quinta-feira, 12 de abril de 2012

Uma perspectiva perigosa para o povo grego
 

Manifestação em Atenas. O KKE continua a preparar a batalha eleitoral com iniciativas nos locais de trabalho e comícios nos bairros operários.

Ao mesmo tempo, continua a sua acção para aliviar, para as famílias operárias, o peso das medidas brutais que afectam todos os trabalhadores.

Os comunistas desempenham um papel motor na organização das greves, na organização dos trabalhadores nos seus sindicatos, dos trabalhadores independentes no PASEVE, na organização do povo nos seus bairros através dos Comités populares e dos Comités de desempregados.

Neste sentido, em 6 de Abril o KKE propôs um projecto de lei para aliviar o peso dos empréstimos que onera as camadas populares.

No dia 9 de Abril a secretária-geral do KKE apresentou este projecto de lei numa conferência de imprensa. Ela a seguir discutiu com os jornalistas acerca desta acção particular do KKE assim como da evolução política geral.

Perguntada se havia lugar para uma cooperação do KKE com forças oportunistas que se dizem de "esquerda" e com os Verdes, na sequência da proposta hipócrita do SYRIZA para uma candidatura comum nas circunscrições eleitorais que não elegem senão um único deputado, a secretária-geral do KKE salientou:

"As pessoas estão indignadas e decepcionadas. Nós vemos esta indignação e decepção populares e é por esta razão que não queremos contribuir para fazer inchar ou desinchar o movimento. Na véspera de 1981, era forte a pressão sobre o KKE para dar mais peso ao PASOK (o partido social-democrata). Pediram-nos para votar pelo PASOK em várias circunscrições – também aí distritos com um único deputado – a fim de dar um voto de confiança ao PASOK. A decisão de apoiar o PASOK era justa nessa altura? Ou não?

Quero dizer com isso que as pessoas estão conscientes dos problemas que vivem, não têm necessidade que se lhes diga. Mas isso não quer dizer que seja fácil para elas escolher livremente e sem influência externa a melhor solução de um ponto de vista objectivo. Pois a Nova Democracia (partido liberal) afirma que deve haver um governo com um único partido ou o caos. Venizelos (vice-presidente da coligação governamental actual, ministro das Finanças e recém eleito presidente do PASOK) declara que esta política deve ser prosseguida ou será a catástrofe.

Alguns no seio do povo acreditam nisso. Outros consideram que os seus problemas poderão ser resolvidos por um governo que não tivesse o poder nas suas mãos, um governo estaria apenas encarregado de uma missão de governação (pois a questão do poder é determinada pela propriedade das riquezas produzidas e pela abolição dos aparelhos de Estado que têm uma natureza anti-popular) e fosse constrangido a por em aplicação das orientações da UE, não porque se trate de uma exigência imposta do exterior mas porque desejariam pertencer a esta chamada grande família.

Nós sabemos muito que um tal governo não estaria em condições de resolver absolutamente nada, quaisquer que fossem as suas intenções – o momento não está para análise de intenções. Por esta razão, somos constrangidos a alertar o povo sobre os seguintes elementos que não podem ser passados por alto: só um governo que represente o poder popular – o que significa que vós vos apropriais das riquezas ou do contrário serão os patrões e eles decidirão o que será produzido e como – só um governo deste tipo pode trazer uma resposta, desde que ele repouse sobre uma organização popular a partir da base e sobre a resposta nos lugares de trabalho, nos bairros e nos campos.

Eu vos digo que mesmo o governo mais pró operário e pró popular não pode fazer nada se não se apoiar sobre o levantamento e a organização do povo. Pois o inimigo não se encontra somente no Parlamento, o inimigo encontra-se principalmente no seio dos grandes grupos económicos, da classe burguesa, etc.

E vocês sabem que os grandes grupos não pedem a voz do povo, não concorrem aos escrutínios eleitorais, mesmo se alguns deles participam nos partidos dominantes. Naturalmente, são os partidos, ND e PASOK muito em particular, que vão implorar o voto do povo em seu nome. Contudo, votar contra a ND e o PASOK não significa votar contra a classe que representam.

Portanto, a proposta do SYRIZA não é senão uma mudança de fachada. Esta fachada poderia ser melhor decorada, ter ângulos mais arredondados – mas, como governos do mesmo tipo em França e antes na Itália o demonstram – o resultado seria o mesmo: estes governos serão inevitavelmente os instrumentos da burguesia. E deverão necessariamente entrar em conflito com o povo. Portanto, já desde o dia seguinte, este governo encontrar-se-á face ao conjunto do espectro das reivindicações populares. Pode ser fácil chegar ao poder, mas também pode ser muito fácil ser expulso. E nós não queremos que o povo experimente a desilusão, alimentando falsas esperanças sobre tais perspectivas.

Se houvesse um governo, um poder, que pudesse resolver os problemas actuais, teríamos estado na primeira linha, apoiando-os e sacrificando-nos pela causa.

Mas se é apenas a fachada que muda, enquanto o fundo permanece o mesmo, não podemos enganar o povo. Sabemos que quanto mais as pessoas estão engolfadas nos seus problemas mais procuram uma solução, é normal. Mas estas soluções não podem ser elaboradas a partir do topo e por coligações eleitorais.

E duvido da honestidade desta proposta. Aquando das eleições locais de 2011, o SYRIZA aliou-se à ND, o PASOK e o LAOS na Ikaria a fim de impedir a eleição de um presidente comunista [Ikaria é uma ilha no mar Egeu onde o KKE tem muitos votos devido ao facto de que no passado os comunistas eram exilados nesta ilha. Aquando das eleições de 2010, o candidato comunista obteve 43,9% e foi derrotado pelo candidato apoiado por todas as outras forças políticas]. Como se a situação da Grécia fosse mudar totalmente. Portanto eles estavam todos juntos então. Por que o SYRIZA coopera com eles nas federações sindicais a fim de impedir a eleição de delegados comunistas? Por que eles apelam à cooperação com o KKE unicamente para as eleições?
A versão em francês encontra-se em solidarite-internationale-pcf.over-blog.net/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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