Rodrigo Otávio
Rio de Janeiro - A Articulação Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio de Janeiro realizou no domingo (29) uma marcha de protesto pela orla de Copacabana contra militares e ex-militares acusados de tortura e violação aos direitos humanos durante a ditadura militar de 1964 a 1985.
Os manifestantes pediram a retirada do nome de torturadores ou representantes da ditadura de qualquer monumento público e lembraram a necessidade de se criar um programa de proteção às testemunhas que deponham na Comissão da Verdade instalada pelo governo federal, além de reafirmarem que a comissão não deve só investigar, mas também divulgar e punir os responsáveis pelos crimes cometidos pelo estado brasileiro durante o período.
Cerca de 300 pessoas participaram da marcha que começou em frente ao hotel Copacabana Palace e terminou nas imediações do forte Duque de Caxias, no Leme. Lá, os estudantes do Levante Popular da Juventude realizaram um ato de escracho na estátua do ex-ditador Castelo Branco (1964-67).
“Estamos aqui para denunciar todo e qualquer monumento público que tenha o nome de ditador, porque não podemos aceitar que na nossa história continuemos a fazer reverências a ditadores. Isso aqui é um símbolo da ditadura. Por isso estamos aqui ‘empossando’ o Castelo Branco e dizendo: este não é presidente, este é ditador do Brasil!”, afirmou Larissa Cabral, estudante de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e integrante do Levante Popular, após os estudantes colocarem uma faixa simbólica na estátua.
A estudante explicou que a escolha da estátua como palco do escracho, e não o endereço residencial de um acusado de tortura, foi uma decisão do Levante para dar ao ato “mais um caráter pedagógico do que de enfrentamento, e mobilizar mais pessoas que têm essa visão em torno do que foi a ditadura militar no Brasil; afinal de contas, não faz sentido passar em uma rua ou ir a uma praça lembrando esses caras como se eles tivessem contribuído positivamente para a história do país”.
O caráter pedagógico também foi ressaltado pela integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Carmem Diniz, durante o protesto. “Uma coisa importante é combater essa história de revanchismo. Revanchismo é querer torturar o torturador. Não é isso que a gente quer. Todos os países da América Latina estão fazendo julgamentos, menos o Brasil. Precisamos fazer esse julgamento, fortalecermos a Comissão da Verdade, para que essa impunidade não continue. Temos que apurar as responsabilidades para não continuarem acontecendo as torturas que nós sofremos nas delegacias, nos presídios e no campo. Por que os responsáveis pelos crimes do campo não são condenados? Por causa da impunidade!”, disse ela.
Proteção
Na passeata os manifestantes distribuíram uma nota de repúdio à invasão do Grupo Tortura Nunca Mais ocorrida no dia 19, menos de dez dias após o grupo receber ameaças telefônicas. Na ocasião foram furtadas notas fiscais de um programa de proteção às vítimas de violação aos direitos humanos subsidiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e cerca de R$ 1.500,00.
A partir do ocorrido com o Grupo Tortura Nunca Mais, integrantes de diversas organizações que compõem a Articulação Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio de Janeiro ponturam a necessidade de se pensar na proteção das testemunhas que prestarão depoimentos na Comissão da Verdade. “Isso (ameaças) é uma coisa que aconteceu e acontece na Argentina e a gente começa a ver acontecer por aqui também”, disse Mario Augusto Jakobskind, integrante da comissão de direitos humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), à Carta Maior.
Para o jornalista deve se haver por parte do governo uma preocupação geral com relação às testemunhas, tanto pela integridade física como também com um atendimento psicológico para os traumas que renascem das lembranças de cárcere, torturas e desaparecimentos de conhecidos.
Fotos: Ana Miranda (Esculacho em estátua de Castelo Branco); Rodrigo Otávio (marcha)
(Com Carta Maior)
Nenhum comentário:
Postar um comentário