segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Comuna de Paris



                         
Dirlene Marques (*)


Observamos manifestações populares pelos mais diferentes países do mundo exigindo democracia, melhores condições de vida e trabalho, respeito à natureza, uma sociedade mais justa e solidária. É o mundo árabe, a Grécia, a Itália, a França, a Espanha.

No Brasil, as manifestações são localizadas e menores, mas nem por isso menos importantes: greve de trabalhadores em Jirau, povos indígenas e ribeirinhos contra as barragens que destroem suas vidas e sua história, os sem-teto urbanos na luta por moradia.

Foram esses mesmos motivos que levaram os parisienses às ruas, há 140 anos, em uma jornada heroica gestada a partir da longa frustração com a Revolução Francesa de 1789 e seu lema "Liberdade, igualdade, fraternidade". Palavras vazias para os trabalhadores, pois não se realizaram. Já não acreditavam na institucionalidade burguesa, pois os fatos mostravam que as leis visavam a consolidar a riqueza, os privilégios das classes dominantes e a submissão do povo.

Essa longa frustração vai ser agravada pela crise do capitalismo de 1845 e a guerra da França contra a Prússia (1870 e 1871), atingindo duramente a massa popular. Agora, o grito ouvido pelas ruas é o da "República Social", que toma forma na Assembleia de Deputados do Povo: a Comuna. O objetivo não era assumir o Estado, mas mudar a natureza desse Estado. Pretendiam acabar com a dominação da burguesia.

Algumas medidas adotadas: dissolução do Exército regular e sua substituição pelo povo armado; todos os cargos burocráticos seriam exercidos por pessoas eleitas e de mandato revogável, remuneradas com o padrão operário; separação entre a Igreja e o Estado; reconhecimento dos direitos políticos dos estrangeiros. O ensino tem um capítulo à parte, sendo gratuito, laico e obrigatório, com escolas profissionais para ambos os sexos, garantindo salários adequados para os docentes, independentemente de seu sexo.

No terreno social, fixou-se em 6.000 francos anuais o teto do ordenado de todo funcionário público, igualando-o com o salário dos operários. Proibiram-se a acumulação de cargos e o trabalho noturno nas padarias. Extinguiram-se os aluguéis, garantindo o direito à moradia. Fábricas e oficinas abandonadas pelos seus donos foram reabertas e entregues a cooperativas de trabalhadores.

Mas as elites burguesas não perdoaram os trabalhadores por democratizarem o poder e a sociedade. A repressão toma um caráter exemplar. Com a ajuda das tropas prussianas que submeteram a França em 1870, os soldados cercaram Paris, bombardeando-a intensamente. Invadem a cidade, defendida por populares que, desesperadamente, resistiram às investidas militares. São massacrados. Resultados: 20 mil populares fuzilados, 38 mil detidos e 13 mil deportados.

A experiência da Comuna, de 18 de março a 28 de maio de 1871, entra para a história do movimento socialista como a primeira referência de conquista do poder pelo movimento operário.

(*) Dirlene Marques é coordenadora do Fórum Social Mundial

(Publicado em O Tempo em 28/05/2011)

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