Viva o XV Congresso Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Mauro Iasi (*)
O Partido Comunista Brasileiro (PCB), reunido em São Paulo, em seu XV Congresso Nacional, em abril de 2014, apresenta aos trabalhadores brasileiros, aos jovens e a todos que lutam por transformações socialistas em nosso país, nosso programa e nossa disposição de luta.
Foram meses de debates e encontros, nos quais o anteprojeto de nossas teses foram discutidas em todas as bases, emendadas, remetidas novamente para nossa direção e agora debatidas e aprovadas por nosso Congresso.
Nossa reconstrução revolucionária avança agora com um Partido renovado, dinâmico, presente nas diferentes frentes de luta da classe trabalhadora e em todas as regiões de nosso país, coeso em torno de formulações precisas e princípios revolucionários, buscando organizar a classe trabalhadora em seus locais de trabalho e moradia, atento à conjuntura nacional e internacional e ciente da imensa tarefa e responsabilidade de representar os ideais do comunismo no século que se anuncia.
Àqueles que tentaram nos destruir, desde o momento mesmo em que nascemos, em 1922, com a repressão, as perseguições, os assassinatos, com as décadas de ilegalidade que nos obrigaram a passar mais de metade de nossa existência clandestinos, como na Ditadura burguesa e militar que prendeu, torturou e matou centenas de nossos militantes e treze membros de nosso Comitê Central. Àqueles que tentaram impor a noite eterna em nosso país para esconder seus interesses de classe e sua subordinação servil ao imperialismo, lhes respondemos:
SOBREVIVEMOS!
Carregamos as cicatrizes destes tempos e honramos a memória de nossos mortos. Muitos foram os que tombaram, do PCB e de outras organizações que vieram ou não de nossas fileiras. Àqueles que se distanciaram do PCB, mas que se mantiveram na trilha da revolução buscando-a por outros caminhos, que regaram com seu sangue e coragem a árvore da revolta à espera dos frutos da emancipação, recolhemos seu exemplo no vermelho de nossa bandeira e no abraço de nosso reconhecimento.
Não conseguindo pela força e a arrogância das armas, das câmaras de tortura e dos porões da ditadura, dobrar nosso espírito revolucionária, tentaram pela sedução da ordem, pela cooptação, pela rendição envergonhada e mesquinha, oferecendo um lugar subalterno nas hostes da direita. Houve os que abandonaram nossas fileiras para aderir à ordem que desde sempre combatemos, abandonaram nossos princípios e mais caros ideais, rechaçaram o marxismo e a história das lutas socialistas do século XX, para entregar-se às fileiras da reação ou a da acomodação à ordem capitalista.
A estes nosso profundo desprezo e a firme decisão de combatê-los como aqui renovamos nossa convicção de combater aos seus chefes burgueses e à ordem capitalista à qual aderiram. Trocaram nossos objetivos históricos e revolucionários por cargos em governos burgueses, financiamentos de campanha e vantagens pessoais. Não os esqueceremos, manteremos viva sua memória para sempre nos alertar dos riscos do oportunismo e do canto de sereia da ordem moribunda que tenta nos arrastar para os penhascos da traição ou para o pântano da conciliação de classes.
A eles respondemos:
NÃO DESISTIMOS!
Nossa resistência se deve à força e ao caráter de muitos que aqui homenageamos, mas principalmente, à nossa classe, aos trabalhadores da cidade e do campo, pois juramos uma vez lutar por nossa emancipação e rechaçamos qualquer alternativa que não toque na raiz os problemas de nossa classe.
Não aceitaremos qualquer pacto ou aliança que mascare as raízes da exploração e da miséria, que insista no caminho muitas vezes escolhido em nossa história de um desenvolvimento que acaba resultando em mais concentração de riqueza e propriedades nas mãos de uma minoria, enquanto condena milhões ao desespero, à miséria e nos privam dos serviços essenciais à vida como a moradia, o transporte, a educação, a saúde e tantos outros.
Nunca aceitaremos uma ordem para poucos que condena a população pobre às periferias e favelas, onde os jovens negros são abatidos a tiros, onde trabalhadores que lutam pela terra são assassinados, onde os povos indígenas revivem seu martírio a cada dia saqueados de suas terras e sua cultura.
