quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Um dirigente comunista de projeção internacional que ultrapassa as fronteiras do século XX

                                                                    
                                                         


Severino Menéndez (*)


Para os comunistas de todo o mundo este centenário é um momento de homenagem necessária, mas também uma nova oportunidade de compartilhar e entender o exemplo e a obra de um homem que, perante os avanços e retrocessos dos processos revolucionários, soube manter a perspectiva no objectivo do socialismo e do comunismo e a confiança na classe operária e na capacidade desta em realizar a sua missão histórica.

A 10 de Novembro do presente ano cumpre-se o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, militante do Partido Comunista Português de que chegou a ser Secretário-geral, dirigente destacado do Movimento Comunista Internacional.

Para os comunistas de todo o mundo este centenário é um momento de homenagem necessária, mas também uma nova oportunidade de compartilhar e entender o exemplo e a obra de um homem que, perante os avanços e retrocessos dos processos revolucionários, soube manter a perspectiva no objectivo do socialismo e do comunismo e a confiança na classe operária e na capacidade desta em realizar a sua missão histórica.

Homem de criação e compromisso inquebrantáveis, protagonizou uma das mais importantes contribuições, sempre imerso no trabalho partidário, na derrota do fascismo em Portugal, sendo, indubitavelmente, o grande teórico da Revolução de Abril.

Obras como Rumo à Vitória (1964), Relatório da Actividade do CC ao VI Congresso do PCP (1965) e Contribuição para o Estudo da Questão Agrária (1966), escritas uma década antes da Revolução de Abril, são textos fundamentais para a compreensão do processo revolucionário que acabaria com a ditadura fascista em Portugal. Vivendo o próprio processo revolucionário a confirmar a validade estrutural das suas análises, previsões e alertas, assim como a validade dos objectivos aí propostos a serem alcançados com a revolução.

Homem de coragem e fortes convicções, soube não sucumbir às duras circunstâncias da luta sob o fascismo que o obrigou a passar por torturas e prisões várias vezes, uma delas 11 anos seguidos dos quais 8 foram de isolamento, até à sua fuga com outros camaradas da prisão-fortaleza de Peniche.

Mesmo assim manteve a alegria de viver e de lutar que lhe vinha de uma profunda convicção na justiça da causa entusiasmante e invencível da libertação dos trabalhadores e dos povos de toda a espécie de exploração e opressão.

Só assim se pode entender como ele e tantos outros ao longo da história, afirmando considerar a actividade partidária como aspecto central das suas vidas consagraram e consagram tempo, energias, faculdades e atenção à actividade do Partido. Enfrentando com as nossas ideias e a nossa luta toda a espécie de dificuldades, perigos e perseguições, até torturas e condenações se as condições assim o impuserem, e perder mesmo a vida tal seja necessário.

Um homem de partido que viu com clareza que a união com a classe operária e as massas populares é a essência e a substância da acção do Partido e a origem básica da sua força e da sua capacidade de sobrevivência e resistência nas mais variadas provas. Natureza de classe que é determinante nos hábitos de organização e de disciplina, de clareza de objectivos, de coesão, de espírito colectivo, de capacidade de organização, de combatividade e de solidariedade.

Natureza de classe que se afirma e se revela em primeiro lugar na ideologia, já que o marxismo-leninismo é a ideologia da classe operária na época de transição do capitalismo para o socialismo. Mas também nos seus objectivos, já que a libertação da exploração capitalista e a construção do socialismo e do comunismo significam a subida da classe operária a classe dirigente e governante da sociedade, a liquidação da exploração capitalista da qual a classe operária é o principal objectivo, a criação de uma nova sociedade que se corresponde com os interesses, as necessidades e as aspirações da classe operária.

Natureza de classe que também se afirma e se revela na composição social maioritariamente operária. Na sua estrutura orgânica, já que as organizações no lugar de trabalho, em especial as células de empresas constituem a forma fundamental e prioritária da organização de base do Partido. No trabalho de massas e em geral em todos os aspectos da sua actividade.

