Pablo Jofré Leal
O premier israelense deu a conhecer o plano que tenta implantar em relação à Síria desde o início da agressão contra este país árabe, fevereiro do ano de 2011: desintegrar e balcanizar (1) esta nação levantina.
Com sua característica soberba e verborragia, o primeiro-ministro da entidade sionista, Benjamín Netanyahu, aproveitou o espaço outorgado pelo Fórum Econômico Mundial, celebrado na localidade de Davos, Suíça, onde ano após ano se reúne a flor e a nata dos poderes financeiros e políticos do mundo ocidental, para dar apresentar e deixar claro o verdadeiro plano que persegue com relação à República da Síria desde o início da agressão contra este país árabe, fevereiro de 2011: desintegrar e balcanizar (1) esta nação levantina.
Na comodidade dos salões de Davos, longe do ruído de bombas, operações militares, ataques terroristas e milhares de mortos, Netanyahu defendeu, em 22 de janeiro passado, que “a opção mais benigna para a Síria seria uma balcanização ou fragmentação do país árabe, que sob as atuais circunstâncias é o melhor que se poderia obter. Isto, porque tenho serias dúvidas que um Estado Unitário volte a governar o país”.
Na oportunidade, Netanyahu revelou, igualmente, que está sendo gerado o aumento da multimilionária ajuda financeira e militar que recebe dos Estados Unidos, para manter o status de Israel como polícia do ocidente no Oriente Médio.
A opinião do político sionista com relação à fragmentação da Síria demonstra a política criminosa que foi executada contra a nação árabe e seu povo, que em prol dos afãs, interesses políticos e econômicos significou agredir, atacar, bombardear e destruir um país com cifras que, desde fevereiro do ano 2011 até a data atual, significou a morte de 280 mil sírios, sete milhões de deslocados internos, 4.5 milhões de refugiados – principalmente em países vizinhos – e a destruição de sua infraestrutura energética, de serviços, indústria, infraestrutura viária e sanitária.
Dividir para reinar
As palavras de Netanyahu deixam claro aquilo que de tão óbvio parece invisível: o objetivo vislumbrado por Washington e seus aliados agrupados principalmente na tríade Riad-Ankara-Tel Aviv é repartir os restos de um país e influenciar dessa maneira na região do Oriente Médio. Desintegrar a Síria, dividi-la em zonas de influência e, ao mesmo tempo, gerar com isso uma balcanização mais global da zona, como se está verificando com o Iraque. E, desse modo, cumprir o objetivo de cercar o Irã e impedir a expansão russa para o que essa Federação considera suas zonas de influência geopolítica.
Em Davos, a verbalização do líder sionista exteriorizou o que o governo sírio, além do Irã e da Rússia, denunciou desde o início da guerra de agressão contra o país levantino: que os grupos terroristas que ali operam, principalmente o (Estado Islâmico) EI – Daesh, em árabe – e a Frente al Nusra são criações organizadas, financiadas, armadas e protegidas pela ação dos governos da Turquia, Israel e Arábia Saudita junto a seus serviços de inteligência sob o marco estabelecido pela doutrina do Leading From Behind dos setores belicistas estadunidenses, que permite a Washington realizar o trabalho sujo de uma forma diferente da maneira que fizeram no Afeganistão e Iraque. Neste caso, que sejam estes movimentos terroristas, com apoio econômico, militar e logístico de Washington e associados S.A, os que em terra concretizam a política de desintegração das bases do Estado Sírio.
Derrubar Bashar Al Assad significa também cercar, enfraquecer e eventualmente desestabilizar o governo do Irã com uma política cega frente aos múltiplos exemplos que nos oferece a história a respeito dos perigos que traz consigo o procurar nascimento e o desenvolvimento de grupos terroristas, cujos resultados terminam comprometendo a segurança dos supostos pais destes monstros takfiri. Assim aconteceu com Al Qaeda e é assim com Daesh. Grupos que nas análises dos serviços de inteligência europeus são considerados uma ameaça real ao contabilizar que ao menos 15 mil terroristas que lutam nas fileiras dos movimentos salafistas proveem de países europeus.
Netanyahu em Davos revelou o objetivo de suas ações de Washington e seus aliados na linha estratégica de criar bantustões ao longo do Oriente Médio. Hoje, o líder sionista mencionou a Síria, porém já é uma realidade no Iraque que se busca, mediante a agressão saudita ao Iêmen, gerar um resultado similar, colhendo o cultivo de destruição e morte nestes anos, exercendo um domínio ao qual se acreditam falsamente predestinados por razões históricas e religiosas. A administração de Obama, assim como a entidade sionista, a Turquia, a Arábia Saudita, como apoiadores do terror, são cúmplices da política de terra arrasada e da morte de centenas de milhares de seres humanos na Síria e Iraque.
Os Estados Unidos e seus aliados parecem mostrar uma face errática na política levada a cabo no Oriente Médio: atacam o Daesh, o bombardeiam – supostamente – porém, também o conceberam, apoiaram e continuam financiando. Combatem ao mesmo extremismo que lhe dá ar, em uma espécie de zigue-zague intervencionista, porém “sem perder o norte nesta política de fragmentar os países do Oriente Médio, cercar o Irã, criar um entorno de regimes que não ameacem a política agressiva sionista e impeçam a presença russa e chinesa na zona, de tal forma procurar os recursos naturais, petróleo e gás além de um mercado seguro para o complexo militar industrial estadunidense e seus aliados”. E falava de aparentemente errático, pois os planos estão claramente definidos.