Não queremos, também, a ilusão da inclusão na sociedade capitalista via consumo. Por esta via nossa herança são as dívidas. Queremos mudar pela raiz esta sociedade, encontrar os caminhos que nos levem a uma nova forma de vida muito diferente dessa que aí está. Queremos produzir uma vida diferente na qual o trabalho de todos nos leve ao conjunto daquilo que é necessário para responder às nossas reais necessidades e sabemos que isso só será alcançado negando a forma mercadoria e o poder dos capitalistas que tudo transformam em meios para aumentar seus lucros.
Para nós comunistas, saúde não é mercadoria, assim como a educação, a cultura, o transporte, a água, a moradia, o alimento, nossas roupas e nossos sentimentos. São direitos e, mais que isso, necessidades, que todos devem ter acesso gratuitamente e com qualidade, mantidos pela riqueza coletiva que uma sociedade pode gerar.
O modelo capitalista faliu, na busca incessante de lucro, destrói a natureza e transforma os seres humanos em coisas descartáveis, inviabiliza nossas cidades, expulsa as pessoas do campo, explora até a morte em suas fábricas e empresas, condena milhares ao desemprego e à vida nos bolsões de miséria, distribuindo migalhas ou balas de uma policia assassina, recolhendo as sobras nos hospícios modernos, nas cadeias onde se amontoam seres humanos como bichos ou simplesmente eliminados pelo genocídio da população pobre, jovem e negra.
Não estamos à venda. Sobrevivemos e não nos rendemos, por que aquilo contra o que sempre lutamos ainda sobrevive e está cada vez mais forte, ainda mais quando se disfarça com máscaras de democracia, quando tenta encobrir os lucros monstruosos de um pequeno grupo de grandes monopólios capitalistas sob a grossa maquiagem do interesse geral.
O pacto social que tenta se legitimar oferecendo políticas sociais aos miseráveis enquanto garante lucros bilionários aos capitalistas, que inviabiliza a agricultura em favor do agronegócio, que oferece vagas nas universidades e destrói a universidade pública privatizando-a e destruindo a carreira de professores e funcionários, que aumenta o número de empregos por um lado para, de outro, precarizar as condições de trabalho retirando direitos, que diz promover o “desenvolvimento” enquanto entrega os recursos do país como na mineração e no petróleo, que faz campanhas em favor da natureza para destruí-la cotidianamente pela continuidade de um modelo predatório e desumano.
Este crescimento não nos interessa, porque sabemos que não interessa à maioria dos trabalhadores e aqueles que hoje se iludem com seus empregos e acesso ao consumo via endividamento, acordarão deste pesadelo quando se aposentarem e tiverem que viver com uma previdência privatizada, quando a crise do capital cobrar seu preço em vidas e destruição, quando a humanidade soluçar em agonia e o futuro do desenvolvimento não for a civilização brilhante que oferecem, mas a face horrenda da barbárie que já se anuncia.
Não queremos cargos, recursos ou vitórias eleitorais. A única vitória que buscamos é a da classe trabalhadora e da maioria de nossa população. Aonde houver miséria e exploração... ser comunista continua sendo nossa opção!
A todos os que se venderam à ordem, que aceitaram o pacto de morte com os inimigos históricos da classe trabalhadora e que esperavam fazê-lo com o apassivamento dos trabalhadores pela via da cooptação, com as migalhas jogadas do banquete da burguesia, lhes alertamos:
NOS RECONSTRUÍMOS!
As lutas de massas que eclodiram em 2013 mostram o caminho. Enquanto houver capitalismo não haverá paz. Enquanto os trabalhadores, a juventude e todos aqueles que sofrem com a exploração do capital que ameaça a vida se rebelarem contra a ordem, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) escolherá o caminho da luta.
Assim fizemos ao nascer em 1922 contra o pacto das oligarquias. Assim fizemos ao resistir ao canto de sereia do pacto populista de Getúlio e seu fascismo à brasileira, nos levantamos em armas em 1935 e em outras oportunidades, assim fizemos ao somar nossos esforços com as massas trabalhadoras que impulsionaram a democratização lutando por salários, direitos, por terra e pela vida até que a Ditadura do grande capital impôs o regime de terror burguês que tentou silenciar o clamor das massas e da classe trabalhadora. O PCB resistiu e renasceu, ferido e dessangrado, mas vivo, para escolher agora também o caminho da luta e recusar o caminho da conciliação.
