sábado, 23 de setembro de 2017

O Capital - 150 anos de atualidade na luta de classes

                                                                                  

Pável Blanco (*)

Este texto comemora a data da 1ª edição de O Capital: 11 de setembro de 1867.

O autor, Pável Blanco Cabrera, mostra neste curto e brilhante texto, como «Marx vai desmontando o modo de produção capitalista e demonstra com clareza e evidências de sobra que a transformação de dinheiro em capital tem como base a exploração do trabalho».

Em 14 de setembro de 1867 foi publicada a primeira edição de O Capital, obra a que Karl Marx dedicou a maior parte do seu esforço de investigação e trabalho teórico, ao ter-se convencido da importância fundamental da economia, depois da leitura do artigo de Friederich Engels «Esboço da crítica da economia política», publicado nos Anais Franco-Alemães em 1844.

São conhecidos os esforços de Marx e da sua família, as condições difíceis da sua vida quotidiana para dedicar a maior parte das suas forças, durante um quarto de século, ao estudo da economia política, da sua crítica para explicar o capitalismo – o modo de produção predominante atualmente na sociedade –, as relações sociais, as contradições, os antagonismos irresolúveis e os limites históricos, demonstrando simultaneamente quem são os que podem pôr fim à exploração, o papel revolucionário do proletariado e antecipando a sociedade futura, a do socialismo-comunismo.

É admirável como a ciência revolucionária pode caminhar no meio da luta e da perseguição. Basta situarmo-nos na Europa de 1848, nas revoluções que rebentam e como o nascente partido comunista já vai ao combate, com Marx e Engels na primeira fila, na voragem dos acontecimentos que rodeiam a Nova Gazeta Renana, o seu exílio em Bruxelas, Paris, Londres, a contrarrevolução, os julgamentos, a intensa luta de classes, a construção da Associação Internacional de Trabalhadores, as polémicas, e o intenso trabalho teórico que entrega nesse período as principais obras do socialismo científico. 

E ao longo de tudo isto, as intensas horas de investigação, o estudo, a tradução, a sistematização, reflexão e trabalho em vários rascunhos trocados com Engels – que com justiça deve ser considerado coautor – e outros camaradas, até à obtenção do manuscrito final que veria a luz do dia numa editora de Hamburgo, a Otto Meiisnners Verlag, ainda existente. 

Esta obra científica veio ao mundo enfrentando uma conspiração de silêncio, como dizia Engels, e é hoje, reconhecidamente, já na segunda década do século XXI, uma obra de grande procura, sobretudo depois do rebentar da crise de sobreprodução e sobre acumulação do sistema capitalista em 2008. A análise de Marx, hoje, tem pleno cabimento.

É uma obra teórica para a luta, para ir diretamente à luta de classes, ao conflito capital-trabalho, uma arma para ser empunhada pela classe operária, por todos os trabalhadores, sendo conhecido o empenho de Marx, que trabalhou em várias redações até contar com uma dirigida ao proletariado. 

Para ele são absurdas algumas discussões sobre como enfrentar a sua leitura; por exemplo Althusser propunha se saltasse a Primeira Secção, argumentando a sua obscuridade filosófica, mas omitindo uma coisa essencial: Das Kapital compreende, além do que se refere à exposição da economia, da história e da política, o desenvolvimento do método dialético, a compreensão da realidade e dos seus fenómenos em todo o seu tecido, na sua interdependência de relações, uma revolução na filosofia como com justeza defendeu Zdhánov.

E assim, vai-se da mercadoria ao valor de uso e ao valor de troca, e da teoria do valor à circulação, à troca, ao equivalente, ao dinheiro, à fórmula do capital, ao trabalho, ao trabalho assalariado, ao mais valor, e à mais-valia, o «sórdido segredo da exploração capitalista; assim, passo a passo, Marx vai desmontando o modo de produção capitalista e demonstra com clareza e evidências de sobra que a transformação de dinheiro em capital tem como base a exploração do trabalho.

Em poucas palavras, é enorme a sua vigência apesar do imenso esforço para acantonar O Capital nas gavetas das faculdades de economia e de sisudos grupos de especialistas que, com exotéricos rituais disfarçados de douto estudo procuram afastar a obra marxista dos trabalhadores, e fazê-la circular apenas num grupo de intérpretes e exegetas que não deixam de espantar pelo absurdo das suas reflexões, alheias ao critério de classe mas seguramente bem pagas nos circuitos académicos, o que lhes permite estar permanentemente presença nas listas de bolseiros.

Não, O Capital não é para esses senhores, O Capital é juntamente com toda a obra marxista-leninista uma arma para o proletariado na luta pelo derrube do capitalismo. Marx não escreveu para integrar a lista dos best-sellers, nem para receber subsídios de um qualquer instituto, universidade ou ONG, escreveu para fortalecer a luta política da classe operária pelo socialismo. 

No espaço académico há nestes dias muitas comemorações, mas com propósitos claramente deformadores, destinados a construir uma muralha entre a obra de Marx e o proletariado, e inclusive, para além do estudo do Viejo Topo são vários os que fazem a reivindicação de Keynes, o que mostra o seu proselitismo e militância na social-democracia e pela gestão do capitalismo. Marx e os seus estudos, a sua obra, a sua política são para a classe operária e para a sua organização de luta, o partido comunista.
É muito importante o que se deduz da compreensão da questão do valor de uso e das relações mercantis, o que já foi debatido como uma questão prática no exercício do poder operário durante a construção socialista no século XX, e que teve dramáticas consequências na contrarrevolução que derrubou temporariamente a construção socialista na URSS.

O poder operário e a construção socialista são incompatíveis com as relações mercantis, e esta questão está colocada como um dilema em países que se reivindicam do socialismo, e também para o próprio movimento comunista, onde alguns colocam uma renovação programática em que seriam possíveis misturas de socialismo e capitalismo.

Podemos já avançar com o resultado: o prolongamento do capitalismo e do sofrimento da classe operária com a exploração, bem como a incessante barbárie que destrói a natureza do planeta e a humanidade.

Destaque-se também a pobreza ideológica da chamada esquerda mexicana, mesmo da que se reivindica do marxismo, visto que eludiu historicamente o estudo e a compreensão desta obra cimeira de Marx, salvo para abrilhantar as suas estantes. O Partido Comunista do México procura a sua recuperação com o estudo sistemático e permanente por parte dos seus militantes de toda a teoria marxista-leninista, incluindo os três livros de O Capital. Por isso, para comemorar o seu centésimo quinquagésimo aniversário o nosso Comité Central decidiu novamente propugnar o seu estudo.

Sublinhamos também que refutamos a ideia de reduzir o marxismo a uma só obra; há os que atribuem toda a riqueza do marxismo ao Manifesto do Partido Comunista, outros a O Capital; o que é correto é que toda a obra de Marx e Engels, bem como o enriquecedor desenvolvimento de Lenine, são uma fonte de lições para a ação revolucionária dos comunistas, pelo devemos esforçar-nos no seu estudo sistemático e contínuo, aspirando à sua qualificação no terreno da teoria e da prática.

Que grande herança nos deixou Karl Marx, professor do proletariado mundial, e O Capital é a sua demonstração monumental.

(*) Primeiro-Secretário do CC Partido Comunista do México, Pável Blanco é amigo de odiario.info.
Este texto foi publicado em:

http://www.comunistas-mexicanos.org/partido-comunista-de-mexico/2159-sesquicentenario-de-das-kapital

Tradução de José Paulo Gascão

(Com o Diário Liberdade)

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