segunda-feira, 16 de abril de 2012

As grandes potências e o neocolonialismo

                                                             
Agora cabe ao Irã defender sua independência, alcançada com muita luta
16/04/2012
 "O atual cenário no Iraque e na Líbia, com a volta das “Sete Irmãs” e a instalação de governantes submissos às potências ocidentais, representa um retrocesso ao domínio neocolonial da primeira metade do século 20"
Igor Fuser
Quando as tropas dos EUA entraram em Bagdá, em 2003, o primeiro edifício público que ocuparam foi o Ministério do Petróleo. Enquanto isso, saqueadores assolavam a capital do Iraque, roubando inclusive os tesouros arqueológicos dos museus, sem serem incomodados pelas forças invasoras.

O episódio expõe o verdadeiro interesse por trás da atual onda de intervencionismo imperialista no Oriente Médio: o petróleo, também presente, como fator decisivo, na operação militar contra a Líbia, em 2011, e na ofensiva política contra o regime iraniano. O Irã ocupa o segundo lugar entre os donos das maiores reservas petrolíferas do mundo; o Iraque, o terceiro; e a Líbia, o oitavo.

Além de petróleo, esses três países-alvos da agressividade ocidental possuem em comum uma tradição de controle estatal sobre essa riqueza e um passado recente de desafio aos interesses dos EUA na região. Curiosamente, foram eles que protagonizaram com maior vigor a luta histórica dos exportadores de energia do Oriente Médio pela soberania econômica.

O Iraque foi pioneiro na nacionalização do petróleo, em 1968. Na década seguinte, o dirigente líbio Muamar Kadafi liderou o mundo árabe contra o cartel das “Sete Irmãs”, que ao final foram obrigadas a se retirar, com grandes perdas. Já o Irã vive até hoje sob o regime islâmico instalado em 1979 com o fim da ditadura do xá, um amigão dos EUA, em uma reviravolta que reduziu ainda mais o poder das petroleiras ocidentais.
São essas mesmas empresas que agora emergem como beneficiárias das ações militares contra o nacionalismo árabe. Nos novos contratos de exploração do petróleo no Iraque, assinados em fevereiro, a parte do leão ficou com a ExxonMobil, a Shell e a BP. Também na Líbia as transnacionais já repartiram entre si os fabulosos campos de onde jorra o ouro negro.
O atual cenário no Iraque e na Líbia, com a volta das “Sete Irmãs” e a instalação de governantes submissos às potências ocidentais, representa um retrocesso ao domínio neocolonial da primeira metade do século 20. Agora cabe ao Irã defender sua independência, alcançada com muita luta.
Artigo originalmente publicado na edição impressa 476 do Brasil de Fato

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