificação do capitalismo numa sociedade com as particularidades brasileiras (origens no trabalho escravo, no latifúndio e na dependência), uma das tarefas mais difícil é explicar as mediações entre os momentos de modernização das forças produtivas e o Estado, entre a luta por reivindicações das classes subalternas e a cooptação política, entre o transformismo dos movimentos sociais e a construção do poder popular. 

(Com o Unidade Classista)

http://csunidadeclassista.blogspot.com.br/