A Síria não pode esperar nada de bom da ação de uma Coalizão Internacional liderada pelos Estados Unidos cujo plano final é fragmentar a Síria, convertê-la em um país com zonas diferenciadas, onde turcos, estadunidenses, israelenses, sauditas e inclusive jordanianos intervenham com o objetivo de obter uma peça deste quebra-cabeça miserável. Uma Síria que reflete a imagem de um mapa fragmentado ao estilo iraquiano com as zonas de controle em três áreas diferenciadas: a região do Curdistão, a área de forte presença sunita, onde operam os grupos salafistas e o restante do partido Baas e uma área centro-sul sob a hegemonia do atual governo iraquiano.
Netanyahu em Davos disse o que disse porque o governo estadunidense permitiu, porque o defender é parte do plano de Washington e seus aliados. Uma aspiração que deseja ser concretizada com base nos documentos elaborados no seio dos serviços de inteligência e seus Think Tanks, como é o caso do documento produzido pelo especialista em políticas de segurança nacional e assessor do governo estadunidense, Michael O´Hanlon, analista do Instituto Brookings e codiretor do centro For 21st Century Security and Intelligence, apresentado em junho do ano de 2015. Ali, em uma mínima extensão, se definiu a sorte de milhões de seres humanos.
O documento denominado “Desconstructing Syria: a new strategy for Americas´s most hopeless war”, assinala que “o único caminho realista que pode ser planejado pelos Estados Unidos frente à Síria é um novo plano onde sejam criadas zonas autônomas, onde o governo sírio não tenha possibilidade de influir”. Dessa ideia à expressão benigna de Netanyahu, existe apenas um passo.
É assim que se entende a decisão turca de criar, sob as ordens de Washington, a denominada “Zona de Exclusão Anti-Daesh”. Faixa de terreno situada na fronteira turco-síria, entre as localidades de Yarablus e Azaz, com o duplo objetivo de deter os avanços das forças curdas em sua luta contra Daesh e consideradas um perigoso exemplo para a população curda, que em 20% forma o total da população da Turquia e, em segundo lugar, ter uma base de operações, dentro do território sírio, que permita continuar conspirando e executando ações contra o governo sírio. Esta estratégia de ação conjunta, expressa no mencionado documento de O´Hanlon, permite entender também o trabalho de espólio de suas riquezas de hidrocarbonetos com o contrabando de petróleo para Israel, Jordânia e países europeus, como foi denunciado pelo próprio Parlamento da União Europeia.
Soma-se ao estabelecido a produção de tensões no sul sírio na fronteira com Israel e Jordânia, tendo a possibilidade que, diante do aumento das ações de defesa do Exército Sírio ante os grupos terroristas, junto ao apoio russo, se decida – inclusive mediante uma operação de bandeira falsa – invadir o país levantino e estabelecer ali “zonas liberadas para, posteriormente, ser reconhecidas pelas potências ocidentais e seus aliados na região. Isso, sem deixar de lado a possibilidade das Nações Unidas se somarem a este show, através do envio de Capacetes Azuis, perpetuando deste modo a ocupação”.
Em um interessante artigo do analista da GlobalResearch, Mahdi Darius Nazemroaya, este assinala que “o que está acontecendo na Síria é um sinal do que virá para a região. A mudança de regime não é o único objetivo dos EUA e seus aliados na Síria. As divisões religiosas e étnicas na Síria não estão demarcadas em termos puramente geográficos, e o processo de balcanização poderia jogar como um processo de libanização, o que significa que a Síria se divide ao longo das linha de falha de violência sectária, e enfrenta um estancamento político como o do Líbano durante sua guerra civil, sem estar oficialmente quebrada…
Os acontecimentos no Oriente Médio e África do Norte estão vivendo a agitação dos movimentos de massas contra os tiranos locais, como em Bahrein, Jordânia, Marrocos e Arábia Saudita, porém também existe um teor vicioso do Plano Yinon de Israel e suas ramificações. O Plano Yinon e outros planos similares, querem uma guerra xiita e sunita entre os muçulmanos como a peça central das divisões sectárias”
A divisão da República da Síria é um dos objetivos da política de Washington para a região do Oriente Médio e nesse plano. A finalidade é colocar freio a essas intenções e, assim, se requer a firme oposição política e militar das forças da Coalizão, formada pela Rússia, Irã, Síria e Iraque. Se isto não for assim, a Síria terminará convertida em bantustões, com alawitas na zona oeste do país no limite com o Mediterrâneo, os drusos nas montanhas do sul do país, os curdos no limite com a Turquia, cristãos, xiitas e sunitas ocupando outras zonas do território. Uma Síria desmembrada, dividida, cujo destino quer ser traçado fora do âmbito de sua soberania. Na Síria, não só se joga a autodeterminação dos povos, mas também equilíbrios políticos e militares regionais e o futuro de outros países da região, que poderiam cair sob o próprio fogo balcanizador.
Fonte original: Rebelión
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2016/01/28/netanyahu-y-su-confesion-balcanizar-siria/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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