Arnaldo Cardoso Rocha foi assassinado em emboscada em 1973. Perícia tenta esclarecer reais circunstâncias da morte
Maria Clara Prates
Militante do PCB, Anete Cardoso Rocha, de 91 anos, teve o filho morto pelas forças de repressão policial (Tulio Santos/EM/D.A Press)
Mais uma peça do quebra-cabeça para revelar a verdade sobre os anos de ditadura militar no Brasil pode ser revelada hoje com a exumação do militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) Arnaldo Cardoso Rocha, morto em emboscada pelo Doi-Codi, em São Paulo, em 15 de março de 1973. O corpo de Arnaldo, morto aos 23 anos, está enterrado no Cemitério da Colina, em Belo Horizonte, cidade em que vivem seus pais, os militantes históricos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) João de Deus Rocha e Anete Cardoso Rocha.
João de Deus Rocha é antigo militante do Partido Comunista Brasileiro, PCB, onde ocupou diversos postos de direção, sendo muito ligado ao arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto de sua residência. Foi funcionário dos Diários Associados e superintendente da União Nacional dos Servidores Públicos, UNSP.
O pedido de exumação foi apresentado pela viúva de Arnaldo, Yara Xavier Pereira – também integrante da ALN –, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) para tentar esclarecer as verdadeiras circunstâncias da morte do marido. A versão apresentada à época é de que Arnaldo foi morto numa troca de tiros com a polícia, ao lado de dois companheiros.
A exumação será coordenada por Marco Aurélio Guimarães, antropólogo forense, com a participação de peritos da Polícia Federal e de peritos criminais do Distrito Federal. Acompanharão os trabalhos o procurador federal Sérgio Suiama, o representante da Comissão Nacional da Verdade André Vilaron e Gilles Gomes, coordenador da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, além da viúva de Arnaldo.
“Buscamos há 40 anos saber as reais circunstâncias do seu assassinato. Como último recurso, solicitamos à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos a exumação”, explica a viúva em nota. A providência foi solicitada junto à Comissão Nacional da Verdade e apresentado ainda um requerimento de notícia-crime na 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), em julho de 2012.
LACRADO Após a morte, o corpo do militante foi transladado para Belo Horizonte pelo pai, João de Deus, em caixão lacrado pelo Doi-Codi do 2º Exército, em São Paulo. O velório ocorreu na casa em que Arnaldo nasceu, na Rua Esperança, na Região do Barreiro, onde foi marcante a presença ostensiva de policiais. De acordo com o laudo da época, Arnaldo foi atingido por sete tiros – três na perda direita, que o fizeram tombar, um tiro fatal no supercílio direito e outro que causou diversas fraturas na mão direita, característica de lesão de defesa.
Outro dado que corrobora a tese de execução foi levantado pelo relator dos casos na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Luiz Francisco Carvalho Filho. Em seu voto, ele ressaltou que o suposto armamento dos integrantes da ALN não foi periciado. “As armas que teriam sido encontradas em poder dos militantes só foram formalmente apreendidas pela autoridade militar em 19 de março, quatro dias depois das mortes.” O relator afirmou ainda que “a evidência mais gritante de que os militantes não foram conduzidos diretamente para o Instituto Médico Legal (IML) é o registro oficial de suas vestes”. Os três estariam sem calças, vestindo camisas, cuecas, meias e sapatos.
Na versão oficial do Exército, os militantes foram mortos em troca de tiros depois de serem identificados como autores da morte do comerciante Manoel Henrique de Oliveira em 21 de fevereiro de 1973. Manoel, segundo o Exército, teria sido “justiçado” e seu corpo coberto com panfletos da ALN em razão de sua suposta delação às forças de repressão de Yuri Xavier Pereira – irmão de Iara Pereira e integrante da aliança –, que resultou em sua morte.
No entanto, 10 anos depois da morte de Arnaldo, surgiram evidências de que, na verdade, o Exército promoveu a infiltração de João Henrique Ferreira de Carvalho, conhecido como Jota, junto ao grupo político que ajudou a preparar a emboscada. Jota seria o único que conseguiu escapar com vida da investida policial.(Com o Estado de Minas)
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