As manifestações de rua antigamente
José Carlos Alexandre
Não me lembro bem, tampouco sei precisar a data. Mas a história me foi relatada mais de uma vez pelo ex-deputado Sinval Bambirra, meu amigo bem antes de sua eleição, cassação, exílio forçado e, principalmente depois da Anistia, quando nos tornamos vizinhos.
Ele, João Luzia e mais meia dúzia talvez de sindicalistas certa ocasião foram para a sede do 12º RI, o destacamento do Exército em Belo Horizonte, para fazer pão. Queriam provar que o aumento do pãozinho francês, sacrificando a população não era necessário...
Já nos anos 60, bem antes de 64, não foi apenas uma mas inúmeras as vezes em que sindicalistas e estudantes foram para as ruas protestar contra aumento das passagens, da inflação etc.
Com relação à alta do custo de vida, lembro-me como era custosa a preparação dos "comícios da panela vazia"...
Nós, jovens militantes da esquerda, levávamos vários sábados e domingos percorrendo as vilas (aglomerados hoje, favelas recém-nascidas,então) conclamando moradores para descer o morro em direção ao centro da cidade para protestar contra a alta dos preços do arroz, do feijão, da carne do pão, dentre outros produtos do que se poderia chamar hoje de componentes da cesta básica.
Praticamente eramos os mesmos a subir os morros. Dentre alguns deles: Vicente Gonçalves, Dimas Perrin, Jacques Siqueira, Edilson de Almeida Júpiter, Barnabé, Francisco Farias Nascimento, Padre Lage, este blogueiro ,duas assistentes sociais cujos nome não posso declinar aqui etc.
E conseguíamos êxito. Com o povo enchendo a maior parte da Praça da Rodoviária, onde ainda existia a Feira de Amostras (foto) , onde hoje é a rodoviária...
E a fala do Chico Nascimento (Francisco Farias Nascimento) era aplaudida principalmente quando se referia ao "paredão", existente em Cuba.
Dizia Nascimento mais ou menos assim: "Aqui os tubarões exploram sem cessar o povo.Lá em Cuba, Fidel Castro os manda direto para o "paredão".
E todo mundo sonhava, no fundo, que exploradores do povo, dentre eles negociantes desonestos, "tubarões do ensino", latifundiários e outros exploradores indesejáveis, tivessem o mesmo destino que na Cuba de Fidel...
A gente, na verdade, tinha poucas informações da realidade cubana Não existia internet e a imprensa independente, como o Binômio, em BH, estava apenas em seu embrião...
Este blogueiro, com Chico Nascimento, Jacques Siqueira e outros, produzíamos "O Barraco", jornal destinado aos favelados, mimeografado com dificuldades a toda prova...
Depois de certo tempo, o jornalzinho da Federação dos Favelados passou a circular junto com o "Binômio", de José Maria Rabelo, que logo logo concorreu à prefeitura de BH.
Na campanha "O Tostão contra o Milhão". Isto é, a campanha do jornalista ligado à camadas populares, candidato do então PSB, não este de hoje, mas o velho PSB de João Mangabeira, de Palmyos Paixão Carneiro, do professor Fernando Correa Dias etc.E do outro lado, candidatos mais ligados à grande burguesia, como Nilton Velloso ou deputados trabalhistas como José Raimundo...
"Tempos idos e vividos", como diriam velhos cronistas e escritores mineiros.
E que agora praticamente retornam, mas asas da luta por transporte coletivo decente, tarifa zero, contra a corrupção etc.
Velho militante de esquerda acrescento: a luta deve ser também por um Congresso Unicameral e por uma nova Constituinte que traga uma reforma agrária verdadeira e uma reforma política que nos traga dias melhores.
E que possa nos conduzir ao socialismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário