quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Líder da República Democrática da Coreia aponta medidas para melhoria da situação do povo


                                                                   
 
 Pyongyang, 30 jane (Prensa Latina) - O líder norte-coreano Kim Jong-un pediu o apoio das bases do partido dirigente na atual construção de uma nação socialista próspera e em fazer realidade o sonho de Kim Jong Il de oferecer ao povo riqueza e conforto.

O máximo dirigente da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) expressou estes critérios em um discurso pronunciado durante a IV Conferência de Secretários de base do Partido do Trabalho da Coreia que tem lugar nesta capital com uns 10 mil participantes, informou hoje a agência oficial Kcna.

Nada a Temer

Só se as células de base do Partido permanecem fortes, a organização se manterá inquebrantável ante qualquer adversidade e não há nada que temer e nada é impossível, agregou Kim.

O líder da RPDC expressou que a tarefa mais importante da atualidade é preparar aos membros do Partido do Trabalho da Coreia (PTC) como genuínos seguidores das ideias de Kim Il Sung e Kim Jong Il e que seu trabalho com as massas vinculem a esta organização política mais ao povo.

Organização é tudo

Uma tarefa importante, agregou Kim, é organizar com energia e mobilidade aos integrantes do PTC e outras pessoas na implementação das políticas da organização, em momentos em que avança uma dinâmica geral para construir uma sociedade socialista próspera.

Conforto ao povo

Segundo o jovem líder norte-coreano, a mais relevante tarefa revolucionária do PTC na atualidade é transladar à realidade o "nobre desejo de Kim Jong Il... até os últimos momentos de sua vida, de chegar riqueza e conforto ao povo sob o socialismo".

Disse que para conseguir a viragem para a construção de um gigante econômico e melhorar o nível de vida da população, as organizações do partido a todos os níveis devem exitosamente desempenhar seus papéis e exortou aos secretários de base trabalhar com mais responsabilidade.(Com a Prensa Latina)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Especial, 10 anos do "Brasil de Fato"

A médica Aleida Guevara

Foto: Cuba Solidarity Campaign    


                                        

“Nosso futuro está cheio de sorrisos, música e amor”


Aleida Guevara analisa a sociedade cubana e aponta os desafios do governo da ilha para os próximos anos

23/01/2013

Nilton Viana 

da Redação 

Filha do guerrilheiro e revolu­cionário Ernesto Che Guevara, pediatra e militante da revolução cubana. Aleida Guevara vive em Havana desde seu nas­cimento em 1960, um ano após o trunfo da revolução que seu pai ajudou a cons­truir ao lado de Fidel Castro e outros guerrilheiros. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Aleida, que esteve presente no ato de fundação do jornal, analisa o atual con­texto de Cuba no cenário latino-ameri­cano e traça as perspectivas para o fu­turo. 

Brasil de Fato – A América Latina passou por mudanças importantes – principalmente com a chegada de governantes progressistas, anti-imperialistas e de esquerda. Como você avalia o atual cenário latino­americano em relação a Cuba?

Aleida Guevara - Para nossa gran­de pátria é um momento de esperan­ça, mas o melhor é que já se pode ver os sonhos tornando-se realidades, nos­sos povos começam a sentir que se po­de, começam a desfrutar, pela primeira vez em nossa história, de seus próprios recursos naturais, com os quais se po­de obter reais benefícios na educação, na saúde, em moradia.

Pela primeira vez, vemos exércitos que costumavam nos reprimir participando das novas construções e defendendo seu povo. Is-to permite uma relação muito mais es­treita entre nossos povos, onde os in­tercâmbios econômicos e culturais au­mentam diariamente e o povo cubano participa ativamente em todo esse pro­cesso de união. Trabalhamos muito pe­la solidariedade e recebemos muita so­lidariedade. Já não estamos ilhados, so­mos parte integrante de um amanhecer, a Alternativa Bolivariana para as Amé­ricas (Alba). Agora sim começamos a desfrutar da pátria grande. 

Nesses 10 anos, ocorreram algumas mudanças em Cuba, como a saída de Fidel Castro e a chegada de Raul ao poder. Como avalia essas mudanças? 

Não são mudanças, é a continuida­de de um processo revolucionário, que amadurece, cresce e se desenvolve. Po-demos dizer com certeza que ainda há muito o que melhorar, mas podemos fazê-lo pela acumulação de experiência, porque temos vencido milhares de en­frentamentos e vamos buscando solu­ções para os problemas que temos. 

A reforma migratória acaba de entrar em vigor em Cuba. Qual deve ser a importância dessa nova medida? 

Isto reflete o que eu disse anterior-mente, somos mais fortes como socie­dade, temos maior desenvolvimento na nossa segurança interna, então pode­mos ser muito mais hospitaleiros com a nossa gente. É um processo de amadu­recimento que leva anos se aperfeiço­ando, não são coisas decididas em pou­co tempo, levamos muitos anos bus­cando soluções, escutando o sentimen­to de nosso povo, mas sem perder nem por um instante a consciência das ma­nipulações que o governo dos EUA rea­lizam para tentar danificar nossa sobe­rania, é sem dúvidas um inimigo mui­to poderoso e não podemos nos des­cuidar. Por outro lado, o governo cuba­no sempre foi criticado por não permi­tir que seus cidadãos viajassem livre­mente, mas poucos conhecem os acor­dos migratórios que nosso governo tem tentado negociar com os EUA.

Há anos lhes temos pedido que cumpram os 20 mil vistos anuais prometidos e que so-mente nos últimos anos têm feito. Pou­cos conhecem sobre a lei implementada por eles para receber ilegalmente cuba­nos em seu território nacional, nós so­mos os únicos cidadãos deste plane­ta que se chegamos ilegalmente à cos­ta dos Estados Unidos somos recebidos como heróis e está estabelecido por lei que temos direito a moradia, trabalho e algum dinheiro e em um ano podemos optar pela cidadania estadunidense, tudo isso se chegarmos ilegalmente a seu território. Pensem quantos mexicanos ou haitianos morreram tentando fa­zer o mesmo.

Por que é diferente pa­ra os cubanos? Será pela propaganda que desenvolvem contra nossa socieda­de? De toda forma, seguimos em frente, agora veremos quantos vistos recebere­mos, mas pessoalmente estou contente, acho que essas medidas são boas para nosso povo. 

Qual é, a seu ver, o principal legado de Che Guevara para a América Latina? 

Che é o arquétipo mais completo do novo homem, com capacidade para amar, para lutar, para aprender, para viver com dignidade. Sua própria vida se converte em seu melhor legado, mas pessoalmente me comove sua capacida­de para amar, só dessa forma se pode estar disposto a entregar sua vida por outros homens e mulheres. Che repre­senta a continuidade dos melhores pró­ceres de nossa América. Che é futuro. 

O que você acha do socialismo? Devemos continuar insistindo na luta por uma sociedade socialista? 

Com certeza. Como podemos garantir uma educação gratuita e em igualdade de condições para todo o povo? Como garantir saúde para todos, como direito do ser humano? Como assegurar a ali­mentação do povo? Somente podemos conseguir isso se somos donos do que produzimos, se nossas terras são utili­zadas como propriedade coletiva e não por poucos ou companhias estrangeiras e se garantirmos reforma agrária, se o capital se emprega em benefício social e não para o lucro de poucos. Enfi m, só atingiremos a soberania e a prosperida­de para nossos povos se construirmos uma sociedade de direito com respeito a cada um de nossos homens, mulheres e crianças. E eu só conheço isso em uma sociedade socialista.

Como você vê o futuro de Cuba, diante da difícil situação econômica? 

Com muito trabalho, com muito que aprender e muito o que resolver, mas sempre melhorando e aperfeiçoando nossa sociedade socialista, certamen­te seria muito útil se abolissem o blo­queio econômico criminoso que os EUA nos impõem há mais de 50 anos.O fu­turo vem cheio de tecnologia, já esta­mos desenvolvendo um polo científico que produz, ainda nessas condições de bloqueio, medicamentos e vacinas que podem ajudar a melhorar a vida de mi­lhões de pessoas neste planeta, nosso futuro está cheio de sorrisos, música e amor, porque assim somos, mas tam­bém há determinação, valor e força. 

Como você avalia a gestão de Obama, em relação a Cuba, sobretudo em comparação com os governos anteriores (Clinton e Bush)? 

De Obama esperávamos muito mais, mas simplesmente se tem comportado como mais um fantoche dos interesses econômicos das transnacionais e da in­dústria armamentista de seu país, mas, todavia, não perdemos as esperanças de que possa fazer algo útil para seu próprio povo em relação à saúde, edu­cação, moradia e sobretudo protegê-los da violência em que vivem, mas a ver­dade é que acho isso muito difícil de ocorrer. O importante para mim é que o povo dos Estados Unidos desperte de sua letargia e tome consciência do po­der que tem como povo e tome as réde­as, só então poderemos falar de alguma mudança, enquanto isso não ocorrer, teremos o mesmo cachorro com uma coleira diferente. 

O que você diria aos jovens da periferia urbana brasileira, que gostam do Che? 

O que eu digo a todos os jovens, estu­dem Che, leiam-no, pratiquem-no, tra­gam-no junto a vocês para enfrentar sua realidade cotidiana. 

E o que você diria aos jovens que se formam em medicina, e que às vezes apenas pensam em ganhar dinheiro, para “subir” na vida? 

Digo que se pensarem assim, nunca serão médicos. Esta profissão, como a dos professores, é de entrega total e o único amo a quem respondemos é o po­vo. Estar perto da dor e da alegria das pessoas te converte em um ser huma­no melhor, se não é assim, melhor não ser médico. 

No Brasil, estamos completando uma década de um governo progressista. Como você vê o cenário brasileiro? 

A verdade é que eu gostaria de ver uma reforma agrária, gostaria que esse gigante latino-americano fizesse parte da Alba, gostaria que nenhum homem, mulher ou criança desse belo país pas­sasse fome ou alguma necessidade, pois não posso entender como com tanta ri­queza exista uma única pessoa passan­do necessidades. Creio que podem fazer muito mais e não só o governo, mas vo­cês mesmos, como massa humana, com força suficiente para defender seus di­reitos. Creio nos movimentos sociais como o MST, porque eles mostram que “sim, se pode” e tornam o sonho rea­lidade.

Há algum tempo visitei uma das maiores minas de ferro do mundo e fiquei muito impressionada, está na Amazônía brasileira e para tirar o ferro têm cortado milhares de árvores ances­trais, por favor, amigos, tenham cuida­do! O homem pode viver sem ferro, mas não pode viver sem oxigênio, defendam o futuro da nossa espécie. 

A chamada grande mídia tem se posicionado cada vez mais como um verdadeiro partido político das elites. Como você analisa a imprensa? 

A imprensa é muito importante, tem a responsabilidade de alertar as pesso­as sobre tudo o que acontece em nosso entorno, mas quando essa imprensa se converte em papagaio repetidor de no­tícias e sequer toma o trabalho de in­vestigá-las, essa imprensa se conver­te em uma grande máquina de desin­formação e isso é muito perigoso e da­noso, pois pode impedir que as pesso­as reajam a tempo contra algo perigo­so ou injusto. 

Você esteve no lançamento do nosso jornal Brasil de Fato, em janeiro de 2003. Agora, estamos completando 10 anos. Qual a importância de um veículo como este e qual o papel da mídia alternativa/popular para os povos? 

O povo necessita sentir que tem voz, que é escutado e defendido. É esse o pa-pel tão importante que têm os meios al­ternativos. Feliz aniversário. E que te­nham muitos anos, mas sempre a servi­ço dos que sabem amar.


Aleida Guevara March é filha do revolucio­nário Ernesto “Che” Guevara, médica pediatra. Trabalhou como médica em Angola, Equador e Nicarágua. Mora atualmente em Cuba  e é militante do Partido Comunista Cubano. (Com o Brasil de Fato)

OEA reconhece assassinato de Vladimir Herzog


                                                               
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), reconheceu oficialmente como assassinato a morte do jornalista Vladimir Herzog. Ele morreu em 1975, depois de ser torturado, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), do Exército, durante o regime militar.

O caso foi apresentado à CIDH pela organização de direitos humanos Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (Cejil, na sigla em inglês) em 2009. Ao lado da organização estavam a Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos (FIDDH), o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.

De acordo com a diretora do Cejil, Viviana Krsticevic, a aceitação do caso pela OEA significa que não há mais empecilhos para se estudar e decidir a responsabilidade do Estado sobre a morte de Herzog. Também quer dizer que a OEA rejeitou os argumentos do governo, que tentava impedir as investigações.

Viviana explica que, com a aceitação pela OEA da tese do assassinato, foi determinado que o Estado brasileiro tem obrigação de "aprofundar a busca da justiça e a verdade jurídica sobre o caso Herzog". "A OEA determinou que deve haver punição e que a interpretação da Lei da Anistia atual pelo Judiciário brasileiro tem que mudar para permitir que sejam feitas investigações no âmbito criminal para estabelecer as responsabilidades pelas torturas, pelos desaparecimentos forçados e assassinatos cometidos na ditadura", diz a diretora. (Com a Adital/ABr)


Dez anos do "Brasil de Fato", um jornal para nossa classe



Milton Pinheiro [*]

A história da imprensa no Brasil é pródiga por agir em duas direções: por um lado, no conluio do aparato de Estado com os meios de comunicação a serviço da burguesia, e por outro, a extrema repressão, desses mesmos agentes, aos instrumentos de divulgação e formação da classe trabalhadora. 

O Partido Comunista Brasileiro mesmo com a extrema perseguição política e a ilegalidade a que esteve submetido por longos períodos da sua história, sempre teve jornais semanais e até mesmo diários, assim como revistas de circulação nacional. 

Outras organizações, já no término da ditadura burgo-militar de 1964, também construíram experiências de jornais alternativos para lutar pelos interesses dos trabalhadores na transição para o Estado de direito. Mas, a esquerda brasileira não avançou para ter um jornal de ampla circulação que unificasse os interesses da nossa classe. 

Há dez anos surgia o Brasil de Fato , em 25 de janeiro de 2003. Hoje, esse instrumento unitário dos movimentos populares está fazendo aniversário. Trata-se de um espaço onde os trabalhadores, os diversos movimentos sociais e as lutas mais sentidas do povo brasileiro encontram a divulgação merecida. Os fatos do Brasil e do mundo são apresentados pela ótica da nossa classe, levando-se em conta a verdade, que é sempre revolucionária. 

Essa forma comprometida de fazer a imprensa popular se consolidou no trabalho realizado pelo Brasil de Fato. Neste espaço plural da esquerda brasileira, encontramos o combate ao aparato burguês, e a informação básica para alimentar os lutadores sociais no seu caminhar pela trilha do acirramento da luta de classes. Esse jornal apresenta uma proposta contra-hegemônica, que procura contribuir com os trabalhadores na construção de outra sociabilidade humana. 

Em um país historicamente marcado pelo déficit democrático, cujas raízes remontam o escravismo, à política racista como regulação social e o patrimonialismo como gestão de Estado, a caminhada dos trabalhadores é revestida de enorme esforço. A luta pela terra, a defesa do meio ambiente, a manifestação da cultura popular, o apoio irrestrito aos trabalhadores em seus confrontos e a defesa de uma educação emancipadora, encontram no espaço democrático do Brasil de Fato a repercussão que a luta precisa para prosseguir. 

Queremos contribuir para que esse instrumento da imprensa popular seja um semanário que se transforme numa representação da frente de esquerda, tendo como horizonte próximo o projeto de tornar-se um jornal diário, para responder à necessidade da nossa classe de enfrentar a ideologia do capital, em um país onde a burguesia controla de forma violenta os meios de comunicação, contando com a leniência dos governos. 

Esse projeto vigoroso de tornar-se diário será efetivado a partir da participação das forças políticas e sociais, da crítica fraterna e construtiva à linha editorial, possibilitando ao jornal encontrar a linha política mais conseqüente, que abrirá o caminho mais justo para representar o conjunto de forças que no Brasil luta pela transformação social de caráter anticapitalista, na perspectiva do socialismo. 

Neste momento de comemoração, um registro se faz relevante: enviamos uma saudação fraterna e convicta ao coletivo de homens e mulheres, profissionais e militantes que, com a sua dedicação revolucionária, constroem esse instrumento da classe trabalhadora, que com acertos e, até mesmo, com problemas se mantém no destacamento de apoio as vanguardas em luta por todo o Brasil. 

Afinal, são dez anos de muitas batalhas de uma guerra em movimento. É dessa experiência de imprensa popular que as massas trabalhadoras necessitam, para fazer, com a sua agitação e propaganda, a pauta da luta social avançar por todos os rincões do país, ajudando a formar o “povo filosófico”. 

Agora uma nova fase se apresenta para o Brasil de Fato. Precisamos avançar nas diversas frentes que, por ora, foram abertas pelo jornal. Consolidar uma linha editorial com profunda independência de classe, abrir espaços políticos nas diversas organizações da esquerda revolucionária brasileira, e ser um formador coletivo com capacidade real de contribuir para a direção moral e intelectual dos trabalhadores na sociedade brasileira. 

Esse projeto, essa luta, esse compromisso faz do Brasil de Fato um jornal ao lado da nossa classe. Que a luta continue... Agora, mais forte do que antes.

[*] Milton Pinheiro é professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), editor da revista Novos Temas e membro do CC do PCB. (Com resistir.info/.)


Não às ingerências dos imperialistas sobre Mali e às provocações de seus agentes islâmicos na Argélia


(Partido Argelino pela Democracia e pelo Socialismo)

"A chave da resistência é a edificação de partidos revolucionários decididos a pôr fim à exploração e à dominação capitalista e imperialista."

O imperialismo francês busca incansavelmente a execução de seu plano de controle político e militar total de suas antigas colônias africanas. Após a Costa do Marfim, onde suas tropas depuseram Gbagbo à força, o enviaram a uma prisão em Haia e instalaram no poder sua marionete Ouattara, agora é a vez de lançar sua força aérea e de desembarcar suas tropas no Mali sob o pretexto de combater grupos islâmicos armados no norte do país e de defender sua integridade territorial.

Após uma semana, os imperialistas franceses tentam realizar um de seus objetivos: implantar suas tropas no Mali de forma durável, transformar este país em cabeça de ponte a fim de controlar as riquezas do Sahel, sob a bênção da ONU, instância de barganha e de repartição do mundo em zonas de influência das potências imperialistas. 

Graças à assim chamada legitimidade internacional conferida a esta ação pela ONU, o imperialismo francês obteve o aval da CEDEAO [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, N. do T.], seu instrumento neocolonialista, para bancar o policial da África Francófona, fazer e desfazer os regimes africanos ao sabor de seus interesses.

O pretexto é grosseiro e hipócrita. Seja sob um governo de direita, seja sob um de “esquerda”, o imperialismo sempre se apoia sobre movimentos reacionários que se camuflam sob a religião para se contrapor à vontade de emancipação dos povos da dominação imperialista e neutralizar os dirigentes que o desafiam.

É matar dois coelhos com uma cajadada. Suas tropas fincam pé no Mali, e ele camufla sob esta intervenção seu plano de cerco à Argélia pelo sul tendo em vista reforçar as pressões sobre nossos governantes e pressioná-los ainda mais a aderir à via do compromisso e da ruptura com suas orientações anti-imperialistas tradicionais. O Partido Argelino pela Democracia e pelo Socialismo condena a autorização dada pelo governo argelino ao sobrevoo do território nacional pelos aviões militares franceses.

O imperialismo engana o povo malinês, ao qual tenta fazer acreditar que busca proteger de hordas obscurantistas. É necessário ser muito ingênuo, cego ou estar agindo de má fé para esquecer ou não enxergar que durante dezenas de anos estes grupos e seus regimes têm sido os melhores auxiliares do imperialismo, como o foram no Afeganistão, Bósnia, Kosovo, Líbia, e agora na Síria.

Será possível que tenhamos esquecido que durante os anos 90 os dirigentes socialistas franceses apoiaram a Frente Islâmica de Salvação na Argélia, exigindo o reconhecimento de sua pretensa “vitória eleitoral” e contribuindo para a propagação de mentiras visando a inocentar os grupos islâmicos armados dos massacres cometidos na Argélia? 

Como podemos crer que as potências imperialistas libertarão os malineses da ditadura dos grupos obscurantistas, se foram elas mesmas que mergulharam a Síria em fogo e sangue para colocar estes mesmos grupos no poder com o apoio dos regimes monarco-teocráticos da Arábia Saudita e do Qatar?

O imperialismo se confronta com a mais grave crise econômica estrutural em sua história. Ele necessita dividir os povos. Embora afirme que os combate em certos países, em outros ele sustenta os grupos religiosos fanáticos que, nos países árabes e muçulmanos, impõem práticas religiosas medievais por meio do terror.

Estas práticas têm por objetivo e resultado desviar a atenção, impedindo as pessoas de refletir sobre questões políticas, econômicas e sociais e sobre as medidas a tomar para se libertarem da pilhagem de suas riquezas pelas multinacionais, para abalar a dominação imperialista, para transformar de maneira revolucionária as bases econômicas de seus países.

O imperialismo mantém, aberta ou veladamente, a existência e a influência destes grupos. Ele tira proveito deles para justificar a vigilância policial sobre todos os povos. Ele difunde o racismo islamófobo. Ele atiça guerras internas nos países árabes e islâmicos. Ele se apresenta em seguida com a máscara do “salvador”. Ele, de fato, tenta de todas as maneiras criar os pretextos para despachar seus espiões, seus agentes, seus mercenários, seus assassinos a soldo e seus militares para esses países, instalando nos governos as suas marionetes.

O que se passa em Mali e o que acaba de se passar no complexo de gás de In Amenas com a incursão de grupos fortemente armados a partir da Líbia, a prisão de dezenas de reféns estrangeiros, o massacre de certo número dentre eles, nada mais é que a consequência previsível da intervenção militar na Líbia das potências imperialistas, dos EUA, da Inglaterra, da França, da OTAN, da União Europeia. 

A liquidação pela força do regime de Kaddafi com o apoio das forças mais retrógradas de seu país faz pairar sobre a Argélia graves perigos, e a expõe a todas as provocações armadas pelos serviços subversivos daquelas potências. A referida liquidação encorajou em toda parte as forças obscurantistas em sua marcha sinistra pela tomada do poder.

São as potências imperialistas que organizam a insegurança generalizada na região para justificar sua ingerência. O emir do Qatar, amigo dos dirigentes franceses, não esconde que subvenciona e apoia abertamente os terroristas islâmicos fundamentalistas enviados da Líbia ao Mali. Nenhum governo, nem mesmo o argelino, o condenou. Os dirigentes franceses logo depois exploraram a presença de grupos terroristas para se imiscuírem nos negócios do Mali.

Sob pretexto de dar assistência na luta contra os bandos terroristas armados, as potências imperialistas fazem pressão para que o regime argelino aceite o princípio da presença de seus “experts” militares no Saara argelino, primeiro passo em direção à instalação de bases militares destinadas a minar o país por dentro. 

O povo argelino não é bobo. Ele rejeita a intervenção das potências imperialistas em seus problemas internos, e reage com indignação às tentativas de dirigentes da Grã-Bretanha, dos EUA e de outros países de ditar suas prescrições aos responsáveis militares argelinos sobre a maneira de neutralizar estes grupos criminosos.

São os dirigentes das potências imperialistas que carregam a responsabilidade da morte de numerosos trabalhadores, técnicos argelinos e estrangeiros do campo de gás de In Amenas. Os comunistas argelinos exprimem sua solidariedade às famílias de todas as vítimas da operação terrorista de In Amenas, sacrificados pelo imperialismo para realizar seu plano de dominação da região.

Estes acontecimentos não surpreendem os comunistas argelinos. O Partido Argelino pela Democracia e pelo Socialismo preveniu diversas vezes aos trabalhadores e ao povo argelino quanto às consequências que adviriam da agressão imperialista na Líbia, e, de maneira geral, de sua agressividade contra o mundo. Mas não há fatalidade. Os trabalhadores e os povos detêm os meios para resistir e infligir derrotas ao imperialismo.

Cabe aos povos, a suas forças revolucionárias e progressistas, combater com seus próprios meios as correntes retrógradas, as ingerências e as guerras imperialistas que favorecem a expansão destas correntes, reforçam a exploração e a opressão dos povos. Frente a esta coalizão reacionária interna e externa, eles devem contar com a mobilização interna das massas trabalhadoras e com a solidariedade das forças progressistas no mundo todo. A chave da resistência é a edificação de partidos revolucionários decididos a pôr fim à exploração e à dominação capitalista e imperialista.

Partido Argelino pela Democracia e pelo Socialismo

19 de janeiro de 2013

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Basta de violência contra os trabalhadores!


                                                    
Pela punição aos assassinos do companheiro Cícero Guedes!

A notícia do assassinato do militante do MST Cícero Guedes, atacado, na sexta-feira, dia 25 de Janeiro, ao sair de uma reunião do movimento na usina Cambahyba (Acampamento Luis Maranhão) causa grande indignação em todos os que lutam contra a desigualdade social. 

O companheiro Cícero, que, mesmo já assentado, exercia a coordenação do Acampamento, é mais uma vítima do violento esquema de repressão que se organiza para reprimir os movimentos sociais, e, em particular, das ações ilegais de grupos armados a serviço da oligarquia agrária, montados para tentar barrar o avanço da luta pela reforma agrária.

O crime se deu na usina Cambahyba, o mesmo local onde, à época da ditadura, houve a prática  usual de tortura e onde foram cremados corpos de militantes políticos que se opunham ao regime. Muitos corpos de militantes do PCB, entre eles o de Luís Maranhão (que dá nome ao Acampamento do MST), assassinados pelas forças repressivas, foram queimados ali. Muito provavelmente, os proprietários da Usina, assim como outros grupos empresariais, foram agraciados com favores e terras, em troca do apoio às ações repressivas.

O PCB exige a apuração completa desse crime, conclama a todas as forças progressistas e democráticas que se somem na luta pela punição dos culpados, pelo fim da impunidade aos que praticam crimes contra o povo, pelo avanço da Reforma Agrária, pela Justiça Social.

O Companheiro Cícero não viveu em vão. Sua luta e seu exemplo permanecerão vivos na luta cotidiana dos trabalhadores.

Companheiro Cicero...

Presente!!!

26 de Janeiro de 2013

Partido Comunista Brasileiro

Secretariado Nacional Comissão Política Regional do Rio de Janeiro

sábado, 26 de janeiro de 2013

Cunhal e a luta em defesa do papel de vanguarda do PCP


                                                          

Publicamos hoje o primeiro de um conjunto de artigos que se inserem na comemoração do centenário de Álvaro Cunhal. Em texto inédito, José Paulo Netto estuda a trajectória do histórico dirigente revolucionário, a sua luta intransigente e permanente contra os desvios de direita e o oportunismo burguês no seio do movimento comunista e do próprio PCP, o seu papel central no desenvolvimento de uma teoria da revolução portuguesa.


José Paulo Netto (*)

O Partido Comunista Português (PCP) foi fundado em 1921. Obrigado à clandestinidade na sequência do golpe militar (1926) de Gomes da Costa, que abriu o caminho para a ditadura de Salazar, o partido foi reorganizado por Bento Gonçalves (1902-1942), seu primeiro secretário-geral, assassinado pelo salazarismo no campo de concentração do Tarrafal.

Na história do PCP, a figura de Álvaro Cunhal é absolutamente central. De fato, o PCP que se constituiu como a força mais importante na longa resistência democrática ao regime fascista de Salazar e na vanguarda mais consequente do processo da “Revolução dos Cravos” (25 de abril de 1974) foi construído por um coletivo em que a liderança de Cunhal emergiu e se consolidou por décadas, sem quaisquer contestações por parte da militância de base – esta reconheceu no secretário-geral de 1961 a 1992 (depois, tornou-se Presidente do Conselho Nacional do PCP) a coragem pessoal, a firmeza ideológica e a qualificação teórica que, enfim, tornaram-no o próprio símbolo do comunismo lusitano. Compreende-se, pois, que o Comitê Central do PCP tenha agendado para 2013, ano do centenário de nascimento de Cunhal, uma série de eventos e atividades para evocar o notável “filho adotivo do proletariado português”.

A luta por um partido marxista-leninista

Toda a vida de Cunhal – nascido a 10 de novembro de 1913 e falecido a 13 de junho de 2005 (pouco depois da morte de outro grande nome da “Revolução dos Cravos”, o general Vasco Gonçalves, aos 84 anos) – foi dedicada ao PCP, no qual ingressou, como líder estudantil, nos inícios dos anos 1930.

Articulador da juventude comunista, Cunhal integra a direção do PCP a partir de 1936. Passa com ímpar dignidade pelas prisões fascistas em 1937 e 1940. Entre 1940 e 1941, protagoniza um novo processo de reorganização do PCP: tratou-se mesmo de uma autêntica refundação do partido, no marco da qual se constituiu um sólido núcleo dirigente e se estabeleceu a estrutura clandestina que o fascismo salazarista jamais pôde destruir. 

Foi Cunhal cérebro e mãos desse processo: teórico e militante, sua intervenção intelectual e sua corajosa prática política conferiram nova dinâmica ao PCP, tornado desde então, na mais estrita acepção, um partido marxista-leninista. Por isto, já em meados da década de 1940 seus camaradas reconheciam o caráter singular da personalidade do líder que se afirmava – caráter em que se conjugavam a qualificação teórica e o talento organizativo.

Preso em 1949, transformou seu processo judicial em tribuna anti-fascista.
Condenado, passou 11 anos nos cárceres salazaristas, dos quais 8 em isolamento – mas encontrou meios e modos de estudar e desenvolver suas concepções teóricas e aperfeiçoar seus dotes artísticos (no desenho e na ficção literária). A 3 de janeiro de 1960, em espetacular fuga coletiva organizada pelo PCP, escapou do Forte de Peniche – e, após algum tempo na clandestinidade, rumou para o exílio (URSS, França).

Exilado até a “Revolução dos Cravos”, teve condições de aprofundar sua análise da realidade de seu país – realmente, elaborou o que se pode designar como uma teoria da revolução portuguesa – e, no interior do partido (cujo Comitê Central elegeu-o para a secretaria geral em 1961) e no movimento comunista internacional, consagrou-se como o líder inconteste da resistência ao salazarismo. Após a derrubada da ditadura fascista, participou como ministro em vários dos governos provisórios da instauração democrática e o povo português conferiu-lhe seguidos mandatos parlamentares.

No curso dessas décadas, Cunhal travou um incessante combate em defesa do caráter marxista-leninista do seu partido. A luta no plano político-ideológico para preservar e consolidar o papel de vanguarda do PCP foi, para ele, uma luta sem quartel.

E uma luta em duas frentes: contra os equívocos provindos de “desvios de direita” contra as tentações aventureiras advindas de “desvios de esquerda”. Exemplifiquemos essa luta com um dos seus mais relevantes capítulos, o do combate aos “desvios de direita”.

A crítica radical ao “desvio de direita”

Já no IV Congresso do PCP, realizado em 1946, Cunhal – à base da certeira compreensão de que a ditadura portuguesa era uma forma particular e específica de regime fascista – defendera para a derrubada do salazarismo o recurso a um “levantamento nacional”. No curto prazo, porém, o partido deslizou para um posicionamento (posteriormente designado como “política de transição”) que secundarizava o empenho para organizar o “levantamento nacional”.

Na passagem dos anos 1940 aos 1950, o partido foi profundamente golpeado pela repressão – entre tais golpes conta-se a “queda” da casa do Luso (25 de março de 1949), quando Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira, membros do secretariado da direção central, são feitos prisioneiros. A duras penas, o PCP recupera-se desses golpes em meados da década de 1950. 

Mas, a partir de 1956, o partido ruma novamente para posições similares às da “política de transição”, com uma orientação que se vê reforçada pelo seu V Congresso (1957). Tal orientação, que se manterá até 1960 (quando, recordemos, Cunhal e alguns companheiros evadem-se da prisão e podem intervir na vida partidária), trará graves prejuízos ao PCP e à resistência democrática portuguesa.

Com efeito, a linha política traçada no V Congresso – já antecipada por um documento do Comitê Central de maio de 1956 – abandona completamente a estratégia do “levantamento nacional”, proposta e defendida por Cunhal há uma década: ela se vê substituída por uma orientação que prega uma “solução pacífica” para o fim do salazarismo.

Esta orientação – que, embora contestada por alguns dirigentes e muitos militantes de base, manteve-se até 1960 – deixou o partido a reboque da oposição liberal-burguesa e mesmo das dissidências que afetaram o bloco de poder salazarista na crise de 1958-1959 (na sequência da candidatura de Humberto Delgado à presidência da República). Afirmando que o regime experimentava um intenso e irreversível processo de “desagregação”, o PCP apostava no “afastamento de Salazar” mediante uma “solução pacífica”, pendulando entre a via eleitoral e a via de um golpe militar. Para apressar tal “solução”, o partido acenava com uma “greve geral pacífica” que nunca preparou.

Com a precipitação efetiva das lutas de classes e a movimentação autônoma do proletariado urbano e rural (especialmente no Alentejo), a orientação da direção do PCP não teve como resultado somente a perda da influência do PCP no jogo político: desarmou amplamente o seu aparelho clandestino frente às respostas repressivas do regime à crise que este experimenta em 1958-1959 – novamente, a PIDE assestou duros golpes no partido.

Isolado na prisão de Peniche, Cunhal (que sequer foi informado do encaminhamento do V Congresso) esteve à margem dessa orientação da qual discordava por inteiro. Logo que se evadiu, atuou intensamente – no plano ideológico e no plano organizativo – para revertê-la radicalmente. Já num texto de dezembro de 1960 (“A tendência anarco-liberal na organização do trabalho de direção”) indicava as causas do fracasso da direção do PCP no nível da organização clandestina. Mas é no texto divulgado em março de 1961 – “O desvio de direita nos anos 1956/1959 (elementos de estudo)” – que Cunhal analisa, frontal e profundamente, os danos ocasionados pela orientação oficial vigente desde 1957.

Cunhal começa por indicar que a adoção da “solução pacífica” pela direção do PCP fundava-se numa transplantação mecânica – completamente equivocada – para a realidade portuguesa das teses oriundas do XX Congresso do PCUS (1956) acerca da possibilidade da “via pacífica” da transição ao socialismo. Cunhal argumenta que tais teses são válidas para muitos países, mas não para Portugal: tais teses, enquanto dizem respeito à transição ao socialismo, são estranhas à problemática portuguesa, uma vez que, no contexto lusitano, a questão real é outra – em Portugal, não se tratava de transitar para o socialismo: tratava-se de derrubar a ditadura fascista e conquistar as liberdades políticas. Nestas condições, a proposta da “solução pacífica” tanto revela um mimetismo servil às teses do XX Congresso do PCUS quanto a incapacidade para analisar a realidade portuguesa, a qual se afirmava querer transformar.

A incapacidade para operar “a análise concreta da realidade concreta” (tal como Lenin caracterizava o marxismo) – que, neste caso, mostra a ignorância do carácter fascista do regime salazarista – leva o PCP a substituir o caminho revolucionário para a conquista da democracia política (o “levantamento nacional”) por um arremedo oportunista, o “afastamento de Salazar” (exatamente a “solução pacífica”). 

Esta substituição retira do partido a condição de vanguarda e dirigente, desarma a militância proletária (urbana e rural) e enfraquece a resistência democrática: processando-se a “desagregação” da ditadura, o partido passa a jogar em ilusões legalistas e constitucionais (sob um regime fascista!) e/ou no golpe militar. Para Cunhal, a “desagregação” deve ser levada em conta, mas ele afirma contundentemente que “um regime não cai pela sua desagregação […], mas pela ação revolucionária das massas”.

Se se toma a “desagregação” como o principal elemento para a derrota da ditadura fascista (e esta era a posição da direção do PCP), a iniciativa revolucionária das massas é marginalizada e os comunistas passam a desempenhar um papel secundário e lateral na luta pela democracia. Ao longo do seu texto, Cunhal demonstra que reside precisamente neste desvio de direita – consistente em assumir e difundir ilusões legalistas sob o fascismo e em confiar em alternativas golpistas – a causa das derrotas políticas e orgânicas sofridas pelo partido nos anos 1956/1959 (e o demonstra com o exame de inúmeros fatos da conjuntura portuguesa imediatamente anterior e posterior à “farsa eleitoral” de 1958, assim como da documentação do PCP). 

Na sua análise, aliás, Cunhal não desconecta a atuação política do partido da estrutura organizacional que a implementa: a orientação política que confia na “desagregação” conduz ao “culto da espontaneidade” e este fragiliza o partido na sua relação positiva com a sociedade e em seu confronto com as forças da repressão – donde o “liberalismo”, a “falta de vigilância” e a “facilidade na promoção de quadros” que tiveram curso na estrutura clandestina do PCP daqueles anos.

Em síntese, Cunhal indica que a efetiva redução da influência do PCP naqueles anos – bem como muito de suas perdas orgânicas –, sob a orientação da “solução pacífica” (ultrapassado o partido pela ação combativa das massas trabalhadoras), estava intimamente ligada à incapacidade da direção para apreender o movimento social real que se desenvolvia sob a aparência imediata da sociedade portuguesa. Todo o seu argumento demonstra que os principais problemas político-ideológicos que então afetaram o PCP deitavam raízes na inépcia teórica dos dirigentes que conduziam o partido no rumo à “solução pacífica” (de fato, no rumo da direitização).
A conclusão do seu argumento é cristalina:
Se queremos que o Partido desempenhe o papel determinante que lhe cabe na luta pela liberdade política, temos de expurgar do Partido as concepções direitistas e oportunistas, que criaram fortes raízes a partir de 1956.

Não se trata de uma tarefa fácil. As concepções direitistas e oportunistas foram a «linha» oficial do Partido durante vários anos, foi dentro delas que se formaram militantes, enraizaram-se na maneira de ver as coisas e em hábitos de trabalho, e não será fácil varrê-las dum momento para o outro. Para varrê-las do Partido, impõe-se um combate amplo, aberto, enérgico e persistente, contra o desvio de direita que predominou nos anos 1956-59, impõe-se que exponhamos ao sol da crítica as suas raízes ideológicas, impõe-se que saibamos não apenas ganhar a concordância dos militantes, mas esclarecê-los e convencê-los.

Logo que saiu da prisão, Cunhal dedicou-se intensivamente, com outros camaradas, à tarefa que não julgava fácil. Rapidamente, já em meados dos anos 1960, seu combate resultou exitoso: no VI Congresso (1965), sob sua liderança inconteste, o PCP superou o “desvio de direita”, reatualizou a tese do “levantamento nacional” e retomou a sua vocação – ser a vanguarda do proletariado português. O informe de Cunhal a este congresso (Rumo à vitória ) deu nova orientação à política do PCP, preparando-o adequadamente para os confrontos decisivos que derivaram na derrubada do regime fascista e na instauração democrática.

Líder político, teórico e homem da cultura

O peso de Cunhal na história do PCP é indiscutível e imenso: sua intervenção organizativa imprimiu-lhe o caráter marxista-leninista na verdadeira refundação (“reorganização”) de 1940/1941; seu combate político-ideológico aos desvios direitistas e esquerdistas nos anos 1960 garantiu que o partido se livrasse do oportunismo e recusasse o aventureirismo; sob sua liderança, o PCP qualificou-se como a principal força da resistência democrática e, depois do 25 de Abril, como a expressão das mais profundas aspirações nacionais e democráticas. 

Com a sua atividade política apoiando-se no reconhecimento do protagonismo das massas trabalhadoras e em sólidas convicções teóricas, adquiridas e desenvolvidas em contínuos estudo e pesquisa, Cunhal nada teve em comum com ocupantes de secretaria-geral burocratizados e rotineiros.
Dissemos já que Cunhal desenvolveu uma teoria da revolução portuguesa – e a afirmativa não é gratuita. No conjunto de escritos de Cunhal, a pesquisa da realidade portuguesa é constante – envolvendo da investigação histórica (As lutas de classes em Portugal nos fins da Idade Média) a análises contemporâneas (Contribuição para o estudo da questão agrária). No citado Rumo à vitória… encontra-se a síntese de anos de estudo e da sua teoria de revolução portuguesa.

Mas Cunhal foi também um intelectual sofisticado – prova-o a sua excelente tradução de O rei Lear, de Shakespeare. Foi, de fato, um homem do mundo da cultura.
Artista plástico, produziu uma notável série de gravuras. Suas reflexões estéticas estão explicitadas em A arte, o artista e a sociedade. A sua obra de ficção, marcada pelo neo-realismo, é significativa: Até amanhã, camaradas, Cinco dias, cinco noites, A estrela de seis pontas, Um risco na areia, A casa de Eulália, Fronteiras, Sala 3 e outros contos e Lutas e vidas. Um conto.

A rica e polifacética obra/personalidade de Álvaro Cunhal, como se vê, desborda amplamente a dimensão estritamente política. As comemorações do seu centenário de nascimento seguramente também destacarão, para além da sua liderança, a magnitude da sua contribuição à cultura.

(*) José Paulo Netto é um destacado pensador marxista brasileiro. Doutor em Serviço Social, professor emérito da ESS da UFRJ e autor, entre outras publicações, de “Ditadura e Serviço Social - Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64”, “Capitalismo Monopolista e Serviço Social”, “Crise do Socialismo e Ofensiva Neoliberal” e “Democracia e transição socialista”. Militante do PCB, foi preso pela ditadura militar. Esteve exilado em Portugal durante vários anos. É o presidente do Instituto Caio Prado Jr. (ICP).

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Cuba em prol da unidade latino-americana e caribenha

                           


Livia Rodriguez Delis e Juan Diego Nusa Peñalver

CUBA assumirá a presidência da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na Cúpula de chefes de Estado e de Governo desse bloco, que terá lugar no Chile, nos dias 27 e 28 de janeiro.

Este fato, como expressou o presidente cubano Raúl Castro, no encerramento da 7ª Legislatura da Assembleia Nacional do Poder Popular, em dezembro passado, significa uma honra e uma grande responsabilidade para a Ilha, para o qual serão dedicados os maiores esforços e energias.

Além do mais, constitui um exemplo de confiança dos países integrantes da entidade regional nos princípios e valores da Ilha maior das Antilhas, sua ampla política exterior, a visão sobre os problemas da humanidade e o característico princípio de solidariedade, que dará à Celac um novo impulso no seu desenvolvimento e consolidação.

É, também, uma das evidências mais palpáveis do fracasso da política de isolamento, implementada pelos EUA contra Cuba, desde o triunfo da Revolução cubana, em 1959.

Washington, ressentido pela bofetada de unidade e solidariedade que significa um fato desta natureza, numa região que considera seu quintal, sempre desenvolveu uma estratégia para bloquear todo tipo de relacionamento da Ilha com o resto das nações do continente.

Um cerco que começou a desmoronar-se, há 40 anos, em 8 de dezembro de 1972, quando Barbados, Guiana, Jamaica e Trinidad e Tobago estabeleceram, conjuntamente, relações diplomáticas com Cuba, num ato de incontestável valentia política dessas pequenas nações caribenhas.

“Se olharmos a década de 60, devido à pressão dos EUA, Cuba mantinha relações diplomáticas somente com o México, e escassos vínculos comerciais na região”, expressou o vice-ministro do Comércio Exterior e do Investimento Estrangeiro, Orlando Hernández Guillén, com quem o Granma Internacional conversou, para aprofundar acerca da situação atual dos vínculos comerciais da Ilha com seus irmãos latino-americanos e caribenhos.

“Depois do passo decisivo desses quatro países do Caribe de fala inglesa, a respeito de Cuba, pouco a pouco as nações da América Latina foram aproximando-se, uns utilizando algum tipo de vínculo comercial e outros, através da via diplomática. Atualmente, a Ilha maior das Antilhas é membro ativo da comunidade latino-americana”.

O que significa para Cuba manter relações com as nações da região?

