Claudia Fonseca Sosa
A crise política que atravessa Mali nestes dias, depois do golpe de Estado de março de 2012, pode ser considerada a mais grave, depois que esse país africano conseguisse independizar-se da França, em 1060. A mesma potencia colonial à qual recorre agora o presidente interino Dioncounda Troré, em busca de ajuda para deter o avanço dos grupos armados antigovernamentais que ocupam neste momento o norte do país.
O Conselho de Segurança da ONU — do qual a França é membro permanente — aprovou, segunda-feira, 14 de janeiro, a intervenção militar francesa e o envolvimento nela das forças da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, como apoio ao fraco exército maliano.
Mas já no campo de batalha ressoavam os canhões desde 11 de janeiro, quando o governo de Mali decretou o estado de emergência nacional. De acordo com estatísticas difusas, centenas de pessoas foram obrigadas a emigrar, para países vizinhos, como Argélia, Mauritânia ou Senegal... o que poderia desencadear uma crise humanitária no norte da África.
Fontes diplomáticas coincidem em que o conflito envolve vários grupos armados, com diferentes objetivos. Como atores aparecem os islamistas de Ansar Dine, que controlam as cidades mais importantes do Norte: Tombuctu, Kidal e Gao; os tuaregues, do Movimento Nacional de Libertação de Azawad, que já controlam, desde 2012, uma parte do território nacional equivalente a quase metade do mesmo; e outros coletivos mais pequenos, como o movimento Mujao e elementos estrangeiros que já estão estabelecendo acampamentos de treinamento nas zonas que já estão nas mãos dos revoltados.
A instabilidade gerada depois do golpe de Estado, liderado pelo capitão Amadou Sanogo – quem recebeu treino militar nos Estados Unidos — facilitou a tomada dos territórios ocupados atualmente pelos islamistas radicais.
Por seu lado, analistas políticos não descartam a possibilidade de que a França venha a aproveitar esta situação e, inserida na “guerra contra o terrorismo”, aproveite a ocasião para apanhar uma fatia do bolo, numa região rica em petróleo e outros recursos minerais, como ouro e o controverso urânio.
Vozes da esquerda francesa observam que a resolução da ONU estipulava a entrada de uma missão liderada pelos países africanos e não pela França, como está acontecendo na prática. Não podemos esquecer o longo histórico de ingerências da França na África, em momentos de levantes, revoltas e golpes de Estado, em países como Gabão, República Centro-africana, Costa do Marfim e no Congo.
Um escuro cenário paira novamente sobre o continente mais rico em recursos naturais e, ao mesmo tempo, o mais maltratado pelo egoísmo e a cobiça humanas. Será que Mali se converterá no novo Afeganistão? (Com o Granma/Carlos Latuff/Opera Mundi/Divulgação)
Nenhum comentário:
Postar um comentário