Livia Rodriguez Delis e Juan Diego Nusa Peñalver
CUBA assumirá a presidência da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na Cúpula de chefes de Estado e de Governo desse bloco, que terá lugar no Chile, nos dias 27 e 28 de janeiro.
Este fato, como expressou o presidente cubano Raúl Castro, no encerramento da 7ª Legislatura da Assembleia Nacional do Poder Popular, em dezembro passado, significa uma honra e uma grande responsabilidade para a Ilha, para o qual serão dedicados os maiores esforços e energias.
Além do mais, constitui um exemplo de confiança dos países integrantes da entidade regional nos princípios e valores da Ilha maior das Antilhas, sua ampla política exterior, a visão sobre os problemas da humanidade e o característico princípio de solidariedade, que dará à Celac um novo impulso no seu desenvolvimento e consolidação.
É, também, uma das evidências mais palpáveis do fracasso da política de isolamento, implementada pelos EUA contra Cuba, desde o triunfo da Revolução cubana, em 1959.
Washington, ressentido pela bofetada de unidade e solidariedade que significa um fato desta natureza, numa região que considera seu quintal, sempre desenvolveu uma estratégia para bloquear todo tipo de relacionamento da Ilha com o resto das nações do continente.
Um cerco que começou a desmoronar-se, há 40 anos, em 8 de dezembro de 1972, quando Barbados, Guiana, Jamaica e Trinidad e Tobago estabeleceram, conjuntamente, relações diplomáticas com Cuba, num ato de incontestável valentia política dessas pequenas nações caribenhas.
“Se olharmos a década de 60, devido à pressão dos EUA, Cuba mantinha relações diplomáticas somente com o México, e escassos vínculos comerciais na região”, expressou o vice-ministro do Comércio Exterior e do Investimento Estrangeiro, Orlando Hernández Guillén, com quem o Granma Internacional conversou, para aprofundar acerca da situação atual dos vínculos comerciais da Ilha com seus irmãos latino-americanos e caribenhos.
“Depois do passo decisivo desses quatro países do Caribe de fala inglesa, a respeito de Cuba, pouco a pouco as nações da América Latina foram aproximando-se, uns utilizando algum tipo de vínculo comercial e outros, através da via diplomática. Atualmente, a Ilha maior das Antilhas é membro ativo da comunidade latino-americana”.
O que significa para Cuba manter relações com as nações da região?
“A prioridade dos vínculos com a América Latina aparece na Constituição da República, onde se estabelece que nosso governo alicerça suas relações internacionais nos princípios de igualdade de direitos, livre determinação dos povos, integridade territorial, independência dos Estados, cooperação internacional em benefício e interesse mútuo e equitativo, arranjo pacífico de controvérsias, em pé de igualdade e respeito, e os demais princípios proclamados na Carta das Nações Unidas e noutros tratados internacionais dos quais a Ilha faz parte”.
“Aliás, reafirma a decisão de integração e colaboração com os países da América Latina e do Caribe, cuja identidade comum e necessidade histórica de avançar juntos, em prol da integração econômica e política, para conseguir a verdadeira independência, nos permitirá ocupar o lugar que nos cabe no mundo”.
“Isto fica referendado nas Diretrizes aprovadas no 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, onde também se especificam elementos fundamentais dos nossos vínculos com a América Latina, mediante a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) e a Associação dos Estados do Caribe, entre outras instituições sub-regionais, às quais a Ilha pertence e que também deram espaço ao processo de desenvolvimento de suas relações com outros países, exceto a Organização dos Estados Americanos (OEA) e seu subsistema de instituições”.
Atualmente, o comércio exterior de Cuba com a região representa mais de 40% de seu intercâmbio comercial, em nível mundial. Isto coloca a Ilha num dos lugares principais da área por volume de seu comércio intrarregional.
“Aí tem um peso importante a relação que temos com o Brasil, México e Venezuela, este último nosso primeiro parceiro comercial, do qual obtemos uma parte importante dos recursos energéticos que o país necessita para complementar a produção nacional”.
“Ainda que o governo cubano desenvolva ações específicas para promover a substituição de importações de alimentos, a Ilha maior das Antilhas continua adquirindo entre US$1,7 e US$1,8 bilhão (anualmente) somente desses produtos; e a América Latina é um importante provedor de alimentos, fundamentalmente países como o Brasil e a Argentina, que são grandes exportadores mundiais de alimentos e o são também no caso de Cuba”.
