"Em nossa história recente temos exemplos de momentos importantes da luta política – o Golpe de 64 e a Ditadura empresarial-militar – nos quais a greve geral não ocorreu ou obteve fracos resultados em virtude da débil ou inexistente organização por local de trabalho. Não é à toa que a burguesia não aceita a organização dos trabalhadores nos locais de trabalho. Ela tem consciência do perigo que isso representa – afinal, a burguesia está na luta de classes."
Paulo Cesar De Biase Di Blasio (*)
O quadro atual do movimento sindical é de refluxo. Com 11 milhões de desempregados, as lutas econômicas estão em acentuado descenso. Mesmo em categorias numerosas e bem organizadas, as greves são derrotadas, não conseguindo nem a reposição da inflação. As lutas econômicas isoladas são incapazes de derrotar os ataques do governo da burguesia e do imperialismo. Diante da crise sistêmica do capitalismo, a burguesia, como sempre, quer que os trabalhadores paguem pela sua crise.
O ataque do Capital se mostra amplo, isto é, atingirá toda a classe trabalhadora. A luta contra os ataques do governo Temer passa necessariamente pela luta política. A luta de classes no país tende a subir a patamares nunca atingidos. E somente a luta unitária e de massas poderá barrar e derrotar esses ataques. Mas para que isso aconteça é necessário cumprir algumas tarefas.
Para enfrentar essa situação crítica, uma das tarefas dos revolucionários é superar uma deficiência histórica do movimento sindical brasileiro: a organização por local de trabalho. Sem ela, a luta econômica é fraca e defensiva, ficando nos limites da espontaneidade das massas. E a luta política sem a organização por local de trabalho torna-se muito difícil, quase impossível.
Em nossa história recente temos exemplos de momentos importantes da luta política – o Golpe de 64 e a Ditadura empresarial-militar – nos quais a greve geral não ocorreu ou obteve fracos resultados em virtude da débil ou inexistente organização por local de trabalho. Não é à toa que a burguesia não aceita a organização dos trabalhadores nos locais de trabalho. Ela tem consciência do perigo que isso representa – afinal, a burguesia está na luta de classes.
A burocracia sindical, subserviente ao capital, por motivos óbvios e por instinto de sobrevivência, não faz esse trabalho. No máximo, faz a cooptação de novos militantes, corrompendo-os com o aparato sindical. É evidente que não podemos contar com os dirigentes sindicais reformistas para essa tarefa. Queremos, sim, a sua base, os trabalhadores. Por outro lado, organizações de esquerda procuram recrutar novos militantes que surgem dos movimentos grevistas e populares. Devido sua pequena inserção no movimento operário-popular, esses grupos, procurando visibilidade, atuam nos comitês, fóruns, comandos, ou seja, priorizam o trabalho de cúpula e não fazem o trabalho de base.
O trabalho de organização por local de trabalho é relegado a segundo, terceiro plano, ou mesmo, na maioria dos casos, não realizado. Esse trabalho não rende resultados imediatos, seus frutos geralmente aparecem a médio e longo prazo. É uma atividade que requer paciência e persistência, principalmente levando-se em conta o atraso político do movimento operário-popular brasileiro. É um trabalho que o “revolucionário pequeno-burguês radical”, por sua pressa, pouca firmeza e falta de determinação verdadeiramente revolucionária, é incapaz de realizar.
Temos companheiros com muita experiência nas lutas sociais que estão desgarrados, desorganizados, que muito podem contribuir para a luta. Esses trabalhadores avançados, apesar de não terem a consciência de classe comunista, têm uma consciência política mais ampla, sabem dos limites da luta sindical, não tem ilusões quanto aos seus inimigos e são respeitados pelos demais trabalhadores, sendo uma referência para eles.
Não podemos desconsiderar esses companheiros. Eles poderão contribuir para atrair a massa para a luta. A tarefa dos revolucionários é arregimentar os trabalhadores avançados no plano político-sindical com o objetivo de criar círculos, comissões e comitês por local de trabalho, para promover debates e divulgar propostas de ação para a categoria, sempre com o cuidado de preservar o grupo.
A unidade das forças classistas é fundamental para enfrentar a conjuntura atual. Independentemente de posições políticas diferentes e evitando hegemonismos, devemos, através da organização por local de trabalho, construir uma frente única nas fábricas, empresas e escolas para enfrentar e derrotar os ataques do governo. Sem dúvida, é um passo importante para avançarmos na construção de um bloco anticapitalista e anti-imperialista.
(*) Professor da rede estadual em Nova Friburgo/RJ
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