segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

UNAÍ REGISTRA 1260 CASOS DE CÂNCER EM 2011. Agrotóxico na produção de feijão estaria aumentando casos de câncer



Chamadas de capa:

a) Frei Gilvander Moreira diz que a construção de hospital do câncer em Unaí
é sinal da gravidade do problema.

b) A audiência pública foi realizada em Belo Horizonte, longe do problema.

O deputado federal Padre João (PT/MG) denunciou, pela internet, que o uso
indiscriminado de agrotóxico na produção de feijão elevou para 1260, o
número de casos de câncer, em adultos e crianças, na região de Unaí, em
2011. A situação foi denunciada, também, na audiência pública da Comissão de
Direitos Humanos da ALMG, realizada em Belo Horizonte, dia 12 de dezembro,
solicitada pelo deputado Rogério Correia (PT), que tratou, ainda, da
criminalização de militantes vinculados a movimentos sociais. Ele explicou
que, apesar da realidade local ser de amplo conhecimento público, o
Judiciário protege empresas que usam defensivos e criminaliza os movimentos
sociais. “É um fato inusitado. O feijão produzido em Unaí está envenenado e
a punição recai sobre quem denuncia”, indignou-se. O deputado referia-se ao
Frei Gilvander Luís Moreira, que, há um ano, mantém vídeo na internet
denunciando o problema, e está ameaçado de prisão. PÁGINA 3

CARTA DO EDITOR José Edmar Gomes.

Feijão de manhã, no almoço, na merenda e no jantar.
Não bastassem o porquinho com cara de gente; a mula-sem-cabeça; a sucuri
chifruda; o bicho-que-come-outros-bichos-e-ninguém-vê-o-bicho; os ataques
dos romãozinhos do crack; o cachorro que bebe cerveja...
A poeira arsênica; os loucos das escolas americanas; o fim do mundo dos
malas, quer dizer, dos Maias... Agora nos vêm os grãos de feijão envenenados
das terras das águas negras? É demais para o meu sertão! Vida mais que
severina essa vida urucuiana: ou se morre por falta de feijão ou se morre
comendo os seus grãos envenenados pelo negoção, que parece que quer matar o
povo para ter a terra somente para si. Mas, assim, o negoção acaba matando é
a si mesmo.
Já pensou se nós decidíssemos não comprar mais feijão na venda, na budega,
no armazém, no supermercado, no hipermercado... Agente fica vivo e o negoção
do feijão envenenado morre.
E se todos nós decidíssemos plantar o nosso próprio feijão? Feijão plantado
no quintal, no jardim, no xaxim, no canteiro central da avenida, na beira da
BR, das estradas, nas ruas, nas praças, nos buracos das calçadas, nos
buracos do asfalto, nos lotes vazios...
Fava, feijão preto, feijão branco, feijão roxo, feijão rajado,
feijão-guandu, feijão roxinho, andu, feijão pra todo lado. Feijão fradim,
feijão padre, feijão frei, feijão bispo, feijão papa, feijão
valha-me-Deus...
Essas pessoas que plantam feijão com veneno, que vendem feijão envenenado,
que fazem de conta que feijão envenenado é bom, só podem estar loucas. Gente
normal e decente não faz isso.
Autoridade que deixa feijão envenenado chegar à merenda escolar das
criancinhas está prevaricando. E quem prevarica, um dia receberá terrível
castigo: terá que encarar o ministro Joaquim Barbosa, em pleno plenário do
Supremo Tribunal Federal. Já pensou? Mas, há uma solução para esta
insanidade toda. Sugiro que, depois que a polícia identificar quem está
envenenando nosso feijãozinho de cada dia, que tais loucos sejam internados
na clínica de recuperação de “loucos” de Unaí e que os enfermeiros e bedéis
de lá os obriguem a comer feijão no café da manhã, no almoço, na merenda, no
jantar...
Feliz Natal, de todo coração, a todos. E sem nenhum veneno.

Agrotóxico na produção de feijão estaria aumentando casos de câncer.

Parlamentar diz que Judiciário local protege empresas que usam defensivos e
criminaliza movimentos sociais.
O número de casos de câncer em adultos e crianças, motivado pelo consumo e
contato com agrotóxicos, está crescendo em Unaí, cidade a 100 quilômetros de
Paracatu. Em 2011, segundo dados divulgados pelo deputado federal Padre João
(PT/MG), na internet, o número de casos chegou a 1260. A gravidade da
situação foi denunciada por movimentos sociais, professores e membros do
Poder Judiciário, na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa de MG, dia 12 de dezembro, solicitada pelo deputado
Rogério Correia (PT), que tratou, ainda, da criminalização de militantes
vinculados a movimentos ambientais e sociais. De acordo com o parlamentar, o
assessor de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra, Frei Gilvander Luís
Moreira, estaria sendo ameaçado de prisão por juiz local, por ter
disponibilizado um vídeo na internet, que traz depoimentos sobre os efeitos
dos agrotóxicos na região.

