sexta-feira, 17 de junho de 2016

América, crise do capitalismo, crise do progressismo (A publicação deste documento não significa necessariamente a opinião do editor deste espaço)

                                                            
Partido Comunista do México

O desassombrado documento que hoje publicamos é um sereno exercício de crítica revolucionária sobre a preocupante situação de regressão existente na América Latina e no Caribe.

Esta análise debruça-se, sem subterfúgios nem subentendidos e com inusual frontalidade, sobre as derrotas que se avizinham para os povos daquela região, e daí se parte para a conclusão que «o PCM deve manter a sua política de contra-ataque, de rutura radical com o capitalismo e a luta pelo poder operário»; e se prevê o advento de uma crise política e ideológica que «pode apresentar semelhanças com a crise política e ideológica dos anos 90 que se seguiu ao triunfo da contrarrevolução na URSS».


As eleições na Venezuela confirmam a previsão do nosso V Congresso, e a encruzilhada não foi apenas uma hipótese, mas é uma dura realidade. Dissemos então que as forças bolivarianas, PSUV, PCV, movimento popular teriam de definir entre radicalizar o processo ou retroceder perante a contrarrevolução. As indefinições permitiram o avanço das forças oligárquicas ao obterem uma esmagadora maioria nas eleições legislativas.

Hoje, a contrarrelógio, Maduro e o PSUV procuram algumas medidas que continuam com as hesitações marcadas pelo mesmo quadro ideológico em que se movimentam. O PCV comporta-se com maturidade e dentro de uma política revolucionária, procurando conquistar uma influência decisiva, que neste momento não tem.

O triunfo de Macri na Argentina e a derrota de Evo Morales apresentam, na generalidade, um quadro de derrota do progressismo e do bolivarianismo, bem como a recuperação de espaço por parte da contrarrevolução.

A isto temos de acrescentar a situação em Cuba e na Colômbia. Por mais retórica a favor do socialismo, o que hoje temos em Cuba é a reinstalação de relações mercantis, por agora de monopólios brasileiros, latino-americanos, russos e chineses, mas prepara-se o terreno para a chegada massiva de monopólios norte-americanos, o que se acelerará após a visita de Obama a Havana no mês de Março onde, entre outros aspetos da agenda, se prevê uma reunião com o setor empresarial. Isto é, já existe uma camada que acumula, que investe, que explora.

No campo ideológico, em Cuba o socialismo é praticamente inexistente, o que se observa nos seus debates, na prioridade das suas publicações, nas suas diretrizes económicas nas suas relações políticas. A nossa Comissão Ideológica deve seguir atentamente o dia-a-dia, mas as perspetivas são negativas.

Nesse mesmo contexto latino-americano e caribenho há a possibilidade de as FARC-EP abandonarem as armas; entrar na vida política é um direito que ninguém pode questionar a uma organização revolucionária que há mais de 50 anos, com heroicidade sem limite, enfrentou todo o peso da oligarquia e do imperialismo.

Preocupa-nos, no entanto, que o programa que agora se elabora seja de reformas e já não de rutura e pelo socialismo, um programa «por um Estado social de direito», onde não procuram destruir o exército sanguinário que ao longo de décadas combateram, mas a reconciliação com ele. O Acordo de Paz não é nas melhores condições para o movimento revolucionário colombiano nem internacional.

Em conclusão, temos um panorama onde a crise do progressismo é a favor da reinstalação da contrarrevolução e, além disso, onde o progressismo auxiliado por partidos comunistas de prestígio está a condenar a crítica revolucionária. 

Mas o tempo trabalha a nosso favor, e foi correto deligarmo-nos do Fórum de S. Paulo, e não colaborarmos em projetos pró-capitalistas como o MERCOSUR, A ALBA OU O CELAC como oposição ao centro imperialista norte-americano.

Nesse cenário é previsível a desmoralização de setores aliados que depositaram as suas esperanças nesses processos e a desmobilização de vários movimentos populares.

É neste contexto que o PCM deve manter a sua política de contra-ataque, de rutura radical com o capitalismo e a luta pelo poder operário, que mesmo na adversidade pode apresentar semelhanças com a crise política e ideológica dos anos 90 que se seguiu ao triunfo da contrarrevolução na URSS.

Nota dos editores: 
Este texto é um extrato do Informe ao VII Plenário do Comité Central do Partido Comunista do México, reunido em Fevereiro de 2016 na Cidade do México.

Tradução de José Paulo Gascão

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