Não haverá paz para os de cima enquanto não houver justiça para os de baixo.
Mas, não basta a revolta, é necessário dar forma política aos nossos anseios por transformação, encontrar os caminhos reais por onde construir nossa libertação da ordem do capital e da mercadoria. Por isso o PCB se reorganizou como um PARTIDO, não pelo apego a formas clássicas e ortodoxias, mas porque hoje, mais que nunca, é urgente que os trabalhadores se organizem, compreendam a natureza de nossa formação social, os interesses de classe em jogo, a forma do Estado que impõe os interesses da burguesia ainda que disfarçado de um governo de todos, que seja capaz de compreendendo nosso país, de propor as estratégias e táticas que nos levem à sua transformação revolucionária.
Não para criar um partido à parte da classe trabalhadora e das massas, não para criar um partido oposto aos outros partidos e organizações operárias e proletárias, mas porque estamos convencidos que hoje mais que nunca as palavras de Marx e Engels seguem válidas. Porque é necessário que em todo lugar, nas diferentes lutas nacionais, temos que apontar os interesses internacionais e gritar a plenos pulmões que as fronteiras do capital que dividem os povos não são capazes de dividir a humanidade; porque em todo lugar em que trabalhadores lutam por seus interesses imediatos, por transporte, por moradia, por terra, por educação, por condições de trabalho, é necessário apresentar os interesses gerais e históricos de nossa classe, pois sabemos que a raiz de nossos problemas particulares é a ordem capitalista.
Por isso, quando no Brasil, as massas rompem sua inércia e saem as ruas, dizemos:
OS COMUNISTAS CONTINUARÃO AO LADO DOS QUE LUTAM!
As resoluções do XV Congresso do PCB reafirmam a linha geral de nossa Estratégia e de nossas táticas. O Brasil é um país capitalista que consolidou uma ordem burguesa e uma hegemonia burguesa, governado por um governo de pacto social que procura amortecer as contradições entre os interesses da burguesia e dos trabalhadores em benefício dos interesses do grande capital monopolista em seus diferentes setores, oferecendo aos trabalhadores um papel subordinado neste desenvolvimento, em troca de mais empregos, ainda que mais precários, acesso ao consumo e políticas focadas na miséria absoluta para compensar as inevitáveis distorções sociais que o desenvolvimento capitalista produz e reproduz.
Este governo de pacto social só pode amenizar as contradições, não pode eliminá-las, por isso tem que manter sob controle a explosão social que tais contradições causam. Não nos surpreende que o governo petista aliado ao grande capital se apresente no quadro conjuntural como os defensores da LEI E DA ORDEM, operando instrumentos repressivos e antidemocráticos, reforçando o poder dos aparatos policiais e militares para garantir os grandes eventos e o maior deles, a continuidade da acumulação de capitais em benefício de uma minoria.
Estamos convictos que não há solução dentro da ordem capitalista. Não será com mais desenvolvimento da economia de mercado sob controle de capitais privados que as demandas da maioria da população e, principalmente, da classe trabalhadora, serão atendidas. Este é o mito que estamos, finalmente, em condição de superar. Basta de planos de desenvolvimento para aumentar os lucros da burguesia na esperança que o mesmo processo resulte em mais recursos para o Estado investir nas áreas que de fato interessam à maioria e aos trabalhadores.
Foi essa a promessa da década de 1930, esta a ilusão dos anos 1940 a 1960 e está a triste realidade do crescimento econômico da Ditadura. O Estado burguês na forma de democracia reinventa o mito querendo nos fazer acreditar em um “crescimento sustentável” que possa gerar um desenvolvimento preservando o meio ambiente e com base em um desenvolvimento socialmente justo. O resultado é um mundo mais destruído ambientalmente e ainda mais desigual.
Não é apenas a farsa que o capitalismo e a sociedade de mercado podem gerar um crescimento que atenda às necessidades humanas; esgotou-se o ciclo histórico da modernização capitalista, como um caminho para a humanidade. Não se trata de países subdesenvolvidos que podem vir a ser desenvolvidos, não se trata de países pobres que podem vir a ser ricos, não se trata de terceiro mundo que almeja chegar no primeiro como modelo de desenvolvimento industrial, de consumo irracional de massas e de harmonia social. A crise do capital se encarregou de destruir esta ilusão no centro mesmo do sistema, mostrando a cara de uma nova miséria, de uma brutal exploração, da regressão de direitos, mesmo os mais elementares, do aumento do racismo e da xenofobia, do crescimento da direita e da extrema direita que pinta com cores de barbárie a civilização que nos ofereciam como alternativa de civilização.
