segunda-feira, 9 de junho de 2014

As eleições na União Europeia

                                                                 
                            Cartoon de Riber Hansson


John Catalinotto

As eleições para o Parlamento da União Europeia realizadas dia 25/5 reflectiram a crescente rejeição pelas massas dos partidos de centro que comandaram a maioria dos governos na Europa Ocidental e a própria União Europeia – sobretudo contra o modo como a UE enfrentou a grave crise capitalista em 2008 e daí em diante, com crise continuada, até hoje. No continente europeu, só 43% dos eleitores habilitados compareceram para votar. 

Desde 1945, os partidos de centro-direita ou conservadores e a social-democracia ou partidos ditos socialistas de centro-esquerda vinham-se alternando na administração dos governos ocidentais imperialistas. A partir de 2008, partidos de centro-esquerda e de centro-direita passaram a colaborar para impor austeridade à classe trabalhadora na Europa. A classe dominante europeia – especialmente os grandes financistas capitalistas – impuseram programas impopulares de austeridade contra países individualmente endividados, para garantir que as dívidas fossem pagas aos bancos credores. Para fazer isso usaram instituições financeiras da burocracia da União Europeia, as chamadas Troika – Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu. 

Essencialmente, a União Europeia é o instrumento da classe dominante europeia para tomar cada vez mais do que os trabalhadores produzem e transferi-lo para os ricos. Reduziu salários dos trabalhadores, pensões e benefícios para os desempregados e cortou nos cuidados de saúde e na educação. 

Combinada com a ausência na maior parte dos países europeus de uma alternativa eleitoral crível e eficaz de esquerda, a repulsa contra os partidos de centro e contra a UE em muitos países levou a avanços de partidos nacionalistas de ultra-direita que são publicamente anti-UE e que habitualmente apresentam programas anti-imigração, xenófobos e mesmo racistas. Os ganhos da direita foram especialmente grandes em duas importantes potências imperialistas – Grã-Bretanha e França – e na Holanda e Dinamarca. 

A classe trabalhadora e suas organizações têm, naturalmente, de combater esses partidos direitistas e, especialmente, os racistas, tanto nas ruas como em eleições. Mas não é o caso de exagerar a ameaça dos partidos direitistas ou neofascistas representariam, ou a sua iminência de chegada ao poder. 

O Parlamento Europeu é apenas uma sala de conversação, não um poder executivo. A UE não administra realmente um aparelho de Estado ou um exército nacional, como Washington. Todo o poder da União Europeia está concentrado em instituições burocráticas como a Troika , não no Parlamento. 

Nos países mais duramente atingidos os partidos progressistas avançaram 

A votação teve resultados diferentes em diferentes países. Considerem-se os países europeus mais atingidos pela crise capitalista. Para usar um indicador de crise: as taxas de desemprego foram superiores a 25% na Espanha e na Grécia; a 18% em Portugal, e a 14% na Irlanda. A Troika e as classes dominantes locais impuseram cortes horrendos a todos eles para garantir pagamentos aos grandes bancos. 

Os votos nestes países aumentaram o número de cadeiras dos partidos com um programa mais progressista ou favorável ao trabalho. Só na Grécia é que um partido de extrema-direita teve ganhos. 

Na Espanha, a votação remeteu tanto os "socialistas" (PSOE) como o direitista Partido Popular a uma esmagadora derrota, assinalando uma mudança a decorrer. Um novo partido do movimento dos "Indignados" conseguiu atrair 8% dos votos e a Esquerda Unida (IU) também avançou. 

Na Espanha, mais importante que o resultado eleitoral na Espanha foram os acontecimentos que se seguiram. Em Barcelona, durante quatro dias, jovens que protestavam contra uma invasão policial a um edifício ocupado por grupos sem tecto combateram a polícia local. 

Em 2 de Junho, o rei espanhol, símbolo extremamente impopular da continuidade do regime fascista de Franco, abdicou. Imediatamente, organizações da classe trabalhadora espanhola convocaram manifestações para exigir um referendo sobre o estabelecimento de uma república. 

Em Portugal os comunistas, e na Irlanda o partido Sinn Fein, avançaram nas eleições para o Parlamento Europeu, ganhando votos entre os jovens. E partidos direitistas perderam espaço. 

Na Grécia, o Partido Comunista obteve 6% dos votos, ao passo que o novo partido social-democrata, o Syriza, ficou em primeiro lugar com 27% dos votos. O Syriza ganhou praticamente todos os votos perdidos pelos social-democratas tradicionais, comprometidos pelo apoio que deram à austeridade. O partido fascista Aurora Dourada avançou, obtendo 11% dos votos. 

Na Itália, o partido direitista de Silvio Berlusconi perdeu pesadamente, e um voto de protesto, equivalente a cerca de 20% dos eleitores, foi para o não ortodoxo Movimento 5 Estrelas, agrupamento anti-austeridade liderado pelo comediante Beppe Grillo. Na Itália o Partido Democrático, de centro-esquerda, que governa a Itália, ficou em primeiro lugar. 

Na Alemanha, cuja classe domina controla a Europa, os partidos tradicionais mantiveram seu papel principal. Nenhum partido de esquerda ou de direita ganhou. O desemprego ainda é razoavelmente baixo na Alemanha – embora os salários dos trabalhadores tenham continuamente perdido poder de compra ao longo dos últimos 20 anos. 

Na Grã-Bretanha, tanto o partido Trabalhista como o Conservador perderam votos. A maior parte do voto de protesto foi para o relativamente indefinido mas claramente anti-UE Independence Party (UKIP). Este partido – que é diferente do declaradamente racista British National Party — ficou em primeiro lugar, com 27,5% dos votos, apesar de nunca ter obtido uma cadeira no Parlamento Britânico! 

O pior resultado foi em França, onde o partido racista Frente Nacional ficou em primeiro lugar com 25% dos votos. Nenhum partido de esquerda ganhou. O Partido Socialista, o qual está estreitamente identificado à austeridade da UE e traiu todo e qualquer vestígio de solidariedade que tivesse com a classe trabalhadora, foi jogado no lixo.

O original encontra-se em www.workers.org/articles/2014/06/07/look-inside-european-union-vote/ 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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