Vídeo – O deputado Rogério Correia explicou que, apesar da realidade local
ser de amplo conhecimento público, o Poder Judiciário tem protegido as
empresas que fazem uso dos defensivos e criminalizado os movimentos sociais.
“É um fato inusitado. O feijão produzido em Unaí está envenenado e a punição
recai sobre quem denuncia”, indignou-se. Frei Gilvander confirmou as
denúncias e apresentou o vídeo com depoimento sobre o uso de tóxicos no
feijão. Ele destacou o fato de a cidade estar preparando a construção de um
hospital do câncer, apesar de ter menos de 100 mil habitantes. “Nenhuma
cidade no Brasil desse porte conta com um estabelecimento de saúde
especializado para esse fim. É mais uma prova de que o problema é grave”,
reforçou.
O Jornal O Movimento tentou ouvir autoridades da Secretaria de Saúde de Unaí
sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição, a Secretaria não
retornou as ligações.

Irregularidades - O assessor do deputado federal Padre João (PT-MG), Francis
Guedes, afirmou que existem agrotóxicos utilizados no Brasil de modo
irregular, uma vez que teriam sido autorizados pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) de forma fraudulenta. Segundo o assessor, por
meio de laudos preparados com assinaturas falsificadas, os defensivos foram
liberados sem análise laboratorial. “O deputado Padre João lidera, na Câmara
dos Deputados, uma campanha contra agrotóxicos, que pretende sensibilizar o
Governo Federal, por meio dos órgãos competentes, e realizar um estudo sobre
o impacto do uso desses venenos na população de Unaí e região”, disse.



Vídeo relata até banhos de veneno.

No vídeo postado no You Tube ainda no final de dezembro do ano passado, o
Frei Gilvander Moreira entrevista a funcionária de uma escola de Arinos,
chamada apenas por Edivânia e o produtor rural, Washington Fernandes
Moreira. Os dois confirmam que o feijão consumido na região exala mau cheiro
ao ser retirado da embalagem. Edivânia disse que qualquer cantineira de
escolas da região sabe do problema. Ela afirma que, para ser consumido pelas
crianças, é preciso colocar o produto de molho de um dia para outro e, antes
de cozinhá-lo, “é preciso lavar e relavar de novo”. A funcionária concorda
quando padre relaciona o alto índice de casos de câncer em Unaí ao uso
indiscriminado de agrotóxico no cultivo do feijão e revela que a escola está
plantando seu próprio feijão para deixar de consumir o feijão fornecido pelo
Programa da Merenda Escolar que, segundo ela, possui alta concentração de
“veneno”. O produtor rural Washington Fernandes Moreira, por sua vez, afirma
que depois que se abre o saquinho de feijão, ninguém tem coragem de cozinhar
o produto por causa do mau-cheiro. Ele diz que passou a produzir feijão na
sua propriedade para não consumir o feijão vendido no mercado. Quando
questionado pelo Frei do porquê de os produtores optarem por usar
desfolhantes ao invés de capinar o mato no preparo da terra para o plantio
do feijão, Washington responde que “é mais barato jogar veneno”. O
agricultor explica que um litro de veneno custa R$ 12,00 e pode ser
borrifado em meio dia meio de trabalho numa roça onde seriam pagos “de 100 a
200,00 contos” para ser limpa na enxada. “Mas o veneno fica na terra”,
adverte Washington”. O produtor ainda revela o estranho caso do banho de
veneno do qual ele foi uma das vítimas. “ O avião passou baixinho e deu uma
borrifada na cominhonete”, na qual ele e seus companheiros viajam. “Tivemos
que parar para lavar o carro. Ninguém agüentava o mau-cheiro”, revela.
Washington conta ainda que seus companheiros de viagem também levaram banho
de veneno quando andavam de moto pela região produtora de feijão. “Eles
tiveram que jogar a roupa fora, lavar as motos e sentiram dor de cabeça e
mau estar”. Em outro vídeo, também postado no You Tube, o deputado Padre
João (PT-MG), presidente da Subcomissão de Segurança Alimentar da Câmara dos
Deputados, afirma que as Universidades Federais do Mato Grosso e do Paraná,
além da Fiocruz, provaram o nexo direto entre o uso do agrotóxico na
produção de feijão e o aumento no número de câncer em Unaí e, para ele, é um
absurdo que esta situação tenha chegado à merenda escolar. O deputado cita
os 1260 casos de câncer catalogados em Unaí, em 2011, e assegura que número
tão alto não é registrado em lugar nenhum do mundo. “O ministério Público
tem que punir quem está envenenando o povo”, afirma o deputado mineiro.

