sexta-feira, 4 de março de 2016

Luta de classes em Wisconsin a partir de 2011

                                                                   

Colectivo do «Workers World» de Milwaukee (*)

A desinformação é uma das principais entre as muitas armas a que o capital lança mão, com o objectivo de evitar que os trabalhadores reforcem a sua solidariedade local, nacional e internacional.
Por isso são poucos os trabalhadores que sabem as lutas que se travam no seu país, no país vizinho, quanto mais no país-sede do capital imperialista…


Em 10 de Fevereiro de 2011, estudantes e trabalhadores começaram a histórica ocupação do edifício do Capitólio estatal em Madison-Wisconsin [Foto que ilustra este texto], em luta contra a racista e anti-sindical Lei-10.

Marcando o começo das maiores revoltas nos EUA desde a década de 1930, durante semanas dezenas de milhares de trabalhadores e pessoas oprimidas do povo ocuparam edifícios e manifestaram-se em Madison para derrotar a Lei-10.

Dezenas de acções de solidariedade foram levadas a cabo em todo o mundo, incluindo o encerramento por um dia dos portos da costa Oeste realizado pelos membros do Sindicato dos Estivadores e Trabalhadores de Armazém (ILWU, na sua sigla em inglês).

Eventualmente, líderes sindicais moderados ou reaccionários ligados aos partidos Democrata e Republicano fizeram manobras para levarem a ocupação do Capitólio estatal para o campo eleitoral. Lançaram uma campanha falhada de demissão do governador de Wisconsin, Scott Walker, como resposta a diversos sectores da da classe trabalhadora que queriam endurecer a luta com o encerramento de diversas empresas capitalistas ou até com uma greve geral. A Lei-10 foi aprovada pela legislatura racista e de direita de Wisconsin e assinada por Walker.

Nos últimos cinco anos, desde a derrota da classe operária e dos povos oprimidos nesta significativa luta, os políticos servis a Wall Street e o próprio Walker participaram na actual legislatura em processos de austeridade capitalista do tipo Jim Crow [N. do T.: de segregação racial] derrogando numerosas leis que beneficiavam os trabalhadores e as comunidades, leis conquistadas pela luta frontal das massas nas décadas de 1960, 1930 e até anteriores.

Isto inclui os maiores cortes da história de Wisconsin na educação, desde o ensino Básico até ao Superior e a sua expansão até às escolas charter [1] por todo o Estado. Implementaram-se numerosas formas de desregulamentação e de privatizações. Reduziram-se as proteções do meio-ambiente.

Reduziram muitos dos montantes, o direito ao trabalho por menos salário entrou em vigor, foi eliminada a garantia de permanência do posto de trabalho nas Faculdades da Universidade de Wisconsin e a proteção do serviço público. Também se reduziram os benefícios concedidos no desemprego, ao mesmo tempo que se implementaram a prova de não consumo de drogas para os beneficiários da assistência social. Acabaram com os fundos para a Planificação da Família.

A austeridade capitalista cria os seus próprios coveiros

Mas, como lutaram contra os ataques que lhes dirigiram as massas de Wisconsin continuam a aprender.

Na sua «Conferência sobre a Revolução de 1905» a um grupo de jovens em Zurique, na Suíça, V.I. Lenine escreveu: «… a verdadeira educação das massas não pode ser separada da luta independente, política, e sobretudo revolucionária das próprias massas. Só a luta educa a classe explorada. Só a luta lhe dá a conhecer a magnitude do seu próprio poder, amplia os seus horizontes, melhora a sua preparação, aclara a sua mente, forja a sua vontade; portanto, até os reacionários tiveram que admitir que o ano de 1905, o ano da luta, o ano “louco” enterrou definitivamente a Rússia patriarcal». («A revolução de 1905», Janeiro de 1917)

A austeridade em Wisconsin encontrou a cada passo pela frente a luta de massas, particularmente os que eram estudantes em 2011 e que agora são trabalhadores militantes com consciência de classe. Muitos estão a converter-se em líderes, identificam-se com o socialismo ou estão a tornar-se comunistas.

Estes e estas líderes emergentes não conheceram outra coisa para além da austeridade e da guerra, e não têm futuro sob o capitalismo. Estão a começar a movimentar-se em batalhas ofensivas, já que aprenderam que para a classe trabalhadora alcançar qualquer vitória e particularmente para chegar ao socialismo, as massas não devem ficar atoladas numa série infinita de batalhas sem fim.

Presentemente há um reforço da luta com uma nova onda de jovens, de estudantes oprimidos e militantes em formação de «As Vidas Negras Importam», de Jovem, Dotado e Negro em Madison e da Coligação pela Justiça em Milwaukee, organizações pró-direitos dos imigrantes, tais como a Juventude Preparada na Luta (YES, na sua sigla em inglês) e jovens indígenas que lutam pelas suas terras sagradas e os seus artefactos. Outros aspectos destacados da luta de classes as vitoriosas greves do Sindicato de Trânsito, Secção 998 (ATU L-99 e do Sindicato dos Trabalhadores Auto-motorizados, Secção 833 (UAW L-833), em 2015.

Estes acontecimentos ocorridos em 2011 fazem parte de um processo irregular mas contínuo de trabalhadores veteranos e dos povos oprimidos de todo o Estado, que estão cada vez mais cépticos sobre a capacidade do Partido Democrata dar algum alívio às massas. Estão a procura de alternativas à miséria absoluta e à destruição que lhe é infligida pelos bancos, pelas corporações e os seus servis políticos. Qualquer ilusão de que o sistema capitalista possa ser reformado perdeu-se há já alguns anos.

Karl Marx escreveu no Manifesto Comunista: «antes de mais o que a burguesia produz são é seus coveiros. A sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis».

É com este espírito, apesar da actual e implacável austeridade em Wisconsin, que durante a primeira semana do 5º aniversário da ocupação do Capitólio estatal em 2011, numerosas lutas de classes estavam no seu apogeu e outras em erupção, incluindo o «Dia sem Latinos» com 50.000 participantes, dia 18 de Fevereiro passado, em Madison.

Nota do Tradutor:

[1] Também são escolas públicas, organizadas por pais, empresas e outros grupos sem fins lucrativos que podem receber alunos de outros distritos e que, embora pagas pelo Estado, tem mais liberdade de estipular os programas.

* Colectivo do Workers World Party em Milwaukee (http://www.workers.org/wwp/)

Este texto foi publicado em http://www.workers.org/articles/2016/03/01/lucha-de-clases-en-wisconsin-desde-2011/.

Tradução de José Paulo Gascão

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