Nós, os povos latinoamericanos, africanos, asiáticos, não queremos mais ser como eles, queremos ser nós mesmos. Índios, negros, lationamericanos orgulhosos de nossa história e de nossa resistência, cientes de nossos problemas e convictos que encontraremos nossas soluções. Generosamente erguemos nosso grito diante da arrogância dos países imperialistas, para dizer: vocês não são uma alternativa para nossos povos, mas nós somos uma alternativa para os seus. Reafirmamos nosso grito histórico que rasga as trevas que tentavam esconder o futuro e afirmamos, hoje, mais que nunca:
PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNÍ-VOS!
Para nós, comunistas brasileiros do PCB, este futuro tem nome e tem cor: somos socialistas e comunistas e nossas bandeiras vermelhas carregam o sangue de todos aqueles que pelo futuro lutaram. Nosso símbolo clama pela unidade dos que trabalham no campo e nas cidades. Não são peças de propaganda descartáveis, tem força de princípios e valores, de luta e de história que nunca renegaremos.
As conclusões que nosso Congresso reafirma ao estudar o Brasil e as características fundamentais de nossa formação social, que constada a determinação capitalista e a completude da ordem burguesa em nosso pais, nos levam à convicção do CARÁTER SOCIALISTA DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA. Dissemos não a etapas e desvios aos que ainda crêem e querem que os trabalhadores acreditem que ainda necessitamos resolver as tarefas em atraso deixadas pela burguesia no estabelecimento de sua ordem, nas condições de um pais dependente e inserido subordinadamente na ordem imperialista.
A ordem capitalista está completa e a hegemonia burguesa logrou, depois de tortuoso processo, impor-se, infelizmente com a ajuda de setores oriundos da própria classe trabalhadora, que cumpriram este triste papel. As contradições que hoje se manifestam não são fruto de um suposto “atraso”, pois isso remeteria a um pólo “avançado” no qual questões como acesso à terra, direitos, democracia das formas políticas e legalidade de um ordenamento jurídico constitucional estariam resolvidas. Não existe este padrão, a ordem burguesa se reverte em todo o mundo na ditadura aberta do capital para salvá-lo de sua crise, mesmo que ao preço de uma reversão civilizatória de proporções catastróficas.
A contradição principal da formação social brasileira se dá entre o capital, que se apropria dos meios de produção social e daí das riquezas produzidas e os trabalhadores são obrigados a sobreviver em condições precárias de trabalho e vida, privados de serviços essenciais e precarizados em direitos e esperanças quanto ao futuro.
Recusamos a miopia que tenta afirmar que a contradição hoje se dá entre os neoliberais que querem mais mercado e os desenvolvimentistas que querem mais Estado. Isso é falso, produziu-se no Brasil uma síntese que se expressa nas parcerias público/privadas, no mercado a serviço do Estado e o Estado a serviço do mercado. Nós comunistas somos contra ambos: o mercado e o Estado Burguês.
Não nos basta o mero desenvolvimento das forças produtivas, é preciso mudar radical e profundamente as formas de vida e somente a classe trabalhadora e todos aqueles que estão sendo ameaçados e destruídos pela forma de vida subordinada ao capital e às mercadorias, podem fazê-lo. O PCB sabe que isso é o caminho do socialismo, mas este é só uma transição para a verdadeira emancipação humana, isto é, a construção de uma sociedade sem classes e sem Estado. Por isso, ao afirmar que o caminho para o Brasil é necessariamente um caminho socialista, reafirmamos que, por isso:
FOMOS, SOMOS e SEREMOS, SEMPRE, COMUNISTAS !
Nossa estratégia socialista e nossa convicção comunista não significam a desconsideração para com os problemas imediatos dos trabalhadores, pelo contrário. É o que nos permite fazer a crítica do atual governo de pacto com a grande burguesia monopolista e denunciar que os caminhos por ele apontados não interessam aos trabalhadores e à maioria do povo brasileiro.
