quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

IMPORTANTE DOCUMENTO

                                              

Não cederemos perante agressões, chantagem ou ameaças

Raúl Castro (*)

Santiagueiras e Santiagueiros,

Orientais,

Combatentes do Exército Rebelde, da luta clandestina e de todas as acções combativas em defesa da Revolução ao longo destes 55 anos,
Compatriotas:

Nem o maior dos sonhadores entre os que acompanhámos Fidel num acto como este, o Primeiro de Janeiro de 1959, podia imaginar que hoje estaríamos aqui.

Não foi nada fácil este longo e acidentado caminho. Em primeiro lugar foi possível graças à imensa capacidade de resistência e luta de várias gerações do nobre e heróico povo cubano, verdadeiro protagonista desta sua Revolução, que é o triunfo do ideal dos mambises que em 1868, com Céspedes à cabeça, iniciaram a guerra pela independência do jugo espanhol; de Maceo e Gómez, com quem Martí em 1895 retoma a gesta libertadora truncada pela intervenção norte-americana em 1898, que impediu a entrada em Santiago de Cuba do Exército Libertador.

É também a causa dos que se levantaram contra a república burguesa e neocolonial, como Baliño, Mella, Rúben, Martinez, Guiteras e Jesús Menéndez, para só citar alguns.

Foi esse o afã que motivou a Geração do Centenário, sob o comando de Fidel, a assaltar os quartéis de Moncada nesta cidade e de Carlos Manuel de Céspedes em Bayamo; ao sobrepor-se ao fracasso, resistir ao rigor da prisão, vir na expedição do iate Granma, suportar o duro revés de Alegria de Pío e encaminhar-se para a Serra Maestra, para começar a luta guerrilheira do nascente Exército Rebelde, cujo Primeiro Comandante, exemplo pessoal de valor em combate, tenacidade e inultrapassável fé na vitória, aliada à sua vocação unitária e indiscutível liderança soube forjar a unidade de todas as forças revolucionárias e conduzi-las ao triunfo definitivo.

Exactamente 60 anos depois de os interventores norte-americanos escamotearem a vitória das hostes insurrectas, desta vez os mambises puderam entrar na cidade de Santiago de Cuba.

Prestamos hoje merecido tributo aos que entregaram as suas vidas em montanhas, campos e cidades, combatentes do Exército Rebelde e lutadores clandestinos, àqueles que depois do triunfo caíram noutras muitas honrosas missões, a todos os que dedicaram a sua juventude e energias a construir o socialismo, guiando-se pela prédica martiana de que toda a glória do mundo cabe num bago de milho, e que não há satisfação nem prémio maior do que o cumprimento do dever.

Não podemos deixar de mencionar a contribuição decisiva das mulheres cubanas ao longo do processo revolucionário, como dignas continuadoras do exemplo de Mariana Grajales, mãe dos Maceo, tanto na luta guerrilheira como particularmente na clandestinidade, submetidas a brutal perseguição dos esbirros da tirania. Na passagem deste 55º aniversário, a Televisão Cubana tem estado a difundir uma série histórica, Clandestinas, como justa homenagem àquelas valorosas raparigas que tantas vezes arriscaram a vida. Algumas delas encontram-se aqui presentes para nossa alegria.

Neste mesmo lugar, no Primeiro de Janeiro de 1959, no meio do júbilo popular que se apoderou de todo o país, já Fidel premonitoriamente advertia, cito: "A Revolução começa agora, a Revolução não será uma tarefa fácil, a Revolução será um empreendimento duro e cheio de perigos."

Desde bem cedo, se puseram em marcha os planos de desestabilização, tendo começado pela oferta de refúgio nos Estados Unidos a criminosos e torturadores do regime de Batista e a toda a espécie de corruptos que se apropriaram do erário da nação.

A Revolução triunfante teve que enfrentar o fomento e a organização do terrorismo de Estado através da sabotagem e do banditismo armado, que por duas vezes chegou a actuar nas seis províncias em que então se dividia administrativamente o país; a exclusão de Cuba da OEA [N. do T.: Organização dos Estados Americanos] e a ruptura das relações diplomáticas por todas todos os países latino-americanos, com a honrosa excepção do México; a invasão de Playa Girón, o bloqueio económico e comercial e financeiro, a massiva campanha mediática para difamar o processo revolucionário e os seus líderes, especialmente contra Fidel, que foi objecto de mais de 600 planos de atentado; a crise dos misseis em Outubro de 1962, o sequestro e ataques a embarcações e aeronaves civis, o assassínio de professores e alfabetizadores, operários e camponeses, estudantes e diplomáticos que deixou um rasto de 3.478 mortos e 2.099 inválidos.

