quinta-feira, 10 de julho de 2014

Um comunista do PCB que dirigiu a Seleção Brasileira de Futebol


                                                           

                                                 - COPA PARA QUEM?



O exercício da atividade de comentarista de futebol, na condição de mais brilhante e influente do país, jamais afastou João Saldanha do PCB. Posteriormente, justamente por representar um obstáculo aos objetivos demagógicos da ditadura militar, Saldanha foi demitido do cargo de treinador da seleção nacional, em março de 1970.

Saldanha chegou ao posto mais alto do futebol brasileiro em 1969, quando assumiu o cargo de técnico da seleção. Dirigiu o time brilhantemente em pleno governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, o general que comandou o período mais violento da ditadura imposta pelo golpe de 1964.

Em 1970, Saldanha foi demitido depois de um turbulento período de interferência do presidente na seleção. Em uma “Carta aberta ao futebol brasileiro”, publicada pela revista Placar de março de 1970, o já ex-técnico da seleção explicou como o regime colocou verdadeiros cães de guarda para vigiar seus passos.

Entrevista publicada pela Fundação Getúlio Vargas, o general e também ex-presidente da República Ernesto Geisel afirma que: “Médici teve um papel importante nessa vitória (da Copa de 1970), porque influiu na nossa representação, inclusive na escalação da delegação brasileira e na escolha dos técnicos.”

A crise começou quando surgiu o boato de que Médici queria a convocação de Dario, centroavante do Atlético Mineiro, sem o perfil das “feras do Saldanha” — como era chamada a seleção.

“O senhor organiza o seu ministério, e eu organizo o meu time”, respondeu o técnico por meio dos jornalistas.

Dias antes, em janeiro de 1970, ele esteve no México para acompanhar o sorteio das chaves da Copa do Mundo de 1970 e disse que havia terríveis torturas no Brasil.

“Levei para o México uma pilha de documentos sobre 3 mil e poucos presos, trezentos e tantos mortos e não sei quantos torturados”, afirmou.

O clima ficou pesado. Convidado para um jantar com Médici em Porto Alegre, Saldanha respondeu:

“Não vou. O cara matou amigos meus. Tenho um nome a zelar.”

O caso terminou com duas sentenças sumárias.

“Está dissolvida a comissão técnica”, disse Havelange.

“Não sou sorvete para ser dissolvido”, rebateu Saldanha.

Franco, ele imediatamente foi ao microfone da Rádio Globo, onde trabalhava, e desancou:

“O futebol brasileiro tem tanta força que passará por cima desses homens, covardes e pusilânimes.”

Segue o programa onde o Arquivo N homenageia João Saldanha:


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