domingo, 7 de abril de 2013

Noite que durou décadas faz 49 anos sem deixar saudade

                                                 
                                             
 Lúcio Natalício

Rio - Com o golpe desferido contra o governo João Goulart na chamada “noite dos generais”, em 31 de março de 1964 — há exatos 49 anos —, o Brasil começou a viver décadas de chumbo. Goulart foi deposto, e as instituições democráticas mergulharam na escuridão. Jornalistas foram perseguidos, torturados e até assassinados. Foi o que aconteceu com Vladmir Herzog, em 1974, nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo. No Rio, o estudante secundarista Edson Luís foi morto com um tiro no peito pela Polícia Militar em 28 de março de 1968, durante uma operação da repressão no Calabouço, restaurante dos estudantes que virou um dos focos de resistência contra o regime militar.

Todos aqueles que eram contra a ditadura foram vítimas do crivo dos militares. Foi criada a resistência, e muitos militantes de organizações de esquerda pegaram em armas. Guerrilheiros foram mortos pela força da repressão. Artistas perseguidos tiveram que partir para o exílio, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, entre outros.

O DIA escolheu três personagens que viveram na pele os anos de sombra. Fernando Gabeira, Carlos Minc e Alfredo Sirkis contam o horror que vivenciaram nos porões. A luta contra a ditadura (1964-1985) não foi em vão. A anistia e a eleição direta para presidente, depois de anos de enfrentamentos, consolidaram a democracia. A liberdade que hoje respiramos foi conquistada com sangue, suor e lágrimas.

“Respirando o ar da democracia”

Aos 16 anos, estudante secundarista, pegou em armas contra o golpe. Lembra-se das mortes e da tortura na ditadura, como a da presidente Dilma Rousseff, e diz não guardar rancor porque a luta não foi em vão: “Hoje estamos respirando o ar da liberdade e da democracia”.
Minc participou da marcha dos 100 mil e do enterro do estudante Edson Luís, morto pela PM. Ficou preso na Ilha Grande por um ano e, ao deixar o país, passou por Argélia e Portugal, onde fez mestrado. Os marcos da vitória, segundo ele, foram a anistia e a retomada da eleição direta.

CARLOS MINC, Secretário estadual do Ambiente, 61 anos

Como cenas de um filme antigo

“Hoje, os anos de chumbo são como cenas de filme antigo, histórias desbotadas, quase implausíveis. Sinto-me anos-luz do guerrilheiro Felipe, com seus 19 anos, sua revolta e pulsão de ser herói, viver a aventura da geração que depois, como disse Alex Polari, cortou-se com cacos de sonho. Não me desconforta esse passado, e não me enaltece.
Tive a tríplice felicidade de sobreviver, não ter sido capturado, seviciado e não ter matado. A ventura de ser um guerrilheiro sortudo com um tardio sentido de realidade, que me permitiu escapar e deixou cicatrizes relativamente brandas”.

ALFREDO SIRKIS, Deputado federal, 62 anos

“Sequestro salvou 41 companheiros”

Aos 23 anos, Fernando Gabeira começou a trabalhar no ‘Jornal do Brasil’ e nunca desistiu de combater o golpe. Foi de uma dissidência do PCB e do MR-8. Após o AI-5, de 68, fundou o ‘Resistência’ numa casa em Santa Teresa, depois usada como cativeiro do embaixador americano que seu grupo sequestrou.
“Eu cedi apenas a casa para abrigar o embaixador”, lembra. Baleado e preso em São Paulo, foi levado para a Ilha Grande e libertado, com outros, em troca da soltura do embaixador alemão. “O sequestro do embaixador salvou 41 companheiros de serem mortos nos porões”, lembra. Gabeira viveu no exterior até a anistia.

FERNANDO GABEIRA, Jornalista, 72 anos

(Com o Instituto João Goulart)

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