O líder da Revolução Cubana, que completa 90 anos neste sábado (13), aborda neste novo artigo questões como o problema da superpopulação mundial, as armas nucleares, as tentativas dos Estados Unidos de eliminá-lo e a importância da educação, mas também lembra, em tom nostálgico, episódios de sua infância.
O Aniversário ("El Cumpleaños")
Fidel Castro
Ninguém melhor que ele próprio para falar sobre como se sente no marco de seus 90 anos. Na noite desta sexta-feira (12), Fidel Castro publicou um artigo no veículo do Partido Comunista de Cuba, o Granma, sobre seu aniversário. Refletiu sobre sua infância, sobre a importância de se educar as crianças e sobre os crimes do imperialismo contra os povos do mundo. Uma vez mais, surpreende por sua lucidez e altivez. Com a palavra, o comandante:
Amanhã completarei 90 anos. Nasci em um território chamado Birán, na região oriental de Cuba. É conhecido com esse nome, embora nunca tenha aparecido no mapa. Devido a seu bom comportamento, era conhecido por amigos próximos e, desde já, por uma praça de representantes políticos e inspetores que se viam em torno de qualquer atividade comercial ou produtiva próprias dos países neocolonizados do mundo.
Em uma ocasião acompanhei meu pai a Pinares de Mayarí. Eu tinha então oito ou nove anos. Como ele gostava de conversar quando saía da casa de Birán! Ali era o dono das terras onde se plantava cana, pastos e outros cultivos agrícolas. Nos Pinares de Mayarí ele não era proprietário, mas arrendatário, como muitos espanhóis, que foram donos de um continente em virtude dos direitos concedidos por uma Bula Papal, cuja existência nenhum dos povos e seres humanos deste continente conhecia. Os conhecimentos transmitidos já eram em grande parte tesouros da humanidade.
A altitude era de até 500 metros aproximadamente, de colinas íngremes, pedregosas, onde a vegetação é escassa e por vezes hostil. Árvores e rochas obstruem o trânsito; repentinamente, a uma determinada altura, se inicia um planalto que calculo se estende aproximadamente sobre 200 quilômetros quadrados, com ricas jazidas de níquel, cromo, manganês e outros minerais de grande valor econômico. Daquele planalto se extraíam diariamente dezenas de caminhões de pinheiros de grande tamanho e qualidade.
Observe-se que não mencionei o ouro, a platina, o paládio, os diamantes, o cobre, o estanho e outros que paralelamente se converteram em símbolos dos valores econômicos que a sociedade humana, em sua etapa atual de desenvolvimento, requer.
Poucos anos antes do triunfo da Revolução meu pai morreu. Antes, sofreu bastante.
De seus três filhos homens, o segundo e o terceiro estavam ausentes e distantes. Nas atividades revolucionárias um e outros cumpriam seu dever. Eu tinha dito que sabia quem podia substituir-me se o adversário tivesse êxito em seus planos de eliminação. Eu quase ria com os planos maquiavélicos dos presidentes dos Estados Unidos.
Em 27 de janeiro de 1953, depois do golpe traiçoeiro de Batista em 1952, escreveu-se uma página da história de nossa Revolução: os estudantes universitários e organizações juvenis, junto ao povo, realizaram a primeira Marcha das Tochas para comemorar o centenário do natalício de José Martí.
Eu já tinha chegado à convicção de que nenhuma organização estava preparada para a luta que estávamos organizando. Havia total desconcerto nos partidos políticos que mobilizavam massas de cidadãos, desde a esquerda, à direita e ao centro, a politicagem que reinava no país provocava asco.
Quando eu tinha seis anos, uma professora cheia de boas aspirações, que dava aulas na escolinha pública de Birán, convenceu a família de que eu devia viajar a Santiago de Cuba para acompanhar minha irmã mais velha que ingressaria em uma prestigiada escola de freiras. Incluir-me foi uma habilidade da própria professora da escolinha de Birán. Ela, esplendidamente tratada na casa de Birán, onde se alimentava na mesma mesa que a família, convenceu-a da necessidade de minha presença. Definitivamente, eu tinha melhor saúde que meu irmão Ramón — que faleceu em meses recentes —, e durante muito tempo foi companheiro de escola. Não quero ser extenso, mas foram muito duros os anos daquela etapa de fome para a maioria da população.
Depois de três anos, enviaram-me ao Colégio La Salle de Santiago de Cuba, onde me matricularam no primeiro grau. Passaram-se quase três anos sem que jamais me levassem a um cinema.
Assim começou minha vida. Se eu tiver tempo, escrevo sobre isso. Desculpem-me se não fiz isto até agora, só que tenho ideias do que se pode e deve ensinar a uma criança. Considero que a falta de educação é o maior dano que se lhe pode fazer.
A espécie humana se defronta hoje com o maior risco de sua história. Os especialistas nestes temas são os que mais podem fazer pelos habitantes deste planeta, cujo número se elevou, de 1 bilhão em finais dos anos 1800, a sete bilhões no início de 2016. Quantos nosso planeta terá dentro de mais alguns anos?
Os cientistas mais brilhantes, que já somam vários milhares, são os que podem responder a esta pergunta e a muitas outras de grande transcendência.
Desejo expressar minha mais profunda gratidão pelas demonstrações de respeito, as saudações e os presentes que recebi nestes dias, que me dão forças para retribuir através de ideias que transmitirei aos militantes de nosso Partido e aos organismos pertinentes.
Os meios técnicos modernos permitiram escrutar o universo. Grandes potências como a China e a Rússia não podem ser submetidas às ameaças de impor-lhes o emprego das armas nucleares. São povos de grande valor e inteligência. Considero que faltou grandeza ao discurso do Presidente dos Estados Unidos quando visitou o Japão, e lhe faltaram palavras para pedir desculpas pela matança de centenas de milhares de pessoas em Hiroshima, apesar de que ele conhecia os efeitos da bomba. Foi igualmente criminoso o ataque a Nagasaki, cidade que os donos da vida escolheram ao acaso. É por isso que é preciso martelar sobre a necessidade de preservar a paz, e que nenhuma potência se dê o direito de matar milhões de seres humanos.
Fidel Castro
12 de Agosto de 2016, às 22h34.
Fonte: Granma; tradução de José Reinaldo Carvalho/Resistência.
FONTE: Solidários
(Com Prestes a Ressurgir)
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