“Veneno está nas mesas das pessoas”
A professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eliane Novato
Silva, fez um relato técnico sobre os efeitos do contato com os agrotóxicos
nas pessoas, especialmente em crianças. Ela garantiu que há evidências
laboratoriais e teóricas de que os defensivos podem causar malefícios
crônicos de curto, médio e longo prazo. Para ela, é preciso uma grande
mobilização social para que essa prática seja banida da sociedade
brasileira. “O veneno está na mesa das pessoas, tanto no campo quanto nas
grandes cidades. Estamos consumindo produtos que já são proibidos em todo o
mundo, há muito tempo, mas são permitidos no Brasil”, alertou.
O membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, Élcio Pacheco, reforçou
as palavras da professora e tratou como “genocídio” o uso de agrotóxicos no
País. Para ele, é preciso que sejam criadas políticas de Estado que acabem
com a situação desumana e degradante na qual vivem trabalhadores próximos às
plantações. “O Poder Judiciário e o Governo Estadual são coniventes e
protegem as empresas que fazem uso desse veneno contra as pessoas”,
criticou.

Fiscalização - O representante da Fetaemg, Rômulo Luiz Campos, também
criticou a atuação do Poder Judiciário em Unaí, que ameaça frei Gilvander
por ter denunciado esta realidade. Segundo ele, os órgãos públicos deveriam
fiscalizar os efeitos dos agrotóxicos nos alimentos e evitar que os casos
sejam recorrentes no Estado. “A população de Unaí não é a única vítima desse
mal. Outras cidades sofrem com o mesmo problema. A ALMG precisa exigir que o
Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) faça análises criteriosas dos
alimentos que vão para as mesas das pessoas”, cobrou.
O procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional das
Promotorias de Justiça e Conflitos Agrários, Afonso Henrique de Miranda
Teixeira, destacou, ainda, que o uso do agrotóxico está diretamente ligado à
reforma agrária. De acordo com ele, não se trata apenas de repartir terra,
mas também de definir novos modos de produção no campo. “E o veneno, hoje, é
usado em alta quantidade e toxidade”, salientou.
A defensora pública e coordenadora da Defensoria Especializada em Direitos
Humanos, Coletivos e Socioambientais, Ana Cláudia Silva Alexandre, anunciou
que foi aberto procedimento administrativo para averiguar o caso de Unaí, e
que o problema é de saúde pública, impacta a Previdência Social e a
Assistência Social.
No vídeo postado no You Tube ainda no final de dezembro do ano passado, o
frei Gilvander Moreira entrevista a funcionária de uma escola de Arinos,
chamada apenas por Edivânia e o produtor rural, Washington Fernandes
Moreira. Os dois confirmam que o feijão consumido na região exala mau cheiro
ao ser retirado da embalagem. Edivânia disse que qualquer cantineira de
escolas da região sabe do problema. Ela afirma que, para ser consumido pelas
crianças, é preciso colocar o produto de molho de um dia para outro e, antes
de cozinhá-lo, “é preciso lavar e relavar de novo”. No vídeo, a funcionária
concorda quando padre relaciona o alto índice de casos de câncer em Unaí ao
uso indiscriminado de agrotóxico no cultivo do feijão e revela que a escola
está plantando seu próprio feijão para deixar de consumir o feijão fornecido
pelo Programa da Merenda Escolar que, segundo ela, possui alta concentração
de “veneno”.
O produtor rural Washington Fernandes Moreira, por sua vez, afirma que
depois que se abre o saquinho de feijão, ninguém tem coragem de cozinhar o
produto por causa do mau-cheiro. Ele diz que passou a produzir feijão na sua
propriedade para não consumir o feijão vendido no mercado. Quando
questionado pelo padre porque os produtores de feijão optaram por usar
desfolhantes ao invés de capinar o mato no preparo da terra para o plantio
do feijão, Washington responde que “é mais barato jogar veneno”. O
agricultor explica que um litro de veneno custa R$ 12,00 e pode ser
borrifado em meio dia de trabalho numa roça onde seriam gastos “de 100 a
200,00 contos” para ser limpa na enxada. “Mas o veneno fica na terra”,
adverte Washington”. O produtor ainda revela o estranho caso do banho de
veneno do qual ele foi uma das vítimas. “ O avião passou baixinho e de uma
borrifada na cominhonete”, na qual ele e seus companheiros viajam. “Tivemos
que parar para lavar o carro. Ninguém agüentava o mau-cheiro”, revela.
Washington conta ainda que seus companheiros de viagem também levaram banho
de veneno quando andavam de moto pela região produtora de feijão. “Eles
tiveram que jogar a roupa fora, lavar as motos e tiveram dor de cabeça e mau
estar”.
Em outro vídeo, também postado no You Tube, o deputado Padre João (PT-MG),
presidente da Subcomissão de Segurança Alimentar da Câmara dos Deputados,
afirma que as Universidades Federais do Mato Grosso e do Paraná, além da
Fiocruz, provaram o nexo direto entre o uso do agrotóxico na produção de
feijão e o aumento no número de câncer em Unaí e, para ele, é uma absurdo
que esta situação tenha chegado à merenda escolar. O deputado cita os 1260
casos de câncer catalogados em Unaí, em 2011, e assegura que número tão alto
não é registrado em lugar nenhum do mundo. “O ministério Público tem que
punir quem está envenenando o povo”, afirma o deputado mineiro.

FONTE: Jornal O MOVIMENTO
Ano XXIII, n. 431 – omovimento@ada.com.br – Paracatu, MG – Dezembro/2012,

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