terça-feira, 29 de agosto de 2017

A ameaça latente do fascismo

                                                                             

Mariano Vivancos (*) 

Na Venezuela, há partidos fascistas dentro da MUD que, com algumas nuances, expressam os mesmos valores que esses regimes autocráticos, criminosos e segregacionistas. Devemos estudar e aprender com o passado, para que o fascismo nunca mais se imponha no nosso país ou em qualquer outro canto da terra.

As contradições económicas entre as potências imperialistas advindas do seu expansionismo, no início do século XX, foram a origem da Primeira Guerra Mundial (1914-1919). Em alguns países, tal significou a queda das suas instituições políticas e os impérios-monarquias foram os mais afetados com o seu desaparecimento.

O fascismo nasce em 1918-1919, como reação da grande burguesia – especialmente a financeira e a industrial – ao ascenso do movimento operário revolucionário europeu, no âmbito das consequências da Guerra Mundial: crise económica, com a perda de benefícios nas grandes empresas e o medo capitalista da proliferação do poder operário que começou com a Revolução Bolchevique, na Rússia (1917).

Os movimentos fascistas nascem com o apoio e o financiamento da burguesia, para garantir a sobrevivência da sociedade capitalista e a manutenção da sua “ordem social”, evitando a revolução proletária e popular.

O primeiro país em que toma o poder é a Itália (1922), com Benito Mussolini como figura principal.
Esta ideologia política totalitária de extrema direita chamou-se fascismo na Itália, nazismo na Alemanha, falangismo em Espanha (os seus principais representantes), sem esquecer o Japão, mas também chegou ao poder em Portugal, Áustria, Bulgária, Polónia e Hungria, e teve forte presença na Roménia, Croácia, Grã-Bretanha e França.

Na América Latina, o caso mais representativo foi a ditadura de Pinochet, no Chile (1973-1990), bem como outras ditaduras do Cone Sul. Na Venezuela, está na génese do partido COPEI [acrónimo de Comité de Organização Política Eleitoral Independente – NT] e, hoje, na essência dos partidos Primeiro Justiça e Vontade Popular.

É um regime eminentemente anticomunista – que pretende suprimir a luta de classes –, mas também antidemocrático, oprimindo as grandes massas e os setores populares. Cria as três corporações de representação política: família, religião e propriedade. 

Estas substituem os parlamentos e defendem os interesses dos grupos económicos, identificando os seus interesses com os do Estado. Historicamente, a Igreja católica, o Exército e os grandes empresários cooperaram com este regime.


Algumas características para identificar o fascismo:

– O totalitarismo, que estabelece que o indivíduo está completamente subordinado aos interesses do Estado- Nada deve estar acima, fora ou contra o Estado- Os interesses entre as nações estão em constante conflito.

– O corporativismo, que organiza os sindicatos conjuntamente com empresários e trabalhadores, que teriam os “mesmos interesses”.
– O expansionismo militar e a guerra, para obter “espaço vital”, retirando-o a outros países, a fim de construir o seu império mundial.

– A aniquilação física dos comunistas.

– O racismo e a xenofobia brancos, que seriam seres superiores e destinados a dominar as raças inferiores, negros, ciganos, judeus, indígenas de qualquer país, etc.

– O uso da simbologia fascista- Falso nacionalismo- Os seus hierarcas não interpretam nem representam o povo.

Os partidos fascistas tiveram uma base de massas composta pela pequena burguesia e pelo lumpenproletariado- É o último recurso do capitalismo, quando a classe operária está prestes a derrubá-lo- Hoje, é a essência destilada do imperialismo.

Itália fascista

Benito Mussolini proveio do socialismo, que ele traiu, desviando-se para o autoritarismo e convertendo-se num símbolo internacional do fascismo, no qual o próprio Hitler baseou a sua versão mais criminosa e terrorista, o nazismo (também conhecido como “nacional-socialismo”).

Mussolini obteve poucos assentos nas eleições de 1919-21. Por este motivo, decidiu tomar o poder pela força. Para isso, usou concentrações maciças que convergiram de diferentes cidades para Roma, na “Marcha com tochas”. O rei Víctor Manuel III ofereceu-lhe a formação do governo.

O fascismo italiano é de caráter radicalmente antidemocrático e anticomunista, a favor do militarismo e de um nacionalismo extremo, organizado num sistema hierárquico-autoritário de extrema direita.O governo de Mussolini, para fortalecer o seu poder, usou como um método de dominação a religião católica. Assim, a sua linguagem militar foi-se mesclando com a linguagem religiosa, de forma a ir persuadindo a população, com a intenção de alcançar o domínio ideológico.

O Estado era dirigido de forma totalitária e as liberdades individuais foram suprimidas. Só existia o partido fascista, pelo que não havia eleições livres. Qualquer oposição era reprimida com dureza e controlava-se ferreamente a educação e os média, com o objetivo de manipular a opinião pública. Impôs-se um nacionalismo feroz e expansionista, que exigia a criação de um império colonial para a Itália.

Desenvolveu-se o culto da violência e do militarismo, já que não se pretendia convencer o opositor, mas eliminá-lo de qualquer maneira. Criaram-se grupos armados “squadristi” ou “camisas pretas” que aniquilavam os seus rivais políticos, os operários, os intelectuais e artistas da esquerda. As greves eram proibidas. A abolição dos partidos e sindicatos de classe favoreceu os patrões contra os operários.