Nossa meta socialista e comunista é que nos permite afirmar que não será através de parcerias entre o poder público e formas diretas e indiretas de privatização que se resolverão nossos problemas e por isso denunciamos o papel das entidades, organizações e Fundações Público Privadas e outras formas que infestam os serviços de saúde e se alastram para outras áreas como educação básica ou as universidades, mas não apenas, também na gestão da produção e distribuição de energia, na mineração, na área do petróleo, nos transportes públicos, na construção de moradias e em tudo mais.
O Socialismo não é uma meta moral, é um alternativa real e necessária para enfrentar de fato as contradições de nosso pais e do mundo. Nossa estratégia socialista é a única que permite articular as lutas do passado com os problemas do presente, apontando claramente para uma alternativa humana de futuro. Para nós não há tarefas em atraso da ordem burguesa ainda não realizadas, mas tarefas articuladas à necessária revolução socialista a ser construída.
A partir desta afirmação estratégica socialista, as lutas pela Reforma Agrária, pela moradia, por trabalho, salários e condições de vida, a luta contra a violência policial e o genocídio contra os jovens, a luta indígena por reconhecimento e terra, a luta de mulheres contra a opressão, a luta contra qualquer preconceito e opressão ligados à regionalismos ou etnia, assim como contra as diferentes formas de exercício da sexualidade, identidades culturais e outras, devem se articular na luta geral contra a ordem capitalista e a hegemonia burguesa.
A forma e a intensidade da luta de classes são determinadas pelo desenvolvimento da conjuntura e da correlação de forças. No período que se abre, a ordem capitalista e os interesses burgueses se manifestam de forma didática nos grande eventos empresariais e midiáticos que expressam a subordinação do esporte à ditadura do capital.
O Brasil explodiu em protestos que deixaram a nu esta lógica mercantil e expuseram as mazelas e necessidades que este padrão de desenvolvimento gostaria de jogar para debaixo do tapete. Por isso o PCB reafirma que o eixo central de sua tática é o fortalecimento das ações de massa no momento em se realizarão os grandes eventos e o compromisso com a defesa dos manifestantes e da resistência popular contra o estado Burguês que prepara uma repressão acentuada e autoritária contra as massas através de suas operações de garantia da Lei e da Ordem.
O caráter geral da luta de classes não anula as particularidades dos diversos segmentos que lutam contra formas particulares de opressão, pelo contrário, a fortalecem e a substanciam como uma luta de toda a humanidade por sua afirmação contra a ordem do capital e da mercadoria. Por isso, ao mesmo tempo em que afirmamos que não é possível mudar a sociedade, sem mudar radicalmente a vida, afirmamos que não é possível mudar a vida sem mudar as formas de poder.
Por isso os comunistas do PCB afirmam radicalmente sua convicção que as formas políticas próprias da sociabilidade burguesa, o presidencialismo de coalizão e a democracia de representação, faliram e precisam ser substituídas por outras formas. Por isso dizemos:
LUTAR, CRIAR O PODER POPULAR.
O pacto de classes e a hegemonia burguesa lograram completar a transição da Ditadura Burguesa na forma militar para a Ditadura Burguesa na forma civil. O meio pelo qual a consolidação da hegemonia burguesa foi possível é inseparável da forma política adotada.
A grande burguesia esperava e conseguiu realizar uma transição lenta, gradual, segura e sob controle. O desafio era como operar esta transição numa sociedade tão desigual e com tamanha concentração de riqueza e poder como a nossa. A forma necessária foi encontrada num sistema político que colocasse os partidos políticos sob estrutural dependência da grande burguesia via financiamentos, legais ou ilegais, que resultariam em uma representação distorcida na qual a maioria da sociedade não corresse risco de ser uma maioria legislativa ou chegar a algum tipo de governo popular. O sistema se completa em uma forma de funcionamento do poder executivo que não corra o risco de alterar sua natureza de classe independente das forças políticas que venham a ocupá-lo.
A formação de bancadas de sustentação pela via da troca de cargos, recursos e favores, cria uma armadilha eficiente na qual as mesmas condições que garantem a governabilidade impedem o exercício autônomo do governo.
Quando marcamos o cinqüentenário do Golpe Burguês Militar de 1964, o PCB relembra que, aos mais de 20 anos da ditadura, somam-se os quase trinta anos de democratização, demonstrando que a ordem burguesa que se manteve pela truculência coercitiva na Ditadura pode, talvez ainda melhor, se manter sob o manto de uma democracia controlada e segura para manter seus interesses de classe.