“A prioridade dos vínculos com a América Latina aparece na Constituição da República, onde se estabelece que nosso governo alicerça suas relações internacionais nos princípios de igualdade de direitos, livre determinação dos povos, integridade territorial, independência dos Estados, cooperação internacional em benefício e interesse mútuo e equitativo, arranjo pacífico de controvérsias, em pé de igualdade e respeito, e os demais princípios proclamados na Carta das Nações Unidas e noutros tratados internacionais dos quais a Ilha faz parte”.

“Aliás, reafirma a decisão de integração e colaboração com os países da América Latina e do Caribe, cuja identidade comum e necessidade histórica de avançar juntos, em prol da integração econômica e política, para conseguir a verdadeira independência, nos permitirá ocupar o lugar que nos cabe no mundo”.

“Isto fica referendado nas Diretrizes aprovadas no 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, onde também se especificam elementos fundamentais dos nossos vínculos com a América Latina, mediante a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) e a Associação dos Estados do Caribe, entre outras instituições sub-regionais, às quais a Ilha pertence e que também deram espaço ao processo de desenvolvimento de suas relações com outros países, exceto a Organização dos Estados Americanos (OEA) e seu subsistema de instituições”.

Atualmente, o comércio exterior de Cuba com a região representa mais de 40% de seu intercâmbio comercial, em nível mundial. Isto coloca a Ilha num dos lugares principais da área por volume de seu comércio intrarregional.

“Aí tem um peso importante a relação que temos com o Brasil, México e Venezuela, este último nosso primeiro parceiro comercial, do qual obtemos uma parte importante dos recursos energéticos que o país necessita para complementar a produção nacional”.

“Ainda que o governo cubano desenvolva ações específicas para promover a substituição de importações de alimentos, a Ilha maior das Antilhas continua adquirindo entre US$1,7 e US$1,8 bilhão (anualmente) somente desses produtos; e a América Latina é um importante provedor de alimentos, fundamentalmente países como o Brasil e a Argentina, que são grandes exportadores mundiais de alimentos e o são também no caso de Cuba”.

“As exportações cubanas para a América Latina, em termos numéricos, envolvem, aproximadamente, mais de 650 produtos para a região. Ainda não é o que desejaríamos, mas isto fala do desenvolvimento atingido, nestes últimos anos, pelo comércio, que já não só se limita à exportação de açúcar ou níquel, que têm pouco peso na região, mas sim que se diversifica num amplo leque, que vai desde os serviços (especialmente da saúde), produtos da biotecnologia até materiais da construção”.

“Da mesma forma, recebemos da América Latina matéria-prima, produtos intermédios, maquinarias e equipamentos, sobretudo de países como o Brasil, onde a indústria possui a capacidade de contribuir com este tipo de bem tecnológico”.

“Hoje, através das nossas relações com os países latino-americanos, também existem recursos financeiros que sustentam esse relacionamento. Há linhas de créditos que temos com o Brasil, Venezuela, e que são uma base importante, não só para o comércio, mas também para avançarmos em processos de investimento e desenvolvimento no país”.

“Por exemplo, a construção do porto de Mariel, que se realiza mediante uma cooperação e financiamento com o Brasil e com o envolvimento de entidades brasileiras e cubanas. Esta obra monumental é ícone da cooperação de Cuba com a região, e de maneira especial com esse país sul-americano”.

“Existem outros financiamentos e linhas de crédito com a Venezuela, com diferentes características, que têm um papel muito importante em nossa atividade econômica e comercial”.

Quais elementos favoreceram o impulso dos nexos com a sub-região?

“As relações com a América Latina chegaram a este nível porque Cuba, de maneira gradual, aprofundou os vínculos de comércio preferencial com praticamente todos os países integrantes da Aladi, o que criou as condições para que a Ilha se tornasse, em 1999, no décimo segundo membro pleno do maior grupo latino-americano de integração econômica”.

“Isto permitiu fortalecer os vínculos com esse grupo de Estados e negociar acordos destas características com países centro-americanos como Guatemala, Panamá, El Salvador e as nações que integram a Comunidade do Caribe (Caricom)”.

“Nalguns casos, estes acordos avançaram mais e respondem às circunstâncias políticas dos vínculos bilaterais, como são os exemplos da Venezuela e Bolívia, com os quais Cuba tem, na atualidade, um tratamento equivalente ao livre comércio, pois não existem tarifas na circulação de mercadorias”.

“Com a Venezuela negociamos o acordo, em maio de 2012, e anteriormente o tínhamos feito com a Bolívia. De maneira que todo o intercâmbio com esses dois países tem lugar sobre a base do livre comércio”.

“Temos que mencionar que a Bolívia, Venezuela, Cuba, Equador, Nicarágua, Antígua e Barbuda, Dominica, e São Vicente e as Granadinas integramos a ALBA, que é uma organização de integração de novo tipo, que a partir dos processos políticos que têm lugar na região permitira projetar propósitos e alcances muito superiores, nos processos de aproximação e integração entre nossos povos, no âmbito econômico, financeiro, social e cultural”.

“Daí que Cuba esteja plenamente inserida na região latino-americana e caribenha e incorporada em todos os mecanismos de articulação, integração e coordenação da área, exceto a OEA”.

Como Cuba conseguiu resistir os embates da crise econômica internacional, e particularmente, como nosso comércio exterior vem enfrentando o bloqueio?

“Em primeiro lugar, pela capacidade de resistência do nosso povo (em 2012, a economia cubana cresceu 3,1%) e uma estratégia inteligente no momento em que a situação foi mais grave e mais tensa; ao buscar no interno todas as possibilidades de poupança, dirigindo os limitados recursos disponíveis àqueles setores com capacidade de gerar receitas e, ao mesmo tempo, limitar importações”.

“Todos os que, naquele momento, confiaram em Cuba hoje veem plenamente justificadas suas decisões porque, na medida em que a economia cubana conseguiu enfrentar, com maior sucesso, a crise, as situações de tensão apresentadas numa dada altura, com as contrapartes estrangeiras, tiveram uma resposta positiva”.

“Por outro lado, Cuba teve uma estratégia inteligente para enfrentar o bloqueio econômico, comercial e financeiro do governo dos EUA, nestes 50 anos, medida que demonstra grande intencionalidade desse país em suas ações contra o setor financeiro de nosso país, ano âmbito internacional”.

“A administração Obama é a que mais multas impôs a instituições bancárias estrangeiras, por terem relações normais com Cuba e, de certeza, isto faz com que a forma de enfrentar o bloqueio, por parte do nosso país, também seja cada vez mais perspicaz e cuidada. Nesta batalha temos o apoio da comunidade internacional, que condena reiteradamente, nas Nações Unidas e em muitos outros fóruns, esta política fracassada”.  (Com o Granma)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Reconstrução Revolucionária" . Uma marca para a luta dos comunistas


                                                              

Foi com satisfação e alegria que o Partido Comunista Brasileiro recebeu solicitação dos camaradas do Partido Comunista do Egito para uso da logomarca de nossa "Reconstrução Revolucionária", desenho estilizado de um militante agitando a bandeira vermelha com a foice e o martelo.

Pedido prontamente aceito, o PCB, através de seu secretário-geral, Ivan Pinheiro, manifestou aos camaradas egípcios o orgulho em poder compartilhar a imagem: "Que essa imagem contribua para a luta contra o capital e o imperialismo, no Egito e no mundo.

Ela foi criada pelo PCB, mas não mais lhe pertence e sim aos comunistas que a desejarem usar nos diversos países".

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

POR QUE OCUPAMOS O INSTITUTO LULA


                           
Assentados se concentram no portão de entrada do Instituto Lula

Chegamos a uma situação limite.

Somos 68 famílias que, depois de anos e anos de luta, fomos assentadas num terreno de 104 hectares localizado entre os municípios de Americana e Cosmópolis. Este terreno pertenceu à família Abdalla, ricos empresários que perderam o a área durante a ditadura militar por dívidas trabalhistas.

Em 2006, o presidente Lula e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos instalaram no Sítio Boa Vista. Desde então, para a consolidação deste assentamento, depositamos tudo o que tínhamos: nosso trabalho e nossa vida na produção de alimentos saudáveis, sem o uso de agrotóxicos. Passamos por inúmeras dificuldades para produzir. Mesmo assim, passo a passo, conseguimos estabelecer parcerias com mais de 40 entidades e escolas através do Programa Doação Simultânea. E, hoje, temos orgulho de dizer que somos uma comunidade que fornece mais de 300 toneladas de alimentos para a região metropolitana de Campinas.

Após consolidarmos nossas vidas nesta terra com o suor de anos de trabalho e dedicação, recebemos em maio de 2012 a notícia de que a família Abdalla, aliando-se à Usina Ester, havia recuperado as terras na justiça e ganho o seu direito de posse. A justiça federal, então, emitiu um aviso ao INCRA de que deveríamos ser retirados em prazo determinado, caso contrário, haveria a reintegração de posse do terreno.