Foram 55 anos de incessante luta contra os desígnios de onze administrações norte-americanas que, com maior ou menor hostilidade, nunca desistiram do seu propósito de mudar o regime económico e social fruto da Revolução, de apagar o seu exemplo e reinstaurar o domínio imperial sobre a nossa Pátria.

A Revolução Cubana pôs fim a vários mitos, entre eles o de que não era possível construir o socialismo numa pequena ilha a 90 milhas dos Estados Unidos. Uma Revolução que não foi consequência de um confronto internacional nem contou com apoio massivo do exterior. Uma Revolução que não se limitou à substituição de um poder pelo outro, mas que em menos de 24 horas destruiu a maquinaria repressiva do regime ditatorial e assentou as bases de uma nova sociedade.

Uma Revolução que construiu um exército que é o povo uniformizado, e elaborou, para se defender, a sua própria doutrina militar.

Uma Revolução que cumpre 55 anos de trabalho por e para o povo, a quem fez dono da sua própria terra e das indústrias, alfabetizando primeiro e formando professores, construiu escolas gerais e especiais para todas as crianças, universidades, escolas de arte e desportos, edificou policlínicas e hospitais, preparou médicos para Cuba e para o mundo. Uma Revolução que nos levou a atingir níveis de educação e saúde que hoje são referência internacional.

Uma Revolução que assentou as bases para democratizar os espaços de criação, difusão e acesso à cultura.

Resumindo, uma Revolução que tornou realidade e prosseguirá a cumprir o anseio profundo martiano que preside à Constituição e diz, cito: «Eu quero que a primeira lei da nossa República seja o culto dos cubanos pela dignidade plena do homem».

Ao falar destas questões, recordo a frase de Fidel em 26 de Julho de 2003 ao intervir no comício do 50º aniversário de Moncada, quando afirmou: «educar o povo na verdade, com palavras e factos irrebatíveis, foi talvez o factor fundamental da grandiosa proeza que este realizou».

Como qualificar de outro modo a colossal capacidade de resistência e de confiança em si mesmo que o nosso povo ofereceu ao mundo, que soube resistir estoicamente durante o duríssimo período especial a que nos vimos submetidos em consequência do desaparecimento da União Soviética e do campo socialista, no meio de uma onda de incerteza e desmoralização que esses dramáticos acontecimentos provocaram em boa parte das forças progressistas da humanidade.

A imagem de Cuba, famosa na América antes da Revolução como um paraíso para o jogo e a prostituição, refúgio de mafiosos e destino preferido dos seus investimentos sujos, facilitados pela generalizada corrupção administrativa da tirania, transformou-se através do processo revolucionário em símbolo da dignidade, da independência, humanismo e intransigente defesa dos princípios.

De acordo com a máxima de Martí, a Revolução nunca perguntou de que lado se vive melhor, mas de que lado está o dever. Fomos coerentes e consequentes com a ética martiana. Ao longo de 55 anos recebemos a solidariedade nobre e generosa de muitos povos irmãos, em primeiro lugar da União Soviética enquanto existiu e muito especialmente nos primeiros e difíceis anos, no tempo em que oferecíamos o nosso apoio solidário em distintas regiões do planeta, tanto em gloriosas missões internacionalistas de combate como nos programas de colaboração médica, educacional, desportiva e noutros campos, tornando realidade o legado de que «Pátria é Humanidade».

Jamais cedemos perante agressões, chantagem ou ameaças. A política externa da Revolução sempre foi uma arma poderosa para defender a independência, a autodeterminação e a soberania nacionais, a favor da paz mundial, do desenvolvimento, da justiça social e da solidariedade com os povos do Terceiro Mundo.

O planeta que habitamos mudou muito desde o primeiro de Janeiro de 1959. Esta pequena ilha, que através de brutais pressões dos governos norte-americanos se pretendeu separar do seu meio regional, exerce a presidência Pro Tempore da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) e prepara-se para realizar a sua Cimeira em Havana no final deste mês, animada pelo ideal de forjar uma nova unidade dentro da diversidade da Nossa América.

Não esqueçamos a singular coincidência histórica de numa data como a de hoje, 1º de Janeiro, há 210 anos, triunfou a primeira revolução na região latino-americana e caribenha, e que também foi a primeira e única vitória de um movimento dirigido por escravos negros que lutavam contra esse sistema vergonhoso, e ao mesmo tempo pela independência nacional.

Os efeitos daqueles dramáticos acontecimentos repercutiram-se em Cuba, inclusive corre sangue haitiano nas veias de não poucos orientais.

