Heitor Cesar Ribeiro de Oliveira (*)
Chegando o carnaval, muitos mergulham numa doce ilusão, ou como já foi cantado em outros carnavais, a feira da ilusão da vida. Tem fantasias e sonhos para todos os gostos, inclusive o de fugir da realidade, cada vez mais dura sob o capitalismo, e particularmente, em 2017, diante do governo golpista de Temer e de um conjunto de ataques a direitos civis, sociais, trabalhistas e até à nossa frágil democracia.
E essa realidade dura é ainda marcada por um conjunto de ajustes na esfera estadual com reformas também bastantes agressivas, atrasos de salários, ajustes, criminalização da luta e da vida. De fato, temos um ano difícil, e o carnaval 2017 ocorre em meio a todo esse caos e incertezas, até a nossa água, aqui no Rio, está sob a ameaça direta e bem real de ser privatizada.
Assim, muitos mergulharão no carnaval para tentar desafogar um pouco a mente, as preocupações e os medos, tentando curtir e reorganizar a mente para enfrentar as batalhas de um ano que tende a ser duro e de muitas lutas.
Mas, mesmo no carnaval, existem aqueles que não mergulham na ilusão, que não adentram a feira da ilusão da vida, mas, pelo contrário, aproveitam o carnaval para fazer protesto, para chegar a mais pessoas, para levar a luta enquanto se brinca e sambando enquanto se luta.
Sim, existem os que não se limitam a sonhar no carnaval, mas cantam a sociedade que querem construir, mais justa, mais igualitária, mais humana, mais solidária, uma sociedade nova, sem preconceitos, nem intolerância, democratizada, reconstruída, uma sociedade socialista.
O Carnaval não é somente palco de festa e ilusões que se desmancham na quarta feira de cinzas, mas é um espaço onde os que defendem e constroem essa sociedade nova cantam seus objetivos, prestam homenagens às suas referências e seus heróis. Com irreverência protestam, com alegria cantam a luta, com convicção vão às ruas e fazem do carnaval mais um espaço de luta.
E é assim que o carnaval será para comunistas, para socialistas, para democratas radicais, para os progressistas e todos os que acreditam que essa sociedade não é o fim da história, e que uma nova alternativa pode e deve ser construída.
Diversas rodas de samba, blocos, cordões, alas farão essa resistência. Dentre eles podemos citar o maravilhoso “O Samba Brilha” que se reúne na região da Cinelândia (Rio de Janeiro), todo mês organizando sua roda de samba e sua resistência cultural, sempre com temas sociais, homenageando temas e pessoas da luta.
Mais um ano o Samba Brilha apresenta seu carnaval e, assim como sua roda de samba mensal, fará mais um carnaval cantando a luta e a vida, sendo uma referência da resistência cultural da Cinelândia e de todo o Rio de Janeiro.
Ainda no espirito das rodas de samba, temos a emblemática resistência cultural de Nova Friburgo, que também realiza suas mensais rodas de samba, uma verdadeira resistência na serra, com o irreverente e de luta Desafetos do Colírio. Sempre homenageando figuras e referências de luta e do samba.
Descendo a serra e voltando para o Rio, temos o novo, porém já tradicional Bloco “Cordão do Prata Preta”, bloco do bairro da Saúde, na região portuária do Rio. Bloco que tem por nome e símbolo o capoeirista Preta Preta, herói e resistente da Revolta da Vacina.
O Prata Preta, que sempre canta a luta e a resistência, levando irreverência e alegria, este ano fará uma homenagem à eterna Revolução Russa de 1917, cantando “Da Estação Finlândia a Saúde, os 100 anos da revolução bolchevique”.
O Prata Preta lembrará esse grande momento da luta da classe trabalhadora mundial e falará da resistência dos trabalhadores e do povo carioca, nas revoltas da Vacina, da Chibata e cantará as lutas e resistências dos trabalhadores de todo mundo bradando “sou carioca, comunista e bolchevique… no carnaval, meu fuzil é meu repique”.
E também teremos o Bloco Revolucionário do Proletariado, o Comuna que Pariu, bloco dos comunistas que, desde 2009, faz do carnaval uma importante trincheira de luta. O Comuna, que se tornou um fenômeno que extrapola o carnaval e a própria fronteira do Rio de Janeiro, sendo exemplo para a criação por comunistas de todo o país de seções estaduais, cantará a luta contra a intolerância, contra o preconceito.
Numa época em que o ódio e o medo se tornam discursos com força, onde a fronteira que defende o estado laico encontra-se tão ameaçada, o Comuna traz para o debate a luta da população LGBT.
O Comuna, que já cantou a luta pela anistia, a defesa do petróleo e da Petrobrás 100% estatal, que defendeu a reforma agrária e bradou “somos todos sem terra”, que lutou pela reforma urbana e contra as remoções, que homenageou Oscar Niemeyer, que denunciou as obras e desmandos da copa da FIFA, que cantou a luta das mulheres, da resistência do movimento negro, agora canta: “As bi, as gay, as trans e as sapatão, tão juntas no Comuna pra fazer Revolução!”.
O Comuna denunciará o preconceito, o ódio, a intolerância presente no discurso conservador que tenta se impor como senso comum, defenderá que toda forma de amor vale a pena, e chamará à luta todos e todas para a construção da revolução.
Como não poderia faltar, o Comuna fará uma homenagem à Revolução Russa e defenderá que os sonhos, as convicções, os desejos e os anseios dos bolcheviques por um mundo novo continuam vivos e presentes nas lutas dos comunistas.
Muitos outros blocos, cordões, rodas de samba farão também desse carnaval mais um espaço de resistência e de luta, de conscientização e de mobilização… sambemos que o carnaval termina na quarta-feira de cinzas, mas a nossa luta continuará.
E para lembrar … Fora Temer… Pelo Poder Popular!
A história não acabou… e nós apenas começamos.
Vamos que Vamos… construir um carnaval sem rei nem rainha, mas sim um carnaval camarada.
(*) Membro do Comitê Central do PCB
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