As comemorações pelo aniversário de 50 anos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –Exército do Povo (FARC-EP) coincidem com um momento em que ocorrem os Diálogos de Havana, em que a insurgência e o governo colombiano buscam caminhos para uma solução política para o conflito militar e social que marca esse país desde muito antes da constituição formal da guerrilha.
Surgiu como consequência da necessidade, muitos anos antes, que os camponeses colombianos tiveram de criar organizações de autodefesa armada, para enfrentar a violência dos latifundiários e da oligarquia colombiana na defesa de suas famílias, seus lares e suas pequenas lavouras que garantiam o seu sustento. Surgiu na esteira do assassinato do líder da luta contra os conservadores,o liberal Jorge Eliézer Gaitán e a consequente grande revolta popular que ficou conhecida como El Bogotazo, em 1948.
Na primeira década do presente século, o imperialismo e a oligarquia a seu serviço coincidiram em montar contra as FARC um aparato militar sem precedentes em nosso continente. Haviam resolvido exterminar a insurgência a qualquer custo e fazer da Colômbia um bunker militar na região, para exercer papel semelhante ao que Israel desempenha no Oriente Médio e seu entorno.
As Forças Armadas colombianas chegaram a um contingente de 400 mil efetivos; os Estados Unidos instalaram sete bases militares no país e o transformaram num dos principais destinos da “ajuda militar” norte-americana. O estado terrorista colombiano criou e armou bandos paramilitares, assessorou-se de agentes da Cia e do Mossad. Foram assassinados centenas de militantes dos movimentos sociais, expulsos de suas terras dezenas de milhares de camponeses. Até hoje, são mantidos 9.500 presos políticos no país.
Mas esse macabro plano do imperialismo fracassou. As FARC sobreviveram. Apesar de algumas perdas significativas, como a morte natural do Comandante Manuel Marulanda Vélez, o covarde assassinato de Raul Reys e as perdas em combate dos comandantes Jacobo Arenas, Ivan Rios, Alfonso Cano, Jorge Briceño e de centenas de heroicos guerrilheiros e guerrilheiras, a insurgência não se abateu. Resistiu de forma organizada e impôs duras baixas aos inimigos, mostrando se tratar de uma organização enraizada na massa, firme ideologicamente e com direção política coletiva. Entre perdas e ganhos em duras batalhas, mantém-se invicta na guerra.
O fato de o estado colombiano procurar sentar-se à mesa, em Havana, com uma delegação oficial das FARC significa o reconhecimento de sua força e da impossibilidade de resolver o conflito pela via militar. Em toda a história – e o Vietnã é o maior exemplo – o imperialismo e a burguesia só negociam com os que não se deixam derrotar.
Com o advento dos diálogos, as FARC se transformaram em porta-voz da pauta dos trabalhadores e proletários colombianos, o que contribuiu para o ressurgimento e crescimento do movimento de massas mais expressivo da história da Colômbia, quiçá da América Latina. O imperialismo e as oligarquias colombianas, ao que parece, fizeram um cálculo errado, achando que a guerrilha estava derrotada e a ponto de depor suas armas. Achavam que conseguiriam uma paz rápida e sem custos sociais, econômicos e políticos. E que depois exterminariam os insurgentes e militantes políticos e sociais, como fizeram nos anos 80, no genocídio da União Patriótica, quando o estado burguês traiu o acordo de paz que havia firmado.
A vitória do povo colombiano, no rumo ao socialismo, não depende do resultado eleitoral deste dia 25 de maio, mas da manutenção da capacidade de resistência das guerrilhas e da organização e do protagonismo das massas populares.
O PCB tem militado no apoio internacionalista à luta do povo colombiano, por entender que nesse país se joga uma batalha decisiva contra o imperialismo e pelo futuro da América Latina.
Ivan Pinheiro
Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e membro da Presidência Coletiva do MCB (Movimento Continental Bolivariano)
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