Ambas as nações têm tido que pagar um preço elevado pela audácia de enfrentar os impérios dominantes.

Ao abordar este assunto, quero reiterar ao povo irmão haitiano e ao seu governo que os cubanos jamais os abandonarão, e que podem contar sempre com a nossa modesta colaboração.

Companheiras e companheiros:

Aproveito a ocasião para dedicar umas breves palavras à marcha dos importantes programas de interesse para Santiago de Cuba.

Com um custo de mais de 200 milhões de dólares fez-se a reconstrução do aqueduto da segunda cidade em população do país, onde um quarto de milhão de habitantes recebia um serviço de abastecimento de água entre 7 e 9 dias, outros 76.500 tinham um ciclo de distribuição superior a 15 dias e mais de 16.000 nem sequer contavam com o aqueduto, o que levava ao transporte à volta de 200 viagens diárias com barris para os abastecer, com um elevado consumo de combustível.

Para quase todos vós hoje a situação descrita pertence ao passado, pois dos 32 sectores hidrométricos existentes, 29 abastecem-se diariamente ficando três que o fazem em dias alternados e trabalha-se para calibrar o sistema de distribuição e alcançar a meta traçada. Além disso, foram reabilitadas as três estações de tratamento e 22 estações de bobagem.

Também como parte deste programa se iniciou a construção da conduta e drenagem pluvial, especificamente no bairro de San Pedrito, o que será extensivo ao resto da cidade em 2014.

Dotou-se a Empresa de Aqueduto e Esgotos do equipamento necessário para assegurar a sustentabilidade dos seus serviços. Cabe agora a todos vós fazer o uso racional da água.

Como é sabido, esta cidade sofreu a fúria do furacão Sandy na madrugada de 25 de Outubro de 2012, que também afectou, ainda que em menor escala, as províncias de Holguin e Guantánamo. A perda de 11 vidas humanas e as desoladoras imagens de destruição de habitações, infra-estruturas e instalações vitais que sofremos nos primeiros dias posteriores ao acontecimento evidenciaram, a par da solidariedade nacional e internacional em primeiro lugar dos irmãos venezuelanos, a capacidade do povo santiagueiro para vencer qualquer obstáculo.

Depois de um ano e dois meses de intenso trabalho conseguiu-se solucionar 50% das 171.380 afectações reportadas a habitações, além disso foram restabelecidas 97% das instalações de saúde pública, 88% das do sistema de educação, 82% das de cultura e desporto, assim como cem por cento dos casos da indústria alimentar.

Apesar do incumprimento do plano provincial de novas habitações, atingiram-se as 331 planificadas para o bairro de San Pedrito, historicamente um dos mais modestos, e continuam os trabalhos noutras zonas da cidade.

Prosseguiremos a partir do Governo Central o controlo sistemático destes trabalhos até ao seu total restabelecimento.

Para conseguir edificar uma cidade cada vez mais bela, higiénica, ordenada e disciplinada, à altura da sua condição de Cidade Histórica, berço da Revolução como expressei em 26 de Julho do ano passado na comemoração do 60º aniversário de Moncada, corresponde agora, em primeiro lugar às autoridades, com o apoio dos seus cidadãos, reforçar o respeito – repito, reforçar o respeito – ao papel que deve ter a Planificação Física, para o que contribuirá o estrito cumprimento do novo Plano de Ordenamento Territorial da cidade, que será aprovado este ano pela Assembleia Provincial do Poder Popular.

Penso que se todos cumprirmos com o nosso dever, poderemos continuar a assegurar que «Santiago continua a ser Santiago». Exactamente. Se quiséssemos ajudar a traduzi-lo, isso quer dizer que se pode construir, mas não onde a cada um lhe ocorra, se não nunca mais vamos ter a cidade como dizíamos em 26 de Julho e hoje: bela, higiénica, ordenada e disciplinada. Estão de acordo?

Até aqui falei do que queria dizer-lhes sobre ambos os programas.

Agora, no tempo que me resta, abordarei uma questão que tem um largo caminho a percorrer. Refiro-me ao desafio que nos impõe a permanente campanha de subversão politico-ideológica, concebida e dirigida a partir dos centros do poder global, para recolonizar as mentes dos povos e anular as suas aspirações de construir um mundo melhor.

Na sua brilhante definição do conceito «Revolução» formulada no 1º de Maio de 2000, na Praça da Revolução, em Havana, Fidel enunciou, entre outras, o seguinte:
«Revolução é desafiar poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional»; «é defender valores em que se acredita pelo preço de qualquer sacrifício»; «é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das ideias».

