quinta-feira, 2 de junho de 2011

Jornalistas iniciam campanha nacional pela estabilidade

Leovegildo, um dos líderes da oposição no Sindicato dos Jornalistas
 
 
Estabilidade Já
 
"O governo brasileiro atual tem que explicitar de que lado realmente está: ou dos trabalhadores, ou dos patrões. Não há outra opção."


O exercício de um jornalismo digno, crítico e transformador exige o pressuposto da liberdade. Mas como falar na liberdade do jornalista sem falar em estabilidade no emprego? Na garantia de que o trabalhador da notícia e seus familiares-dependentes não serão lançados ao absoluto desabrigo se suas informações, análises e opiniões entrarem em choque com os interesses políticos, econômicos e ideológicos dos donos da mídia? É para refletir sobre isso e lutar contra isso que a Oposição Sindical dos Jornalistas de Minas (OSJM) está lançando com este manifesto a campanha pela estabilidade no emprego no jornalismo.
Como se sabe, primeira grande medida estratégica da ditadura instalada em nosso país em 1° de abril de 1964 pelos patrões e seus prepostos militares foi a supressão da estabilidade no emprego em 1966. Até então, os novos donos do poder centraram sua ação no encarceramento, tortura e morte de comunistas, socialistas, democratas e líderes de movimentos sociais em geral e, de outro lado, na institucionalização jurídico-política da ditadura. Feito isso, os novos mandantes partiram para medidas de alcance estrutural, estratégico, que pudessem garantir – como de fato garantiram – a manutenção e ampliação de já enormes níveis de lucratividade do capital no país.
Pela lei anterior, o trabalhador do setor privado se tornava automaticamente estável após 10 (dez) anos de trabalho na empresa. Em 1966, foi baixada a lei do FGTS (5.107/66), que substituía a estabilidade por uma indenização através de uma ‘opção’ do próprio trabalhador. Com um detalhe: aqueles que não optavam eram perseguidos ou demitidos arbitrariamente sob alegações falsas de justa causa. Vivíamos uma ditadura, enfim. Foi o pilar do regime do FGTS, derrubada a estabilidade, que sustentou o arracho salarial de toda a ditadura e o consequente enriquecimento brutal da burguesia em todo o período.
Cai a ditadura em 1985, mas não cai a pesada corrente do justificado medo do desemprego que chega a impedir o trabalhador de sair à luta por seus interesses e sua dignidade. Tão importante hoje quanto identificar e punir os torturadores da ditadura é a recuperação da estabilidade no emprego para o trabalhador brasileiro.
 O governo brasileiro atual tem que explicitar de que lado realmente está: ou dos trabalhadores, ou dos patrões. Não há outra opção. Na realidade, para o trabalhador a ditadura dos patrões ainda não foi posta abaixo. O movimento sindical, hegemonizado por forças governistas, vem fazendo de conta todo este tempo que não vê este problema, já que enfrentá-lo é enfrentar o patronato em seu interesse mais fundamental: o de seus exorbitantes lucros no país. A estabidade é arma indispensável do trabalhador na luta por suas condições de vida. E hoje, diante da crescente selvageria patronal, temos inclusive que reduzir para um período razoável – de 02 (dois) anos, por exemplo – o prazo para a obtenção da estabilidade.
E para nós jornalistas a estabilidade tem uma dimensão de maior urgência e densidade. Em jogo, nossas condições materiais de vida e, mais que isso, nossa dignidade profissional. Para o real cumprimento de nossa missão de informar, formar e – o mais importante, dizer a verdade –, o trabalhador da notícia necessita da estabilidade como do próprio ar que respira. Que se enfatize ser a inexistência da estabilidade forte fator de estímulo ao assédio moral que nos vitimiza. Fator, inclusive, de deterioração moral e profissional de nossas relações no ambiente de trabalho, abrindo espaços para favorecimentos e perseguições.
É de amplo conhecimento da nossa categoria a ocorrência inclusive recente de demissões absurdas e imotivadas de companheiros de mais que comprovadas capacidades profissional e intelectual, honrados, dignos e competentes – como no caso do Hoje em Dia e Rádio Inconfidência. Citamos estes casos como exemplos emblemáticos, poderíamos citar muitos e muitíssimos mais.
Vivem hoje os jornalistas – e com particular gravidade os mineiros – o cotidiano de um nível salarial absolutamente incapaz de fazer frente às despesas de sustentação familiar e mesmo individual, o que nos obriga a recorrer a dois ou até mais empregos, com raras exceções. É preciso lutar contra isso. E é possível lutar contra isso. É para esta luta que a Oposição Sindical dos Jornalistas de Minas (OSJM) convoca toda a categoria em nosso estado. E conclama a todos os trabalhadores da notícia em nível nacional a incorporarem esta bandeira como estandarte central de suas lutas.

Belo Horizonte, junho de 2011 - OSJM

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