Um homem de teoria e prática que em cada situação concreta soube desenvolver uma análise correcta baseado no estudo das condições em que a luta devia desenvolver-se, fugindo dos caminhos fáceis que oferecem todo o tipo de oportunidades encontrou caminho correctos e os percorreu sempre numa das aplicações práticas mais lúcidas do marxismo-leninismo que se puderam observar ao longo do século XX.

Marxismo-leninismo entendido como doutrina que explica o mundo e indica como transformá-lo e cujos princípios constituem um instrumento indispensável para a análise científica da realidade, dos novos fenómenos e da evolução social e para a definição de soluções correctas para os problemas concretos que a situação objectiva e a luta apresentam às forças revolucionárias. 

Uma doutrina em movimento e constantemente enriquecida pelo avanço da ciência pelos novos conhecimentos, pelos resultados da análise dos novos fenómenos e pela riquíssima e variada experiência do processo revolucionário. E de que a separam tantos dogmatismos como oportunismos.

Um camarada que, no debate sobre o eurocomunismo, soube ver nele um termo inexacto, que não tinha qualquer rigor nem geográfico nem político. De resto, um termo estranho que não surgiu dos comunistas, mas sim de fora do movimento comunista. E soube diferençar acertadamente os aspectos em volta do debate central.

Um, centrado na esquerda justa e necessária de cada partido comunista de um caminho, de acordo com as condições específicas económicas, políticas e tradicionais de cada país. E outro aspecto, e esse muito diferente, o de toda uma tentativa do exterior do mundo operário de empurrar os partidos operários, com base numa errónea procura da independência, a opor soluções nacionais e soluções que outros povos encontraram para construir o socialismo, a opor em definitivo o projecto político dos países da Europa capitalista ao socialismo. E por isso, enquanto reivindicava o caminho próprio da luta pelo Socialismo em Portugal, assentava-o numa posição firme em defesa da unidade das forças revolucionárias do mundo contemporâneo.

Entendo assim que um partido revolucionário da classe operária se afirma na altura da sua soberania quando sabe manter integralmente a sua independência de classe que se afirma e confirma na sua orientação marxista-leninista e na segurança das suas posições na base do internacionalismo proletário.

A sua obra e a sua prática tornaram-se para milhares de comunistas em todo o mundo uma ferramenta de combate de valor máximo, até nos momentos em que o sonho de liberdade e emancipação parecia ter caído perante o avanço da contra-revolução nos países que ena Europa construíram o Socialismo e a humanidade parecia condenada a um capitalismo eterno que alguns teóricos do mesmo qualificaram como o fim da história, soube a partir da teoria e da prática manter-se firme, sem dogmatismos, mas sem renunciar nunca ao marxismo-leninismo como ideologia da classe operária na época histórica de transição do capitalismo para o socialismo e o comunismo.

Quando outros dobravam as velas ao ver o triunfo momentâneo da contra-revolução, ele manteve a confiança na classe operária e na sua ideologia, assim como nos princípios que definem e dão carta de natureza a um Partido Comunista. Contribuindo, como sempre o fez, para a construção do grande colectivo partidário que é o PCP mas também ajudando, a partir do plano teórico, a toda aquela militância comunista que no mundo se negou a dar-se por derrotada, a manter a luta. Ainda ressoa na nossa cabeça «O comunismo não morreu neste século, nasceu neste século», que ele gostava de afirmar em intervenções públicas e artigos que nos finais do século XX alimentavam o combate contra o derrotismo.

Recordemos também por fim, uma frase popular que dizia que passados os tempos difíceis sempre nos recordaríamos de duas coisas, de quem esteve connosco e de quem esteve contra nós. Declaram os últimos que já não estás vivo mas desconhecem que sentimos a tua força em cada trincheira. Por isso, camarada Álvaro Cunhal, nunca abandonarás como um dos nossos o lugar destacado que ocupas na memória colectiva da classe operária e dos povos do mundo que lutam pela sua emancipação na perspectiva do Socialismo e do Comunismo.

 (*)  Severino Menéndez é membro do CC do Partido Comunista dos Povos de Espanha (Com odiario.info)

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