O INCRA moveu vários recursos em vão. Realizamos audiências com os representantes do órgão, que afirmavam que não sairíamos do assentamento e que, se fosse preciso, seria assinado o decreto de desapropriação por interesse social. Fizemos reunião com representantes do governo federal; e estes também garantiram que o problema seria resolvido, sem que precisássemos deixar nossas casas. No entanto, o tempo passou e nada mudou. Ao contrário, para a nossa aflição, aproxima-se a data em que assistiremos à destruição do esforço de toda uma vida: nossas casas, nossas plantações, nossos sonhos.

Sabemos que todas as possibilidades jurídicas já foram esgotadas e que o destino de nossas famílias depende, isto sim, da vontade política de quem pode decidir. Também sabemos que não nos resta outra alternativa senão um grito de apelo.

Lembramos que há exatamente um ano, em um quadro bastante semelhante, 1600 famílias foram brutalmente despejadas da área do Pinheirinho. Um representante político como Lula, que agora tem a honra de batizar uma instituição que zela pelo “exercício pleno da democracia e a inclusão social”, não pode permitir que uma situação dessas se repita.

Lula foi o Presidente da República que, em 2006, assinou a concessão do terreno do Assentamento Milton Santos para fins de reforma agrária. Todo processo ocorreu com o seu conhecimento e do órgão do governo federal responsável pelo assunto, o Incra.

Confiamos que o peso de sua figura política seja capaz de interceder em favor de nós, assentados, e estabelecer um diálogo mais direto com a presidente Dilma Rousseff, para que esta se disponha a nos receber pessoalmente em uma audiência e assine o decreto de desapropriação por interesse social.

Assentadas e assentados do Milton Santos

http://www.assentamentomiltonsantos.com.br/?p=635   (Com o Site do PCB)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Há 122 anos , nascia Antonio Gramsci, comunista italiano


                                                     

À memória de Antonio Gramsci


Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro


"Alguns me consideram um demônio, outros quase um santo. Não quero ser mártir nem herói. Acredito ser simplesmente um homem médio, que tem suas convicções profundas e não as troca por nada no mundo."

Carta de Gramsci, do cárcere, a seu irmão Carlo, em 12 de setembro de 1927.

Em 22 de janeiro de 1891 nascia, em Ales (Cagliari, Sardenha, Itália), Antonio Gramsci, um dos mais importantes pensadores marxistas e valoroso combatente comunista, uma dupla condição que não podemos esquecer. Morreu em 1937, vítima do ditador fascista Benito Mussolini. 

Em 1926, Gramsci foi condenado por um tribunal fascista, em 1926, a vinte anos de detenção, num processo no qual o promotor, com a brutalidade típica dos fascistas, mencionava a necessidade de "evitar que esse cérebro continue funcionando". 

Apesar das duras condições da prisão, Gramsci deixou ao morrer uma obra de grande importância escrita no cárcere: 33 cadernos manuscritos, totalizando 2.848 páginas, conhecidos como os Cadernos do cárcere. 

Coube ao dirigente revolucionário italiano um papel extraordinário no que diz respeito à teorização do Estado, do poder e da política. Tendo por base o conceito de hegemonia, elaborado e amplamente utilizado por Lênin, em particular em sua obra O Estado e a Revolução, Gramsci o viria a desenvolver de forma criativa. 

As reflexões de Gramsci se inscrevem como um capítulo fecundo na tradição marxista, estabelecendo uma perspectiva crítica capaz de entender o mundo e, o que é mais importante, transformá-lo. Contudo, a leitura dos escritos de Gramsci não é uma tarefa fácil. Indiscutivelmente, nas reflexões dosCadernos do cárcere está presente a proposição básica de que as classes sociais, o conflito de classes e a consciência de classe existem e desempenham um papel na história.

Para entender Gramsci

Para compreender um autor, é necessário conhecer profundamente o contexto histórico-político-cultural com o qual está envolvido. Um pensador da envergadura de Antonio Gramsci requer entender o processo de formação da sua personalidade política e intelectual. 

A vivência dos momentos mais dramáticos das lutas que agitaram a Europa e, particularmente, das mobilizações sociais, políticas e econômicas que levaram, ao menos na Rússia, à vitória da Revolução em 1917. 

O progressivo deslocamento de Gramsci da esfera de influência do neo-idealismo, destacando o distanciamento crítico e a superação em relação ao pensamento de Benedetto Croce e Giovanni Gentile. 

Seu referencial marxista assumido, que o leva a formular propostas interpretativas voltadas para a explicação de modos de dominação social em meio à dinâmica do conflito, da luta de classes. A espinhosa interlocução crítica de Gramsci no interior do próprio marxismo e os embates travados com as correntes mecanicistas, dogmáticas e messiânicas [1]. 

A problemática gramsciana de “explicar a dominação de classes, recusando determinismos de cunho mecanicistas e procurando explicitar mecanismos culturais (sem reivindicar-lhes exclusividade ou determinismo de pólo inverso) que alimentam a dominação, bem como espaços de resistência a esta dominação que se constroem em meio às lutas de classes”[2].

Tanto os leitores já familiarizados com Antonio Gramsci quanto os novos, a meu ver, dispõem da necessidade de contato com os chamados “especialistas” ou intérpretes dos escritos gramscianos. Justamente por apresentar-se – nas palavras do próprio autor – como um conjunto de notas “escritas ao correr da pena, como rápidos apontamentos para ajudar a memória” [3], a obra da maturidade de Antonio Gramsci – os Cadernos do cárcere – tem proporcionado as mais variadas interpretações teóricas e políticas da mesma – e até contrastantes leituras [4]. 

Decerto, as condições peculiares nas quais os Cadernos foram escritos parecem corroborar para que muitos leitores acentuem além da conta o caráter fragmentário da obra, acarretando um instrumental gramsciano distorcido e, de todo, retirado do contexto em que faz sentido. 

Acaba-se, em muitos casos, contando menos o que Gramsci disse do que aquilo que os seus leitores julgam encontrar em sua obra – o anacronismo é freqüente. Daí a necessidade de uma correta contextualização e um estudo filológico dos textos, ou seja, uma leitura “genética” dos Cadernos do cárcere, considerando a riqueza de seus contrastes, de suas ambigüidades e até de seus limites [5]. 

Isso permite aos leitores de Gramsci, veteranos ou novatos, encontrar o trajeto unitário e coerente do seu pensamento, possibilitando ler os Cadernos como resultado de uma concepção de mundo orgânica e unitária.

O conjunto de categorias desenvolvidas por Antonio Gramsci constitui um campo aberto de criação histórica, apesar dos limites inerentes a qualquer conceito. Mas o que explica essa “adoção” de Gramsci é a análise da validade operatória de muitas de suas categorias para formular interpretações mais aprofundadas da realidade concreta no âmbito nacional ou internacional.

  
[1] Para compreender o processo de formação política e intelectual de Gramsci ver: LOSURDO, Domenico. Antonio Gramsci: do liberalismo ao “comunismo crítico”. Rio de Janeiro: Revan, 2006; MAESTRI, Mário e CANDREVA, Luigi. Antonio Gramsci: vida e obra de um comunista revolucionário. 2 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

[2] MATTOS, Marcelo Badaró. “Os historiadores e os operários: um balanço”. In: ____ . (coord.).Greves e repressão policial ao sindicalismo carioca: 1945-1964. Rio de Janeiro: APERJ / FAPERJ, 2003, p. 33.

[3] GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. V. 1. Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004, p. 85.

[4] Por exemplo, há muita polêmica em torno das interpretações dos usos de “sociedade civil”, “sociedade política” e Estado em Gramsci.

[5] Muitos estudos atendem a esse propósito, entre eles: BARATTA, Giorgio. As rosas e os Cadernos: o pensamento dialógico de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: DP&A, 2004; BIANCHI, Álvaro. O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. São Paulo: Alameda, 2008; COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003; LIGUORI, Guido. Roteiros para Gramsci. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2007; SEMERARO, Giovanni. Gramsci e a sociedade civil: cultura e educação para a democracia. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. (com Prestes a Ressurgir)

Brasil será investigado pela OEA por caso Vladimir Herzog

                           

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) vai investigar a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, durante a ditadura militar (1964-1985).

O caso foi admitido pelo órgão internacional em novembro do ano passado e divulgado nesta terça-feira pela família de Herzog. Segundo a denúncia, o Brasil ainda não cumpriu com seu dever de investigar, processar e punir os responsáveis pela morte de Vlado, como o jornalista era conhecido.

A denúncia foi apresentada em 2009 por entidades ligadas aos direitos humanos, como o Cejil (Centro pela Justiça e o Direito Internacional), a FIDDH (Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos), o Grupo Tortura Nunca Mais e o Instituto Vladimir Herzog.

"O caso Herzog ilustra a omissão do Judiciário brasileiro durante a ditadura militar e também na democracia, na realização de justiça nos crimes da ditadura cometidos pelos agentes públicos e privados", disse Viviana Krsticevic, diretora-executiva da Cejil, baseada em Washington (EUA) e que veio ao Brasil nesta terça-feira (22) para anunciar o acolhimento da denúncia.

