Organismos de direitos humanos exigem
que o Estado encontre Santiago Maldonado
Os organismos de direitos humanos denunciaram a responsabilidade do Estado argentino no desaparecimento de Santiago Maldonado, o jovem de 28 anos de quem se desconhece o paradeiro desde a repressão à comunidade mapuche Pu Lof Cushamen, e convocaram manifestação “para demonstrar ao Estado que o povo não vai tolerar tamanha ofensa contra a democracia”.
Representantes das Mães da Praça de Maio – Linha Fundadora, Avós da Praça de Maio, Assembleia Permanente pelos Direitos Humanos e o Centro de Estudos Legais e Sociais exigiram do Governo nacional o aparecimento com vida de Maldonado e reiteraram a necessidade de se esclarecer que se trata de uma pessoa “que desapareceu pela violência institucional do Estado”.
No dia 11/08 foi realizada uma manifestação na Praça de Maio para exigir seu aparecimento com vida. “Que a comunidade argentina saiba que temos um desaparecido na democracia do senhor (Mauricio) Macri”, manifestou a presidenta das Avós, Estela de Carlotto, durante a coletiva de imprensa oferecida pelos organismos na sede da Associação.
“Santiago Maldonado é um desaparecido político. É impossível exagerar a gravidade deste episódio porque a sociedade argentina não pode tolerar que uma pessoa desapareça em uma época de pleno funcionamento das instituições”, defendeu o presidente do CELS, Horacio Verbitsky. Para Verbitsky, “é inconcebível” que o Governo “lave as mãos” quando está clara a intervenção da Gendarmeria e a presença na zona de Pablo Nocetti, chefe de Gabinete do Ministério de Segurança.
Nocetti, defensor de meia dúzia de repressores da última ditadura cívico-militar, participou da brutal repressão ocorrida no dia 1º de agosto, na qual 100 efetivos da Polícia entraram ilegalmente na comunidade mapuche, atiraram balas de chumbo e arrasaram com tudo o que encontraram em seu caminho. Os habitantes da comunidade cruzaram um rio para se protegerem, porém, Santiago, segundo todas as testemunhas, ficou na margem, onde foi preso e levado para uma caminhonete da Gendarmeria. Desde então, se desconhece seu paradeiro. “Nocetti coordenou os operativos pessoalmente, é o responsável direto e imediato do desaparecimento forçado” de Santiago, manifestou Verbitsky.
“Retrocedemos 40 anos. Com vida o levaram, com vida o queremos. Aparição com vida e castigo dos culpados”, expressou em sua fala Taty Almeida, da Linha Fundadora, que denunciou como “inadmissível” o regresso da palavra desaparecidos durante um governo constitucional. “Existem provas de que o Estado é o único culpado e responsável pelo desaparecimento de Santiago”, acrescentou Almeida.
Norma Ríos, presidenta da APDH, em sua intervenção, colocou o foco na violência que vem sofrendo os povos originários e recordou que em janeiro se denunciou que os advogados da comunidade estavam sendo ameaçados “sistematicamente”. Detalhou que o organismo esteve presente em todos os rastilhos de busca, porém denunciou as inaptidões do Governo para levara diante a investigação. “Ninguém nos avisou que estariam a Polícia e a Gendarmeria”, explicou.
Para Ríos, os funcionários estão buscando “uma pessoa extraviada e não estão marcando a busca dentro de um desaparecimento forçado, como deveriam”. “Este ataque contra a comunidade não é casual. É uma mensagem do Governo, que quer dizer: ‘queridos, conosco não se fode’”, acrescentou a presidenta da APDH.
Ríos denunciou “uma campanha para mostrar (os mapuches) como terroristas”, porém “a única coisa que eles querem é explicar quem são”. “As mansões de Lewis, Benetton e demais, geralmente atendem todo tipo de governantes”, recordou a representante da APDH ao mencionar a relação de alguns membros do Governo com os grandes empresários da região.
“Fizeram uma salada descomunal na qual mesclaram todos, como parte de uma conspiração terrorista”, denunciou Verbitsky, que acrescentou que “dá risada do que fazem” porque a informação que mostram dos elementos que obtém da comunidade são entalhadores que usam para construir suas habitações, serras, martelos e chaves de fenda que usam para construir suas casas.
“Temos terroristas de martelo, segundo o Governo”, brincou. Verbitsky lembrou que é uma comunidade vítima da violência há séculos e ressaltou que “Nocetti pretende que nós acreditemos que isto aconteceu por absoluto acaso”.
Em outra seção da conferência, Estela de Carlotto leu a carta enviada pelos irmãos de Santiago. Nela, assinalam que o Estado Nacional, a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, o juiz Guido Otranto e o Ministério Público “são responsáveis pelo aparecimento com vida” de Maldonado.
“Até que não esteja conosco, responsabilizamos a Gendarmeria”, indicaram seus familiares, que também criticaram a atitude dos funcionários e dos membros do juizado. “Não nos sentimos nem satisfeitos nem acompanhados. Não estamos de acordo com o informe do tribunal nem com as declarações de Bullrich. Vamos continuar confiando nos testemunhos, no informe da Defensoria e nos organismos como a APDH e o CELS”, concluíram.
https://www.pagina12.com.ar/55253-tenemos-un-desaparecido-en-la-democracia-del-senor-macri
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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