Outras caraterísticas do fascismo italiano:

– Controle dos média por critérios governamentais; negação da liberdade de imprensa e de expressão pública;
– Medo – propagar o temor popular para controlar psicológica e coercivamente a população;
– Poder, que se concentra numa única pessoa, que detém os três poderes;
– Racismo e supremacia da raça branca, não reconhecendo a igualdade entre os seres humanos;
– Repressão de qualquer ideia contrária à governamental e restrições absolutas para com qualquer expressão que pretenda, ainda que minimamente, alterar a ordem estabelecida;
– Corrupção; governa-se com grupos de amigos, usando o poder do governo para os proteger da responsabilidade de prestar contas; sendo frequente que os líderes governamentais se apropriem e roubem os recursos e tesouros nacionais;
– Inexistência dos direitos humanos, persuadindo o povo de que os direitos humanos devem ser ignorados, em alguns casos por “necessidade”, tendendo a que se aprovem a tortura, as execuções sumárias, os assassinatos, os encarceramentos, etc.;
– Domínio masculino, uma vez que o poder só era exercido pelos homens, com desprezo pelas mulheres;
– Antimarxismo, pois a luta de classes chocava frontalmente com a ideologia unificadora, nacionalista e totalitária do fascismo.

Alemanha nazi

Na Alemanha, a República de Weimar é proclamada em 1918. O Exército entrega o poder ao Partido Socialista (com um discurso de aparência marxista, mas uma prática que não questionava as estruturas do Estado burguês).

Na década de 1920 criou-se o Partido Nacional Socialista do Trabalho Alemão, abreviado Partido Nazi, que, inicialmente, tinha entre as suas referências internacionais, a Itália fascista de Mussolini.
A proclamação do Terceiro Reich, o regime totalitário encabeçado por Adolf Hitler entre 1933-1945, foi o responsável pelo início da II Guerra Mundial e a causa do holocausto que custou à humanidade mais de 50 milhões de vidas.

Nas eleições de 1932, o voto combinado de socialistas e comunistas foi maior do que o dos nazis, mas, na falta de uma união operária, eles tiveram mais representação.
Em 1933, Hitler assumiu o poder. Concentrou-se no estabelecimento de um governo ditatorial, com ataques à democracia, ao comunismo, ao parlamentarismo e ao judaísmo. Procuraram a abolição das classes sociais, os partidos políticos foram ilegalizados ou autodissolveram-se, ficando apenas o Partido Nazi.

Entre fevereiro e março do mesmo ano, suprimiu o Partido Comunista. Esmagando toda a verdadeira oposição de esquerda, formou-se a união de empresários nazis. O incêndio do Reichstag (Parlamento) serviu como pretexto, não só para eliminar o Partido Comunista e o Partido Socialista, mas também para acabar com os direitos constitucionais e civis. A Igreja católica pactuou com os nazis.

Criou-se um estado policial sob o controle das SS (Schutzstaffel, Esquadrão de Proteção), inicialmente guarda-costas de Hitler. Usavam camisas negras, formavam um grupo de elite e agiam como guardas dos campos de concentração. As SS converteram-se, depois de 1934, no exército privado do Partido nazi. Havia também a Gestapo, cujos polícias não uniformizados usavam métodos brutais para prender os oponentes.

A raça ariana ou indo-europeia era a única raça superior e era urgente limpá-la de todo o sangue não ariano, especialmente dos judeus, e combater os comunistas. A sua base ideológica era a Sociedade Thule, grupo ocultista e racista de Munique que financiou o autodenominado Partido Operário Alemão, posteriormente transformado por Hitler no Partido Nacional Socialista.

Inaugura-se o primeiro campo de concentração para os presos políticos, na sua maioria comunistas e socialistas. Depois, judeus e outras “raças inferiores”. A morte é desumanizada, ao convertê-la num processo técnico de assassinatos em cadeia, impessoal e silencioso. Adotou-se a estrutura e os métodos das fábricas, com a diferença de que, em vez de se produzir mercadorias, se produzia cadáveres. Os prisioneiros não selecionados para trabalhar eram diretamente exterminados, através de fuzilamentos em massa ou nas câmaras de gás.

A empresa Bayer era a que fabricava o gás Zyklon B, usado nos campos de concentração. Um dos chefes de laboratório era Schrader, que se refugiou nos Estados Unidos, que lhe concederam a impunidade pelos seus crimes, a troco de pôr o seu conhecimento científico ao serviço dos gringos.

Na Venezuela, há partidos fascistas dentro da MUD que, com algumas nuances, expressam os mesmos valores que esses regimes autocráticos, criminosos e segregacionistas. Devemos estudar e aprender com o passado, para que o fascismo nunca mais se imponha no nosso país ou em qualquer outro canto da terra.

(*) Militante na célula “Eduardo Gallegos Mancera”, do Partido Comunista da Venezuela (PCV), em Caracas. Especial para Tribuna Popular, órgão do Comité Central do PCV.

Fonte: publicado em 2017/08/20, em
https://prensapcv.wordpress.com/2017/08/20/la-amenaza-latente-del-fascismo/
Tradução de castelhano de MFO
http://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-ameaca-latente-do-fascismo-1927

(Com O Diario Liberdade)

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