terça-feira, 25 de março de 2014

PCB, histórias quase inacreditáveis mas reais

                                                         

José Carlos Alexandre              

Nesta terça-feira o PCB comemora 92 anos. Muita luta desde os primeiros encontros no Rio de Janeiro e em Niterói.

Muitas reuniões na clandestinidade, em que se ia ou de olhos vendados ou simplesmente fechados.

Ou em praça pública, auditórios lotados, salas de aulas, centros universitários...

Usando clubes de futebol, igrejas, sinagogas, barracões de favelas ou apartamentos luxuosos do melhor bairro de uma metrópole como locais de reuniões. 

Quantas vezes à beira de um córrego?

Um café, um violão, duas garrafas de cerveja, um pouco de arroz e dois ou três quilos de carne podiam fazer coletivo dos melhores...

Cada  um tomando um ônibus num ponto, o mesmo coletivo para um bairro distante...

À saída o mesmo ritual. Um ou dois de cada vez...

Indo longe até entrar num ônibus, num táxi ou um carro de um colaborador do Partido...

Quantas histórias...

De épocas distantes, algumas. Muito recentes, relativamente recentes, outras.

Precauções que se faziam necessárias mesmo antes do  1º de abril...

História de encontro  em uma pequena igreja de interior...

Em assembleias de trabalhadores, no campo e nas cidades.

Quantas reuniões rápidas na Igreja São José, para fazer circular a Vovó ( o jornal Voz da Unidade, durante os Anos de Chumbo) ou a última circular do CC (Comitê Central do PCB)?

Alguns de nós tínhamos ponto "Nas Meninas" ( um barzinho de uma por só perto do local onde ,em 1973, a repressão sequestrou e desapareceu com o camarada Nestor Veras, jornalista, líder camponês, membro da direção nacional do PCB).

A ditadura fica nos devendo o corpo de Nestor, ou de Wilson, seu último pseudônimo. E de tantos outros...

Nos fundos de uma tinturaria numa cidade operária, que melhor local para se saber das últimas da luta político-sindical?

Ou mesmo antes de uma roda de samba...

Ah! Só mesmo o Partidão de histórias sem conta...

Um dia eu sai daqui, entrei num ônibus com destino ao Rio de Janeiro depois de mil voltas na avenida Rio Branco parei em frente a uma banca de revista e fiquei á espera de ouvir uma senha...

Outra: arranco-me numa jardineira pela estrada poeirenta aí pelos lados de Pará de Minas para um encontro com trabalhadores rurais prontos para ouvir as primeiras palavras de ordem sobre a necessidade de sindicalização...

E combino um almoço em pleno sábado de um 25 de março com sindicalistas, maioria de BH, outros do interior e dois ou três até diretores de confederações...

Uma espécie de sondagem para o lançamento do jornal União Sindical que eu dirigiria junto com um membro da direção do Partido e um jornalista e ex-vereador muito conhecido na capital...

Duas, três vezes, talvez mais, eis-me na vanguarda de uma caminhada de mineiros de Nova Lima a Belo Horizonte ...

Perdi a conta de quantas vezes lhes falei , no Teatro Municipal da ex-Moscouzinha , de salários, de união internacional da classe operária.

De luta incansável por dias melhores...

E fico a recordar-me do dia em que o Partido decidiu comemorar o aniversário da Revolução  de 1917 num contexto em que a Igreja , então reacionária, excomungava o comunismo ateu...

Dia em que morreram duas das melhores lideranças operárias e outras escaparam por pouco.

Já me  surpreendi no exterior dando aulas de "impeachment" a professores de universidade norte-americana (época do "Fora Collor" , falando a editores de jornais no Meio Oeste, ou levando recortes com entrevistas de políticos, analistas e parentes do ex-Caçador de Marajás a Los Angeles, durante entrevista a jornais da colônia brasileira)...

Impeachment basicamente por um mero carro, um Elba...

Será que vou novamente para as ruas pedir impeachment por causa de refinarias da Petrobras?

Sim. Mas vou querer mais: vou querer o fim deste regime de enganação.

Vou querer o socialismo...

O tempo passa mas tenho a mesma disposição de ir à luta...Até no exterior...

A história do PCB e dos comunistas são histórias reais. Por vezes inacreditáveis mas reais.

Não, não se trata de nenhum romance ou livro de memórias operárias. São fatos na história de atuação de Partido e de comunistas...

Um aprendendo com o outro.

Os dois juntando forças para dar um pouco de consciência política a trabalhadores desesperados com o árduo trabalho no insalubre subsolo.

 Com pulmões quase todo tomado pela poeirinha mortal causadora da silicose...

Mas o trabalhador valente grita por Luiz Carlos Prestes, pensa nos pioneiros de 1917 num país longe demais para ser verdade mas que envia o primeiro homem ao espaço...

Peita os EUA, a Grã-Bretanha onde o reinado era tão grande que nele jamais o Sol de punha...

Apóia as novas potências que se libertam do jugo do colonialismo na África, briga por Cuba dos barbudos heróis que jamais tremiam mesmo diante do país mais fortificado do mundo...

Ah! Esses comunas...

Eles vão por aí, fazendo história.

Mesmo como aparentemente são derrotados,perseguidos, torturados, mortos. 

Onde estão eles?

Estão no meu sindicato. Estão nas escolas de meus filhos, nas fazendas que nos abastecem ou que garantem os grãos que alimentam o mundo...

Estão, sim,nos templos, nas sinagogas e nas igrejas

Nos centros espíritas e nos teatros. 

No cinema, participando de novelas ou como interpretes ou autores e elaborando aulas ou provas a serem usadas nas escolas e universidades ou mesmo nas bancas de advocacia, nas fábricas de todos os tipos. 

Entre os funcionários públicos e os aposentados mas sempre pontos para quaisquer tarefas...

Na Imprensa, embora por vezes cabisbaixos, por vezes elevados à direção às melhores editorias. 

Eles estão em todos os lugares. 

E porque são comunistas, lutam sem parar, incansáveis e jamais derrotados. Um dia, mais cedo ou mais tarde, a conquista final virá.

Com um mundo pleno de paz, de solidariedade, de amor.

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