Dia 12 de maio de 2006. Naquela sexta-feira, dois dias antes do dia das mães, começou, em São Paulo, uma série de ataques que deixariam marcas na memória das "Mães de Maio”. Entre os dias 12 e 20 de maio de 2006, um conflito entre policiais e integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou cerca de 500 pessoas mortas e desaparecidas. Cinco anos depois, organizações sociais e "Mães de Maio” buscam entender o caso e chamar atenção para a impunidade.
Durante esses nove dias, foram registradas 493 pessoas mortas a tiros no estado paulista. Dessas, pelo menos 122 foram vítimas de execuções com indícios de participação de policiais. Isso é o que indica o relatório "São Paulo sob Achaque: Corrupção, Crime Organizado e Violência Institucional em Maio de 2006”, lançado na última segunda-feira (9) por Justiça Global e Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard.
O que começou como um ataque do PCC contra a polícia logo ganhou proporções maiores. A pesquisa realizada pelas organizações sociais durante esses cinco anos revela que a cifra de assassinatos naquele maio de 2006 não foi fruto somente de ataques do PCC.
"De fato, nos primeiros três dias, o PCC executou dezenas de agentes públicos. 43 morreram, muitos em ações do PCC. (...). Mas, depois, as provas indicam que a polícia decidiu ‘partir para cima’ da população de forma abusiva e indiscriminada, matando mais de 100 pessoas, grande parte em circunstâncias que pouco tinha a ver com legítima defesa. Ademais, policiais encapuzados, integrantes de grupos de extermínio, mataram outras centenas de pessoas”, revela o relatório.
O perfil da maioria das vítimas assassinadas por policiais naquela ocasião já não é novidade: homens jovens, negros, pobres, alguns com tatuagens e antecedentes criminais.
Cinco anos depois do episódio, muitos assassinatos permanecem sem esclarecimento. Segundo o relatório, não existe um documento oficial detalhado sobre os crimes. "É inaceitável que uma crise que resultou em centenas de mortes e ataques nas ruas, dezenas de rebeliões no sistema prisional e a paralisia e amedrontamento da maior metrópole da América do Sul, não tenha motivado os governantes do Estado de São Paulo a realizarem um procedimento público rigoroso, imparcial, célere e transparente para dar uma resposta unificada à população sobre o que aconteceu e o que deveria ser feito a respeito”, pontua.
Do luto à luta
Para relembrar o massacre ocorrido cinco anos atrás, movimentos e organizações sociais realizam, nesta semana, diversas atividades em homenagem às vítimas e seus parentes e contra a violência. Amanhã (12), as ações começarão às 14h no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, com coletiva de imprensa sobre "Cinco anos dos crimes de maio: cinco anos de impunidade” e com o lançamento do livro "Do luto à luta: Mães de Maio”.
A atividade seguirá com exibição de vídeo e com uma marcha que sairá às 17h do Sindicato rumo à Praça da Sé, onde acontecerá um ato ecumênico em homenagem aos mortos e desaparecidos por ocasião dos crimes de maio de 2006. A programação prosseguirá na sexta-feira (13), juntamente com as atividades da campanha contra o Genocídio do Povo Negro. No domingo (15), um sarau homenageará as Mães de Maio.
O relatório completo "São Paulo sob Achaque: Corrupção, Crime Organizado e Violência Institucional em Maio de 2006” está disponível em: http://global.org.br/wp-content/uploads/2011/05/SaoPaulosobAchaque_JusticaGlobal_2011.pdf
Para mais informações consulte: http://www.maesdemaio.blogspot.com/
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