sexta-feira, 6 de janeiro de 2012


EUA vivem dilema em relação a Coreia do Norte

Se a Coreia do Norte não deixar de ser alvo de uma política de isolamento, sanções e tentativas de mudança do regime, o novo líder norte-coreano, assim como seu pai, dificilmente poderá mudar sua política interna.
EUA vive dilema em relação a Coreia do Norte
Fot: Eric Lafforgue / flickr.com/photos/mytripsmypics/
No último dia de cerimônias fúnebres em homenagem ao falecido líder norte-coreano Kim Jong-Il, seu filho mais novo, Kim Jong-un, foi oficialmente proclamado como novo líder da Coreia do Norte, chefe do partido governante e comandante supremo do exército norte-coreano.

Formalmente, o processo de passagem da direção está concluído e o mundo quer saber se a nova liderança da Coreia do Norte continuará a política de linha dura para o exterior ou optará pelo diálogo. Essa questão causa especial preocupação aos EUA, Rússia, China e Japão.

A ascensão ao poder de Kim Jong-un, 29 anos, terceiro representante da dinastia Kim, deixa evidente que a cúpula governante não tem a intenção de mudar o rumo de sua política, embora o próprio país já esteja mudando.
Com o fim da URSS, a Coreia do Norte perdeu seu principal aliado político e econômico. Sua economia arcaica e militarizada ficou paralisada.

A situação se agravou ainda mais quando o país foi atingido por uma série de desastres naturais e ficou à beira da fome, razão pela qual o governo norte-coreano pediu ajuda alimentar à comunidade internacional. Em 1994, morreu o fundador do regime de corte stalinista e da dinastia governante, Kim Il Sung. Seu sucessor, Kim Jong-il, não podia mais ignorar as realizações econômicas dos países vizinhos, a China e a Coreia do Sul, e iniciou, em 2002, reformas econômicas prudentes e pouco visíveis no exterior, o que poderia ter feito dele um Gorbachev coreano.

Com efeito, no país foi criada uma zona econômica especial, foram admitidos empresários sul-coreanos e começou a se desenvolver o pequeno comércio. No entanto, em pouco tempo, a reforma parou. Em 2008, Kim Jong Il sofreu um derrame cerebral e ficou afastado por vários meses da vida política e econômica do país. Enquanto isso, a Coreia do Sul elegeu um novo presidente, Roh Moo-hyun, e trocou sua “política do Sol” para a Coreia do Norte pela “política do vento frio”, provocando assim os conservadores norte-coreanos. Além disso, o presidente norte-americano, George W. Bush, incluiu a Coreia do Norte no “eixo do mal”, juntamente com o Irã e Iraque (formado pelos países contrários aos EUA e por eles suspeitos de possuírem programas nucleares).

Em 2009, os conservadores norte-coreanos realizaram uma reforma monetária confiscatória que não só reduziu a nada as poupanças dos “novos norte-coreanos” mas também abalou muito as finanças públicas. Mas, como costumava dizer o primeiro e último presidente da URSS, Mikhail Gorbachev, o processo de reformas já deu a largada. “Atualmente, a economia de mercado não só recuperou, mas também reforçou sua posição na Coreia do Norte após o ataque dos conservadores.

A realidade econômica na Coreia do Norte é hoje muito diferente daquela vigente no século passado e criada pelo sistema de distribuição igualitária. Parece que o país já ultrapassou o “ponto de não retorno””, afirma o diretor do Centro de Estudos sobre as Coreias do Instituto de Economia Mundial da Academia de Ciências da Rússia, Gueórgui Toloraia.

Curiosamente, a situação na Coreia do Norte se torna cada vez mais parecida com a vivida na URSS no meio das reformas. Por um lado, titulares de cargos públicos influentes criam, a partir dos bens que lhes foram confiados e junto a suas organizações estatais, empresas típicas da economia de mercado nas mais diversas áreas, desde o comércio exterior até os serviços à população, por outro, vem crescendo o número de restaurantes e lojas privadas.

“A população vive agora melhor do que na década de 1980 e, especialmente, na década de 1990”, adianta Toloraia.

Agora o país tem um jovem líder. “Em uma perspectiva de curto prazo, ele vai seguir a política de seu pai. Por outro lado, ele, como representante de uma nova geração com uma boa educação recebida no Ocidente, pode ter sua própria visão de muitos aspectos e materializá-la em algumas iniciativas suas”, diz Aleksânder Vorontsóv, chefe do departamento das Coreias do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia.

“É extremamente importante ver como a comunidade internacional e os países vizinhos vão acolher o país sob o novo líder. Se a Coreia do Norte não deixar de ser alvo de uma política de isolamento, sanções e tentativas de mudança do regime, o novo líder norte-coreano, assim como seu pai, dificilmente poderá mudar sua política interna”, completou. É esse o principal dilema enfrentado pelos EUA, Japão e Coreia do Sul.

As expectativas de que o regime norte-coreano caísse sob a pressão dos problemas econômicos e ameaças externas falharam. Não adiantava esperar que o povo, que lutou arduamente contra a ocupação japonesa, travou, entre 1950 e 1953, uma guerra sangrenta contra os EUA e desde então convive em pé de guerra com seus vizinhos do sul, cedesse.  

As recentes guerras no Afeganistão, Iraque e Líbia também não contribuíram para que a Coreia do Norte moderasse sua posição. Pelo contrário, as campanhas militares contra esses países reforçaram a convicção dos escalões governantes da Coreia do Norte de que as armas nucleares são a única garantia contra uma agressão por parte de inimigos mais fortes.

Em 2011, a situação começou a abrandar. Foram retomadas as consultas bilaterais entre a Coreia do Norte e os EUA sobre o programa nuclear norte-coreano e, pouco antes da morte do líder norte-coreano, os Estados Unidos aceitaram enviar ao país 240 mil toneladas de ajuda alimentar. Segundo uma fonte diplomática de Seul, em troca, a Coreia do Norte prometeu suspender seu programa de enriquecimento de urânio e realizar outras atividades para sua desnuclearização.

Deve ter sido por isso que os EUA e a Coreia do Sul revelaram comedimento em um momento crítico de mudança de líder para a Coreia do Norte. No entanto, continua em aberto a questão se estão os EUA e a Coreia do Sul dispostos a abandonar sua idéia de mudança radical do regime em Pyongyang. (Com a Gazeta Russa)

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