sábado, 18 de agosto de 2012


Entrevista de Ivan Pinheiro, Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro, PCB, no Foro de São Paulo, realizado em Caracas em julho de 2012.

- Por Dick y Mirian Emanuelsson -

Tribuna Popular TP – ENTREVISTA INTERNACIONAL – O veterano comunista destaca a importância de fortalecer a luta do povo brasileiro contra as medidas neoliberais cujas bases não foram alteradas no Brasil, apesar dos períodos de governo do Partido dos Trabalhadores encabeçados por Lula e atualmente na mesma direção pelo governo de Dilma Rousseff.

Também chama as forças  revolucionárias do continente e do mundo a levantarem-se na resistência contra a guerra do imperialismo no Oriente Médio, assim como pelo repúdio aos planos ocultos e abertos que tem na América Latina.

Pede solidariedade com a Marcha Patriótica, na Colômbia, força constituída por 1700 movimentos populares e sociais com uma plataforma de esquerda avançada. E nesse sentido também expressa a importância de reforçar a ANNCOL, em resposta à contra-ofensivo arbitrária recai sobre a agência de notícias colombiana.

Sobre a imagem que se tem do governo do Brasil na América Latina, visualizando-o como um governo progressista, o dirigente comunista diz:

- A esquerda latino-americana acredita que o Brasil é progressista, antiimperialista, em função da imagem que a América Latina tem de Lula, que foi um grande líder sindical e permaneceu com essa imagem. Alguns até dizem que o Brasil é um país socialista! E isso é muito ruim para a América Latina porque é um equívoco, funcional para a oligarquia em toda a América Latina. Desafio qualquer petista a dizer uma única medida de caráter socialista que tenha sido implementada nos governos de seu partido. Não conheço nenhuma, porque não houve. Hoje, o Brasil está passando por um processo de revolução, mas uma revolução capitalista. "O capitalismo brasileiro nunca cresceu tanto como nos governos petistas, que são governos socialdemocratas cujas diferenças com os setores neoliberais são apenas na forma de como administrar o capitalismo”.

“Converter o Brasil em uma potência mundial”


Sobre a política externa dos governos do PT, Ivan Pinheiro diz que no fundamental é a mesma velha política pragmática do Estado burguês brasileiro, com algumas nuanças em função da conjuntura em cada momento.

- O principal objetivo da política externa brasileira é fazer do país uma grande potência. Seu sonho maior é obter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como um símbolo do seu reconhecimento como potência mundial.

Ivan destaca que é claramente uma política pragmática, que trata de se mover por onde pode ganhar espaço. Mas há setores de esquerda no Brasil que sustentam o governo e dizem que o país representa posições antiimperialistas, que o imperialismo é um “inimigo externo” ao país. Daí defenderem aliança com o que chamam de burguesia nacional. Porém, os fatos mostram o contrário, agrega o secretário geral do Partido Comunista Brasileiro:

“Os comunistas brasileiros dizemos que o imperialismo não é um inimigo externo ao Brasil porque que este é parte do imperialismo, mesmo que ainda coadjuvante. O Brasil é um dos países capitalistas mais desenvolvidos do mundo, não apenas por ser a 5ª ou 6ª economia capitalista do mundo, mas porque tem um Estado burguês altamente estável e forte. É impossível pensar em um golpe de Estado no Brasil, como o que houve, por exemplo, recentemente, no Paraguai, contra Fernando Lugo, ou em Honduras, contra Manuel Zelaya, ou os que tentaram contra Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. No Brasil, não há razão alguma para golpe de direita. Porque o governo brasileiro tem uma política de desenvolver o capitalismo, custe o que custar. O governo dispõe de uma ampla maioria no parlamento, com apoio de paridos de direita e de centro-direita”.