O PCB não acredita na possibilidade de uma reforma política que venha reverter este caráter de classe do Estado Burguês no Brasil. Não será com medidas cosméticas como uma reforma eleitoral, as alternativas de voto em lista ou nominal, distrital ou não, com a imposição de cláusulas de barreira que antecedam o financiamento público para os poucos partidos da ordem ou submissos a ela, que a questão se resolverá.
Para o PCB o Brasil não precisa de alternativa eleitoral, mas de uma alternativa de Poder que seja capaz de enfrentar o poder das classes dominantes e seu eleito sobre o controle dos meios políticos, assim como os demais meios que consolidam sua hegemonia conservadora, como o controle dos meios de comunicação e a organização da cultura. Para nós a raiz deste poder é o controle e a propriedade dos principais meios de produção social.
Por isso nossa estratégia socialista se articula com a luta pela construção de um Poder Popular que se expressa em diferentes momentos: na resistência e na luta dos trabalhadores contra as diversas opressões e exploração capitalista/burguesa; na capacidade de unidade e na construção de uma contra-hegemonia que expresse em um programa de transformações profundas; e, num momento mais avançado da luta de classe, como alternativa real e necessária de poder dos trabalhadores e de um conjunto mais amplo de classes e segmentos de classe dispostos a levar adiante as transformações revolucionárias.
A vitória contra o bloco conservador e a construção de um Poder Popular como expressão desta luta de classes contra a ordem do capital prepara o terreno para um verdadeiro Estado dos Trabalhadores da cidade e do campo, das massas populares urbanas e de todos os setores que se somem na construção de uma radical mudança na forma de vida que nos leva à emancipação humana.
Nossa estratégia socialista e o plano geral de nossa concepção tática precisa responder às exigências da conjuntura e da correlação de forças. No momento em que o bloco conservador se sente seguro em seu domínio, prepara-se para disputar o controle do governo do Estado Burguês. Nestes momentos os trabalhadores se veem confusos e são iludidos pelo discurso de manter o rumo ou escolher o menos pior para evitar um retrocesso de um governo diretamente controlado pelas representações político partidárias preferidas pela grande burguesia.
O fracasso da política do pacto social como parte de uma suposta alternativa original favorável aos trabalhadores que evitasse a revolução social não significa sua inviabilidade eleitoral, pelo contrário. A política de conciliação de classe e a busca do apassivamento de parte da classe trabalhadora é, ao mesmo tempo, a condição de seu sucesso eleitoral e de sua tragédia política. Esta política se manifesta de uma forma perversa: buscar o apoio da grande burguesia e da política tradicional e conservadora para governar e garantir seus governos; e o apoio da classe trabalhadora para ganhar as eleições e se perpetuar no governo.
Esta é a raiz do desgaste e da falta de legitimação da democracia representativa e do presidencialismo de coalizão. Parte da população, com razão, começa a perceber a farsa eleitoral e isso se manifesta no crescimento da abstenção eleitoral e do voto nulo, manifestações que o PCB respeita e considera legítimas.
O PCB avalia em seu XV Congresso que é de grande importância em sua estratégia socialista e na aplicação de seu plano tático que o debate eleitoral não se restrinja aos setores do bloco conservador, que opõe de um lado a continuidade do pacto de classes com o PT, PMDB e outras siglas subalternas, a outro setor do mesmo bloco conservador liderado pelo PSDB e seus apêndices, com o risco do desgaste de ambos ter como único contraponto a falsa alternativa do PSB aliado à Rede que, com dificuldades, procuram se diferenciar da mesma lama de onde saíram recentemente. São uma alternativa para a manutenção da política conservadora, certamente não são uma alternativa para os trabalhadores. Politicamente é preciso, ainda que com os limites impostos, que a proposta revolucionária e a necessidade de uma alternativa real de poder se apresentem no debate eleitoral.
CONTINUAMOS AO LADO DOS QUE LUTAM
CONSTRUINDO O PODER POPULAR
RUMO A UM BRASIL E UM MUNDO SOCIALISTA.
FOMOS, SOMOS E SEREMOS, SEMPRE, COMUNISTAS!
(*) Mauro Iasi é membro do Comitê Central do PCB (Os grifos são meus, José Carlos Alexandre e têm apenas o objetivo jornalístico)
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