Esta importante obra de Octavio Brandão, destacado intelectual e dirigente comunista nos anos de formação do PCB, foi escrita em 1924, mas somente publicada dois anos depois, após vários insucessos. Para fugir da perseguição policial, o livro apareceu assinado pelo codinome Fritz Mayer, com a indicação de ter sido editado na Argentina, quando de fato foi impresso no Rio de Janeiro.
Octávio Brandão do Rego, alagoano nascido em 1896, farmacêutico por profissão, começou sua militância política nos meios anarquistas, inicialmente em sua cidade natal, Viçosa e, depois, em Maceió. Estudando no Recife, centro catalisador das lutas antioligárquicas no Nordeste, foi atraído para as ideias comunistas com o impacto da Revolução Soviética no meio intelectual em que atuava.
Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde o contato com Astrojildo Pereira foi fundamental para sua militância no recém-fundado Partido Comunista do Brasil. Eleito para a Comissão Central Executiva do Partido poucos meses após a sua filiação, foi o principal intelectual orgânico dos comunistas até a sua destituição da direção do PCB em 1930, quando foi acusado de “desvios de direita”, juntamente com Astrojildo e outros dirigentes.
Brandão foi pioneiro na utilização da expressão “marxista-leninista” para designar o tipo de análise teórico-metodológica de corte materialista a que se propunha fazer em relação à realidade brasileira. Na obra “Agrarismo e Industrialismo”, definiu a fase da revolução brasileira, na conjuntura histórica dos anos de 1920, como de caráter “democrático-pequeno-burguesa”, a partir de estudos sobre as revoltas tenentistas de 1922 e 1924.
Produzido no calor dos acontecimentos e sob dura clandestinidade, o livro, com o subtítulo “Ensaio Marxista sobre a Revolta de São Paulo e a Guerra de Classes no Brasil”, buscou analisar o contexto daqueles eventos e o papel das classes em luta, com destaque para a participação das frações dominantes (fazendeiros do café e burguesia industrial), da pequena burguesia (representada pelos tenentes) e do crescente proletariado fabril.
Brandão analisou a disputa interimperialista no Brasil, travada entre Inglaterra e Estados Unidos, concluindo haver um vínculo crescente entre os interesses da emergente burguesia industrial brasileira e o imperialismo norte-americano, enquanto a economia agrário-exportadora mantinha-se subordinada aos interesses dos bancos ingleses.
Por outro lado, as camadas médias urbanas, de cujos estratos sobressaiu o tenentismo, seriam portadoras de uma visão nacionalista, entrando, de fato, em contradição com os propósitos imperialistas no Brasil. Ao considerar a natureza da sociedade brasileira como semifeudal ou semicolonial, Brandão propunha a aliança política do proletariado “com a pequena burguesia revoltosa e a grande burguesia liberal, contra o Partido Republicano e os fazendeiros do café”.
O sucesso da revolução brasileira dependeria de transformar a massa operária em uma efetiva vanguarda, para o que se impunha a necessidade de lançar mão dos ensinamentos de Lenin, organizando os trabalhadores em “células nos locais de trabalho” e promovendo a formação ideológica por meio dos estudos marxistas. Apontou ainda ser preciso “estudar a fundo o Brasil em seus mil aspectos” e buscar compor uma frente única de lutas.
Brandão foi o principal inspirador das teses aprovadas no II Congresso do Partido e na linha política adotada até 1930. Foi deportado pela polícia de Getúlio Vargas em 1931 e permaneceu por quinze anos na União Soviética.
De volta ao Brasil, conquistou a cadeira de vereador no então Distrito Federal em 1947, êxito conquistado graças à antiga base operária que o elegera intendente pelo Bloco Operário e Camponês (BOC) em 1928.
Com a cassação do PCB no período da Guerra Fria, foi preso e torturado, passando a viver na clandestinidade entre 1948 e 1956, após o que voltou à militância partidária e intelectual, sem o mesmo prestígio de antes. Mais do que nunca, é preciso resgatar a trajetória e obra deste grande militante comunista que foi Octávio Brandão.
(Com o Portal do PCB)
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