terça-feira, 29 de dezembro de 2015

EUA são os maiores vendedores de armas (*)

                                                                                           
Carlos Lopes Pereira   
Quando Eisenhower, no discurso de despedida da presidência dos EUA, utilizou a expressão “complexo militar-industrial” sabia bem do que estava a falar no seu país. O que provavelmente não sonharia é que, mais de cinquenta anos passados, o poder desse monstro estaria exponencialmente ampliado, acompanhando a escala global da agressão imperialista, permanente e em todo o lado.


Os Estados Unidos são os maiores vendedores de armamento e serviços militares à escala mundial. Num negócio que movimenta mais de 400 mil milhões de dólares anuais, empresas norte-americanas detêm uma quota de 54% das vendas.

Dados relativos a 2014, agora divulgados pelo Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisa para a Paz (SIPRI), indicam que aos EUA e seus principais parceiros da Europa Ocidental cabem em conjunto uma fatia de 80% do mercado armamentista. 

Juntando a estes dois blocos capitalistas três aliados de Washington, o Japão e a Coreia do Sul, na Ásia, e Israel, no Médio Oriente, a percentagem sobe: essas potências capitalistas são hoje responsáveis por 86 por cento do comércio de armas, que fomenta o belicismo e alimenta as guerras por todo o planeta.

A lista das 100 primeiras empresas do sector, elaborada pelo instituto sueco, é encabeçada pela corporação norte-americana Lockheed Martin, que embolsou no ano passado 38 mil milhões de dólares de contratos. Produz por exemplo os aviões de combate F-16 comprados recentemente pelo Egipto e por Marrocos e os F-22 utilizados pela NATO em 2011 nos bombardeamentos à Líbia que conduziram ao derrube de Muammar Kadhafi.

No top 100 do SIPRI, que não inclui empresas da China, alegadamente por falta de dados fiáveis, seguem-se a norte-americana Boeing e a britânica BAE Systems, esta especializada na construção de aviões de caça, submarinos nucleares e porta-aviões, «brinquedos» só para os mais ricos.

Nas 15 principais empresas vendedoras de armas e serviços militares figuram, além de várias outras norte-americanas, a franco-alemã Airbus (na 7.ª posição), a italiana Finmeccanica (9.ª), a francesa Thalès (12.ª) e três russas – Almaz Antey (11.ª), United Aircraft (14.ª) e United Shipbuilding (15.ª). De acordo com o Instituto Internacional de Estocolmo, entre 2013 e 2014 o volume de negócios das principais empresas de armamento russas aumentou quase 50 por cento, beneficiando sobretudo do reforço do investimento na defesa decidido por Moscovo.

No ranking dos países que mais vendem armas e serviços militares – aviões, helicópteros, drones, mísseis e blindados mas também sistemas de vigilância, de informações e de comunicações e treino de pessoal – seguem-se, depois dos EUA, com 54,3% do total, a Grã-Bretanha (10,4%), a Rússia (10,2%), a França (5,6%), o consórcio europeu Airbus (3,8%), a Itália (3%), o Japão (2,3%), Israel (1,9%), a Coreia do Sul (1,7%), a Alemanha (1,6%) e a Índia (1,2%).

Contra as guerras

No comércio mundial de armas, apesar de uma ligeira baixa das vendas globais – menos 3,4% em relação a 2013 –, regista-se um peso crescente dos países emergentes como a Coreia do Sul, a Índia, Singapura, o Brasil e a Turquia. E, provavelmente, da China, que neste sector tem relações com uma vintena de países africanos.

Sem surpresa, nenhuma empresa africana faz parte das 100 vendedoras de armas elencadas pelo Instituto de Estocolmo.

O fabrico de armamento na África continua a ser mínimo. Apenas a África do Sul, com helicópteros de transporte e de ataque, veículos de transporte de tropas e espingardas de assalto, e a Etiópia e o Egipto, sobretudo com armas ligeiras, dispõem de uma produção local com alguma dimensão. 

Na Nigéria, conta a revista Jeune Afrique, o recém-eleito presidente Muhammadu Buhari, após ter sido empossado, encarregou em meados deste ano o novo governo de lançar uma «modesta» indústria de fabrico de armas.

Os estados africanos são pois forçados a continuar a recorrer a empresas e governos de outros países para equipar e treinar os seus exércitos. Prolongam assim a dependência militar, económica e política em relação ao imperialismo, que não desiste do projecto de recolonizar a África.

Isto quando no continente, apesar dos inegáveis avanços, persiste uma situação colonial no Sahara Ocidental, ocupado por Marrocos. Quando se repetem as intervenções militares estrangeiras, desde a Líbia ao Mali passando pela República Centro Africana. Quando prossegue uma guerra civil devastadora no Sudão do Sul. 

Quando existem bases militares e tropas estrangeiras, sobretudo dos EUA e da França, e contingentes das Nações Unidas e da União Africana em diversos países, do Mali à Somália, do Sudão à República Democrática do Congo. Quando, da costa Oeste à costa Leste, bandos armados espalham o terror e a instabilidade.

Repudiando guerras e divisões, os trabalhadores e os povos africanos exigem a paz e lutam nos seus países contra o atraso, a pobreza e a corrupção, na construção do desenvolvimento com menos desigualdades, rumo a sociedades libertas da exploração.

(*) Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2195, 23.12.2015

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