Intervenção do Camarada
Joaquim Pereira Goulart Neto, Secretário Político do Comitê Municipal do PCB de
Sabará por ocasião dos 90 anos do PCB, durante homenagem que a Câmara Municipal sabarense prestou ao Partido
No Brasil, diferente da Europa, que assistiu a organização de
partidos operários ao longo do século XIX com designação social-democracia, a
formação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) vinculou-se diretamente ao
sucesso da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia. A maior presença de operários
originários do movimento anarquista expressou essa realidade específica do
Brasil.
Em 1922 quanto foi fundado o Partido comunista Brasileiro (PCB),
o Brasil tinha pouco mais de 30 milhões de habitantes, e a maioria morava do
campo.
Vivia-se então, o capitalismo agrário-exportador e a economia dependia
principalmente da exportação de produtos primários, sobretudo o café.
Desde fins do século XIX, alterou-se a organização do espaço no
eixo Rio – São Paulo, devido à intensificação do processo urbano –
industrial.
Nesse contexto crescia a classe operária, para isso contribuindo
a multiplicação de pequenas indústrias. Igualmente foi importante a chegada de
imigrantes, na sua maioria da Itália, da Espanha e de Portugal.
Eles despertaram o movimento dos trabalhadores. Organizaram
sindicatos. Editaram jornais. Distribuíram panfletos e manifestos. Animaram
congressos e manifestações. Lideraram greves. Montaram peças de teatro com
conteúdo político.
Mas, eles eram na sua maioria anarquista. E o Anarquismo coloca em primeiro plano a
liberdade do indivíduo. Seu lema é “todo para o indivíduo”. Mas a luta dos operários era uma luta de
classes, era uma luta pela emancipação das massas e dos trabalhadores, e só através
desta libertação viria então a emancipação do indivíduo.
Por que então fundar o
Partido Comunista nos moldes de marxismo-leninismo?
A conjuntura da década de 1920 marcou a crise da República
Oligárquica no Brasil. Eram visíveis os sinais das contradições na sociedade agrário-exportadora.
Claras manifestações de descontentamento de classes marginalizadas do poder
tornaram-se freqüentes.
O crescimento e o amadurecimento do proletariado urbano
refletiam a gravidade de uma questão social que as elites procuravam conter. Apesar
da violenta repressão das autoridades, o movimento grevista foi impulsionado
entre 1916 e 1920, culminando com a greve geral de 1917 no Estado de São Paulo
e a tentativa de insurreição, no Rio de Janeiro, em novembro de 1918.
O governo usava a Lei de Expulsão
de Estrangeiros visando banir os líderes anarquistas grevistas. As prisões se sucediam. Inúmeros operários
foram mortos.
Apesar disso, o proletariado ganhou vida nova com a notícia da
Revolução Russa de 1917. Seu impacto injetou esperança no operariado
brasileiro, além de influenciar segmentos das classes médias. Entre 1918 e
1921, foram criados muitos grupos, ligas e até partidos comunistas no Brasil. Para
muitos trabalhadores e intelectuais pareciam mais corretas as idéias do
marxismo-leninismo do que as defendidas pelos anarquistas.
Foram criadas no Rio Grande do Sul, a Liga Comunista de Livramento, a União
Maximalista em Porto Alegre que se tornou Grupo Comunista de Porto Alegre.
Em 1919 no Rio, liderados por José Oiticica organizaram o Partido Comunista Anarquista, criaram o jornal SPARTACUS,
dirigido por Astrogildo Pereira.
Também 1919, em São Paulo, anarquistas transformaram a Liga Comunista em Partido Comunista do Brasil.
Não se pode esquecer a influência exercida pela III Internacional Comunista em 1919. Foi ela centro propulsor e estimulante da
criação de partidos comunistas em todos os países.
Estavam dadas as condições para a criação de um partido
comunista nos moldes do marxismo-leninismo.
Em novembro de 1921, quando se comemorava o quarto aniversário
da Revolução Russa, o Grupo Comunista aprovou a convocação do I Congresso do
PCB que seria formalizada mais tarde, em 25 e 26 de Março de 1922. Eles eram apenas um reduzido grupo de militantes.
Não mais de setenta em todo Brasil.
Sabiam pouco de marxismo, mas tinham sede de justiça e estavam dispostos a
lutar por ela.
Eles eram apenas nove
delegados, intelectuais, alfaiates, impressor, vassoreiro, eletricista, barbeiro,
e pedreiro. E nem puderam cantar muito alto a internacional naquela casa de Niterói
em 1922. Mas
Astrogildo, Cristiano, Joaquim, Manoel, João, Luiz, Hermogênio, Abílio e Jose que
citava Lênin a três por dois, cantaram e
fundaram o partido,. O canto deles, apesar de baixo, ecoa por todo o Brasil
desde Março1922, e ecoará sempre enquanto houver miséria e injustiça.
O PCB não se tornou o
maior Partido do Ocidente.
Nem mesmo do Brasil. As ditaduras
ferrenhas e sanguinárias o desfiguraram, eliminando e desaparecendo com grande parte
de seus dirigentes, amedrontando e torturando militantes e seus familiares, fazendo
todo o possível para eliminá-lo, Mas não o conseguiram, apenas o fortaleceram. O
ideário comunista, concebido no Materialismo Histórico, na Economia Política e no
Comunismo Científico fundado por Marx, Engels e complementado por Lênin falou
mais alto. Nossa confiança numa sociedade justa, “e digo justa, e não mais
justa”, e igualitária jamais foi, ou será abalada, pois nos fomos, somos e
seremos sempre comunistas. Mas,
camaradas e convidados, quem contar a
história de nosso povo e seus heróis. Tem que falar dele. Tem de falar do
nosso partidão. Tem de falar do PCB.
Ou então estarão mentindo
Nenhum comentário:
Postar um comentário