É incontestável por grupos das mais diversas posições que estamos vivendo um momento singular de efervescência política. Normalmente, há uma clara identificação da disputa política com a disputa eleitoral. As pessoas, que geralmente estão fora da discussão política cotidiana, passaram a discutir nas esquinas, nos seus locais de trabalho e lazer, nas redes sociais, sobre os sentidos do que está acontecendo neste momento, não só em nosso país, mas também em escala mundial. A disputa política que costuma acontecer exclusivamente em anos eleitorais está ganhando as ruas e certamente existem pessoas que estão nelas pela primeira vez.
Apesar das aparências, o cenário político que se apresenta é bastante complexo. Um movimento apartidário reivindica a organização dos atos e reúne uma parte da população cronicamente descrente com a transformação social pela via eleitoral. Este sentimento é bastante compreensível para quem desde os anos 80 apostou no PT e viu, enfim, a subida de um trabalhador ao poder. “A esperança venceu o medo”, dizia-se.
Nos 10 anos de governo do partido nenhuma mudança substancial foi feita. Nestes 10 anos as alianças políticas que foram feitas – com partidos de direita – apontam ainda mais explicitamente para a não realização de uma transformação social. Nesse cenário, a descrença com a possibilidade de outro projeto partidário-eleitoral surge para a população como uma perda de tempo. O povo não quer acreditar novamente em um plano eleitoral para daqui a 30 anos se deparar com uma nova decepção. É dessa descrença política que surge a força do argumento apartidário.
Alguns sentidos do apartidarismo se fazem presentes. Evoquemos uma imagem. O grito de ordem contra os partidos políticos nas manifestações. Quem grita palavras de ordem como “Sem Partido!”, ou “Abaixa essa bandeira!”? Grosso modo, existem três grupos que fazem esse coro. Em sua grande maioria – pelo caráter numérico – pessoas que recentemente aderiram às discussões políticas de forma independente; outro grupo que se representa como Anonymous; além de uma pequena parcela da extrema direita nacional.
Portanto, o grito em si é heterogêneo e não traz consigo o sentido desta negação partidária. Há três sentidos majoritários. De um lado, a reflexão que vem da insatisfação eleitoral, de outro, a tentativa de realizar um movimento revolucionário independente e, por parte do terceiro grupo, um claro revigoramento de ideais fascistas.
É preciso explicitar que este terceiro grupo, apesar do apelo apartidário, tem um interesse notório de excluir violentamente os partidos PCB, PSTU e PSOL, que em todas as suas respectivas trajetórias lutaram nas ruas junto com as pessoas e lidaram com a truculência policial. No entanto, este grupo de extrema direita é, ele próprio, bastante partidarizado.
Basta ver a aproximação entre este grupo com a “Família Bolsonaro” do Partido Progressista (PP). Eles sempre se apresentam publicamente com a bandeira do Brasil defendendo fortemente a homofobia, o racismo, a internação compulsória, a redução da maioridade penal, o estatuto do nascituro, e agora, contraditoriamente, visto que também é um partido, a partidofobia.
Na correlação de forças atual é preciso politizar nossa prática. É preciso saber o que é ser apartidário! Ser apartidário é não se sentir representado por organizações políticas partidárias manifestando sua liberdade de expressão. Proibir e queimar bandeiras, espancar e arremessar objetos em militantes são atos que proíbem a liberdade de expressão! Essa posição é autoritária e anti-partidária!
Agir dessa forma cria obstáculos aos trabalhos cotidianos do PCB, PSTU e PSOL em sua militância na saúde, na educação, na mobilidade urbana, entre outros, contribuindo, como quer o PP – partido apartidarizado - e seu truculento grupo de apoio para a volta à exclusividade da política partidária das urnas.
Bruno Pizze e Andre Vieira (militantes do PCB RJ)
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