Estímulo a fusões entre as corporações brasileiras


“Quando o Brasil presta solidariedade a um país ou a algum governo, o faz principalmente pensando em favorecer as grandes corporações brasileiras. Um exemplo são os crescentes acordos entre Venezuela e Brasil, com o surgimento de um grande comércio que favoreceu primeiramente os interesses capitalistas do Brasil. O mesmo acontece com outros países onde o governo brasileiro abre o mercado para empresas gigantes do Brasil. As relações comerciais brasileiras são ecléticas, indo desde investimentos em Cuba até um intenso comércio de armas com a Colômbia e Israel.

“O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social é uma ferramenta a serviço das empresas monopolistas, financiando fusões entre elas para que possam competir no mercado mundial como verdadeiras gigantes”.

Privatizando empresas públicas

“Os governos petistas, no fundamental, mantiveram todos os compromissos com os banqueiros e apenas mitigaram os programas neoliberais, com assistencialismo e políticas compensatórias. As privatizações continuam: um por um estão privatizando os aeroportos. A privatização das rodovias foi aprofundada no governo Lula. Há uma impressão na América Latina de que a Petrobras é uma empresa estatal. Mas a maioria do capital é privado e as ações da empresa são vendidas na Bolsa de Nova Iorque. A principal iniciativa do governo chama-se PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), um imenso conjunto de obras voltadas para alavancar o crescimento capitalista e não o desenvolvimento social”.

Assim, enumera setor por setor da sociedade brasileira por onde o grande capital monopolista está avançando, cooptando cada dia mais o poder verdadeiro no gigante latino-americano, um poder cujo Estado é administrado por presidentes que vêm do Partido dos “Trabalhadores”.

“Estão tratando de privatizar os serviços públicos. Como se fosse pouco, estão usando agora a Central Única dos Trabalhadores, CUT - que foi uma central combativa nos governos anteriores e hoje em dia tem sido cooptada e é uma correia de transmissão do governo atual -, com um projeto de “flexibilização”, para baixo, dos direitos trabalhistas”.

“A América Latina não necessita mais da Espada de Bolívar, necessita de créditos” (Lula para empresários colombianos).

Aviões brasileiros para a guerra na Colômbia


Ele menciona as relações comerciais com a Colômbia, país que vive um conflito social armado interno, de mais de meio século, onde o regime de Bogotá e suas forças militares são citados em cada relatório sobre Direitos Humanos, por violá-los de todas as formas. Isto não impediu que o Brasil, sob o governo Lula, vendesse 25 aviões de guerra para uso em ações de guerra contra-insurgente, que bombardeia não somente acampamentos guerrilheiros durante as noites, mas também aldeias e povoados da comunidade rural colombiana.

“Para nós, a Colômbia é um Estado terrorista, um perigo para a América Latina. Nosso partido tomou a decisão de priorizar a solidariedade com esta resistência colombiana nos marcos do internacionalismo proletário. A Colômbia está se transformando numa espécie de Israel da América Latina, uma ponta de lança do imperialismo”.

“Lula inaugurou em Bogotá um fórum para empresários brasileiros e colombianos, tendo aberto o evento com as palavras: “A América Latina não necessita mais da Espada de Bolívar; necessita de créditos”. O PCB dá toda solidariedade à multifacetada resistência colombiana. Solidarizamo-nos com todas as formas de luta, tanto da insurgência como do movimento popular. E o Brasil, se quisesse, poderia jogar um papel importantíssimo, com o peso político que tem, através da Unasul, para tentar viabilizar um processo de solução política para o conflito colombiano. Só que o governo brasileiro não quer se indispor com os governos de direita colombianos; sua preocupação principal são negócios”.

O papel da Venezuela na América Latina


Ivan Pinheiro e o Partido Comunista Brasileiro destacam a importância que seria, nas próximas eleições na Venezuela, a vitória de Chávez, não somente para a consolidação do próprio processo bolivariano, mas pelo futuro de toda a América Latina.

“Uma vitória eleitoral da oposição entreguista e pró-EUA na Venezuela seria fatal para toda a luta popular na América Latina e ocasionaria também repercussões no movimento revolucionário no âmbito mundial, já que o continente latino-americano talvez seja onde as forças progressistas e revolucionárias mais estão avançando, apesar do reformismo de muitos”.