No nosso caso, como sucede em várias regiões do mundo, percebem-se tentativas de introduzir subtilmente plataformas de pensamento neoliberal e de restauração do capitalismo neocolonial alinhadas contra a própria essência da Revolução Socialista, a partir de uma manipulação premeditada da história e da situação actual de crise geral do sistema capitalista, com menosprezo pelos valores, a identidade e a cultura nacionais, favorecendo o individualismo, o egoísmo e o interesse mercantilista, sem importar a moral.

Em resumo empenham-se com afã a enganosamente em vender aos mais jovens as supostas vantagens de prescindir de ideologias e consciência social, como se esses preceitos não representassem totalmente os interesses da classe dominante no mundo capitalista. Com isso pretendem, além disso, induzir a ruptura entre a direcção histórica da Revolução e as novas gerações, e promoverem a incerteza e o pessimismo em relação ao futuro, tudo isso com claro objectivo de desmantelar a partir de dentro o socialismo em Cuba.

Nas presentes circunstâncias, o desafio torna-se maior e estamos seguros que com o concurso das forças de que dispõe a Revolução sairemos vitoriosos neste decisivo campo de batalha, tornando realidade os objectivos que na esfera ideológica aprovou a Primeira Conferência Nacional do Partido há dois anos, direcção em que não se avançou o necessário.

Há muitíssimo trabalho por fazer. Para isso contamos com a pujança e o compromisso patriótico da grande massa de intelectuais, artistas e professores, revolucionários, bem como com a firmeza dos nossos centros de investigações sociais, universidades e dos seus estudantes, que ainda não utilizaram plenamente as suas potencialidades.

O empenho em disseminar ideias que negam a vitalidade dos conceitos marxistas, leninista e martianos, deverá contrariar-se, entre outros meios, com uma criativa conceptualização teórica do socialismo possível nas condições de Cuba, como única alternativa de igualdade e justiça para todos.

As novas gerações de dirigentes, que paulatina e ordenadamente vão assumindo as principais responsabilidades na direcção da nação, nunca poderão esquecer que esta é a Revolução Socialista dos humildes, pelos humildes e para os humildes, premissa imprescindível e antídoto efectivo para não cair sob o influxo dos cantos de sereia do inimigo, que não renunciará ao objectivo de os distanciar do nosso povo, com o propósito de socavar a sua unidade com o Partido Comunista, único herdeiro legítimo do legado e da autoridade Primeiro Comandante da Revolução Cubana, o companheiro Fidel Castro Ruz.

Neste sentido, vale a pena recordar agora a relevância que tem continuar o aperfeiçoamento constante do princípio de consultar de maneira directa a população nas decisões vitais para o desenvolvimento da sociedade, como ficou demonstrado durante o processo prévio de aprovação do novo Código de Trabalho pela nossa Assembleia Nacional, tal como na sua altura se fez com os Alinhamentos da Política Económica e Social, que depois do seu amplo e democrático exame popular foram aprovados pelo Sexto Congresso do Partido e referendados posteriormente no nosso Parlamento, perante qual se prestam contas duas vezes por ano sobre a sua implementação, tal como também acontece no seio do Governo e do Partido.

Com este método poder-se-á garantir que o programa da Revolução se actualize a cada cinco anos, para que responda sempre aos interesses do povo nos assuntos fundamentais da sociedade e corrigir oportunamente qualquer erro. Assim se assegurará também o permanente aperfeiçoamento e aprofundamento da nossa democracia socialista.

Estreitamente ligada a estes conceitos de alcance estratégico, verdadeiramente estratégico para o presente e o futuro da Pátria, está a frase aqui pronunciada por Fidel, quase à mesma hora, a partir exactamente desta varanda, faz hoje 55 anos, com a qual, pela sua eterna vigência desejo concluir as minhas palavras, cito: «A Revolução chega ao triunfo absolutamente sem compromissos com ninguém, apenas com o povo, que é o único a quem deve as suas vitórias»

Cinquenta e cinco anos depois, no mesmo local, podemos repetir com orgulho: A Revolução continua igual, absolutamente sem compromissos com ninguém, apenas com o povo!

Muito obrigado.

* Discurso pronunciado na comemoração do 55º aniversário do triunfo da Revolução, no Parque Carlos Manuel Cespedes, Santiago de Cuba, em 1 de Janeiro de 2014.

Este texto foi publicado em:

http://www.cubadebate.cu/opinion/2014/01/01/discurso-de-raul-en-santiago-no-cederemos-ante-agresiones-chantajes-ni-amenazas-fotos-y-video/

Tradução de José Paulo Gascão

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