quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Olga Benário não foi assassinada por ser judia, mas por ser comunista

                                                                        
                                                 Arquivo Federal Alemão (CC BY-SA 3.0 DE)

A historiadora Anita Leocádia Prestes lançará este ano livro sobre Olga Benário, sua mãe, com informações inéditas recolhidas de mais de duas mil páginas dos arquivos da polícia secreta nazista, a Gestapo, recentemente digitalizados.

Os documentos foram disponibilizados graças a um acordo entre a Rússia – que detinha o material confiscado desde a 2ª Guerra Mundial – e a Alemanha, e demoraram um ano para serem traduzidos do alemão.

Em entrevista à revista CULT, a filha de Olga e de Luiz Carlos Prestes revelou que sua mãe foi a pessoa mais documentada pela Gestapo, mesmo entre os acontecimentos da 1ª e da 2ª Guerra e envolvendo diversos partidos comunistas pelo mundo.

Ela ficou impressionada pela forma como Olga encarava as forças de repressão alemãs, segundo os relatos inéditos. “Há uma frase em que ela diz: 'Se houve gente que virou traidora, eu jamais o serei'”, deu a conhecer a historiadora. Para ela, esse foi, sem dúvida, um dos motivos do assassinato de sua mãe, e que motivou as autoridades nazistas a não permitir sua libertação.

“Estavam muito mais preocupados com a atividade dela como comunista do que com o fato dela ser judia. Ela não foi assassinada por ser judia, embora isso pudesse pesar. O fundamental é que ela era comunista, tinha participado das atividades do Comintern e era mulher de Luiz Carlos Prestes”, ressaltou Anita.

Se não fosse a pressão internacional, com mensagens de toda a Europa e EUA exigindo a libertação das duas, Anita conta que seria levada a um orfanato e perderia seu nome, ao invés de voltar ao Brasil.

Ela nasceu em 1936 em um campo de concentração nazista, ao qual sua mãe fora levada no mesmo ano, já grávida, após ser entregue pelo governo brasileiro por causa de sua militância política. Olga, alemã de nascimento, morreu como prisioneira em 1942, anos depois de se separar de sua filha.

O livro que será lançado em 2017 pela Boitempo foi escrito para que o público conheça a personalidade de Olga “mas também saberem o que era a Gestapo, o horror que foi o nazismo”.

Comentando também sobre a situação atual no Brasil, Anita criticou a atuação dos partidos de esquerda, que se “desgastaram” e se “desmoralizaram”, e afirmou que a a exploração capitalista sentida pelas massas populares terá de ser superada através da luta.

“E aí elas vão começar a lutar, se organizar, procurar caminhos. E o caminho para levar à vitória vai ser o caminho da revolução socialista, não tenho a menor dúvida disso”, garantiu, apesar de acreditar que no Brasil o processo será longo e difícil.

(Com o Diário Liberdade)

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