“A Venezuela e a Colômbia são o eixo e a combinação, o binômio onde a correlação de forças se disputa no continente. O jogo principal da luta de classes no nosso continente hoje está sendo disputado nesses dois países. Mesmo com algumas divergências e preocupações que temos com Chávez, reconhecemos a importância dele para a continuidade do processo de mudanças na Venezuela, que achamos que pode transitar para o socialismo, desde que as massas assumam o protagonismo e o processo não depende de uma única pessoa”.

“Para nós, seria difícil imaginar as mudanças (heterogêneas) que podem seguir adiante na América Latina sem o precedente da Revolução Cubana e das grandes lutas de massa que marcaram a região e também sem a combatividade e a coragem de Chávez e da chamada revolução bolivariana”.

Esquerda boa ou ruim?


Em um editorial do jornal El Tiempo, nos anos 2004 ou 2005, o diretor, da família Santos, se perguntava por que a esquerda colombiana não se adaptava aos princípios da “esquerda de Lula”. O veterano brasileiro ri da comparação.


E o Foro de São Paulo em Caracas?

“Nosso partido, o PCB, foi um dos fundadores do Foro de São Paulo há 25 anos, e este nasceu com uma maioria de organizações comunistas e revolucionárias. Inclusive as FARC são fundadoras também e participaram durante anos dos encontros do Foro, até serem expulsas sumariamente pelo PT, quando este assumiu a hegemonia do Foro, que detém até hoje, cada vez mais forte. Com o passar do tempo, o Foro de São Paulo foi mudando. Hoje, o Foro está mais preocupado com a governabilidade institucional de governos reformistas socialdemocratas e também com ganhar algumas eleições, como no Peru, que foi uma vitória do Foro de São Paulo,  do PT no Brasil e o mesmo em El Salvador”.

“Aqui no Fórum de SP, em Caracas, não há discussão política de fundo, do ponto de vista ideológico, nem estratégico. Não há confronto de ideias. Na maioria dos dias os participantes foram divididos em função de seu campo de atuação, em discussões localizadas, específicas, como no Fórum Social Mundial. A discussão política se deu num pequeno grupo de dirigentes, em sua maioria socialdemocratas, que hoje ou amanhã apresentarão não um anteprojeto mas já a declaração política final, redigida por eles. E certamente será aprovada por aclamação, porque não haverá espaço para debate”.

“Apesar desse reformismo, não vamos sair do Foro; não apenas porque somos fundadores, mas porque aqui nos encontramos com os que se identificam com o nosso campo ideológico, vamos construindo um campo político combativo, em torno do Movimento Continental Bolivariano, um espaço aonde a esquerda revolucionária debate sobre como chegar além do que permitem as instituições burguesas. Aprofundamos aqui relações com várias organizações de luta contra o capital. Aqui estamos aprofundando nossos laços, por exemplo, com o movimento mais importante da América Latina neste momento, que é a Marcha Patriótica, da Colômbia, Trata-se de uma organização ampla e unitária, agregando mais de 1.700 movimentos sociais e políticos populares. Lamentavelmente, a direção do Foro de SP resiste em aceitá-la como filiada do Foro e lhe dar voz, certamente por ser um movimento de rebeldia contra a ordem.

E qual a opinião do PCB sobre a insurgência colombiana?

“Entendemos que a luta das FARC e da ELN é um exemplo para toda a América Latina. Contribui, inclusive, para que a Amazônia não seja ocupada pelo imperialismo e constitui uma barreira de defesa da Venezuela frente à infiltração de paramilitares colombianos no país. Porém é mais importante que isso. Temos que defender esse processo para que esta forma de luta não seja derrotada, porque essa forma de luta insurgente, seja da forma que for, de acordo com as características de cada país, pode vir a ser usada pelos povos que querem se libertar da exploração e transitar ao socialismo. Porque através da institucionalidade burguesa, não é possível”.

Ver e escutar a entrevista completa com o companheiro Ivan Pinheiro, Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro, PCB, por Dick e Mirian Emanuelsson, no Vídeo (Aqui reproduzido).

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