sexta-feira, 14 de junho de 2013

“Caro e deficiente, má qualidade do transporte é que gera rebeliões”

“Caro e deficiente, má qualidade do transporte é que gera rebeliões”

 Alcyr Cavalcanti (*)
                                            

Flagrante de policial agredindo equipe de reportagem com spray de pimenta. (Crédito: Rodrigo Paiva/ Divulgação)

Um sistema de transportes muito caro e pouco eficiente tem provocado uma série de protestos, deixando perplexas as autoridades, que têm usado o aparato repressivo como a única solução, podendo levar a uma escalada de violência em um ciclo interminável.  

O número de atentados e a violência extremada atingindo pessoas comuns e jornalistas tem aumentado em todos os continentes. A globalização da violência e da tentativa de impedir a informação, principalmente no registro de imagens e testemunho de repórteres, tem levado a agressões a jornalistas, aumentando a escalada da violência em um processo que coloca em risco um dos pilares do sistema democrático: o direito à informação.

A violência desproporcional por parte do aparato repressivo tem demonstrado uma Polícia despreparada, atingindo indiscriminadamente manifestantes que protestavam legitimamente contra as péssimas condições de transporte principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

A cidade do Rio de Janeiro tem um sistema de transportes péssimo, no qual quase nada funciona a contento. A retirada das vans da Zona Sul contribuiu para tornar ainda mais caótico o sistema na cidade. O metrô poderia ser a solução, mas somente foi estendido para a Zona Sul, enquanto a Linha 2 (Pavuna) funciona precariamente, e a modificação do plano de sua extensão não deu nenhuma melhoria; a chamada malha viária ficou apenas no papel. O metrô funciona somente em uma direção, ao contrário das outras cidades, com sistema bem mais eficiente.

Em São Paulo a truculência policial ficou voltada para jornalistas que apenas cumpriam sua função de informar. Ficaram feridos os repórteres Ana Krepp, Felix Lima, Leandro Machado, Giuliana Vallone, Rodrigo Machado e os repórteres-fotográficos Fábio Braga e Marlene Bergamo. 

Giuliana Vallone foi atingida por bala de festim no olho direito quando estava em um estacionamento e Fábio Braga foi atingido no rosto e na virilha; ambos foram hospitalizados. No protesto em São Paulo 137 manifestantes foram detidos. 

No Rio o protesto que começou de maneira pacifica, em ritmo de paz e amor, terminou em pancadaria, com a PM disparando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. O confronto terminou com a prisão de dezoito pessoas levadas para a 5ª DP, no Centro da Cidade.

Embora alguns teóricos e “especialistas em transportes” mal informados coloquem a culpa nos manifestantes, fazendo a acusação de que é difícil entender por que protestam, rejeitando o diálogo, essa cominação mostra total desconhecimento da realidade do dia-a-dia dos transportes na outrora Cidade Maravilhosa.

Seria aconselhável fazer um tour de São Gonçalo até o Recreio dos Bandeirantes às sete da manhã ou de volta às cinco da tarde, para que talvez mudassem de idéia. E quem sabe, os governantes, únicos responsáveis pela crise atual, chamassem os manifestantes para o diálogo, em vez de ordenarem a repressão como norma, assumindo o compromisso de melhorar um sistema de transportes muito caro, caótico e ultrapassado.

(*) Alcyr Cavalcanti, antropólogo e repórter-fotográfico, é Diretor de Jornalismo da ABI 

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