sábado, 16 de abril de 2016

«Indústrias culturais» e dominação

                                                                     
Filipe Diniz

Há muito que o tema da reescrita da História feita em Hollywood é glosado, tantos são os casos de falsificação da realidade passada feitos naquele centro norte-americano cinematográfico.
Hoje o texto de Filipe Diniz desmascara uma outra realidade: o contributo de Hollywood para as guerras e o terrorismo de Estado dos EUA, diretamente ou por interpostas organizações…

No seu texto clássico sobre o imperialismo, Lenine refere o processo de concentração da indústria eléctrica norte-americana numa «gigantesca empresa combinada»: a General Electric. A GE, hoje muitíssimo mais gigantesca, constitui uma das maiores expressões do colossal poder global do capital monopolista.

Expandiu-se em todas as direcções, e uma das que exige maior conhecimento e análise é comum a outros gigantes multinacionais: a área dos media e do «entretenimento». O capital monopolista, depois de há muito controlar os fluxos de informação globais e os grandes meios de comunicação social, invadiu de vez a área da cultura mediática e das «indústrias culturais», nas quais tende a inserir parte considerável da chamada cultura erudita.

Vem tudo isto a propósito de uma notícia recente (Guardian, 8.03.2016) acerca de uma reunião entre o secretário de Estado John Kerry e as maiores produtoras de Hollywood: Universal, Warner, Fox, Disney, Sony, Dreamworks. Tratava-se, ao que foi dito, de coordenar a «ofensiva contra o Daesh». Tal como os media globais antecipam a guerra por outros meios, esta indústria cinematográfica ajuda a viabilizar a guerra pelos seus.

Para além da certeza de que, se os EUA quisessem efectivamente combater o terrorismo, teriam meios mais eficazes de o fazer e certamente de evitar que surgisse com a dimensão que actualmente assume, o maior interesse desta reunião é o seu carácter simbólico. Porque ela é o contrário do que parece.

O governante não vai a Hollywood encomendar uma colaboração. Vai, isso sim, legitimar e reconhecer o papel de uma indústria vinculada por múltiplos elos aos interesses e à estratégia do capital monopolista. 

Uma breve vista de olhos pelos conselhos de administração dessas produtoras é elucidativo: com densas participações cruzadas, há lá de tudo: de gigantes multinacionais a entidades ligadas às múltiplas frentes da ofensiva imperialista. Só para simplificar, da GE na Universal a Frank Carlucci na Sony.

Esta poderosa «indústria cultural» e do «entretenimento» assume hoje um papel central no sistema da dominação e na ofensiva imperialista global.

Cabe aos povos contrapor a esta «cultura» da dominação uma cultura que seja emancipação e liberdade.

Este texto foi publicado no Avante nº 2.211 em 14 de Abril de 2016.

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