Vlado morreu após ser torturado no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna), em São Paulo.

Na época, a versão do Exército para a morte foi a de suicídio, mas no ano passado a Justiça determinou a correção de seu atestado de óbito, para fazer constar que a morte decorreu de "lesões e maus tratos".

A expectativa é que o processo seja concluído em até um ano, quando a comissão deverá apresentar um relatório com recomendações ao governo brasileiro. Caso as recomendações não sejam cumpridas, o caso poderá ser levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos, também ligada à OEA.

"A gente quer saber quem são os responsáveis pelo que aconteceu ao meu pai", disse Ivo Herzog, filho do jornalista e diretor do Instituto Vladimir Herzog. (Com a Folha de S.Paulo)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Mercantilização na saúde e no ensino superior


                                        
Paulo Kliass (*)

A divulgação recente de más notícias sobre o desempenho de empresas atuantes da área da saúde e do ensino superior traz à tona o necessário debate a respeito da preocupante mercantilização dos serviços públicos em nosso País. À medida que parcela expressiva destes setores passou a ser composta de corporações capitalistas, os impactos negativos se fazem sentir pela maioria da população.

No início do ano, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) acabou por decidir pela interdição de 225 planos de saúde operados por 28 empresas atuantes no setor. Esse tipo de medida não é uma grande novidade. 

Antes disso, em outubro passado, esse órgão regulador do sistema havia proibido 301 planos de venderem seus produtos. E ainda em julho de 2012, a lista de proibição contemplava 268 planos. Ainda que tais fatos possam passar a idéia de que o Estado está agindo e fiscalizando, a pergunta que deve ser feita vai em sentido oposto. Como é possível que uma área tão sensível, como a saúde, chegue a tal extremo de descontrole e regulamentação?

Outra decisão que causou grande impacto foi a operação de venda da empresa líder de saúde privada, a Amil. Em novembro de 2011, o Estado brasileiro autorizou que ela fosse comprada por uma das maiores operadoras globais, a norte-americana United Health, pelo valor de R$ 10 bilhões. Além das dificuldades envolvendo a internacionalização do setor, a decisão gerou muita polêmica por afrontar o impedimento legal de que hospitais (também incluídos no pacote) sejam propriedade de grupos estrangeiros.

Ensino superior privado: mercantilização crescente

Na área do ensino superior, em dezembro passado, o Ministério da Educação proibiu 207 cursos de realizarem concursos vestibulares para novos alunos e no início do presente ano comunicou que outros 38 cursos haviam sido punidos com a proibição de expandirem o número de vagas, tal como solicitado pelas instituições proprietárias. 

A educação universitária também vem sendo objeto de profunda transformação empresarial e corporativa, de modo que o crescimento da parcela de setor privado no conjunto do sistema é bastante expressivo.

De acordo com os dados oficiais do INEP, existem 2.365 instituições de ensino universitário no Brasil. A repartição de tais faculdades e universidades revela que 88% do total são entidades privadas, restando apenas 12% no setor público (considerando o conjunto federal, estadual e municipal). Em termos numéricos: 2081 privadas e 284 públicas. Se a análise for para o total de alunos inscritos, o setor privado oferece 76% do total e o setor público fica com apenas 24%.

Em termos de matrículas, a expansão quantitativa foi expressiva ao longo da última década. Em 2002 havia 3,5 milhões de matrículas no ensino superior e em 2011 atingiu-se o marco de 6,7 milhões de alunos inscritos. Porém, a maior parcela desse crescimento de 75% deveu-se ao setor privado. As matrículas no setor público cresceram 69% ao longo dos 10 anos, ao passo que as do setor privado cresceram 105%.

Esse crescimento expressivo das escolas particulares encontrou na própria formulação de políticas públicas um importante aliado. Por um lado, pelos longos períodos em que a orientação de contenção de gastos públicos provocou um verdadeiro sucateamento do modelo das universidades públicas, em especial as federais. Restrições orçamentárias em seqüência contribuíram para inviabilizar investimentos necessários da rede física e de seus equipamentos, Além disso, a política de recursos humanos não contribuía para atrair e manter pessoal qualificado.

PROUNI: socialização dos custos da baixa qualidade

Por outro lado, o governo criou um programa de apoio a bolsas de estudos para as escolas privadas. Através desse modelo, as empresas do setor passaram a ter praticamente assegurada uma significativa da receita correspondente às vagas oferecidas. O discurso oficial soltava loas a um modelo que parecia agradar a todos, menos a um futuro com educação de qualidade assegurada. 

A população de baixa renda via finalmente chegar o sonho do diploma de ensino superior. As empresas operantes no sistema de educação privada reduziram de forma significativa o risco em suas operações e nem se preocupavam com os resultados obtidos, pois o Estado assegurava suas receitas operacionais, por meio das bolsas oferecidas.

Atualmente, o PROUNI custeia 1,1 milhão de bolsistas, sendo 740 mil na modalidade integral (100% do valor da mensalidade) e 360 mil na modalidade parcial (50% do valor da mensalidade). Além disso, existe a opção do financiamento a juros subsidiados. O programa FIES oferece recursos para pagamento de despesas com matrículas e mensalidades. 

As regras existentes prevêem um período de carência durante o curso e o reembolso posterior a juros anuais de 3,4%, quando o beneficiário teoricamente tiver obtido ganhos salariais derivados de sua formação. Com esse incentivo, as empresas que operam na educação universitária passaram a ter um mercado cativo para suas vagas.

Saúde e educação: mercadoria ou direito universal?

Esses dois exemplos evidenciam os impactos negativos do caminho da mercantilização crescente das áreas de serviços públicos. A conversão desses direitos democráticos - acesso à saúde e à educação – em simples mercadorias oferecidas pelas leis de oferta e demanda compromete a qualidade desses importantes pilares de cidadania e de construção de uma sociedade inclusiva e sem desigualdades de natureza social ou econômica.

Dentre as conseqüências do período de hegemonia absoluta do pensamento neoliberal, encontra-se a tentativa de disseminação da ideia de que a ação pública é sempre ineficiente e prejudicial ao conjunto da sociedade. Assim, a melhor solução seria sempre aquela encontrada nos termos das relações de troca, no ambiente determinado pelas leis do mercado.

Direitos e serviços públicos, a exemplo da saúde e da educação, passam a ser encarados e tratados como simples mercadorias, a exemplo de todas as demais existentes em uma economia capitalista. Conceitos como oferta, demanda, cliente, preços, taxa de retorno, multa, contrato, inadimplência, valor de prestação, carência, entre outros, passam a fazer parte do dia-a-dia de quem convive com categorias como saúde, doença, vida, morte, educação, pesquisa, ciência, conhecimento. Uma inversão completa de valores!

Ora, parece evidente que esse processo de mercantilização é contraditório com aquilo que se pretende justamente com sistemas de educação e de saúde portadores de qualidade para seus usuários e para o próprio País.

Quando a lógica de operação de um hospital ou de uma universidade passa a ser a da maximização do retorno do investimento realizado a qualquer custo, está comprometida a própria natureza pública do serviço a ser oferecido. As prioridades estratégicas, as áreas de maior urgência social, a distribuição espacial de acordo com necessidades regionais, a remuneração dos trabalhadores nos sistemas, tudo isso passa a ser relegado a um segundo plano nas decisões empresariais.

Serviço público: interesse social ou lógica privada?

A contabilidade fria do modelo capitalista busca a realização do lucro por meio da dinâmica de elevação de receitas e redução das despesas. Essa abordagem favorece o atendimento dos interesses dos proprietários e acionistas da empresa, mas quase nunca satisfaz as necessidades de áreas socialmente sensíveis. 

Essa é a principal razão, inclusive, que levou boa parte dos países do mundo capitalista à opção por delegar ao Estado a prestação de tais serviços. Ou então, pela constituição de modelos que contam com subsídios públicos destinados a instituições privadas, mas que demonstram efetiva competência e qualidade naquilo que oferecem à sociedade.

No nosso caso, o risco do processo que atravessamos é o de ficarmos com o pior dos mundos. As áreas de excelência do setor público estão, aos poucos, sendo sucateadas e perdendo competência e qualidade. As áreas de expansão do setor privado encontram um potencial de crescimento com baixa capacidade de regulação e fiscalização do Estado. 

A mercantilização tende a provocar uma segmentação baseada no nível de rendimento dos usuários dos sistemas, com a complementação de recursos públicos sem a correspondente qualidade na prestação dos serviços “públicos” oferecidos. A relação mercantil pressupõe um contrato. E o contrato estabelece a restrição do uso ao pagamento prévio.

Os recursos orçamentários deixam de ser utilizados para reforçar e reconstruir um sistema público à altura das necessidades de nossa população. Na verdade, são drenados para apropriação privada em um sistema onde a lógica predominante é a da remuneração do capital.

(*) Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.