“As exportações cubanas para a América Latina, em termos numéricos, envolvem, aproximadamente, mais de 650 produtos para a região. Ainda não é o que desejaríamos, mas isto fala do desenvolvimento atingido, nestes últimos anos, pelo comércio, que já não só se limita à exportação de açúcar ou níquel, que têm pouco peso na região, mas sim que se diversifica num amplo leque, que vai desde os serviços (especialmente da saúde), produtos da biotecnologia até materiais da construção”.
“Da mesma forma, recebemos da América Latina matéria-prima, produtos intermédios, maquinarias e equipamentos, sobretudo de países como o Brasil, onde a indústria possui a capacidade de contribuir com este tipo de bem tecnológico”.
“Hoje, através das nossas relações com os países latino-americanos, também existem recursos financeiros que sustentam esse relacionamento. Há linhas de créditos que temos com o Brasil, Venezuela, e que são uma base importante, não só para o comércio, mas também para avançarmos em processos de investimento e desenvolvimento no país”.
“Por exemplo, a construção do porto de Mariel, que se realiza mediante uma cooperação e financiamento com o Brasil e com o envolvimento de entidades brasileiras e cubanas. Esta obra monumental é ícone da cooperação de Cuba com a região, e de maneira especial com esse país sul-americano”.
“Existem outros financiamentos e linhas de crédito com a Venezuela, com diferentes características, que têm um papel muito importante em nossa atividade econômica e comercial”.
Quais elementos favoreceram o impulso dos nexos com a sub-região?
“As relações com a América Latina chegaram a este nível porque Cuba, de maneira gradual, aprofundou os vínculos de comércio preferencial com praticamente todos os países integrantes da Aladi, o que criou as condições para que a Ilha se tornasse, em 1999, no décimo segundo membro pleno do maior grupo latino-americano de integração econômica”.
“Isto permitiu fortalecer os vínculos com esse grupo de Estados e negociar acordos destas características com países centro-americanos como Guatemala, Panamá, El Salvador e as nações que integram a Comunidade do Caribe (Caricom)”.
“Nalguns casos, estes acordos avançaram mais e respondem às circunstâncias políticas dos vínculos bilaterais, como são os exemplos da Venezuela e Bolívia, com os quais Cuba tem, na atualidade, um tratamento equivalente ao livre comércio, pois não existem tarifas na circulação de mercadorias”.
“Com a Venezuela negociamos o acordo, em maio de 2012, e anteriormente o tínhamos feito com a Bolívia. De maneira que todo o intercâmbio com esses dois países tem lugar sobre a base do livre comércio”.
“Temos que mencionar que a Bolívia, Venezuela, Cuba, Equador, Nicarágua, Antígua e Barbuda, Dominica, e São Vicente e as Granadinas integramos a ALBA, que é uma organização de integração de novo tipo, que a partir dos processos políticos que têm lugar na região permitira projetar propósitos e alcances muito superiores, nos processos de aproximação e integração entre nossos povos, no âmbito econômico, financeiro, social e cultural”.
“Daí que Cuba esteja plenamente inserida na região latino-americana e caribenha e incorporada em todos os mecanismos de articulação, integração e coordenação da área, exceto a OEA”.
Como Cuba conseguiu resistir os embates da crise econômica internacional, e particularmente, como nosso comércio exterior vem enfrentando o bloqueio?
“Em primeiro lugar, pela capacidade de resistência do nosso povo (em 2012, a economia cubana cresceu 3,1%) e uma estratégia inteligente no momento em que a situação foi mais grave e mais tensa; ao buscar no interno todas as possibilidades de poupança, dirigindo os limitados recursos disponíveis àqueles setores com capacidade de gerar receitas e, ao mesmo tempo, limitar importações”.
“Todos os que, naquele momento, confiaram em Cuba hoje veem plenamente justificadas suas decisões porque, na medida em que a economia cubana conseguiu enfrentar, com maior sucesso, a crise, as situações de tensão apresentadas numa dada altura, com as contrapartes estrangeiras, tiveram uma resposta positiva”.
“Por outro lado, Cuba teve uma estratégia inteligente para enfrentar o bloqueio econômico, comercial e financeiro do governo dos EUA, nestes 50 anos, medida que demonstra grande intencionalidade desse país em suas ações contra o setor financeiro de nosso país, ano âmbito internacional”.
“A administração Obama é a que mais multas impôs a instituições bancárias estrangeiras, por terem relações normais com Cuba e, de certeza, isto faz com que a forma de enfrentar o bloqueio, por parte do nosso país, também seja cada vez mais perspicaz e cuidada. Nesta batalha temos o apoio da comunidade internacional, que condena reiteradamente, nas Nações Unidas e em muitos outros fóruns, esta política fracassada”. (Com o Granma)
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