Vicente Gonçalves na Casa do Jornalista no lançamento do livro de Betinho Duarte
José Carlos Alexandre
A morte do militante comunista Vicente Gonçalves deixa um enorme vazio no movimento político e social mineiros.
Conheci o líder favelado Vicente Gonçalves nos princípios dos anos 60 quando ambos militávamos no antigo Partido Socialista Brasileiro, o PSB.
No PSB de Minas militavam, dentre outros, Palmyos Paixão Carneiro, Wilson Carneiro Vidigal (advogado dos principais sindicatos e federações de trabalhadores), o jornalista Fernando Gabeira, o professor Fernando Correia Dias etc.
Era nossa militância legal, que conjugávamos com a dita ilegal, já que o Partido Comunista Brasileiro havia sido cassado em 7 de janeiro de 1947, só voltando a ser reconhecido pela Justiça eleitoral no governo José Sarney.
Na sede do PSB funcionava a Federação dos Trabalhadores Favelados, criada, dentre outros, por Francisco Nascimento e o próprio Vicente Gonçalves, como presidente da União de Defesa Coletiva da chamada Vila dos Marmiteiros.
Vicente era forte, bem disposto e lutava artes marciais, sendo o principal segurança do secretário geral do PCB Luiz Carlos Prestes quando visitava Minas Gerais.
Tinha uma academia de Artes Marciais no Edifício Maletta, ao mesmo tempo em que estudava Direito, o que lhe possibilitou tornar-se advogado dos favelados e de todos os humilhados e ofendidos.
Ele não tolerava vacilações em sua luta pela ditadura do proletariado, sendo quase folclórica sua diatribe com um dirigente comunista, o advogado Orlando Bonfim Júnior, à porta do então Café Pérola, na Praça Sete.,,
O que começou com uma simples discussão ideológica acabou num sério incidente que a polícia interveio...
Aí desceu a turma da Vila dos Marmiteiros e a polícia foi escorraçada...
A última vez que eu e o Vicente Gonçalves nos encontramos foi no lançamento, na Casa do Jornalista, do livro de Betinho Duarte, compartilhado com mais 21 coautores (dentre eles, este colunista) "Estamos vivos. a volta será pior". O DNA do terrorismo de direita em Minas.
Sua morte pegou-me de surpresa no facebook na nota assinada pelo meu colega de Partido Fábio
Martins Bezerra.
E seguramente todos os que dedicamos nossa luta em favor de nos tempos de solidariedade, justiça,
ascensão da classe operária e de todos os brasileiros.
Ultimamente Integrávamos a Velha Guarda do PCB e ele era sempre indicado para ser nosso candidato quer a prefeito, quer à vereança em Belo Horizonte.
Nunca aceitou.
Vicente Gonçalves, um dos pioneiros da luta pela anistia no Brasil, e pela reparação devida a todos os que foram vítimas da ditadura cívico-militar, passa à história como um comunista digno de todas as honrarias.
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